domingo, 24 de janeiro de 2016

A loira e o cowboy



Desde pequena Alice sempre foi apaixonada por rodeio e pelos peões. Gostava de acompanhar o pai nas festas tradicionais e ficava encantada com as atrações, principalmente, quando os peões entravam na arena.
Toda criança tem sonhos e o sonho da Alice era casar com um peão de rodeio. Ser professora era o segundo sonho. A sua brincadeira favorita era brincar de escolinha e a diversão que mais apreciava era a festa anual da cidade.
No sexto ano do ensino fundamental conheceu Sérgio. Ele morava numa fazenda, onde seu pai era o administrador. Gostava de cuidar dos cavalos e sonhava em ser peão. Imaginava-se sendo uma das atrações num rodeio.
Os dois tornaram-se amigos inseparáveis. Não se desgrudavam na escola, sentavam-se um ao lado do outro. O assunto preferido deles era sobre cavalos. Tinham muito em comum, gostavam das mesmas coisas.
Aos quatorze anos começaram a namorar. As famílias concordaram, desde que os dois não se descuidassem dos estudos.
Os finais de semana eram passados na fazenda. Alice ajudava Sérgio a cuidar dos cavalos. Ela aprendeu a montar. Com seus belos cabelos loiros, esvoaçantes ao vento, Alice transformou-se numa perfeita amazona. Quando estava cavalgando, deixava-se levar, sentindo o vento no rosto, enquanto sonhava com o futuro.
Anos de felicidade compartilhados um com o outro. Formavam um belo casal. Quando estavam juntos, o tempo parava. Aquela vida simples no campo entre os cavalos e as músicas sertanejas, era tudo de bom.
No primeiro ano do ensino médio, o pai de Sérgio foi dispensado do trabalho e mudou-se com a família para Barretos. Pensou que lá o filho teria a chance de realizar o sonho de se tornar um peão.
Alice ficou inconformada por algum tempo. Prometeram que manteriam contato, se corresponderiam regularmente.
O tempo passou. Alice formou-se professora e Sérgio se tornou peão. A promessa que haviam feito ficou para trás. Na correria diária perderam o contato. A distância acabou separando-os.
Sérgio participava de rodeios na sua cidade e onde houvesse torneios. Ele era um rapaz bonito e fazia sucesso com as moças.
Alice teve alguns namorados, sem nunca esquecer seu primeiro amor. Sérgio por sua vez, via Alice em cada namorada que arrumava. Sentia falta dela, queria que ela estivesse ao seu lado para festejarem juntos suas vitórias.
Dez anos se passaram e Alice foi com algumas amigas ao rodeio de Barretos. Na primeira noite, quando ouviu o nome de Sérgio, seu coração disparou. Queria que ele soubesse que ela estava ali ansiosa por um beijo.
Suas amigas questionaram, e se ele estivesse casado? Ou noivo, ou mesmo namorando? Alice nem sequer pensara nessas probabilidades, mas, intimamente, torcia para que ele estivesse solteiro assim como ela.
Quando o rodeio terminou, o acaso deu um jeito para que os dois se encontrassem. Assim que Sérgio terminou a apresentação foi comer um lanche numa barraquinha que havia no recinto. Coincidentemente, Alice e as amigas estavam lanchando na mesma barraca.
Os olhos dos dois se encontraram num longo e carinhoso olhar, assim que ele a viu. Correram um para os braços do outro. Alice esqueceu as amigas, só tinha olhos para o seu grande e único amor. As amigas viram que estavam sobrando e saíram de cena.
Os dois tinham muitos assuntos para colocarem em dia. Talvez não houvesse necessidade de palavras. Bastava a troca de olhares e os abraços apaixonados.
Passaram a noite juntos, trocando juras de amor ao som de uma música sertaneja, a música preferida do casal. Fizeram planos para o casamento que seria em estilo country. Alice pediria remoção no trabalho e iria morar em Barretos. Convenceria seus pais a se mudarem para Barretos. Queria a família unida.
Aquele final de semana marcou o reencontro deles e ficaria eternamente em suas memórias. Tinham a certeza de que não se perderiam mais de vista. O amor que os unira, um dia, ainda era o mesmo e as chamas da paixão se reacenderam no momento exato em que seus olhares se cruzaram novamente. 
As amigas da Alice a surpreenderam com uma canção criada por elas, que dizia assim:


Um amor juvenil,
Na infância começou,
Entre a loira e o cowboy,
E o tempo conservou.
A paixão pelo rodeio
Foi o que os uniu.
O sonho de ser peão
E se apresentar pelo Brasil
Deixou a loira empolgada,
Numa tarde primaveril.
Nem mesmo a distância,
Conseguiu separá-los,
Quando se reencontraram,
A chama entre eles reacendeu,
Assim que se olharam.
O cheiro da relva molhada,
Cabelos soltos ao vento,
Num galope lado a lado,
Lá vai o cowboy e a loira,
Um casal apaixonado.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Um anjo chamado Nadima



A vida é um mistério e apesar de muitos questionamentos, ninguém conseguiu, ainda, decifrá-lo. Janice, uma menina solidária e prestativa, gostava de ajudar os colegas e os professores na sala de aula.
E assim, ela cresceu e continuou a ajudar as pessoas na medida do possível. Filha de pais separados, família humilde, era a companheira da mãe nas tarefas da casa e nos cuidados com os irmãos. Era atenciosa com o padrasto e também se dava bem com a esposa do pai.
Casou-se muito nova, aos dezessete anos e teve dois filhos. Seu marido, um jovem de dezoito anos, era balconista numa loja de materiais de construção. Logo depois do nascimento do primeiro filho, Janice começou a trabalhar vendendo produtos de beleza. Sua mãe a ajudava cuidando do neto.
Quatro anos depois, nasceu o segundo filho do casal e para aumentar a renda da família, Janice se juntou  à mãe para fazerem salgados sob encomenda. Conseguiram uma boa freguesia.
Com os meninos maiores, Janice voltou a estudar a noite para terminar o segundo grau. O marido cuidava dos filhos. Ela era uma pessoa esforçada e depois de terminar o segundo grau fez um curso de enfermagem e conseguiu emprego no hospital da sua cidade.
Quando sua mãe adoeceu, ela cuidou dela com muito carinho, tomando para si toda a responsabilidade. E foi assim com o padrasto  e com o próprio pai. Teve que deixar o emprego para se dedicar aos cuidados dos familiares. Passou a ser recomendada como cuidadora. Era paciente e amorosa com os idosos.
Aos trinta anos de idade, Janice passou mal numa tarde e um dos médicos da sua cidade não descobriu o que ela tinha. Foi encaminhada para outra cidade, em outro Estado e o médico que a atendeu diagnosticou-a com lúpus.
Apesar do tratamento que estava fazendo ela não tinha melhoras, piorava a cada dia. O médico da sua cidade sem saber como tratá-la, encaminhou-a para Santos e foi lá, depois de um longo período de internação, que o médico que estava cuidando dela, junto a uma equipe médica, pediu seu consentimento para enviar uma foto ao amigo que estava nos Estados Unidos, estudando as doenças raras.
Janice começou a fazer outro tratamento a partir do novo diagnóstico, dermatomiosite. Ficaria dependente de mais medicamentos. Em nenhum momento ela se entregou. A sua força de vontade era imensa e vivia cada momento com alegria, sem perder a fé.
Seus caminhos se cruzaram com uma senhora que estava acamada, quando fora indicada para ser sua cuidadora.
Ela conquistou aquela senhora que a chamava de Nadima, e sua família. Apesar do agravamento da sua doença, tinha a pele do rosto bem avermelhada e a perda da sensibilidade em alguns dedos de uma das mãos; Janice cuidava com muito carinho da idosa. Dava banho, levava-a para passear e cantava hinos para ela dormir.
Sua paciência era enorme, não se incomodava com as palavras rígidas que, às vezes, ouvia da paciente. Tinha experiência com os enfermos, principalmente, os idosos. Sua voz tranquila acalmava-os.
Aos trinta e cinco anos, Janice ganhou uma neta. Assim como ela, um de seus filhos se casara muito jovem. Além de cuidar da sua paciente, ela ajudava a nora nos cuidados da criança. O marido, um homem bom, companheiro, estava sempre ao seu lado em todas as decisões.
Infelizmente, a doença foi se agravando, deixando marcas e inchaços no corpo dela e ela teve que se afastar da sua paciente. Precisou ficar internada para um tratamento intensificado.
Nesse meio tempo, a senhora, sua paciente, também foi piorando e deixou a família numa certa manhã de dezembro.
Exatamente um mês depois, Janice, uma mulher com menos de quarenta anos de idade, perdeu para a doença e foi se encontrar com a sua paciente.
Ficou para a família da idosa, a imagem e a voz de um anjo, um anjo chamado Nadima. Um anjo que foi tranquilizar a senhorinha com sua voz macia lá no céu. 


Dermatomiosite (DM) é uma doença crônica do tecido conjuntivo relacionada com a polimiosite (PM) que inflama todos os músculos, causando lesões na pele. Esta doença que pode ser hereditária é rara na infância, sendo mais comumente observada em adultos.[1] Enquanto a DM afeta mais frequentemente a pele e os músculos, é uma doença sistêmica que pode também afetar as articulações, o esôfago, pulmões, e, menos comumente, o coração.[2]
O diagnóstico é realizado através da história e exame físico, sendo corroborado pelas enzimas musculares, biópsia muscular, biópsia cutânea, eletroneuromiografia, ultrassonografia e ressonância nuclear magnética.
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