24 de dezembro de 1988
Todos os moradores da pequena cidade
de Monte Alegre estavam em festa.
Era noite de Natal e, na casa de seu Benedito e dona Maria, havia um motivo a mais para comemoração. Acabava de nascer seu segundo filho, um menino lindo, que por sugestão de sua irmã Carla, recebeu o nome de Jesus.
Era noite de Natal e, na casa de seu Benedito e dona Maria, havia um motivo a mais para comemoração. Acabava de nascer seu segundo filho, um menino lindo, que por sugestão de sua irmã Carla, recebeu o nome de Jesus.
Seu Benedito, um sujeito simples, trabalhava
como gari; se realizava com um mero sorriso das pessoas que passavam por ele,
sempre apressadas.
Dona Maria, uma mulher batalhadora e companheira, mesmo nos momentos difíceis, mantinha a alegria e uma palavra de fé e otimismo. Era a conselheira do bairro, por isso, a sua casa estava sempre cheia.
Dona Maria, uma mulher batalhadora e companheira, mesmo nos momentos difíceis, mantinha a alegria e uma palavra de fé e otimismo. Era a conselheira do bairro, por isso, a sua casa estava sempre cheia.
Carla, uma menina meiga, vivia
cantando e sentia muito orgulho de seus pais. Sonhava em ser médica para poder
curar as pessoas. Aquela família humilde e sem muitas ambições era querida por
toda a vizinhança. Seu Benedito e dona Maria não mediam esforços e trabalhavam
muito para um dia verem a filha formada.
16 de dezembro de 1998
O tempo passou rapidamente sem pedir
licença. Carla, como toda adolescente, levava uma vida feliz. Vivia rodeada de
amigos, festejando e alegrando as pessoas.
Jesus acordava todos os dias, com a cantoria
da sua irmã, que parecia uma cantora profissional, e com o cheiro do café da
sua mãe, que para ele era o melhor café do mundo. À mesa do café da manhã,
ouvia as músicas caipiras ao lado do pai e suas gargalhadas intermináveis. Para
seu Benedito tudo era engraçado.
17 de dezembro de 2000
O dia mais esperado para a família de
seu Benedito, finalmente chegou. O dia da formatura de Carla. Nesse dia, o sol
resolveu nascer mais cedo, para dar bom dia ao seu Benedito. Ele foi trabalhar
com um largo sorriso no rosto. E em meio à poeira e ao lixo, ele era a pessoa
mais feliz do mundo, pois, valorizava todos os momentos da vida. Fazia questão de contar aos amigos sobre a emoção que
estava sentindo.
À noite, Carla estava radiante e não
parava de cantar. Sabia que em breve estaria iniciando o ensino médio e se
esforçaria ao máximo para tentar realizar seu sonho. Seu irmão só observava
aquele momento mágico da sua família. Ele achava muito engraçado a indecisão do
pai quanto à escolha da roupa. Para Jesus, aquele momento poderia durar eternamente.
Mas foi nessa noite, que Jesus
descobriu, que nada dura para sempre. Foi quando a lua se recusou a aparecer, talvez
não querendo presenciar aquele terrível momento para a sua família. O momento
que mudaria para sempre a sua vida e a vida do seu pai. A lua, antes companheira,
não quis ser testemunha de tanta dor.
A caminho do clube aonde seria
realizada a formatura, um carro dirigido por um jovem bêbado que estava fazendo
racha com os amigos, tirou a vida da jovem Carla e da sua mãe. Pela primeira
vez, Jesus viu seu pai chorando. Era uma cena horrível, surreal.
Aos doze anos de idade, Jesus
descobriu que a vida não era tão perfeita como ele imaginava e que a dor
existia e estava muito perto, só esperando a hora certa para se instalar em seu
coração. Ele viu o tempo passar e levar embora sua infância e seus sonhos.
10 de fevereiro de 2002
Seu Benedito perdeu a fé e desistiu
da vida. Largou o emprego e se entregou à bebida. Muitas vezes passava a noite caído em frente
ao bar ou voltava para casa carregado pelos amigos.
Jesus só se alimentava com a sopa da
escola e era motivo de chacota pelos colegas. Ele andava com o sapato furado e
a calça rasgada. Seu pai se tornara um boêmio, quase nem se alimentava mais.
Então, Jesus resolveu sair da escola
e começou a trabalhar numa oficina que ficava ao lado da sua casa. Muitas vezes
chorava quando via seu pai, seu herói, o homem com o maior coração do mundo, se
acabando aos poucos com a bebida.
Jesus não entendia porque a vida estava
sendo tão cruel com seu pai, um homem praticante do bem. Seguindo os conselhos
de uma cliente da oficina, Jesus foi à igreja para acalmar a dor do seu coração.
Quando entrou, estranhou o que viu pela frente, o lugar era grande e luxuoso,
não era o lugar simples que sua mãe sempre dizia ser a casa de Deus. Ele notou
que as pessoas estavam todas bem vestidas e olhavam de soslaio para ele. Talvez,
pela barba que estava grande ou pela roupa velha, quem sabe!
Tudo o que ele queria, naquele
momento, era ouvir uma palavra amiga, receber um gesto de amor. Na saída, ainda
esperou um pouco para ver se alguém se aproximava dele, mas em vão. Enquanto as
pessoas se dirigiam aos belos carros no estacionamento, passavam por ele sem notá-lo.
Com o dinheiro que ele ganhava na
oficina e com a ajuda do seu patrão, pôde colocar e manter o pai numa clínica
de recuperação.
21 de dezembro de 2005
Com muitas dificuldades para
conseguir algo melhor, aos dezoito anos, Jesus voltou a estudar e foi quando conheceu
a garota da sua vida.
Paula era uma garota linda, com um
belo sorriso e um coração enorme. Ela despertou nele um sentimento que há muito tempo
havia sumido. Era um sentimento bom que fazia seu coração bater mais forte e
feliz.
Paula ajudou-o a superar seus traumas
da época do colégio e o que parecia impossível tornou-se real, ele terminou o
ensino médio. Ela mostrou para ele que os desafios da vida valem a pena e não
se deve nunca deixar de sonhar; e que os estudos tinham apenas começado.
Tendo Paula como a sua grande
incentivadora, Jesus entrou para a faculdade, conseguiu um bom emprego e mais
tarde, casou-se com ela. Seu Benedito estava recuperado e orgulhoso do filho.
Eram companheiros um do outro. Formaram uma bela família.
16 de dezembro de 2013
Mesmo com muitas dificuldades, Jesus
conseguiu se formar. Afinal, não era fácil trabalhar e estudar. Sua alegria
ficou ainda maior, quando soube que seria pai.
Quando seu Benedito recebeu a notícia
de que seria avô de uma menina, não se conteve, desmanchou-se em lágrimas.
O sol nasceu mais cedo para
contemplar aquele dia maravilhoso e sorrir para seu Benedito. Ele estava muito
feliz, com os olhos cheios de lágrimas. Agradeceu a Deus por tê-lo mantido em
pé, mesmo depois dele ter perdido a fé.
Deus deu a ele uma nova chance para
poder presenciar aquele momento, a formatura do filho amado. Mostrou que a
pessoa deve acreditar sempre, mesmo nas horas mais escuras, em que tudo parece
estar perdido.
Durante a festa de formatura, o
abraço que Jesus deu no pai fez com que o tempo parasse e trouxesse de volta à
lembrança, a imagem da mãe e da irmã. As lágrimas que cobriam o rosto dele se
transformaram em sorrisos e todos aplaudiram.
Doutor Jesus acordava cedo todos os
dias, ouvindo a cantoria da sua filha que recebeu o nome de Carla e com o cheiro
delicioso do café de Paula, sua esposa. Sentia a maior felicidade do mundo
quando sentava para tomar o café da manhã ao lado do pai, ouvindo as músicas
caipiras e suas gargalhadas.
Colaboração de P.W.M.
Colaboração de P.W.M.