domingo, 24 de abril de 2016

Dominado pelo medo





Tarde de domingo e eu em casa, sem nada para fazer, estava entediado. Uma preocupação rondava a minha mente, a entrevista de emprego que faria no dia seguinte. Seria uma ótima oportunidade, com um bom salário, porém, muito concorrido.
Já estava quase convencido que seria melhor continuar no meu velho emprego e assim evitaria uma disputa com pessoas mais preparadas que eu. Com uma dúvida enorme, resolvi sair para dar uma volta na rua. Já estava cansado de ficar parado, esperando o tempo passar.
Parei numa esquina e fiquei observando as pessoas que passavam, sempre apressadas, cada uma com sua verdade. Algumas alegres, outras tristes, cada uma com sua história de vida.
Reparei que sentado numa calçada, estava um senhor de barba longa e branca cobrindo todo o seu rosto. Comecei a observá-lo e notei que aquela barba escondia um leve sorriso. Um sorriso tímido, que às vezes se transformava em lágrimas.
Sentei-me ao seu lado e tentei puxar conversa. De maneira tímida, ele se recusava a falar, apenas balançava a cabeça. Continuei sentado ao seu lado por um bom tempo, ainda observando as pessoas no seu ritmo acelerado. Pareciam personagens de um filme. Cada uma representando um papel.
Nessa altura eu já me sentia invisível; notei que um cãozinho se aproximou, enquanto o senhor lhe dava um pedaço de pão. Mais uma vez, tentei puxar assunto falando sobre os cães. E dessa vez, finalmente, consegui um pouco de atenção daquele homem, que fixou seu olhar triste em mim.
Comecei, então, a falar sobre as minhas dúvidas e como eu fugia sempre dos problemas, principalmente, quando havia desafios. Disse-lhe que tinha pavor de enfrentá-los. Contei a ele sobre a entrevista e que estava prestes a desistir e continuar acomodado no meu antigo emprego.
De repente, aquele senhor, com uma voz muito baixa, como se fosse um sussurro, falou:

-Eu era uma criança alegre e sonhadora, criei um mundo mágico, onde não existia dor e nem tristeza. O bem sempre vencia o mal. Quando um adulto tentava me mostrar a realidade, eu achava um jeito de me isolar. Preferia continuar no meu mundo, onde tudo era perfeito. Aos sete anos de idade, conheci um mundo novo e diferente. Nesse mundo sempre existia alguém que mesmo sem saber, estava competindo. Cada um com sua arma; era meu primeiro ano na escola. Foi um ano difícil, onde tive que me expor. Sentia que era julgado, mesmo sem motivos e aí conheci o medo. Esse medo se tornou meu companheiro inseparável e acabou me dominando. Convenceu-me a não encarar os desafios que a vida me proporcionava, me levando para um mundo onde só existia eu, meus sonhos e a certeza de que no futuro tudo se realizaria. Esse tempo passou muito rápido e quando me dei conta já era um adolescente. Cheio de dúvidas e desafios pela frente. Mas, nessas horas eu buscava refúgio no meu velho companheiro, o medo. Para mim era mais fácil e cômodo. Assim eu não precisava me expor, passava despercebido. E de novo, voltava a me esconder no meu mundo. Aquele mundo de fantasias. Quando percebi, já era um adulto, com um monte de oportunidades se escancarando a minha frente. Mas, lá estava o meu velho companheiro, o medo; me convencendo a virar as costas para elas. Continuei esperando, acomodado em meu emprego, na minha vidinha sem graça. O tempo, impiedoso, passou mais rápido e quando notei já era um idoso. E aquele meu mundo mágico, já não existia; meus sonhos se transformaram numa triste realidade. Hoje a vida me cobra por eu ter desistido dela tão cedo. Vivo sozinho, no meu canto, observando as pessoas vivendo as suas vidas. Umas alegres, outras tristes, mas todas vivendo sem medo. Aceitando a vida como um presente de Deus. Ao voltar para o meu mundo imaginário consigo sorrir, mas logo volto à realidade e sinto uma imensa dor no coração ao pensar nas coisas que deixei de fazer por medo.

Olhei para aquele senhor e notei uma lágrima que caía no seu rosto envelhecido. Dei-lhe um abraço e ele me surpreendeu dizendo que era seu aniversário. Há muito tempo ele não ganhava um abraço, sussurrou no meu ouvido. Não me contive e comecei a chorar.
Passei a noite acordado pensando na minha vida e nas coisas maravilhosas que ela me proporcionava. Percebi que estava deixando a vida passar por medo de enfrentar os desafios. Estava sendo dominado pelo medo!
Na segunda-feira, fui fazer a entrevista e fiz novas amizades. Resolvi, a partir daquele dia, viver a vida sem medo e a encarar todos os desafios que aparecessem pela frente! Percebi que o sorriso que havia sumido voltou a iluminar meu rosto e comecei a valorizar a vida.
Não sei se serei aprovado na entrevista, mas de uma coisa tenho certeza, a minha vida mudou depois daquele final de tarde de domingo.
Todos os dias volto ao lugar onde encontrei aquele senhor com a esperança de revê-lo. Quero que saiba da importância que o seu desabafo teve para mim. Ele simplesmente desapareceu. Ninguém jamais o viu por ali.
Até hoje, não sei se realmente falei com aquele senhor ou se foi um anjo que falou comigo através do sonho.

Como você encara seus medos? Ou você é uma pessoa destemida, pronta a encarar os desafios que a vida lhe oferece?

Colaboração de P.W.M.

domingo, 17 de abril de 2016

Marcas profundas!




Poderia ser um dia como outro qualquer! Mas, para Lorena era uma data inesquecível! Afinal, era o aniversário do seu primeiro amor! Sim, aquele amor que ela conhecera aos treze anos de idade. Aquele amor, que se perdeu entre idas e vindas. Um amor que deixou marcas profundas num coração adolescente!
Parece melodramático, porém, não é. A imagem daquele lindo mocinho, de quinze anos de idade, ficou gravada em sua mente e no seu coração.
Rodrigo, um rapaz muito inteligente e simpático (além de lindo), conquistou a confiança de toda família da Lorena. Ela, uma menina muito querida e bonita, também conquistou a família dele.
Um belo casal até que surgiu um clima ruim entre os dois. Pouco tempo depois, voltaram a se entender.
Tudo corria bem, até o dia em que Rodrigo foi embora para fazer a faculdade. A família dele se mudou para outra cidade.
Por algum tempo, ainda conseguiram manter contato. Infelizmente, chegou o dia em que a distância finalmente separou-os.
E naquele dia, o dia do aniversário do Rodrigo, por uma coincidência do destino, uma pessoa da família da Lorena, encontra um perfil dele perdido, numa rede social.
Lorena, com o fone nos ouvidos, ao som da música do casal (Angel of mine), escreve a ele uma carta.


Vinte anos, né? Duas décadas!! E pensar que quando te conheci você tinha quinze! Muito tempo se passou, você é um homem agora! Imagino como sua vida deve estar corrida; aposto que deve estar com uma barba enorme e que deve ter lido todas as trilogias do mundo!
Bom, hoje é seu aniversário, o primeiro que não passamos juntos, mas lhe desejei parabéns o dia inteiro. Pensei em você várias vezes durante o dia. Nada demais, só em como você estaria ou em como deve ter ficado corado, quando lhe desejaram os parabéns.  Aquele jeito todo sem jeito de dizer ''obrigado'' e o sorriso de lado que o acompanha desde que te conheci.
Quero que saiba que achei esse seu perfil por acidente, ou melhor, na verdade, alguém da minha família achou e me contou.  Por curiosidade fui olhar, não sei se fiz mal, mas encontrei várias fotos nossas e comecei a pensar em tudo o que vivemos.  Ah, os nossos rostos, como éramos crianças! Bateu uma saudade, muita saudade, mas, logo me corrigi e pensei que era errado.  Agora você tem alguém e não é correto pensar em alguém que pertence à outra pessoa.
Perdoe-me, não me contive. Talvez uns minutos de lembranças valham a pena! Você foi o primeiro amor da minha vida. A primeira pessoa que me tocou que, confiei a me entregar.
Eu não sabia o que era amar alguém, até te conhecer. Amei você com todas as forças que existiam em mim. Cometi inúmeros erros, pois, era uma criança aprendendo a amar alguém. Mesmo com todos esses erros temos tantas memórias juntos!
Por muito tempo, imaginei o que o primeiro amor significaria na minha vida e hoje entendo.  Quando pensei em tudo o que passamos, pude te sentir novamente. Parecia que você estava ao meu lado. Tive um momento contigo sem ao menos saber.  Senti o seu perfume!  Você foi e ainda é especial para mim.  Sempre será.
Sei que hoje em dia não te conheço mais, você não me conhece. Crescemos e hoje somos outras pessoas, quase um ano passou desde o último beijo. Aquele Rodrigo já não existe mais; aquela Lorena, muito menos.
Sinto que sou alguém diferente, ainda não nos conhecemos. Talvez, um dia, a vida nos coloque no mesmo bar, na mesma esquina e permita nos apresentarmos novamente. Hoje temos outros amores, nos apaixonamos por outros sorrisos, outros cheiros.  Tivemos a chance de conhecer outras pessoas, que nos fizeram perder o ar e nos tocaram.
Mas, como negar que ainda está vivo em mim? Talvez não tenha como, pois, neste coração ainda existe amor por você. Quero que jamais esqueça uma coisa, alguém que te amou e vai continuar te amando a cada batida, a cada suspiro, hoje se permite amar novamente, sentir o que é se apaixonar. Meu coração está limpo e eu aprendi a me amar, a cuidar de mim, a me bastar, assim posso fazer outro alguém me amar. Preciso me dar outra chance de ser feliz.
Penso em você todos os dias, te desejo toda a felicidade do mundo. Sei que existe alguém agora que te faz muito feliz. Enfim, feliz aniversário e me perdoe o desabafo, espero que um dia nos esbarremos numa esquina da vida. 

PS: Ainda te amo e escrevi tudo isso aqui porque sei que nunca lerá! Para comemorar o seu dia, vou assistir o nosso filme, “As vantagens de ser invisível”.

Beijos, Lorena.


                 Ah, o primeiro amor! Tão puro e sincero! Um amor fugaz que deixou marcas no coração adolescente da Lorena!

                          Você já se apaixonou assim por alguém? Como foi seu primeiro amor?