Num bate papo informal com sua irmã
caçula, Júlia relembra, emocionada, a sua trajetória de vida.
Na década de quarenta, seus pais,
Rosa e Pedro se casaram muito novos, ele com dezesseis e ela com dezenove anos.
Apesar de ser mais velha, Rosa era muito ingênua e na primeira noite juntos,
ela se assustou quando o marido a procurou e voltou para a casa dos pais. Seu
Pedro foi buscá-la e acabou convencendo-a a voltar com ele. Os sogros o
ajudaram e a sogra explicou, então, à filha qual o papel da esposa.
Júlia nasceu num lugarejo chamado Bananal,
numa casinha de sapé. Na hora do parto sua mãe estava sobre uma esteira e ao seu
lado havia um sapo. Dona Rosa soltou um grito terrível, ficou muito assustada
com o bicho. Por um momento chegou a se esquecer das dores que estava sentindo.
A parteira era uma senhora muito boa que
atendia as mulheres da redondeza e ficou com ela até o final do dia, quando seu
Pedro chegou da roça. Não quis deixar Rosa sozinha. Seu Pedro ficou apaixonado
quando viu aquela menina linda, morena, de cabelos cacheados.
Quando Júlia estava com um ano e meio
de idade, seu pai foi chamado para trabalhar numa firma que estava precisando
de mão de obra para desmatar a região onde havia uma mina que seria explorada
pelo Grupo Moinho Santista. Eles se
mudaram para uma casa melhor e a vida tomou um novo rumo.
Dois anos e meio depois nasceu
Manoel, o segundo filho do casal. Um menino sorridente, que logo se tornou o
centro das atenções.
Apesar da pouca idade, Júlia percebia
as brigas entre seus pais. Às vezes ela apanhava, porque era uma menina
teimosa. Depois que seu irmão cresceu, ela apanhava em seu lugar. Ele fazia
alguma arte e quem levava a culpa era ela; coisas de irmãos. Mas, apesar das
surras e das discussões que presenciava entre os pais, teve uma infância feliz.
Quando completou onze anos de idade
foram morar numa pequena vila, chamada Caixa D’água que pertencia à firma onde
seu pai trabalhava numa casa grande e bonita. Nessa época ele era motorista de
caminhão.
Aos doze anos ganhou a irmã caçula,
uma menina gorduchinha. Júlia ajudava a mãe nos afazeres da casa, pois já sabia
cozinhar e tudo. Ajudava, também, a cuidar da irmãzinha.
Na escola, ela era uma menina
estudiosa, uma aluna aplicada. E como toda criança gostava de festas. Durante
uma festa na escola viu um homem alto, de olhos verdes, charmoso, muito parecido
com seu ator preferido, o Gary Cooper, por quem era apaixonada. Ele era o
namorado de uma professora e estava distribuindo balas para as crianças. No
momento em que lhe ofereceu uma bala, ela ficou ainda mais encantada.
A segunda vez que o viu ela tinha ido
ao armazém para comprar umas coisas para sua mãe. Ele ia passando e a chamou:
- Menina, eu achei esta moeda e
pensei em dar à primeira criança que encontrasse. Pegue-a e compre um sorvete.
Júlia ficou fascinada ao ouvir sua voz!
Ele mal podia imaginar que estava mexendo com a imaginação daquela menina
sonhadora.
A partir daquele dia ela passou a
esperar o pai na saída do serviço. Aquele homem lindo, que não saía da sua cabeça,
trabalhava na mesma firma que seu pai e comia numa pensão que ficava nas
proximidades.
Para vê-lo com mais frequência, Júlia
o cercava sempre que podia. Às vezes, brincava com uma coleguinha em frente à
pensão. E foi assim até que ele foi se chegando e se apresentou:
- Menina, qual é o seu nome? Eu sou
o Eduardo, tenho 30 anos e sou muito velho para você.
- Sou a Júlia e não me importo com a
sua idade.
- Você é uma criança e poderia ser
minha filha.
- Poderia, mas não sou e gosto muito
de você.
E tanto deu em cima dele, que Eduardo
terminou com a namorada e acabou se apaixonando por ela. Ele tinha um toca
fitas e sua música preferida era “menina moça” que era um dos sucessos da
época. Para pedi-la em casamento, combinou que inventariam uma mentira para que
os pais dela o aceitassem. Sabia que a diferença de idade entre ele e Júlia era
muito grande e dificilmente o pai dela aprovaria o casamento. Comentou com um
colega de serviço que havia abusado da menina.
Quando o comentário chegou ao ouvido
do seu Pedro, ele deu uma surra muito grande na filha. Disse que iria atrás do
Eduardo e o mataria. Um vizinho ouviu os gritos da dona Rosa e foi ver o que
estava acontecendo. Quando se deparou com a cena, tirou Júlia das mãos do pai e
levou-a para sua casa. Depois de ouvir da boca da menina o motivo da surra,
mandou chamar o Eduardo e quis saber quais eram as intenções dele.
Seu Pedro acabou se conformando e
concordando com o casamento. Disse ao futuro genro que cuidasse de tudo. Eduardo
e Júlia ficaram noivos e ela ganhou de presente do noivo uma boneca e uma
correntinha, além da aliança. A boneca era uma linda noiva e Júlia gostava de admirá-la.
Pouco tempo depois do noivado seu pai
e o Eduardo perderam o emprego. Seu pai comprou uma casa e um lote numa
baixada, próximo ao rio e foi trabalhar num sítio como administrador. Rosa
acompanhou o marido.
Eduardo foi morar com Júlia na casa
dos pais dela, enquanto aguardavam o casamento. Numa enchente muito grande,
Júlia perdeu o enxoval, a boneca e a correntinha. Três meses depois, já
casados, ela com 13 e ele com 31 anos, Eduardo resolveu tentar a sorte em São
Paulo, onde sua família residia.
Quando chegaram, a irmã mais nova feliz
da vida, disse ao pai:
- Pai, o Eduardo trouxe uma menina
para brincar comigo.
- Não, Aparecida, ela é a sua
cunhada. Ele casou com essa menina!
Júlia aprendeu muita coisa com a sogra,
madrasta do Eduardo. E ele a tratava bem, era um marido romântico. Com quatorze
anos, ela teve a primeira filha. Para
ela aquele bebê era a sua boneca que havia perdido na enchente. A sogra a ensinou a cuidar da criança.
Quase dois anos depois, seu Pedro
conseguiu trabalho com um compadre que tinha uma firma em Santos e mandou
chamar o genro. Para Júlia foi muito bom, pois voltaram a morar com seus pais.
Ela gostava dos sogros, mas sentia- se bem melhor na companhia dos pais e dos
irmãos.
Eles não ficaram muito tempo em
Santos, logo voltaram para a cidade natal. Sogro e genro arrumaram emprego num
bairro próximo, mas, novamente foi por pouco tempo. Seu Pedro comprou uma Rural
e logo em seguida trocou por uma Kombi, para fazer carreto. Deu um lote para o
Eduardo que começou a construir uma casa. Assim que as portas e janelas foram
colocadas o casal se mudou. A família aumentou, nasceu a segunda filha.
Eduardo conseguiu um novo trabalho,
num bairro chamado Serrote, em outro município. Chegaram a passar necessidade
porque o pagamento atrasava muito. Sustentar a esposa grávida do terceiro filho
e duas filhas estava ficando cada vez mais difícil.
Foi então que Eduardo quis procurar
emprego em outro Estado. Partiu para Curitiba e quando conseguiu trabalho veio
buscar a família que havia deixado perto dos sogros. Como o clima era muito
diferente, os três filhos tiveram coqueluche. Júlia ficou desesperada e se comunicou
com o irmão que foi buscá-los para que a mãe ajudasse a cuidar das crianças.
Eduardo não aguentou ficar sozinho, sentiu
saudade da família. Pediu a conta e em seguida voltou para casa. Conseguiu
emprego numa firma que estava precisando de mecânico. Três dias depois, estava
debaixo de uma máquina, consertando-a, quando o tratorista puxou sem querer uma
alavanca. Foi uma tragédia! Ali, debaixo daquela máquina, a vida de um homem
trabalhador, amoroso e dedicado chegou ao fim!
Júlia ficou viúva, com dezenove anos de
idade e três filhos pequenos. Graças aos pais que sempre estiveram presentes na
sua vida, ela pôde procurar emprego até que começasse a receber a pensão. Seu
primeiro trabalho foi como mascate com um senhor conhecido do seu pai. Como era
muito bonita e bem feita de corpo foi assediada por esse senhor. Não teve
coragem de contar ao pai e disse apenas que não queria mais aquele trabalho.
Passou por vários empregos, foi
doméstica, cozinheira, telefonista, professora leiga, entre outros. A pensão
que recebia era insuficiente para sustentar os filhos, mesmo com a ajuda do seu
pai. Seus filhos também tiveram que começar a trabalhar cedo.
Teve um romance passageiro e dessa
união nasceu mais um filho. Seu Pedro, que no início ficou magoado com a filha,
acabou morrendo de amores pela criança.
Sua vida não foi fácil, seu pai
sofreu um acidente onde perdeu o movimento de uma perna, tendo que usar platina
na coxa. Perdeu o irmão a quem amava muito, anos depois o pai que era seu
arrimo e mais tarde a mãe, uma mulher muito querida.
Apesar dos pesares a vida continuou e
ela teve alguns namorados, casos passageiros. Graças a Deus, além dos quatro
filhos maravilhosos, teve nove netos e quatro bisnetos. Tem também, a sua irmã,
sua cunhada e seus sobrinhos. Ela sabe que tudo o que passou serviu para lhe mostrar
que a vida é feita de momentos bons e ruins. Mas, quando há união na família a
alegria de viver se torna imensa e supera todas as dificuldades.
Muito emocionante!
ResponderExcluirObrigada, beijos.
ExcluirParabéns a escritora to amando todas as historias
ResponderExcluirObrigada Cleuza, bjos.
ExcluirHistória muito emocionante e real, vivenciei cada momento como se estivesse acontecendo hoje.Parabéns querida prima.
ResponderExcluirObrigada, prima amada! Bjos.
ExcluirOs nomes trocados de personagens reais, que conheci muito criança. A leitura me prendeu, conforme fui reconhecendo cada um e lembrando... Viajei! Muito bem escrito.
ResponderExcluirObrigada Vera querida! Bjos.
ExcluirQue história emocionante!!
ResponderExcluirObrigada, Mariana!
ExcluirBjos.
Que história emocionante!!! Linda! *-*
ResponderExcluirVc tá de parabéns, é uma ótima escritora! :)
Beijão
www.omundodalilica.blogspot.com.br
Você não imagina como fiquei feliz com as suas palavras! Obrigada de coração!
ExcluirBeijão❤
Linda a história!!! Fiquei emocionada lendo aqui.
ResponderExcluirDeus nos deu um dom e o seu é escrever!! Parabéns pela história! Vc é uma excelente escritora.
😘
http://raquelamandamakeup.blogspot.com.br
Obrigada de coração! Suas palavras me deixaram imensamente feliz!
Excluir😘😘
Super emocionante essa história, é como se eu estivesse nela. Amei! Parabéns!
ResponderExcluirwww.blogselmaanjos.com
Muito obrigada, fico feliz sabendo que você gostou!
ExcluirValeu😘😘
Que história emocionante. Você escreve muito bem parabéns :)
ResponderExcluirQue bom que gostou, obrigada!
ExcluirBeijos 😘😘
Quando vai lançar um livro? Não vejo a hora haha
ExcluirTenho esperança de conseguir logo!
ExcluirObrigada, beijos! ❤
Você utiliza muito bem as palavras, é perceptível a intimidade que tem com elas. Embora eu tenha ficado um pouco chocada com a história, hehe beijos.
ResponderExcluirwww.eternatpm.com.br
Obrigada Taís, fiquei lisonjeada com suas palavras!
ExcluirFoi baseada numa história real.
Beijos❤
Nusssss top seu texto. Parabéns! bjs
ResponderExcluirObrigada, Luma!
ExcluirBeijos!
Que história é essa senhor ? AMEI cada parte dela você ahazou como sempre beijos
ResponderExcluirMuito obrigada, Mandy!
ExcluirBeijos!
A vida tem altos e baixos e ela se saiu muito bem.
ResponderExcluirO apoio da família faz toda a diferença com certeza. É a nossa base.
Beijinhos,
Aline Magalhães
Alineland
Sim, o apoio da família é muito importante e para Júlia foi fundamental!
ExcluirObrigada, beijinhos! ❤
Como você escreve bem, amei de mais, muito emocionante, você vai longe mulher.
ResponderExcluirbeijosss
Obrigada, seu elogio me deixa muito feliz!
ExcluirBeijos ❤
uma historia de muita emoçao eu me senti a propria personagem , parabens vc é uma otima escritora ,que tal um livro ....Cleo
ResponderExcluirObrigada, fico feliz que tenha gostado!
ExcluirBeijos ❤