domingo, 26 de junho de 2016

O valor da amizade

Vou começar este texto com uma pergunta. Será que existe amizade, entre um homem e uma mulher, sem interesse? Antigamente, acreditava-se que quando um homem (menino ou rapaz), se interessava por uma mulher (menina ou moça), ele queria algo mais que uma simples amizade.
Mas, Clara, a minha protagonista, teve na infância um amigo que foi seu companheiro de muitas brincadeiras. Entraram na escola juntos e na adolescência trocaram confidências. Eram muito apegados. As mães eram amigas e vizinhas.
Quando Clara começou a namorar, acabou se distanciando um pouco do seu amigo, sem esquecê-lo. Mesmo tendo algumas amigas, era nele que pensava como melhor amigo e quando o encontrava, aproveitavam para colocar o assunto em dia.
E assim, mantiveram uma bela e desinteressada amizade ao longo do tempo. Ela se casou e ele, também. Já não era mais como antes, um não frequentava a casa do outro, só conversavam quando se encontravam, por acaso, na rua. Mesmo assim, o laço que os unira, um dia, permaneceu.
Muitos anos depois, Clara conheceu outro amigo, um homem casado, que mostrou a ela que era possível existir amizade entre um homem e uma mulher.
No início, ela chegou a ficar preocupada, pensando que ele sentia por ela um amor platônico. Ele enviava-lhe cartão em todas as datas, dia das mães, páscoa, dia do amigo, natal, ano novo, etc. Junto com o cartão sempre tinha um poema ou uma carta falando sobre amizade. Como ele era muito religioso, presenteava-a com medalhas e terços. Ela retribuía, apenas, no aniversário e natal.
As famílias ficaram amigas. Ele lembrou até mesmo do aniversário de vinte e cinco anos da Clara. Ela e o esposo ficaram de retribuir o gesto tão simpático, porém, infelizmente, não tiveram a oportunidade.
Esse amigo ficou muito doente e acabou falecendo. A tristeza pairou sobre as duas famílias e em todas as pessoas que o conheciam.
Clara guardou todos os cartões, poemas e lembrancinhas que havia recebido dele. Esses objetos eram símbolos de uma amizade que foi verdadeira, enquanto durou.
Através desses dois amigos queridos, ela conheceu o valor da amizade. Clara sabia que o respeito havia sido a base desses relacionamentos.
Para ela, a importância de ter tido um amigo, na infância, que lhe trazia boas lembranças, sempre foi muito bom. Melhor ainda por saber que esse sentimento permaneceu ao longo do tempo.
Quanto ao outro, que se fora precocemente, ficara a alegria e o privilégio de tê-lo conhecido. E permanecera o laço que unira as famílias.
P.S: Um dos poemas que recebera do segundo amigo, durante os poucos anos de convivência:

"Poema de amigo aprendiz" (autor desconhecido)

QUERO SER O TEU AMIGO,
NEM DEMAIS E NEM DE MENOS,
NEM TÃO LONGE NEM TÃO PERTO,
NA MEDIDA MAIS PRECISA QUE EU PUDER.
MAS AMAR-TE, SE, MEDIDA,
E FICAR NA TUA VIDA
DA MANEIRA MAIS DISCRETA QUE EU SOUBER.
SEM TIRAR-TE A LIBERDADE,
SEM JAMAIS TE SUFOCAR,
SEM FORÇAR TUA VONTADE,
SEM FALAR QUANDO FOR HORA DE ME CALAR,
E SEM CALAR, QUANDO FOR HORA DE FALAR.
NEM AUSENTE NEM PRESENTE POR DEMAIS,
SIMPLESMENTE, CALMAMENTE, SER-TE PAZ...


Na sua opinião, é possível existir amizade entre um homem e uma mulher?

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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Encontro fatal



O personagem desta história começou a trabalhar com treze anos de idade. Um menino que deixou de estudar para trabalhar, precisava ajudar a família. Ficou órfão de pai aos dois anos de idade. Numa época em que não havia Conselho Tutelar, não enfrentou problemas por ter abandonado a escola. Começou  a trabalhar num supermercado.
Desde muito jovem aprendeu a ser responsável e apesar de não ter priorizado o estudo, valorizou o trabalho e pensou na mãe viúva e nas irmãs, que também, começaram a trabalhar, ainda meninas. Questão de sobrevivência! Recebiam ajuda do avô, mas não era suficiente, pois o avô também não tinha muitos recursos.
E assim, esse menino cresceu, trabalhando sempre.  Passou por alguns percalços quando rapaz, como muitos jovens da época. Teve vários empregos, trabalhou em alguns estados brasileiros. Percorreu o "trecho", como diziam os avós.
E foi num desses lugares, onde trabalhava numa mineradora, que conheceu a moça que mudou a sua vida.  Ela, vinda de uma família grande, órfã de mãe, saiu do Estado onde morava, para trabalhar como empregada doméstica ali naquela cidade. Como era menor de idade, a família que a empregara, se responsabilizou por ela.
Um belo dia de sol, Miguel ia passando debaixo de um pé de seriguela e de repente sentiu algo que caiu na sua cabeça. Olhou para cima e foi então que a viu. Uma baixinha de longos cabelos loiros, muito bonita. Sentiu-se atraído por ela. Meire, por sua vez não resistiu àquele olhar. Miguel, apesar de estar barbudo e desleixado, era um homem atraente. Como na música, moreno, alto, bonito e sensual!
A partir daquele dia, Miguel começou a passar por ali todos os dias com a esperança de revê-la. E Meire, sempre que podia dar uma escapada do serviço, ia colher seriguela. Quando se encontravam, sentavam-se debaixo da árvore para conversar. Meire ganhava chocolate dele e em troca lhe dava algumas frutas colhidas na hora.
Se a árvore falasse, teria muitas histórias para contar! Não havia lugar mais romântico, naquele lugar, do que aquele pé de seriguela. Para eles, aquela árvore carregada daquelas frutas amarelinhas, marcou o início de um romance para a vida toda.
Certo tempo depois, Meire já estava lavando suas roupas e cuidando dele. Falou dele para os patrões e apresentou-o a eles. Apesar da diferença de idade entre os dois, Meire e Miguel se deram muito bem. Ela, passou a vê-lo com frequência e percebendo que ele gostava de frequentar um bar que havia na redondeza, passou a controlá-lo.
Miguel se apaixonou ainda mais por ela, pois, graças àquela moça ajuizada, ele começou a economizar no bar. Parou de beber como antes e de pagar para os outros que se aproveitavam da sua bondade.
Numa cerimônia simples, com os patrões da Meire como testemunhas, os dois se casaram. Tempos depois, ele a levou para sua cidade natal, para que ela conhecesse sua família. Resolveu, então, fixar residência ali. Ainda chegaram a morar numa outra cidade mineira e finalmente, voltaram para ficar.
Miguel, sentiu a necessidade de voltar a estudar, fez o supletivo e conseguiu o certificado do antigo colegial. Ótimo profissional, mecânico como o pai que não conhecera, arrumou um bom emprego. Construiu a sua casa, tornando-o um verdadeiro lar.
O casal teve dois filhos, com a diferença de quatro anos, um do outro. Quando o primeiro filho foi para a escola, Meire percebeu que precisava voltar a estudar para ajudar o filho nas tarefas de casa. Ela, uma mulher trabalhadeira e determinada, como o marido, fez o supletivo e ganhou seu certificado.
A vida do Miguel mudou para melhor, desde aquele primeiro olhar trocado debaixo do pé de seriguela, na região Centro-Oeste. A baixinha que o seduzira, trepada no último galho, fez maravilhas por ele e pela família.
Miguel faz pelos filhos o que ele não teve quando criança. Quis dar o amor que ele não recebeu do pai que perdeu muito cedo. Acabou se acostumando com o ciúme da Meire, levando tudo na brincadeira, pois ela sabe que ele é fiel.
O casal preza e valoriza a família. Afinal, nada melhor do que o amor para tornar a vida mais agradável. Onde há amor, há Deus! O amor tem o poder de transformar as pessoas, assim como o amor da Meire transformou Miguel.

Você já fez alguma coisa por amor? 

domingo, 12 de junho de 2016

Pelas estradas da vida


Tive um casamento infeliz, e uma família que perdi o contato, há muito tempo. Sei que a infelicidade foi causada por mim, fui um péssimo marido e péssimo pai. Abandonei-os e saí pelo mundo.
Quis tentar uma nova vida em outras cidades. Perambulei por aí em busca de oportunidades. Acabei me encontrando, atrás do volante de um caminhão. Dirigindo pelas estradas da vida, conheci muita gente. Pessoas de todos os tipos. Pessoas boas e más! O meu teto passou a ser a cabine do caminhão. Detalhe, o caminhão não era meu, pertencia a uma firma na qual consegui o emprego.
Numa dessas viagens, numa certa cidade, conheci uma viúva, uma mulher madura, muito bonita e simpática. Começamos a nos encontrar sempre que eu passava por lá. O relacionamento começou a dar certo e ela me convidou para morar com ela. Os filhos dela não se opuseram. Afinal, ela era independente!
Eu a levei muitas vezes nas minhas viagens, ela se tornou uma companhia muito agradável. Conheceu várias cidades. Minha vida mudou para melhor. Fui bem aceito pelos filhos e netos da minha companheira. Vivemos juntos bons momentos. Fui um homem feliz e amado.
Mas, nem tudo que é bom dura para sempre.  Tive que deixar o trabalho. Problema de saúde, a catarata tomou conta da minha visão e me impediu de continuar a dirigir. Com a ajuda da minha companheira consegui a aposentadoria. E aí, minha vida começou a caminhar para trás, como caranguejo.
Com muito tempo ocioso, o meu passatempo era o jogo. Qualquer tipo, loterias e jogos de cartas. O dinheiro que eu recebia mal dava para manter o vício. A minha companheira, uma mulher compreensiva, aguentava tudo sem reclamar. Cuidava de mim com muito carinho. Devido a diabetes, os problemas de saúde aumentaram, prejudicando ainda mais a visão. Passei por uma cirurgia.
Talvez, revoltado com tudo isso, me afundei mais nos jogos e comecei a criar atrito com os filhos da minha companheira. Voltei a ser aquele marido rude e insensível que fui no primeiro casamento. Troquei a vida estável por uma vida de jogatina.
A mulher maravilhosa que eu tinha ao meu lado, continuou me apoiando, me ajudando, com amor e paciência. Porém, num dia em que amanheci de mau humor, acabei agindo inconscientemente.  Arrumei as minhas coisas e fui embora, sem dar satisfação. Como se eu tivesse morando numa pensão ou pior, nem isso, porque, se eu estivesse numa pensão, teria que acertar as contas.
Agi covardemente, virei às costas, deixei a mulher que foi uma ótima companheira, no verdadeiro sentido da palavra, sem ao menos dizer para onde estava indo. Vim embora para uma cidade distante, e aluguei um quarto para morar.
Durante vinte anos, tive mordomia, não paguei aluguel e fui sempre bem tratado. Morando sozinho, com a idade avançando e os problemas de saúde, a vida não é nada fácil. Mas, acabei me acostumando. Não me restou outra alternativa.
Certo dia, encontrei um conhecido, que coincidentemente, era o avô do namorado da minha ex companheira. Fiquei sabendo, através dele, que ela procurou por mim durante muito tempo. Que ela queria saber como eu estava, se havia encontrado outra pessoa, se estava bem.
Então, criei coragem e telefonei para ela. Conversamos bastante e ela acabou compreendendo a minha atitude. Justifiquei o meu ato e me desculpei. Soube que ela estava bem e sozinha. Assim como eu, não quis arrumar mais ninguém. Queria viver a vida dela, para curtir os filhos e netos.  
Gosto de me sentir livre para fazer o que bem entender. Sem ter que me preocupar com outras pessoas. O jogo ainda faz parte dos meus dias, agora como uma distração para preencher meu tempo. Não me considero um viciado, porque, não jogo mais, a dinheiro.
Continuo  a manter contato com a minha ex,  fui visitá-la, nos tornamos amigos. Fui bem recebido por toda a família dela. Fiquei feliz em saber que não guardaram rancor. Fui perdoado. Graças a Deus!
O que farei quando não conseguir morar sozinho? Quando o peso da idade se fazer notar? Já pensei nisso,  procurarei um abrigo para idosos e terminarei lá os meus dias.
Sei que a decisão de viver assim foi minha. Tive duas famílias e as abandonei. Mereço o que a vida reservou para mim. Espero que meus filhos sejam felizes e que tenham me perdoado. Não sou totalmente infeliz. Ao meu modo encontrei a paz e tenho como companhia as lembranças da época que me aventurei pelas estradas da vida! O que posso querer mais? Fiz a minha escolha!

Você acredita no destino ou acha que somos nós que escolhemos o nosso caminho?

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domingo, 5 de junho de 2016

Traída pela mente


O tempo passou tão rápido que quase nem senti! As rugas enfeitam o meu rosto e não dá mais para disfarçar a idade. O cabelo ainda posso pintar para me iludir. Não sei se adianta, porque, o rosto e o corpo mostram a realidade. Em momento algum estou me queixando, aliás, sou agradecida pelos anos vividos.
Anos de dedicação à família e ao trabalho. Sempre fui muito ativa e consegui dar conta dos filhos pequenos e continuar os estudos. Me formei, comecei a trabalhar e fiz muitos cursos. Graças ao meu salário meus filhos puderam se formar. Sou uma mãe orgulhosa!
Conforme a idade foi avançando, a minha memória começou a falhar. Com isso, perdi o direito de cuidar de mim. Meus filhos, muito preocupados, pensam que me tornei incapaz e não me deixam mais sair sozinha.
Perdi a vontade de me arrumar como antes. Eu era vaidosa, tinha o corte de cabelo da moda, as unhas sempre feitas e gostava de comprar roupas novas. Agora, vivendo dentro de casa, sem fazer nada, apenas comendo a comida que me servem, não preciso me preocupar com a aparência.
Não posso fazer um café para as amigas que raramente me visitam. Entendo que minhas amigas são ocupadas, algumas trabalham e outras têm algumas atividades. São mulheres donas de si. Mulheres que fazem a diferença, como já fiz, um dia!
Toda a minha inteligência e altivez simplesmente desapareceram. Tornei- me uma mulher insignificante, um zero à esquerda, como dizem. Os diplomas e certificados não servem mais para nada. Os dons que sempre tive estão adormecidos. Fui traída pela mente!
Meus dias são passados dentro de casa, mas especificamente, no quarto, assistindo televisão. Durmo, acordo, vejo um pouco de TV e durmo novamente. Nem preciso tirar o pijama. Faz muitos meses que não compro nada, não sei mais o preço das coisas. Então, por que me preocupar com a aparência?
Uma das minhas filhas, às vezes, me leva para passear. Quando isso acontece, meu coração se alegra com a luz do sol. Nesses dias sinto de novo um vestígio daquela pessoa que fui no passado.
Sinto saudades da alegria que irradiava a minha alma, da autonomia que me fazia ser forte, batalhadora e ao mesmo tempo, frágil e vaidosa.
Perdi o contato com muitas amigas, não uso mais o celular. Talvez, elas tenham me ligado e como não retornei a ligação, elas acabaram me esquecendo. Não tenho redes sociais, então, estou completamente por fora do que acontece por aí. Sei apenas o que vejo na televisão. Pouca coisa, porque, como disse durmo muito. Deve ser o efeito dos medicamentos.
Sei que meus filhos só querem o meu bem, se preocupam comigo e é por isso que não me deixam cozinhar e nem fazer qualquer atividade doméstica.  E assim como cuidei deles quando eram pequenos e incapazes de se cuidarem sozinhos, eles cuidam de mim.
Quem sabe se eles perceberem que ainda sou capaz de responder por mim, me deixem um pouco mais livre. Uma amiga muito querida (prometi a ela que não ficará esquecida num canto da minha memória), me disse que fui eu que deixei as coisas chegarem neste ponto. Pode ser que sim, me acomodei diante da situação e me deixei levar.  Entreguei os pontos sem protestar.
No fundo, sei que tenho muita vida pela frente e gostaria de ter encontrado alguém que me fizesse feliz. Isso, antes de eu ter desistido de mim. Desistido de viver!
Quem sabe, só estou precisando de um incentivo, um estímulo das pessoas que amo? A união da família, o amor que era o esteio entre nós, a alegria que contagiava as datas importantes do calendário. Como tudo isso se perdeu? Quando tudo isso deixou de fazer parte das nossas vidas? Será que foi no dia em que perdi o meu marido?
Antes que a memória se perca completamente, quero voltar a me sentir confiante, pelo menos por um tempo. Confiante dos meus atos e desejos. Sem cobranças e pressão. Com amor e alegria. Quero ser eu como era antes. Dona de mim! Será que conseguirei ou não terei mais tempo? Essas perguntas assombram meus pensamentos sem que encontre as respostas.

A memória é o nosso bem mais precioso! É nela que guardamos as boas recordações, não é mesmo?
O que fazer quando a memória começa a falhar? Tem a ver com a idade? O que você acha?

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Colaboração: P.W.M.