quarta-feira, 2 de março de 2016

Prisioneira do destino



Pensar que no século 21 ainda existam mulheres submissas pode parecer inadmissível. Mas, infelizmente, existem algumas.
A história de Helena é a mesma de muitas mulheres nascidas em famílias humildes, sem estudo nenhum, que não veem a necessidade da filha estudar. Afinal, essa menina vai se transformar numa moça, casar e será sustentada pelo marido. Cuidará dos filhos e da casa.
Helena demorou para encontrar um marido. Já estava ficando para titia, como dizia seus pais. Ajudava a mãe com os afazeres da casa. Seu pai ganhava o suficiente para viverem, tirando o sustento da pequena chácara que possuía.
Certo dia, apareceu por lá, um solteirão com mais de quarenta anos de idade para fazer negócio com seu Celso. Helena o recebeu à porta. Moça formosa nos seus trinta anos, aguçou o interesse do homem.
Depois de negociar com o dono da casa, Álvaro descobriu que Helena era solteira e que nunca tivera um namorado. Seu Celso, sabendo que Álvaro, apesar da idade avançada, era solteiro, quis logo empurrar a filha.
Conversa vai, conversa vem, seu Celso convidou-o para um jantar no final da semana. Poucos meses depois, Álvaro oficializou o pedido de casamento. Afinal, já era hora dele casar e formar uma família. Helena, por sua vez, não estava apaixonada, mas, na verdade ela nem sabia o que era paixão. O que importava é que ela teria a sua própria família. Queria ter filhos.
Depois do casamento, foram morar em outra cidade, onde Álvaro conseguiu trabalho numa mineradora. Ele deixou a chácara que possuía aos cuidados da irmã que era seu braço direito.
Helena, cuidava do marido e da casa. Fez amizade com alguns vizinhos, só que não podia sair de casa sem ordem do Álvaro. Conversava com eles, através do portão, no horário em que o marido estava trabalhando. Era ele quem fazia as compras da casa e controlava tudo, até mesmo a roupa que ela usava.
Seu tempo livre era dividido entre a TV, onde assistia às missas e à leitura da bíblia. Raramente falava com os pais; ela não podia usar o telefone, a não ser que fosse para falar com ele, se houvesse necessidade.
Três anos depois, nasceu o pequeno Alex, um menino franzino e muito esperto, que para Helena era a esperança de que o marido se tornasse um marido melhor.
Puro engano, pois, Álvaro era avarento de natureza. O enxoval do bebê foi comprado pela tia, somente o básico. Fraldas de pano suficientes para serem usadas por um bom tempo. As vizinhas, indignadas com o comportamento de Álvaro, doaram algumas roupas para Helena e para o bebê.
Comida não faltava em casa. Nesse ponto, Álvaro mantinha sempre a despensa cheia. Reclamava se a mulher não cozinhasse do jeito que ele pedia. Ou se ela desperdiçasse algum alimento. Daí sim, coitada!
Helena tornou-se uma mulher resignada, acostumada com a situação. Dinheiro na mão, ela pegava na época em que vivia com os pais. Depois de casada, nunca mais. Acreditava que existiam mulheres em piores situações; ela tinha uma família e não passava fome.
Quando o menino entrou na escola, Helena teve permissão para acompanhá-lo. Nesses momentos ela aproveitava para conversar com outras mães que acompanhavam os filhos, trocar receita e saber das novidades. Jamais reclamava do marido. 
Sentia-se um pouco envergonhada, às vezes, diante das outras mulheres, porque, estava sempre mal vestida. Observava que seu filho era discriminado por algumas crianças que usavam tênis de marca, enquanto ele usava chinelos havaianas. 
Álvaro não se importava com essas coisas. Começou a ensinar ao filho os valores que eram realmente importantes. Helena, por sua vez, apesar de raramente ir à igreja, era uma mulher de muita fé, solidária com os vizinhos, principalmente, os idosos. Ela ajudava-os no horário em que o marido não estava em casa, para não arrumar confusão com ele.
Na medida em que o tempo foi passando e o menino crescendo, Álvaro começou a liberar algum dinheiro, para ela comprar material escolar ou lanche para o filho. Helena, guardava o troco e com isso conseguia comprar alguma coisa para si. 
Se alguma vizinha questionava sobre a vida que ela levava, dizia que era melhor com ele do que sozinha. 
Será que cada mulher tem o marido que merece?

27 comentários:

  1. Oba! Que legal! Obrigada pela indicação. Bjs!

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  2. Gostei muito desse, escritora!! E fiquei com muita dó da personagem principal. Uma vítima da pobreza, de uma criação toda errada, de um conformismo do qual não consegue escapar, porque não tem armas emocionais e educativas. Foi-lhe impingida a falta de escola; a aceitação da filosofia do "encalhada" e a submissão ao marido e senhor!!
    Bem oportuno esse conto, na Semana da Mulher!!

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    1. Obrigada Vera! Gostei muito do seu comentário. Sim, é tudo isso mesmo!!
      Beijos,
      Ótima semana!

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  3. Gostei muito dessa história ,tenho certeza que ainda existe milhares de mulheres que aceitam tudo o que o marido machista faz .parabéns a escritora .ótima história para o mês da mulher.

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    1. Obrigada Cleuza! Pois é, infelizmente, muitas mulheres como a Helena acabam se acomodando e vivendo à sombra do marido.
      Beijos, ótima semana!

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  4. Essa história é um relato da realidade em que muitas mulheres se submetem viver, infelizmente!! Sabe aquele velho ditado: Amanhã será um novo dia! Pois é, e assim o tempo passa e não nos damos conta que o tempo voou. E viva nós mulheres!!

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    1. Sim Tânia, é isso mesmo! Para a personagem, em questão, haverá sempre a esperança!!
      Viva nós mulheres! Beijos.

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  5. Ótimo conto! Também pode servir de crônica!!!

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  6. Infelizmente sao várias Helenas por esse mundo a fora.Acho que temos que achar o equilibrio.Nem ser submissa e nem autoritária. Otimo conto.

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    1. Obrigada querida, concordo! Penso que deve haver cumplicidade entre um casal.
      Bjs,
      Ótimo FDS!

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  7. Adorei o post !
    bom fds
    www.haynhenemartins.com.br
    um beju grande!

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  8. Seu conto nos faz refletir, ainda mais agora, perto do Dia Internacional da Mulher. Acho que na maioria das vezes, as mulheres se casam porque o tempo vai passando e elas ficam desejando muito ter filhos e não morrer sozinhas. A paixão geralmente fica de lado. A verdade é que a maioria das pessoas vive uma paixão de verdade por algumas semanas ou meses. No meu blog que está começando agora, também escrevo alguns textos. Se desejar, acesse: http://empolgadissima.com.br/a-grande-tarefa-de-comecar/

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    1. Sim Ruama, a minha intenção é fazer com que as mulheres reflitam sobre a sua vida. Acredito que o casal deve ser parceiro! Obrigada pela visita, bjs.

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  9. Muito bom e realmente nos faz refletir. Jamais iria suportar isso pra minha vida. Mas algumas mulheres acham que é melhor assim do que só, que não teriam algo melhor.. É complicado. Amei!!! Também espero que ajude muitas mulheres.
    Bjsss <3
    www.chuvanojardim.com.br

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  10. Bom,com um marido desses prefiro ficar solteira mesmo,mas cada um tem aquilo que convém! Amei o texto ;)

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    1. Eu também não aceitaria levar uma vida como essa! Obrigada Nay, feliz Páscoa!! Bjs.

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  11. Uma ótima história é um exemplo do que mulheres passam hoje em dia, infelizmente ainda existem mulheres que pensam dessa forma que é melhor estar com o marido do que sem !
    Beijos

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    1. Pois é, Edimara, essas mulheres acabam se acomodando.

      Obrigada, gostei da sua opinião!

      Beijos.

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  12. Olá Cidália, tudo bem?

    Adorei o conto, a história ficou muito boa e me fez refletir. Fiquei consternado, com dó da personagem! Esse não é exemplo de marido para ninguém, aliás nem deveria ter uma esposa!
    A escrita está muito boa!
    Beijos!!

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    1. Olá, tudo bem!
      Obrigada, que bom! Infelizmente, algumas mulheres são submissas e se deixam dominar pelo marido.
      Valeu! Beijos!

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  13. Com certeza, muitas mulheres abrem mão da própria vida para viver a vida imposta pelo marido ou até mesmo abrem mão da própria felicidade, pela felicidade dos filhos.

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  14. Infelizmente são tantas Helenas por esse mundo a fora, né?! Como sempre maravilhoso seu conto! Sou sua fã! :)
    Super beijos
    Lílian

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    1. Sem dúvida, Lilian! São muitas Helenas!

      Muito obrigada, super beijo!

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