domingo, 25 de dezembro de 2016

05- Crime perfeito (dúvidas)


Chegou o dia de participar de mais um evento, o lançamento do seu livro numa cidade próxima de onde estava morando. Dessa vez, Cassiano levaria a Suzana consigo. Teria, apenas, que ficar sempre ao seu lado para não deixá-la sozinha com o Josias, seu agente. Sua preocupação era que ele tocasse no nome da Belinda e sobre Milão.

Suzana precisava se distrair um pouco. Desde a morte dos pais que não saía de casa. Pegara uma licença médica. Andava deprimida, desde então. Volta e meia pensava nos pais e o que teria levado seu pai a dirigir sem notar que tinha algo errado com o automóvel. Ele era um homem prático e cuidadoso.

Ao chegarem à livraria onde aconteceria o evento, os dois foram recebidos pelo Josias.
- É um prazer conhecê-la, Suzana! Você é uma moça muito bonita.
- Obrigada, o senhor é muito gentil.
Cassiano puxou a Suzana pelo braço e a levou para longe do Josias.
- Querida, quero que fique ao meu lado. Gosto da sua companhia. Não trouxe você para que fique tagarelando com meu agente.
- Como quiser, querido. Seu pedido é uma ordem.

Logo, os convidados começaram a chegar e Cassiano tomou seu lugar. Suzana ficou próxima a ele como se fosse sua assistente.
Durante o evento foi servido um coquetel e muitas fotos foram tiradas. Os fãs quiseram fazer selfies com o Cassiano e Suzana deu espaço a ele. Josias aproveitou para se aproximar dela. Estava esperando esse momento para lhe fazer umas perguntas.

- Vocês se conheceram em Milão? O Cassiano estava sozinho quando se viram pela primeira vez?
- Sim, nos esbarramos por acaso, na rua. Por quê?
- Ele viajou com a mulher para se reconciliarem, estavam passando por uma crise.
- Quando nos conhecemos ele disse que estava solteiro. Não entrou em detalhes. Ele não gosta de conversar sobre o passado. Muda de assunto cada vez que faço alguma pergunta.
- Provavelmente não se entenderam e acabaram se separando. Ele comentou que a Belinda conheceu outra pessoa lá. Apenas isso.
Nisso, Cassiano aproximou-se e interrompeu a conversa. Abraçou a Suzana no momento que foram fotografados.
- Querido, não vai convidar seu amigo para passar o final de semana conosco?
- Não, ele tem outros compromissos e vai embora amanhã pela manhã. Dormirá num hotel.
- Que pena, gostei de conversar com ele. Nem terminamos o assunto.

Despediram-se do Josias que ficou chateado. O Cassiano não convidou-o para passar o final de semana com eles. Sabia que, provavelmente, os dois ainda estivessem em clima de lua de mel, mas o Cassiano deveria tê-lo convidado por educação. Pensou na atitude do escritor ao tirar a Suzana do seu lado. Será que estava com ciúme dela?

Alguns dias depois, lá na cidade onde Cassiano morara com a Belinda, Rosa, a faxineira do casal, estava passando em frente à banca de revistas e como sempre fazia, parou para dar uma olhada nas capas. Arregalou os olhos quando viu a foto do seu antigo patrão, abraçado com uma linda mulher, na capa de uma revista. Não pensou duas vezes e a comprou.

Passou aquele dia pensando naquele casal e na sua antiga patroa. Lembrou que ela não havia voltado com o marido daquela viagem à capital e que após algum tempo, o patrão tinha se mudado de lá. Como ele era um homem de poucas palavras não ficou sabendo o que ele fizera com a casa, se a vendera ou alugara. Lembrou que ele dissera que a esposa ficara cuidando de uma amiga que estava doente. Antes de ir embora, o escritor dissera que ia se separar dela e que faria uma viagem ao exterior.
- Esses homens - pensou em voz alta - já está com outra!!
Ela sabia que tinha o telefone da antiga patroa e quando retornou para casa, no final do dia, procurou sua agenda e ligou para a Belinda. Tentou várias vezes, mas não conseguiu completar a ligação. Talvez ela tivesse trocado de celular e mudado o número. Naquela noite foi dormir pensando na vida. A imagem do ex patrão abraçado com outra não saía da sua cabeça. Sonhou com a Belinda. Ao acordar tentou lembrar do sonho, porém não conseguiu. Tentaria entrar em contato com o escritor para saber as novidades. Como faria para falar com ele? 

Não tinha seu telefone; era a Belinda que falava com ela sempre que precisava. Será que o encontraria nas redes sociais? Fuçou, mas só encontrou as notícias relacionadas a ele. Numa dessas notícias descobriu o nome do seu agente. Conseguiu localizar seu e-mail e entrou em contato com ele.

"Olá, tudo bem?
Talvez o senhor não se lembre de mim, mas numa de suas vindas à casa do escritor Cassiano, aqui no interior, eu estava terminando uma faxina no escritório dele quando vocês entraram. O senhor se dirigiu a mim educadamente e me cumprimentou.
Deve estar se perguntando qual o motivo deste e-mail, pois bem, tentei entrar em contato com a dona Belinda no telefone que tenho, mas não consegui. Gostaria de ter notícias dela. Não tenho o contato do seu Cassiano e fiquei muito curiosa sobre o paradeiro da dona Belinda, depois de ter visto uma foto do meu ex patrão com outra mulher.
Lembro do dia em que ele foi embora sem olhar para trás. Eu havia ido fazer o meu trabalho e ele me dispensou, dizendo que ia embora para o exterior. Ia se separar da mulher. Naquele momento, nem sei o que pensei. Fui embora, precisava procurar outra casa para preencher a minha semana. Acabei não pensando mais nos dois.
Sabe como é, a vida é corrida e preciso trabalhar para sustentar meus filhos. Mas, agora, vendo a foto dele com outra mulher, comecei a sonhar com a minha ex patroa. Gostaria de saber se ela voltou para buscar as coisas dela. Todos aqueles trabalhos de artesanato que ela fazia e tinha tanto cuidado com eles. Ele não deve ter levado tudo naquele dia, mesmo se ele quisesse não caberia no carro. Eram peças feitas de argila e gesso. Ela tinha tanto ciúme das suas artes como tinha do patrão.
Espero que o senhor tenha notícias dela e me responda, por favor. A casa continua fechada, se ele vendeu o novo dono ainda não apareceu.
Obrigada pela atenção!
Até mais,
Rosa."

Quando o Josias acessou a sua conta e se deparou com aquele e-mail ficou pensativo. Ele também gostaria de ter notícias da Belinda. O único defeito dela era o ciúme exagerado que sentia pelo Cassiano. Com ele sempre fora gentil e simpática. Ligou para Cassiano e comentou sobre o e-mail que recebera da Rosa. Perguntou sobre a casa do interior e ele dissera que estava a venda, mobiliada. Não sabia se a Belinda tinha ido buscar suas coisas, ela tinha uma chave da casa e podia ir lá quando quisesse. Ela não entrara mais em contato com ele.

Josias respondeu o e-mail da Rosa e marcou um encontro com ela dentro de duas semanas, quando ele estaria livre dos compromissos. Se a casa estava à venda ele se mostraria interessado, assim poderia entrar lá, pegando a chave na imobiliária. Queria se certificar de que as obras de arte tinham sido levadas pela Belinda.

Cassiano ficou preocupado com a notícia de que a faxineira estava curiosa sobre o paradeiro da Belinda. Precisava dar um jeito nela. Não queria ninguém xeretando sua vida. Naquele mesmo dia, disse à Suzana que precisava se encontrar com o agente e que ficaria dois ou três dias fora. Ela já estava melhor e voltara ao trabalho. Ficaria bem sozinha. No dia seguinte, alugou um carro com um nome falso e viajou para a cidade onde morava. Chegou a noite e foi direto para sua casa. Achou o endereço dela numa agenda da Belinda e foi procurá-la. Já passava das onze da noite quando ele bateu a sua porta. Ela atendeu achando que fosse algum vizinho precisando de ajuda. As crianças estavam dormindo, eram dois meninos, um de cinco e outro de oito anos.

Assim que ela abriu a porta sentiu uma mão que lhe sufocou. Estava escuro, ela caiu desmaiada. Cassiano a arrastou para a cozinha!

Pobre Rosa, mais uma vítima do cruel Cassiano!

Não perca o próximo capítulo!!

Sua visita me deixa muito feliz, obrigada!

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Beijos,
Cidália.

domingo, 18 de dezembro de 2016

04- Crime perfeito (novos planos)


Cassiano levou Suzana para jantar num restaurante chique para comemorar o lançamento do livro. Depois de ficar anos escrevendo sem fazer sucesso, estava retornando em grande estilo ao mundo literário.

O período em que foi morar no interior com a Belinda foi um período de retrocesso. Concluiu algumas obras que ficaram estocadas nas livrarias. Chegara a escrever outros gêneros, como terror e suspense, porém não obteve bons resultados. Esse último, que ele terminou depois que estava sozinho, teve uma ótima aceitação do público. Dali em diante continuaria a escrever ficção.
Durante o jantar, Cassiano respondeu as perguntas feitas pela Suzana sobre o evento. O próximo seria dali um mês numa cidade próxima. Talvez ela pudesse acompanhá-lo.

Enquanto os dois conversavam, naquele mesmo momento, o agente do Cassiano refletia sobre o comportamento do escritor. O que o teria levado a ir embora sem se despedir? Eles tinham combinado de jantar com o pessoal da editora. Tinham assuntos pendentes para resolver. Ele sequer telefonou para se desculpar. O agente ligou e ele não atendeu. Então, o agente ligou no hotel e ficou sabendo que ele tinha ido embora logo pela manhã.

De repente, Josias, o agente, se deu conta de que não tinha o endereço do Cassiano. Só tinha conhecimento do telefone celular. Sabia, apenas, que ele estava morando no sul. Ia ligar para pedir o novo endereço, queria fazer uma visita a ele.

A partir daquele dia, Josias ficou pensativo. O comportamento do Cassiano estava diferente. Lembrou-se que na noite do evento ele estava com olheiras. Será que ele estava sentindo falta da mulher? A Belinda sempre o acompanhava e apesar das crises de ciúme, ela cuidava bem do marido.

Como ele gostaria de conversar com a Belinda! Queria saber a versão dela sobre a separação. Não que fosse da sua conta, era apenas curiosidade. E ele simpatizava com ela, afinal de contas. Ficara surpreso quando soube que ela tinha conhecido alguém em Milão. Sempre pensara que ela era apaixonada pelo Cassiano. Ele sabia que ninguém manda no coração, só que tem coisas que surpreendem. Esperava que ela tivesse tomado a decisão certa e que fosse feliz.
Suzana quis apresentar o amado à família e o levou à fazenda onde eles moravam para passar um feriado. Sua mãe se encantou pelo Cassiano. Era o genro que ela tinha pedido a Deus. Seu pai não confiava nas pessoas que não o olhavam diretamente nos olhos e ficou com um pé atrás. Desaprovou a decisão precipitada da filha de levar o Cassiano para morar com ela.

- Jesuíno, seja simpático pelo menos, senão nossa filha vai ficar chateada.
- Ela está mostrando a fazenda para ele, não se preocupe. Sou educado, mesmo que eu não goste de uma pessoa sei disfarçar.
- A vida é dela, temos que apoiá-la nas suas decisões, quer gostemos ou não. E eu o achei muito simpático e gentil.
- Celinha, não está mais aqui quem falou. Só que se alguma coisa der errado, não diga que não avisei.
- Vire essa boca pra lá, homem! Eles formam um belo casal. Vai dar tudo certo entre os dois.

Cassiano estava gostando muito daquele lugar, já estava se imaginando morando ali. Era o lugar perfeito para ele se manter isolado. Estava pensando em viajar, apenas, para participar dos eventos referentes ao lançamento do seu livro. Poderia manter seu endereço em segredo. Marcaria os encontros com o agente em lugares neutros. Poderia dizer que a Suzana queria preservar a vida particular.

Sua mente ardilosa começou a pensar num plano para afastar os pais da Suzana dali. Seria fácil dar um jeito neles. Eles não lhe causaram empatia. Percebeu, também, que o sogro não gostou dele. Fez o possível para aturá-los naqueles dias.

No dia seguinte, antes de irem embora ele pediu a mão da Suzana em casamento. Apesar dos pesares, fez questão de causar boa impressão a todos.
Durante a viagem de volta ele foi pensando na execução do plano, que saíra melhor que a encomenda. Uma imagem estava fixa na sua mente, a Belinda, sorrindo para ele. Até o final do dia teria notícia dos sogros. Suzana dirigia e de vez em quando olhava para ele que estava com os olhos fechados. Ah, se ela adivinhasse seus pensamentos!

- Chegamos, querido! Uma hora e meia de viagem e você dormiu o tempo todo!
- Lembra o nosso combinado? Eu dirigi na ida e a volta era por sua conta.
- Conversei com você durante o trajeto e você mal trocou duas palavras comigo, hoje.
- Não dormi direito, Su. Tive pesadelos horríveis, quando peguei no sono já estava na hora de levantar.
O que Suzana não imaginava era que Cassiano, na verdade, havia arquitetado um plano para se apossar da fazenda dos sogros. Pensamentos cruéis atordoavam-lhe a mente. Descobrira que era onipotente. Mentira sobre os pesadelos da noite anterior.

Suzana o deixou em casa e foi para o trabalho. Dirigia, pensando no comportamento do Cassiano. Em alguns momentos ele parecia ausente. Notou que sua mãe se apaixonara por ele, mas seu pai lhe pareceu reticente.
No final do dia, Suzana recebeu o telefonema de uma senhora, vizinha da mãe.
- Suzana, seus pais estão no hospital, sofreram um acidente. O estado deles é crítico.
- Meu Deus, em qual hospital eles estão? Estou indo para lá.

Suzana ligou e avisou o Cassiano que ficou de se encontrar com ela no hospital. Ele pegaria um táxi. Infelizmente, quando Suzana chegou ao hospital seus pais já estavam mortos. Uma falha mecânica no carro havia causado o acidente.
Muitas dúvidas surgiram na cabeça de Suzana, ela e Cassiano haviam saído cedo da casa de seus pais e eles não tinham comentado que pretendiam sair de carro naquele dia. Onde será que estavam indo? Por que a vizinha foi avisada antes dela? Bom, talvez quem ligou para a vizinha desconhecia seu telefone.
Quando Cassiano chegou ao hospital encontrou-a chorando na sala de espera. Ele a abraçou, consolando-a.
-Vamos para casa, querida. Não há nada que você possa fazer agora. Depois eu volto para tomar as providências necessárias.

Suzana, inconsolável se deixou levar pelo companheiro. Seus pais estavam tão bem naqueles dias que passaram juntos. Sua mãe ficara feliz com o pedido de casamento que ela recebera. Como a vida era engraçada.

Chegando em casa, Cassiano a levou para o chuveiro, ajudou-a a tomar banho, fez um chá e deu um calmante a ela. Deixou-a na cama e voltou ao hospital para resolver as coisas. Tudo saíra como planejado. Na noite anterior ele tinha ouvido os sogros falarem que iam até a cidade. A sogra, mesmo contra a vontade do marido, queria comprar um presente de noivado para a filha. Fariam uma surpresa, na noite seguinte, para a Suzana. Na calada da noite, Cassiano foi à garagem e mexeu no carro do sogro.

Estava orgulho de si! Como foi fácil dessa vez! Agora era só convencer a Suzana a morar na fazenda. Ela poderia alugar ou vender a sua casa. Diria que a fazenda era o lugar perfeito para viverem. Para terem filhos.

O agente telefonou para marcar um lançamento numa cidade próxima dali. Ainda seriam feitos em mais algumas cidades. Dessa vez, Cassiano levaria a Suzana, seria numa sexta a noite. Ela estava precisando espairecer.

Suzana, abalada pela morte dos pais, concordou com o companheiro em morar na fazenda. Deixaria a casa fechada por uns tempos e se afastaria do trabalho até se recuperar totalmente. Deixou que o amado dirigisse sua vida. Estava cansada de ser forte. Queria ser paparicada. Quanto a morte dos seus pais, chegaram a conclusão de que fazia tempo que o carro não passava por uma revisão. Os freios estavam gastos.

Na casa da fazenda, Cassiano voltou a ter pesadelos. Agora ele via a Belinda e os pais da Suzana. Os três riam dele. Ele começou a tomar remédio para dormir. Amanhecia com olheiras e não estava conseguindo escrever. Passava os dias pescando ou lendo na companhia da Suzana, que deixava-se levar. Os empregados da fazenda haviam sido dispensados. Cassiano alegou que ele e a esposa venderiam o gado. Os dois dariam conta do trabalho e quando precisassem contratariam temporários.
Na verdade ele não queria criar vínculos com ninguém ou correr o risco de ser vigiado.
- Confio em você, amor. Pode fazer o que achar melhor.
Era tudo o que o Cassiano precisava ouvir naquele momento.

O que estava acontecendo com a mente daquele assassino?

Mais novidades vêm por aí, aguardem!
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Agradeço a sua visita!

Feliz Natal!!

Cidália.





domingo, 11 de dezembro de 2016

03- Crime perfeito (pesadelos)


De volta ao Brasil, Cassiano e Suzana pareciam o casal mais feliz do mundo. Ambos foram diretamente do aeroporto para a casa dela no sul do país. Cassiano estava tendo a oportunidade de recomeçar uma nova vida, bem longe do lugar onde havia abandonado o corpo da sua esposa. Ligou para o estacionamento onde tinha deixado o carro e garantiu que em breve iria buscá- lo.

Ele pensava que tudo acontecia por um motivo e conhecer a Suzana, justamente, quando estava numa nova fase, parecia um bom sinal. Uma mulher como Suzana, bem diferente da Belinda lhe trazia ânimo para viver.
Analisando sua vida, com Belinda ele se sentia de mãos atadas, preso num relacionamento onde o ciúme acabara sufocando o amor. Casaram aos vinte anos, logo que ele perdera a mãe que acabou morrendo de pneumonia. A última notícia que tivera do pai foi pouco antes da morte da mãe. Seu pai havia tido um AVC e estava num abrigo para idosos. Cassiano não se importou com essa informação. A única pessoa que ele amava era a mãe. Nunca mais tivera notícias do irmão que saíra de casa aos quinze anos para morar com os avós. Perderam o contato.

Belinda, na época do casamento, vivia com os avós. Seus pais haviam falecido num acidente de carro quando ela era adolescente. Na verdade, Cassiano e Belinda não chegaram a se casar oficialmente. Foram morar juntos para fazer uma experiência e como estavam muito apaixonados um pelo outro, uma assinatura num papel não faria a menor diferença para eles.
No início tudo era motivo de felicidade. Cassiano se desdobrava entre o trabalho, na fábrica, onde conseguira uma promoção, depois que terminou o ensino médio e o projeto de escrever um livro. Era seu maior sonho. Belinda, também funcionária da fábrica, começou a demonstrar seu ciúme doentio assim que foram morar na mesma casa. Nem filhos ela quis, para dedicar seu amor apenas ao Cassiano.
Cassiano a amava e suportava em silêncio as crises da esposa. Tão logo ele começou a fazer sucesso com o seu primeiro livro, o ciúme dela aumentou. Ela parou de trabalhar na fábrica para acompanhá-lo aos eventos. Cassiano deixou a fábrica depois de receber um bom dinheiro com a venda do primeiro livro. Dali em diante se dedicaria exclusivamente à escrita. Ficção era o gênero que mais gostava. Pretendia escrever muitos livros. Estava realizando seu maior sonho.

Muitas vezes, Cassiano sentiu-se envergonhado ao presenciar o piti da esposa. Se ele olhava para alguma mulher ou atendesse o pedido de alguma moça para tirar uma selfie, Belinda rodava a baiana. Ele pensara em deixá-la mais de uma vez, porém, ela ameaçou se matar. Não vendo outra alternativa e cansado das confusões que ela arrumava por conta do ciúme, Cassiano resolveu comprar uma casa no interior. Num lugar onde viveria praticamente como um nômade. Assim não haveria motivo para Belinda perder o controle motivada pelo ciúme. Durante alguns anos conseguiram viver em paz. Isso, porque, ele abrira mão de muitas coisas. Talvez ele tentasse justificar para si o motivo de tirar a vida da mulher. Daquela a quem ele amou e que lhe dedicou atenção e carinho exageradamente.
Com Suzana, ele acreditava que seria diferente. No pouco tempo de relacionamento tudo era um mar de rosas. Não conversavam sobre o passado. A eles só o futuro importava. Suzana não o apressou para conhecer seus pais. Disse que quando ele sentisse que estava na hora de conhecê-los, poderiam passar um final de semana com eles na fazenda. Seus pais não gostavam de viajar e a mãe só ia à cidade quando era necessário. Cassiano chegou a conversar com eles por telefone.
Os dias passavam rapidamente para o novo casal. Enquanto Suzana saía para o trabalho, Cassiano cuidava do jardim e aguardava o lançamento do livro. Numa conversa com o agente, não contou onde estava morando.
- Por enquanto não fixei residência. Estou hospedado num hotel no sul do país. Quero conhecer alguns lugares antes de começar o próximo livro.
- O lançamento será daqui um mês, aqui na capital. Ligarei para você uns dias antes.
- Pode deixar que, dessa vez, eu mesmo reservo o hotel. Não quero ficar naquele que ficamos da outra vez.
- Posso saber por quê?  Por falar nisso, como está a Belinda?
- Eu estava esperando você perguntar para contar a novidade. A lua de mel não deu certo. Enfim, ela conheceu uma pessoa em Milão e resolveu ficar por lá.
- Inacreditável! E aquele amor que ela dizia sentir por você, acabou de uma hora para outra?
- Pois é, até parece mentira, mas é a realidade. Na verdade, o amor que sentíamos já não era o mesmo há muito tempo.
- Bom, se você diz eu acredito. Não vai me dizer que também conheceu alguém?
- Sim, conheci uma moça em Milão, também.
- Que engraçado! A viagem era para você e Belinda se acertarem depois do vexame que ela deu naquele hotel aqui na capital, e agora você me diz que cada um de vocês conheceu outra pessoa!
- A vida, às vezes, prega algumas peças. Nunca aconteceu algo assim com você?
- Nem sei o que te dizer, cara. Deixe- me assimilar essa novidade!
- Preciso que você me faça um favor. Deixei o carro num estacionamento e quero que você pegue-o para mim. Se puder vendê-lo, mandarei os documentos pelo SEDEX.
Despediram-se com um até logo, depois de Cassiano passar as informações necessárias sobre o estacionamento. Falou que ligaria autorizando a retirada do carro. Por algum tempo ficou pensativo. Será que seu agente não desconfiou de alguma coisa? Logo ele saberia.
De uma coisa ele tinha certeza, estava enredado nas suas mentiras. Tinha que ser cauteloso para não cair em contradição. E se o agente conversasse com a Suzana e fizesse perguntas? Se tocasse no nome da Belinda com ela? Se comentasse sobre a história que ele lhe contou? Ele precisava pensar em alguma desculpa para não levar a Suzana no lançamento.
Por sorte, Suzana tinha muito trabalho e não poderia se ausentar por alguns dias e o lançamento fora marcado para acontecer numa quinta-feira. Melhor assim, ele viajaria sozinho.
Chegando na cidade onde sua vida dera uma reviravolta, mesmo ficando em outro hotel, a lembrança da Belinda voltou a persegui-lo. Parecia sentir a sua presença. A noite teve pesadelo. Dormiu muito mal. Na noite seguinte durante o lançamento do livro, seu agente percebeu que ele estava estranho.
- O que está acontecendo com você? Está absorto! Daqui a pouco os convidados começarão a chegar.
- Impressão sua, estou bem!
- Gostaria de falar com a Belinda, estou com saudades dela.
- Por que não ligou para ela?
- Liguei, mas não consegui. Tentei várias vezes!
- Vai ver ela não voltou de Milão. Quem sabe resolveu casar por lá?
- Ela não entrou mais em contato com você?
Nisso, os convidados começaram a chegar e a conversa foi interrompida. Após o evento chegar ao fim, Cassiano preferiu ir para o hotel. Não estava com vontade de sair com o agente para comemorar. Sua cabeça estava fervilhando. Viu entre os convidados uma mulher parecida com Rosa, a faxineira, e ficou agoniado. Só depois que percebeu que não era ela, conseguiu relaxar.
Afinal, o que a faxineira estaria fazendo entre os convidados para o lançamento do seu livro? Talvez, voltar ao local do crime pouco tempo depois não tivesse sido uma boa ideia. Mas, fazer o que se a primeira cidade escolhida para o lançamento fora aquela?
Naquela noite o pesadelo foi pior. Belinda estava esperando por ele sobre a ponte. Toda ensanguentada. Ele despertou suando frio!
Assim que amanheceu, Cassiano foi para o aeroporto sem se despedir do agente. Quando chegasse ligaria para ele e inventaria uma desculpa. Mentir tinha se tornado um hábito. Sabia que ao lado da Suzana ele dormiria tranquilo. Ela passava serenidade e o acalmava.
Até quando o fantasma da Belinda iria assombrá-lo? O pior que não podia desabafar com ninguém. Era um segredo incompartilhável. Há momentos na vida que se perde a estribeira e no dia em que ele escondeu o corpo da mulher, dentro da mala, e o confiou às águas profundas daquele rio, passou a conviver com sentimentos, antes, camuflados dentro de si.
No final do dia foi buscar a Suzana no trabalho. Ela estranhou a volta repentina dele.
- Querido, pensei que você voltaria só amanhã. Estava esperando um telefonema e de repente te vejo aqui!
- Senti a sua falta, de agora em diante só irei em algum lugar se você me acompanhar.
Suzana correspondeu ao abraço caloroso e o beijou delicadamente nos lábios.

Até quando Cassiano conseguirá esconder a verdade sobre a Belinda? 
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Aguarde mais um capítulo em breve!

Sua visita me deixa feliz e sua opinião é muito importante para mim.

Uma semana iluminada a todos!!
Beijos,
Cidália.





domingo, 4 de dezembro de 2016

02- Crime perfeito (recomeço)

                                                          PS: foto copiada da internet.

Cassiano que já tinha reservado a passagem pela internet; deixou o carro num estacionamento onde pagou adiantado pelo período de quatro meses e foi direto para o aeroporto. Aguardou o voo que o levaria à Europa, mas especificamente a Milão. Na sala de embarque passou despercebido. O visual que assumira era muito diferente do visual que tinha na época que era famoso.

Aquele homem que se encontrava ali, naquele momento, era um homem cabeludo, barbudo e com óculos de grau. A miopia aumentara no decorrer dos anos. Trajava jeans e camisa polo, num estilo bem casual. Tinha o casaco dependurado no braço. O clima estava ameno e certamente sentiria frio durante o voo. Sabia que quando chegasse ao seu destino, o casaco seria dispensado, pois era verão em Milão.

No auge da fama, Cassiano era um homem muito bonito, atraente e elegante. Chamava a atenção das mulheres quando entrava num recinto. As moças faziam questão de pedir um autógrafo e de tirar uma foto com ele. As mais ousadas pediam o seu telefone e deixavam seu número.

Daquela vida de sucesso ele guardara apenas uma vaga lembrança. Agora ele se tornara um assassino frio e cruel. A convivência com Belinda fizera com que um sentimento muito ruim aflorasse e viesse a tona. Um sentimento que ele havia enterrado dentro de si após a adolescência.

Ele foi uma criança violenta, chegara a agredir colegas na sala de aula e até mesmo alguns professores. Apanhava muito do pai, que chegava bêbado em casa quase todas as noites. Sua mãe não o defendia porque sobrava para ela, também. Muitas vezes ele via a mãe deitar chorando. Seu irmão mais velho saiu de casa aos quinze anos para morar com os avós. Na escola, Cassiano fazia com os colegas a mesma coisa que o pai fazia com ele. 

Por duas ou três vezes ele chegara a pensar em matar o pai. E sua mãe percebendo o olhar de raiva que ele direcionava ao pai, fugiu de casa com o filho e foi morar bem distante do marido. Arrumou emprego numa fábrica e se virou como pode para criar o filho sozinha. Vendo o sofrimento da mãe, Cassiano pensava com ódio no pai. Invejava os colegas de escola que tinham uma família feliz. Essa inveja fazia com que ele maltratasse as outras crianças e os animais. Seu passatempo era machucar os cachorros e gatos da vizinhança. Chegara a matar alguns gatinhos. Não tinha amigos, ninguém gostava dele. Conforme foi crescendo seu comportamento foi mudando. Começou a sentir pena da mãe. Ela se tornara uma mulher sofrida e ele sabia que parte do sofrimento era por sua causa. 

Ao completar dezesseis anos, Cassiano começou a trabalhar na mesma fábrica que a mãe, uma fábrica de perfumes. O laço entre os dois ficou mais forte, ambos saíam de casa juntos e voltavam juntos. Ele começou a estudar a noite no Supletivo, pois perdera alguns anos de estudo. Precisava recuperar o tempo perdido. Dali em diante, conseguiu terminar o ensino médio e ser promovido no trabalho. Seu passatempo era escrever e dedicava-se ao sonho de escrever um livro. 

Ali, no hotel, em Milão, Cassiano relembrava o seu passado. As lembranças reacenderam em sua mente. Estava ali para dar um tempo e esperar a poeira baixar. Precisava desapegar-se de tudo que deixara para trás. Durante os três meses que ficaria naquela cidade, esperava terminar seu novo livro. Após esse período, retornaria ao Brasil. No dia seguinte, ligou para seu agente e mentiu.

- Vim para terminar o livro e para fazer as pazes com minha esposa. Depois da cena que você presenciou naquele nosso encontro, precisamos ver o que realmente queremos. 
- Por que você não me ligou antes da viagem? Eu teria ido encontrá-los no aeroporto.
- Não quisemos incomodá-lo. E Bel ficou um mês ajudando uma amiga na capital. Eu a encontrei no aeroporto. Tínhamos que colocar os assuntos em dia.
- Bom, se precisarem de alguma coisa é só me ligar. 
- Obrigado, só voltarei a ligar se for necessário. Preciso me concentrar no meu livro e fazer alguns passeios com a Bel.
- Ok, dá um abraço nela por mim!

Assim que desligou o telefone, Cassiano voltou a pensar na sua vida. Queria se desapegar do passado, porém, aquele menino malvado e mentiroso, despertara dentro de si. Nem ele mesmo estava se reconhecendo. De uma hora para outra parecia tão fácil matar alguém, viajar para outro país, mentir. Nem por um momento chegou a sentir remorso pelo que fizera com a esposa. No fundo estava sentindo-se livre. Belinda tornara-se uma mulher pegajosa, pensava que era dona dele. Quem sabe quando a matou, talvez quisesse ter feito aquilo, mesmo tendo sido sem querer. Ele não planejara, mas chegou à conclusão de que foi melhor assim. Ela não teria aceitado uma separação.

Uma semana em Milão e Cassiano estava com a cabeça cheia de ideias para finalizar seu trabalho. Faria sucesso com esse novo livro. Poderia fazer qualquer coisa depois disso, fixar residência em algum lugar ou viajar para onde quisesse. Nem haveria necessidade de trocar o nome. Poderia continuar sendo ele mesmo. Se o corpo da Belinda tivesse sido encontrado, certamente, seu agente teria ligado para questioná-lo.

No final do segundo mês, Cassiano conheceu uma jovem numa praça. Saíra para uma caminhada com o objetivo de espairecer um pouco. Trocaram olhares e número de telefone. Marcaram um encontro para o final da semana seguinte. Ela era brasileira e estava a passeio na casa de uma amiga. Suzana, estava solteira. Tinha saído de um relacionamento há pouco tempo e viajara para se distrair. Estava aproveitando as férias. Era analista de sistemas e trabalhava numa multinacional no sul do Brasil. Seus pais viviam numa fazenda e ela tinha sua casa própria na cidade onde trabalhava.

Quando questionado sobre seu estado civil, Cassiano disse que, também, estava solteiro. Não entrou em detalhes. Se o relacionamento dos dois engrenasse pensaria em algo para contar a moça. Estava gostando da vida que estava levando e não pretendia se "amarrar" a alguém naquele momento.

Com o livro terminado, ele entrou em contato com seu agente e encaminhou uma cópia para ele. Dessa vez, nem deu chance para que o agente perguntasse por Belinda. Quando chegasse a hora de voltar inventaria uma desculpa. 

Suzana estava se apaixonando por aquele homem misterioso. Ela sabia, apenas, que ele era escritor e que fizera sucesso no passado com os fãs de ficção científica. Cassiano não falava sobre sua vida pessoal, dizia que preferia ouvi-la, gostava das coisas que ela lhe contava. 

Uma semana antes de voltar para o Brasil, Cassiano conversou com ela sobre seus planos.
- Su, vou embora e assim que eu me instalar na nova casa, ligarei para você. Quem sabe, você já tenha retornado e então poderemos nos encontrar.
- Querido, minhas férias estão terminando. Se você quiser posso voltar com você.
- Não precisa mudar seus planos por minha causa. Aproveite mais um pouco sua estadia aqui.
- Depois que você for embora a cidade perderá a graça para mim.
- Preciso resolver umas coisas sobre o meu livro e prometo que quando estiver livre dos compromissos profissionais vou me encontrar com você.
- Tenho uma ideia melhor, por que você não vai morar comigo? Assim não precisa se preocupar com lugar para morar.
- Não podemos tomar nenhuma decisão precipitada, você nem me conhece direito. O que seus pais vão dizer? 
- Esse pouco tempo em que estamos namorando já é suficiente para mim. Se estivermos juntos vamos poder nos conhecer melhor. 

Cassiano deixou-se levar pela insistência da Suzana, mesmo não pretendendo, a princípio, se envolver emocionalmente. Convidou-a para conhecerem mais alguns pontos turísticos antes de voltarem para o Brasil. Eles já tinham feito alguns passeios a pé pelas redondezas. Passaram a noite juntos e no dia seguinte saíram cedo, pegaram o ônibus e foram conhecer a Catedral (Duomo di Milano), a Galeria Vittorio Emanuele e a Pinacoteca di Brera. Passearam de mãos dadas, comeram nos locais próximos e se divertiram muito. 

No dia seguinte fariam mais alguns passeios para aproveitar o tempo restante. Suzana planejava voltarem no ano seguinte para conhecerem Paris. Se o livro de Cassiano fizesse sucesso ele pretendia curtir mais a vida. Daí teria dinheiro suficiente para isso.

Suzana era muito diferente da Belinda, com ela a convivência era mais fácil. Ela era divertida e carinhosa. Não era ciumenta. Tudo estava indo bem para ele. Nem se lembrava da mala que jogara no rio. Provavelmente, a mala deveria ter afundado. Ele a jogara num rio onde ninguém frequentava. Era um lugar onde havia placas com avisos de perigo.

Até quando Cassiano conseguirá levar a vida como se nada tivesse acontecido? Um homem comum pode, de repente, se tornar alguém frio e desumano?

Não deixe de acompanhar a história e contribuir com a sua opinião, ela é muito importante para mim.

Muito obrigada, uma semana iluminada a todos!

Abraços,
Cidália.

domingo, 27 de novembro de 2016

01- Crime perfeito


Numa pequena cidade do interior, vivia um casal que, aparentemente, se dava muito bem. Cassiano e Belinda moravam numa casinha simples à margem de um riozinho. Não tinham amigos, apenas alguns conhecidos que encontravam quando iam à feira ou ao mercado. Desde que chegaram ali, há dez anos, viviam apenas para o trabalho, não tinham vida social. Ele era escritor e ela artesã, além de dona de casa. Era um casal sem filhos.

As pessoas sentiam um pouco de curiosidade, mas, não tinham como saber alguma coisa a mais sobre os dois, pois, eram muito discretos. Os únicos visitantes que os viam, de vez em quando, eram o carteiro e uma faxineira. Belinda pouco falava com Rosa, a faxineira e Cassiano mal olhava para o carteiro, apenas recebia a encomenda sem trocar mais de duas palavras.

Num dia chuvoso, de inverno, saíram de madrugada para ir à capital. Cassiano parou no posto para abastecer o carro e o frentista puxou conversa, mas ele foi antipático com o rapaz. Belinda estava com a cabeça encostada no banco, com os olhos fechados. Acordaram muito cedo e ela estava com sono.

Quando os dois chegaram à Capital, se instalaram num hotel simples. Cassiano não queria ser reconhecido, afinal, havia sido um escritor famoso. Estava conseguindo viver no anonimato, porque, no lugar que escolhera para viver, os poucos habitantes não tinham o hábito de ler. O passatempo deles era a televisão e fazia tempo que ele deixara de aparecer na TV.

Assim que entraram no quarto do hotel, Belinda se transformou. Nem parecia mais com a velha companheira dos últimos tempos. De repente, se tornou uma pessoa chata, autoritária e egoísta. Cassiano ficou sem entender aquela mudança repentina. O que estava acontecendo com ela?

– Bel, por que você está se comportando dessa maneira?

– Eu preferia ter ficado em casa, não quero vê-lo rodeado de mulheres.

– Minha querida só nós dois estamos aqui. Não há e nunca houve mais ninguém.

– Pensa que não reparei como aquelas moças da recepção olharam para você?

– Nem notei! Você está imaginando coisas. Só viemos para cá porque tenho uma reunião com o meu agente.

– Por que ele não foi se encontrar com você na nossa casa como das outras vezes?

– Ele não pôde e eu trouxe você comigo para que se sentisse mais segura.

Belinda era uma mulher ciumenta e possessiva. Foi por isso que Cassiano resolveu morar numa cidadezinha do interior do estado. Ele a amava muito e se davam bem quando estavam sozinhos. Enquanto ele escrevia, ela saía para fazer as compras e cuidava dele com carinho.

Já se arrependera de levá-la junto, pois, sabia que aquele final de semana seria um inferno. Ele já passara por isso algumas vezes antes da mudança. Chegara ao ponto de pedir a separação e só mudara de ideia, porque, ela prometera que não faria mais ele passar vergonha diante dos amigos.

Durante dez anos ela mantivera a promessa, pois, viviam longe das pessoas. Chegaram a cortar relações até mesmo com os únicos parentes, uns primos de segundo grau. Esses parentes chegaram a telefonar algumas vezes, porém, Cassiano sempre inventava alguma desculpa para não recebê-los. Cansado das insistências, ele trocou o número do telefone.

Naquela noite se encontraram com o agente e sua secretária no restaurante do hotel. Bastou Cassiano fazer um pequeno elogio à moça para que Belinda virasse uma fera. Levantou-se e foi para o quarto sem terminar seu jantar. Cassiano continuou a conversa e depois que resolveram o assunto sobre seu novo livro, despediu-se e foi para o quarto. Chegando lá encontrou uma mulher transtornada que acabou tirando-o do sério. Ele havia bebido demais e num acesso de raiva apertou o pescoço dela e a sufocou. Não queria ouvir a sua voz. Em seguida, colocou-a na cama e deitou-se ao seu lado.

No dia seguinte, quando acordou e viu que a esposa estava morta, ficou desesperado. Ele não queria ter feito aquilo e também não queria ser preso. Então, a única coisa em que pensou foi ocultar o corpo. Depois que se acalmou, desceu para o café e saiu em seguida para comprar um facão e uma mala.

Cortou o corpo em pedaços e colocou-os dentro da mala. Não deixou nenhum vestígio no quarto. Preocupou-se com os mínimos detalhes. Na saída do hotel quando perguntaram pela esposa, na recepção, ele disse que ela havia saído bem cedo, antes do café, para se encontrar com uma amiga.

Quando ele fez o checkout, não era o mesmo funcionário que os recebera. O moço nem se deu ao trabalho de questionar qualquer coisa. Estava mais preocupado com alguma coisa que via no celular. No caminho de volta para casa, Cassiano parou sobre uma ponte e assim que viu que não vinha ninguém, jogou a mala no rio. Ele tivera o cuidado de deixar o corpo irreconhecível.

Na segunda-feira, quando a faxineira perguntou pela patroa, Cassiano contou que ele e a esposa haviam viajado no final de semana e que ela ficara na Capital para cuidar de uma amiga que estava doente. Rosa acreditou nele, afinal, não tinha motivo para desconfiança.

Ele já tinha tudo planejado. Ficaria ali por mais um mês e depois falaria à faxineira que a esposa pedira o divórcio e ele iria morar no exterior. Diria apenas isso. Talvez, no futuro escrevesse um livro de suspense sobre o assunto.

Não era fácil fingir que tudo estava bem. Precisava ser frio e calculista para manter aquele momento de desatino em segredo. O ciúme exagerado da sua esposa tirava-o do sério, porém ele não queria ter chegado ao extremo. Por que fizera àquilo? Teria que viver com aquela culpa para o resto da vida. Mas, também, não pretendia passar a vida numa prisão.

Durante um mês ele agiu como sempre, como se nada tivesse acontecido. Se a faxineira pedia notícias da patroa, dizia que ela estava bem. Não viu nenhuma notícia sobre o corpo da esposa nos jornais. A correnteza, provavelmente, deve ter levado a mala com o corpo para longe.

Numa certa manhã, quando a faxineira chegou e viu as malas prontas na sala, Cassiano falou que estava indo embora. Iria se encontrar com Belinda para assinar o divórcio e depois cuidaria da sua vida. Não pretendia continuar morando ali sem ela. Ele dispensou a faxineira, fechou a casa e saiu sem olhar para trás.

Rosa, a faxineira ficou olhando para aquele homem que sempre cobiçara e pensou: "que desperdício!"

Será que Cassiano conseguirá viver com a consciência tranquila depois de cometer tamanha atrocidade?

Caros leitores estou me aventurando em mais uma história sequenciada, atendendo alguns pedidos. Espero que gostem e que acompanhem dando suas opiniões.

Muito obrigada pela visita!
Abraços,
Cidália.


domingo, 20 de novembro de 2016

Inspiração

Sentada sob o pé de jabuticaba, com o tablet na mão e a gata ao meu lado, busco inspirações. Observo as flores com suas cores e beleza, todas plantadas pelo meu marido. Mudas compradas, trocadas ou roubadas (segundo os mais experientes quando a muda é roubada, não corre o risco de morrer). Ele tem verdadeira paixão pela natureza.

O quintal é pequeno, porém o amor pelas plantas é imenso. Estou sendo repetitiva. Tem pés de acerola, jabuticaba, figo, coco, lichia, amora, morango, cheiro verde, ervas finas, capim limão, menta e muitas flores. Entre elas, onze horas, rosas, hibisco, petúnia, bromélias, camarão amarelo e vermelho.

Esse lugar é onde gosto de sentar para ler ou escrever. Uma música vinda da casa do vizinho me distrai por alguns segundos. Logo em seguida meus olhos seguem uma borboleta que sobrevoa as flores. Ouço o canto dos pássaros!

De repente, lembro do carinho recebido da minha neta, no final de semana anterior. O carinho transmitido através de um abraço tão apertado, agarrado, que vale muito mais que mil palavras. Um abraço significativo, carinhoso, carregado de amor. Amor que acalenta a minha alma. O sorriso doce de uma menina meiga e amorosa se faz presente na minha lembrança. Um sorriso que alegra meus dias quando estou ao seu lado.

O vento balança as folhas das árvores, os pássaros se calam, o estômago ronca. Está na hora do café da tarde. A gata dorme, tranquilamente, sentindo a leveza do dia. Talvez por causa da brisa, sinto uma moleza. Ou quem sabe, seja porque acordei muito cedo. Alguém que passou em frente à minha casa tocou o interfone às seis e meia da manhã. Coisas de algum moleque que não tem o que fazer!

Interrompo meus pensamentos e vou fazer o café. O cachorro late pedindo o pão. Após o café volto para o jardim. A gata? Continua a dormir embalada pelo canto dos passarinhos que começam a cantar novamente. Sento-me ao lado dela para aproveitar a tarde. Nesse momento, o barulho que me cerca é apenas o som de algumas vozes na casa do vizinho. E as ideias? Aos poucos vão surgindo e tomando conta da minha mente.

Mais uma vez, o canto dos pássaros se torna mais alto e eles voam de galho em galho. Paro de digitar e começo a observá-los. Tenho o privilégio de escrever ao som puro e cristalino dos passarinhos. Que bênção! O entardecer é magnífico! Vejo a imagem de Deus na beleza das flores!
E ao me perguntar o porquê de certas coisas acontecerem, não encontro as respostas, sei apenas que tudo acontece por um motivo. Devemos aceitar sem questionar!

Hoje dei uma pausa nas histórias e resolvi postar apenas este texto. Uma ótima semana a todos!
Obrigada pela visita!
Beijos,
Cidália.

 
 
 
 
 

domingo, 13 de novembro de 2016

Em busca da felicidade ll


 No começo tudo ia bem, sentiam-se atraídos um pelo outro. Passado algum tempo, o comportamento do Rogério foi mudando. Selma começou a refletir: "Insistir naquilo que já não existe, é como calçar um sapato que não te cabe mais nos pés! Machuca, causa bolhas, chega a carne viva e sangra. Então melhor é ficar descalça. Deixar livre o coração, enquanto vive… Deixar livre os pés, enquanto cresce… Porque quando a gente cresce o número muda."

Ah, como era difícil tomar uma decisão! Ao mesmo tempo que pensava em desistir, temia se arrepender mais tarde. No fundo ela o amava, só precisava ter certeza do amor que ele sentia por ela. Voltar a viver sozinha já não a atraía. Sabia que não podia viver com as filhas, cada uma tinha a sua vida. Teria que ter uma conversa franca com Rogério para tomar uma atitude.

Admirando a paisagem no final do dia, Selma pensa na sua vida, revê sua atitudes. A conversa que tivera com Rogério só deu-lhe a certeza de que estava na hora de voltar para sua casa e sua família. Não agiu precipitadamente. Cansou de ser durona, dar conta de tudo, passar a mão na cabeça do seu companheiro. Resolveu pensar mais em si, se cuidar, voltar a ser a mulher vaidosa de antes.

Lá no fundo, bem fundo do seu coração, sentia uma certa saudade. Mas, aquela saudade, rapidamente se extinguia. Quando fora morar com seu companheiro, num outro Estado, achava que tinha encontrado sua alma gêmea. Depois de muitas tentativas de ser feliz, pensara ter encontrado seu verdadeiro amor. Fizera planos. Acreditara que a vida, enfim, lhe sorria!

Durante alguns meses vivera momentos de felicidade junto ao homem perfeito. Ele conquistara sua família. Os dois formavam um lindo casal. Ambos de meia idade, com muita vontade de viver, de compartilhar alegrias e sonhos.

Infelizmente, após algum tempo, ela descobriu que o sonho dele não era o mesmo dela. Selma sonhara com uma vida tranquila, viagens, passeios. Ele, por sua vez, queria montar um negócio próprio. No auge da idade, quando teve oportunidade de realizar seu sonho, deixou a oportunidade passar. Gastou, desperdiçou todo o dinheiro que teve em suas mãos. Agora, era para ser um empresário bem sucedido.

Mas, isso não aconteceu. Pelo contrário, não havia estabilidade, ele perdera o emprego e esperava sentado que seu antigo sonho fosse realizado. Era ela quem bancava as despesas, fazia seu trabalho como diarista para completar a pensão a que tinha direito. A pensão que recebia pela morte do marido. Ao invés dela encontrar alguém que acrescentasse algo a sua vida, era ela quem estava acrescentando na vida dele?

Selma chegara à conclusão de que tinha o dedo podre para encontrar alguém. Estava na hora de se acostumar com a solidão. De viver perto da família. De reencontrar sua vaidade, de cuidar da saúde.

Nos primeiros dias não é fácil! Ele manda mensagens, telefona. Diz que sente a falta dela, que a ama. Diz que precisa dela ao seu lado. Diz que não conseguirá viver sem ela. Ela sequer responde às mensagens ou atende os telefonemas. Se ele a amava e não queria perdê-la, porque deixou que ela viesse embora?

Talvez ele não tivesse acreditado quando ela dissera que iria embora. Só caiu em si quando viu o caminhão chegar para buscar a mudança. O que ele não sabia era que ela era uma mulher de fibra, de palavra. E ela estava cansada daquela vidinha oferecida por ele. A decepção a fizera enxergar que aquele homem não era o companheiro que desejara para viver até o fim da vida.

Na nova casa, Selma pensa em tudo o que viveu até o momento, nos dias de tristeza e amargura. Embala aqueles sentimentos e os enterra bem no fundo de uma gaveta junto com algumas fotografias. Joga a chave da gaveta no lixo! Seu lema de agora em diante será, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

E se aparecer um novo alguém? Ela não vai procurar, mas se acaso acontecer, quem sabe? O futuro a Deus pertence! Se for alguém para compartilhar as alegrias da vida, será bem vindo.

Será que Selma tomou a melhor decisão para sua vida?

Deixe a sua opinião e leia os demais contos, acessando http://contosdacabana.blogspot.com.br/

 Muito obrigada pela visita!
Abraços,
Cidália.

domingo, 6 de novembro de 2016

A Casa ao Lado (Fim do mistério)

Com a descoberta da arma na casa do casal, que alegara não possuir armas, a polícia voltou a investigar marido e mulher. A arma estava registrada no nome do pai do Luiz, falecido há algum tempo. Luiz não tinha como negar a autoria do crime. Naquele dia ele tinha tudo planejado, quando os convidados estivessem entorpecidos pela droga, ele atiraria no Roberto, sairia de fininho e esconderia a arma no quarto dos filhos. Se alguma das crianças acordasse e o visse ali, diria que tinha ouvido choro e fora verificar se estavam bem. Célia entreteria os convidados que não perceberiam a sua ausência. E foi exatamente assim que aconteceu. Luiz agiu com tamanha eficiência que ninguém percebeu sua saída e quando a polícia chegou, ele já estava ao lado da esposa.

Qual fora o motivo? Com o andamento da investigação, Luiz teve que confessar o que o levou a cometer aquele crime. Roberto tinha se infiltrado na sua casa para conquistar a sua clientela. Além disso, estava devendo uma boa grana ao casal. A sua intenção fora tirar Roberto do páreo. Se tivesse ouvido o José (Elias), o jovem ia acabar morrendo de overdose. Porém, ele percebera que o Roberto era muito esperto e ao invés de usar toda aquela droga, ele a repassava e aumentava a sua renda. Ao frequentar a casa do Luiz e da Célia, fazia amizade com os demais convidados e oferecia a eles a droga por um valor menor. Aqueles que se tornavam seus clientes deixavam de frequentar a casa do casal.

Desde que o movimento começara a diminuir, o casal passara a observar o Roberto. Ele era muito simpático com os convidados. Com seu jeito de bom moço, agradava a todos que o cercavam. Principalmente, as moças desacompanhadas. Moças da classe média, viciadas, que frequentavam aquele ambiente em busca da droga.

Luiz e Célia estavam afundados num mar de lama. Desde o dia em que optaram por aquela vida incerta, priorizaram o poder, o dinheiro fácil. A família foi negligenciada. As crianças ficaram em segundo plano. Célia era cúmplice do marido e pouco se importava com os filhos, que aprenderam a se virar sozinhos.

Puxada a ficha criminal do casal, pequenos furtos foram descobertos. Luiz fora preso por roubo a mão armada, logo que completara a maioridade. Cumprira a metade da pena por bom comportamento. Célia era cleptomaníaca e até mesmo dos convidados já havia furtado alguns objetos. Na adolescência dera muito trabalho aos pais.

Seu Joaquim, após confessar seu segredo aos pais da Eloísa e de ouvir a confissão da d. Gertrudes, selou um acordo com eles. Ambos deveriam esquecer o erro cometido e tocar a vida dali em diante. Ele diria à polícia, se fosse necessário que, depois do que passou não tinha mais importância saber quem havia escondido a arma na sua casa. O crime já fora solucionado, os verdadeiros culpados estavam presos. O tempo em que ele ficou encarcerado não seria deletado da sua vida. O melhor a fazer seria esquecer aquele episódio. Tudo acabara bem e a amizade entre ele e os vizinhos estava mais forte. D. Lúcia ficou de apresentar a ele uma amiga, viúva, que estava querendo casar.

A Eloísa estava reagindo bem ao tratamento e teve alta. Voltou a estudar e no tempo livre ajudava o pai no armazém. Arrependeu-se de tudo o que fizera e prometeu a si mesma e aos pais que não deixaria se iludir por ninguém. Os meses sombrios vividos por ela ficariam enterrados no passado. Lembraria do Roberto com saudade, porém deixou de lamentar a sua morte precoce. Cada um colhe o que planta. Graças ao carinho e paciência dos pais, ela teve a chance de virar aquela página e seguir em frente com determinação e coragem. Um novo amor? Quem sabe! Talvez, depois de formada, se encontrasse alguém que valesse a pena, entregaria seu coração.

Sua mãe continuou como voluntária na clínica. Ela gostava do seu trabalho e era muito dedicada aos pacientes. Pensou em voltar a fazer um curso de enfermagem. Assim poderia fazer uma carreira. Era uma mulher de meia idade com muita disposição.

D.Lúcia voltou a fazer seus trabalhos de artesanato e o silêncio reinante na casa ao lado, às vezes era assustador. Durante as noites ela acordava, sobressaltada, com o barulho do tiro. Parecia real! Só depois de algum tempo ela se dava conta de que era fruto de um pesadelo.

- Querida - dizia o marido - A casa está vazia, até agora ninguém se interessou em alugá-la, lembra?
Com um afago em seu cabelo, ele a fazia dormir novamente. Mas, d. Lúcia, apesar de saber que havia ajudado a polícia a desvendar o mistério daquele homicídio, sem colher os louros pela façanha, pensava na arma que encontrara na casa do seu Joaquim. Quem a escondera e por quê? Jamais saberia!

A casa ao lado, virou um casarão abandonado. Quando aparecia alguém para alugá-la e ficava sabendo do ocorrido, desistia na hora. Ninguém queria morar numa casa onde um jovem fora assassinado. O silêncio voltou a reinar nas noites dos habitantes. A vida seguiu seu curso. Aquele barulho ensurdecedor que perturbara os moradores durante muito tempo, era apenas uma vaga lembrança.

Enquanto os culpados pelo crime, Luiz e Célia, pagavam pelo que fizeram, seus filhos viviam tranquilamente com os avós maternos. Levavam a vida como todas as crianças da mesma faixa etária. Nem tocavam no nome dos pais.

O advogado do Elias conseguiu libertá-lo, somente, depois de alguns anos. O amor tem o poder de transformar uma pessoa e ele cumpriu a promessa. Começou a trabalhar no oficina com o pai e a frequentar uma igreja. Queria mostrar para a Eloísa que ele era uma pessoa melhor. Não forçaria a barra, deixaria o tempo seguir. Acreditava no destino. Se tivesse que rolar um clima entre os dois, mais cedo ou mais tarde, rolaria. Aprendera a ser paciente na prisão.

Seu Joaquim encontrou a companheira que estava procurando, a amiga da d. Lúcia, uma senhora distinta. Casaram-se numa cerimônia simples com a presença dos amigos mais chegados.



Enfim, a história chegou ao seu final. Agradeço a todos os leitores que acompanharam a trama!

Segue os links para quem quem perdeu algum capítulo:

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A Casa ao Lado (Confissões)




Seu Joaquim foi socorrido pelos vizinhos que chamaram a ambulância e o levaram ao hospital. Internado, passou por vários exames e d. Lúcia só foi embora quando ficou sabendo que ele não corria risco de morte. Ela e o marido, compadecidos, revezaram no acompanhamento do vizinho. Seu Joaquim não soube e nem ficará sabendo da dívida que ela tem com ele. Afinal, foi ela quem o denunciou à polícia. Sem querer, foi cúmplice da dona Gertrudes. Se ela não tivesse entrado na casa dele, o pobre homem não teria ficado na cadeia. Talvez o caso tivesse tomado um rumo diferente. Ele estaria na casa do irmão e a polícia concluiria a investigação sem a interferência de ninguém.


Na delegacia, o funcionário que a atendeu, chamou o investigador e disse que tivera um sonho estranho. Nesse sonho ele estava num quarto de crianças e no momento em que pegara uma caixa para tirar um brinquedo, encontrara um revólver. O investigador acreditava que os sonhos eram significativos. Logo, pensou que se aquele homem fora contar justo a ele sobre o sonho, não custava verificar, novamente, o local do crime. Lembrou -se do sonho que sua esposa tivera que se tornara real. Imediatamente, saiu para averiguar.

Após a arma ser encontrada e levada à delegacia, o exame de balística foi providenciado, dessa vez, com urgência. Finalmente a investigação terminou. O que diferenciava as duas armas, aquela roubada do seu Antônio e a outra encontrada no quarto das crianças, era o número de série.

Eloísa, enfim, teve que se conformar com a morte do amado. Agora, a par de todas as informações, aguardava ansiosa que o crime fosse solucionado. Esperava que o assassino pagasse caro por ter tirado a vida do seu namorado. Aos poucos ela se recuperava e com o amor dos seus pais, logo ficaria totalmente curada. Sua mãe, com a alma destroçada pelo remorso, por quase ter tirado a vida de alguém e ainda por cima, incriminar seu Joaquim, se ofereceu para ser voluntária na clínica. Assim, além de estar perto da filha poderia ajudar outras pessoas. Alguns segredos jamais seriam revelados, pensou. Sua filha, certamente, não a perdoaria se soubesse que ela tentou matar o Roberto.

Talvez a polícia descobrisse o assassino e esquecesse de investigar como a arma fora parar na geladeira do seu Joaquim. Como àquela não era a arma do crime, deixaria de ter importância. A não ser que o vizinho fizesse questão de saber quem estava querendo prejudicá-lo e porquê.  D.Gertrudes fez uma promessa ao marido de que se tudo terminasse bem, sem ela ser indiciada pelo que fez, confessaria ao vizinho e pediria perdão a ele.

D. Lúcia, contava as horas para que o assassino fosse pego. Uma pessoa sem escrúpulos, sem coração. Esconder a arma no quarto das crianças tinha sido monstruoso. Se uma das crianças tivesse acordada naquele momento, o que ela teria feito? Sua língua coçava, tal era a vontade de contar ao marido o que sabia. Seu marido mostrava-se alheio àquele caso, não queria se envolver com a polícia. Se ele  não estivesse ao lado dela quando ouviram o tiro, pensaria nele como o assassino. Naquela altura, qualquer um poderia ser o autor do crime.

Pensamentos à parte, seu marido era uma pessoa do bem, incapaz de matar um inseto. Ele nunca havia gostado de confusão, era o tipo de pessoa que preferia aguentar um desaforo do que revidar. Um homem humilde, trabalhador e solidário. Estava empenhado na recuperação do seu Joaquim. Se compadecera com o sofrimento do vizinho. Dali em diante, daria assistência permanente ao pobre homem até que ele ficasse totalmente restabelecido. D. Lúcia cuidaria da limpeza da casa e da alimentação.

Na prisão, o Elias planejava o seu encontro com a Eloísa assim que estivesse livre. Com o tempo ocioso que fazia parte da sua rotina desde o dia em que fora preso, ele pensava em mudar seu estilo de vida se Eloísa aceitasse-o. Por ela seria capaz de abandonar o tráfico e fazer as pazes com a família. Poderia trabalhar com seu pai no oficina.  Ele entendia muito bem de carros. Faria o possível para que a moça se apaixonasse por ele.

Seu Joaquim saiu do hospital e voltou para sua casa, limpa e organizada pela vizinha. Os demais moradores da rua o receberam com alegria e com muita comida. Após o almoço, quando todos foram para suas casas, d. Gertrudes e seu marido ficaram para cumprir a promessa dela. Precisa fazer isso logo, seria um peso a menos para a sua consciência.

- Seu Joaquim, eu e minha esposa estamos felizes com a sua recuperação. Ela precisa contar algo de muito feio que fez ao senhor.
- Antes de abrir meu coração, quero que saiba que o senhor pode me denunciar ou me perdoar. Agi muito mal. Nem sei se eu me perdoaria se estivesse em seu lugar.

D. Gertrudes contou tudo o que fez e o motivo que a levou a cometer tamanha atrocidade com ele. Se ele tivesse morrido, nem sabe o que teria sido dela. Estava ciente de que o amor pela filha não justificava a maldade que cometera.

Ouvindo aquela confissão, seu Joaquim olhou bem dentro dos olhos daquela mulher e bradou.
- Sabe por quê eu olhava atravessado para a senhora? Porque não sou um santo como imaginam. Sua filha me pediu dinheiro emprestado e eu a assediei. Quis me aproveitar da situação ao invés de aconselhá-la, de ajudá-la. Pensei que ela tinha contado a vocês. Não sei se mereço o perdão pelo que fiz.

Pessoas comuns com defeitos e segredos, camuflados pela santidade? Será que os moradores daquela rua, não eram, exatamente, o que aparentavam ser? Ambos se perdoariam?

Depois de alguns capítulos a história está chegando ao final. Quem terá apertado o gatilho naquela noite? Um dos convidados? Quem desejava a morte do Roberto e por quê?
Não deixe de ler o último capítulo no domingo!


Grata pela visita,
Abraços,
Cidália.



domingo, 30 de outubro de 2016

A Casa ao Lado (Uma nova pista)



Dona Lúcia, por sua vez, vivia às voltas do caso. Tentava obter as informações com seu conhecido, funcionário da delegacia. Se seu Joaquim era inocente e a arma encontrada em sua casa não matara o jovem, então por quê, d. Gertrudes dera a entender que escondera algo na casa dele?

A polícia continua a investigação e descobre após o depoimento do casal, Luiz e Célia, o envolvimento do Elias no tráfico de drogas. O casal conhece-o como José, porém, através do retrato falado, a verdadeira identidade dele é descoberta. A hipótese dele ser o assassino ou mandante do assassinato é levantada.

Não demora muito para descobrirem seu paradeiro. Ele é trazido de volta, dessa vez, escoltado pela polícia.
Em seu depoimento, alega que tinha viajado porque temia que seu envolvimento com o casal viesse à tona. Confessou que pensou em acabar com a vida do rival, mas não matando-o. Queria que ele se afundasse mais e mais no vício e que acabasse tendo uma overdose. Assim não sujaria suas mãos apertando o gatilho. Seu crime era o tráfico, era culpado e pagaria por isso. Sabia que seu advogado o defenderia e ele não ficaria muito tempo na penitenciária. Por mais que amasse a Eloísa não mataria por ela. Até cogitou a ideia de pagar alguém para fazer o serviço, por fim acabou desistindo. Não pretendia carregar aquela culpa. Seria melhor se Roberto acabasse com a própria vida.

O caso estava se tornando complicado. Quando a polícia pensava que tinha uma nova pista sobre o assassino, se deparava com as faltas de evidências para incriminá-lo. Ficaria esse crime sem solução como tantos outros por este mundo a fora? D. Lúcia estava desesperada. A desconfiança entre a vizinhança era assustadora. Se o assassino não era o Elias, provavelmente, era algum morador do bairro. Ela pensara na Gertrudes, depois de ter ouvido a conversa dela com o marido, porém, a arma do crime não era aquela encontrada na casa do seu Joaquim. Resolveu, então, agir novamente, por sua conta.

Numa manhã de domingo, aproveitando a tranquilidade da rua, ela levantou antes do marido e deu um jeito de entrar na casa ao lado, onde o crime aconteceu. Conseguiu arrombar a porta dos fundos. Já tinha assistido alguns filmes e aprendera os macetes. A polícia já havia revistado todos os cômodos. Por onde começaria? Será que a polícia deixara passar algum canto sem a devida revista? De repente, pensou nas crianças que dormiam tranquilamente, enquanto o crime acontecia na sala. Ela estava a par de todas as informações.
Foi olhando tudo a sua volta até que descobriu o quarto das crianças. Usando luvas como da outra vez, revirou os armários, debaixo dos colchões e a prateleira de brinquedos. E lá, no fundo de uma caixa, entre alguns joguinhos, estava uma arma parecida com aquela encontrada na casa do seu Joaquim. Certamente a polícia não procurou direito. Era o lugar menos provável da casa. As crianças estavam dormindo, quem entrou ali para esconder a arma, foi rápido e eficiente.
A arma era idêntica a outra. O que a diferenciava? Bom, ela não entendia nada de armas. Deixaria por conta da polícia. Saiu dali e foi para casa pensando no que faria. Passou o resto do dia com a cabeça nas nuvens. Ainda bem que seu marido era distraído e não percebeu seu comportamento.
No dia seguinte, pela manhã, foi ao orelhão. Ligou para seu conhecido, aquele que trabalha na delegacia e contou a ele o que tinha feito.
- Alô, tudo bem? Preciso te contar uma coisa, mas quero que ouça com atenção e não pronuncie meu nome. Ontem, acordei pensando na morte daquele rapaz e, tive a ideia de dar uma olhada no local do crime. Consegui entrar na casa e vasculhei os cômodos. Sei que a polícia já fez isso, porém, pensei que poderia ter deixado escapar algum detalhe. Pois bem, encontrei um revólver dentro de uma caixa de brinquedos no quarto das crianças. E não é de brincadeira.
- Entendi e agradeço pela informação. Não se preocupe, manterei sigilo sobre esta conversa. 

D. Lúcia sentiu-se aliviada. Certamente em breve a polícia resolveria aquele caso e a paz reinaria novamente no seu bairro e principalmente, na sua rua. Antes de voltar para casa foi dar uma caminhada pelo quarteirão, enquanto pensava na sua descoberta. A cena do crime passava pela sua mente. Imaginava o assassino saindo sorrateiramente da sala, após o tiro, e indo esconder a arma no quarto das crianças que dormiam como anjos. Em seguida ele volta para sala e ninguém percebe seus movimentos. Os convidados estão abalados, em estado de choque, com aquele corpo caído no chão. Ele age naturalmente e quando a polícia chega, atendendo a denúncia anônima, não desconfia que o criminoso está ali na sala.

Passando em frente à casa do seu Joaquim, d. Lúcia ouve um gemido e bate na porta. O vizinho, moribundo, consegue chegar à porta e assim que a abre, cai desfalecido. D. Lúcia corre e grita pelo marido que estava na área da frente, esperando por ela.

Será que d. Lúcia e o marido conseguirão salvar o pobre homem?

Aguarde o próximo capítulo para saber mais detalhes sobre a história!!
Seu comentário é muito importante para mim.

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Um abraço,
Cidália.
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