sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Vida interrompida



Soraia saiu do interior de São Paulo, no ano de 1985, com dois filhos pequenos, Carlos e Bruna para acompanhar o esposo André à Capital. Uma nova vida, um novo rumo, totalmente diferente de tudo que haviam vivido no interior. André conseguiu emprego de técnico na área de segurança. O salário era baixo, mas ele tinha muita vontade de vencer. Para completar o orçamento André fazia bicos extras.
Algum tempo depois ele resolveu abrir seu próprio negócio. Começou indo de porta em porta levando o mostruário da peça, um suporte para câmera, para fazer demonstração. Teve muito sucesso!! Uma das empresas onde passou, situada no Morumbi, abriu as portas para ele. Ali ele pôde iniciar seu tão sonhado negócio.
As vendas deslancharam de forma surpreendente e logo havia dentro da empresa mais de quinze funcionários. Soraia, uma mulher trabalhadora, tomou a frente de tudo, ajudando o esposo nessa caminhada.  Ela fazia de tudo para que prosperassem, tanto nas finanças dentro de casa, como na empresa.
Infelizmente, André era um homem mão aberta e começou a fazer dívidas. Ele gostava de esbanjar, era vaidoso e queria se mostrar perante os amigos. O carro tinha que ser sempre do ano. Foram muitos ganhos com clientes do país inteiro e relacionamentos com empresários bem sucedidos. 
Tudo corria às mil maravilhas até que vieram as festas, as bebidas e os encontros. De repente, a empresa começou a desmoronar e acabou entrando em decadência. Ganhava-se bem, mas gastava-se muito. 
Uma mudança brutal na vida de André. Ele tornou-se  frequentador assíduo das casas noturnas e bares, onde deixava todo o sustento e o esforço do dia a dia da sua esposa. Soraia, preocupada com os negócios e com a família tentava, desesperadamente, sair dos problemas. Trabalhava de domingo a domingo para honrar com os compromissos.
Uma situação difícil, porque enquanto a esposa trabalhava,  André ficava nos bares bebendo. Não se importava com mais nada. Soraia escondia a real situação da sua família, pois não queria que ninguém se preocupasse com ela e seus filhos. Como era cristã dizia para si:
- Amanhã será um novo dia e será melhor que hoje, se Deus quiser!
E assim se passaram anos. Ela tinha esperança que ele mudasse, que voltasse a ser o homem trabalhador que foi um dia. 
Enquanto isso, a filha Bruna que cursava a faculdade, levava uma vida dura. Trabalhava como estagiária no centro da cidade para se manter nos estudos. Pegava o ônibus lotado todos os dias!! O salário que recebia mal sobrava para outros fins.
Carlos, também, estava caminhando nos estudos. Os filhos precisavam do pai e André piorava a cada dia, não lhes dava atenção e nem cumpria com sua responsabilidade na empresa, deixando tudo na mão da esposa, inclusive as contas pessoais.
O vício dominava-o, a cada minuto e segundo da sua vida. Soraia precisou tomar uma decisão. Chegara a hora dela fazer uma escolha: ela ou ele? Não poderia continuar daquela forma, não queria vê-lo numa sarjeta. Ele havia chegado no fundo do poço. Decadência total. Ela ameaçara-o com o divórcio quando o filho caçula completasse dezoito anos e mesmo assim ele não tomou jeito.
Então, cansada daquela vida, ela cumpriu a promessa. Mudou com os filhos para outro apartamento deixando tudo para trás. Uma situação dolorosa para ela que, durante muito tempo, ficou se perguntando se tomara a atitude correta.
Com o passar dos anos, Soraia percebeu que sim, afinal ela fez tudo o que estava ao seu alcance para ajudá-lo. Continuou por um ano a tocar a empresa, até que desistiu de tudo e foi tentar ser feliz! Os filhos eram independentes financeiramente e juntos eles deram a volta por cima. Ela era nova e tinha muita disposição para trabalhar.
André sempre foi uma pessoa muito bem relacionada, de muitos amigos. Conheceu outra pessoa com quem veio a se casar. Mas não respeitava seus limites. Continuou perturbando Soraia, chegando a humilhá-la com palavras duras. Foi muito difícil  para ela mesmo estando longe.
Percebeu, então, que sua dependência alcoólica não havia melhorado. Procurou ajuda para ele, pois apesar de tudo, ele era o pai de seus filhos. A nova esposa apoiou Soraia, mas não tiveram êxito a não ser entregá-lo nas mãos de Deus. 
Seu fim foi doloroso, já vendia tudo o que possuía por um copo de bebida. Com apenas cinquenta anos de idade, André estava se aproximando do final de sua vida. Faleceu aos cinquenta e um anos, deixando uma história triste de alcoolismo que o separou das pessoas que o amavam.
Mais uma família separada pelo álcool! Mais uma vida interrompida tão precocemente! Uma história triste, mas real.
Às vezes, perdida em seus pensamentos, Soraia se recorda daqueles momentos que poderiam ter sido diferentes. Mas acredita que não somos nós que determinamos a nossa história, é Deus que a determina para nós.
Uma lembrança, uma vida, um caminho!

39 comentários:

  1. Emocionante história parabéns a escritora

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  2. Gostei muito, talvez choque um pouco certas pessoas que estão habituadas com contos de final feliz, mas, a vida é surpreendente, a narrativa é de extrema beleza e sutileza, um conto com gosto de vida real, parabéns, adorei.

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  3. Concordo com vc Alfredo. Uma narrativa tão eficaz que me vejo dentro dessa história. Dar realidade a um conto é trazer fatos que infelizmente ainda acontece nos lares de muitos. Parabéns!!

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    1. Sim Tânia é assim mesmo que avalio um bom conto, a forma como ele é colocado, no caso de nossa escritora em questão, Cidália tem a coragem de criar algo que se preocupa mais em atrair o leitor para a sequencia dos fatos narrados do que com o previsível resultado de um tradicional conto de amor, sim, o amor permeia o texto por completo, mas, mostra que a vida é densa e complexa, fazendo do bem e do mal, do amor e da tragédia humana, meros coadjuvantes...

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  4. Que conto emocionante! O fato de não acabar como nas história de finais felizes deve chocar muita gente, mas infelizmente é o que acontece na vida de muitas pessoas!
    Adorei! Parabéns! :)
    Beijos
    www.omundodalilica.blogspot.com.br

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    1. Sim, infelizmente!!
      Muito obrigada, amei a sua opinião!
      😘😘

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  5. Infelizmente a realidade de muitas pessoas. Muitas pessoas lutam por uma situação melhor e quando conseguem deixam-se levar por bebidas, drogas, vício em jogos, deixando a família em segundo plano. como no conto, muitas vezes é impossível recuperar a estabilidade. Casos assim acabam por destruir a família toda. Que sirva de exemplo para todos nós.

    www.atraentemente.com.br

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    1. Pois é, quis mostrar nesse conto, o que um vício pode fazer na vida de uma família.
      Muito obrigada pelo comentário!
      Abraços.

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  6. A realidade de muitos contada com leveza! Parabéns!

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  7. Mulher seus contos são muito bom,ahh mas isso vc já sabe pq eu falo o tempo inteiro ne rsrsrs... A história é muito triste mas muito real.

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  8. Muito emocionante, e infelizmente é a realidade de muitos..

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  9. Gostei muito do conto! Realmente e infelizmente acontece em muitas pessoas e a família sempre acaba sofrendo com a situação. Linda a história.

    Beijos!

    http://raquelamandamakeup.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Raquel!
      Tem pessoas que se deixam levar pelo vício, infelizmente!

      😘😘

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  10. Nossa que profundo, adorei o texto... vou repassar pra minha mae, ela vai adorar tb

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    1. Oba, fico muito feliz de saber que você gostou!

      Obrigada pela visita! Beijos a sua mãe!

      💋💋

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  11. Nossa você escreve muito bem parabéns história emocionante É triste pensar que acontece muito isso ultimamente.
    Tem post novo no blog. Vem conferir...
    Estilo.Quem tem?

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  12. Que texto! Muito bom... Você tem talento. Beijos!!

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  13. Que conto emocionante em ? VOcê me surpreende cada dia mais , fico doida pra saber o desfecho da história rs. Amei o post, beijos

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  14. nossa muito linda a história,parabéns flor

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  15. Que emocionante, o conto bem legal, embora acredito que nós fazemos também sobre o nosso destino em cada escolha como mostra um pouco nesta parte "Tudo corria às mil maravilhas até que vieram as festas, as bebidas e os encontros. De repente, a empresa começou a desmoronar e acabou entrando em decadência. Ganhava-se bem, mas gastava-se muito. " Super beijo #Luma

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    1. Sim, infelizmente, o personagem perdeu o controle da situação no momento que optou pela vida desregrada.
      Super beijo! ❤

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  16. Texto um tanto emocionante! Parabéns!

    Bjs

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  17. Ótimo texto e extremamente verdadeiro.
    O alcool ainda é um dos maiores causadores de separação de famílias.
    É um vício muito triste.

    Beijinhos,
    Aline Magalhães
    Alineland

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    1. Obrigada, Aline! Sim, infelizmente!

      Nem fale!

      Beijinhos. ❤

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  18. Que história emocionante. Arrasou mais uma vez Ci. bjs

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