Precisei fazer uma viagem à capital e tomei o ônibus no final de um domingo qualquer. Não tenho o hábito de viajar sozinha. Mas, nesse dia, foi realmente necessário!
Havia poucos passageiros e eu me sentei no primeiro banco à direita do motorista. Seria uma viagem tranquila; pensei em ler para manter a mente distraída.
Na terceira parada, eis que sobe um passageiro estranho. Um senhor de meia idade, muito alto, magro e cabeludo. A primeira impressão que tive foi ruim, pensei que ele estivesse bêbado.
“Tomara que não queira se sentar ao meu lado, afinal tem muitos lugares vazios”- foi o meu pensamento naquele momento.
- Posso me sentar ao seu lado? – quando ouvi a pergunta, emudeci! Apenas balancei a cabeça em sinal afirmativo. Se eu dissesse não, qual seria a reação dele? Fiquei preocupada.
Ele acomodou a mochila, que carregava, no compartimento sobre os bancos e sentou-se. Continuei com os olhos grudados no livro. O silêncio durou apenas alguns minutos.
- Olá moça, como você se chama? Eu sou o Haroldo.
- Ah, olá, sou a Eliane.
- Por que você está viajando sozinha?
A minha vontade foi dizer que não era da conta dele. Que homem impertinente! Sorte dele que sou uma pessoa educada e jamais daria uma resposta ríspida para alguém.
- Estou indo encontrar o meu noivo.
- Se eu fosse seu noivo não deixaria você viajar sozinha, ainda mais a noite!
- Ele estará me esperando na rodoviária.
Comecei a ficar incomodada com a conversa daquele senhor. Porém, cada vez que eu tentava me concentrar na leitura, ele puxava assunto. Falou sobre seu trabalho como caseiro numa chácara. De vez em quando, dizia que tinha um rato no bolso do casaco e que ia soltá-lo para ver a minha reação.
Por um instante cheguei a pensar que ele não era “normal”. Que não falava coisa com coisa.
Depois de algum tempo, começou a falar sobre política. Tenho pavor desse assunto e disse isso a ele. Ele quis saber qual era a minha profissão. Falei que era secretária numa escola pública.
O tal senhor não se conformou por eu não gostar de política, daí que desembestou a comentar sobre a situação do país. Insistiu que eu deveria assistir ou ler o jornal para ficar por dentro do assunto.
Eu já estava ficando sem paciência e não sabia o que fazer para que ele parasse de falar. Não há nada pior do que uma conversa desinteressante. Será que ele não percebia que eu quase não falava?
A viagem parecia sem fim. Num determinado momento, ele disse que quando sentou-se ao meu lado, sua intenção era me paquerar. Desistiu da ideia quando falei que era noiva.
Horas depois, chegamos à rodoviária. Descemos do ônibus e ele simplesmente pegou a minha mala e se ofereceu para me acompanhar até o local onde eu iria encontrar meu noivo. Falou que ia pegar o metrô dali há uma hora.
Quando ele tirou a mala da minha mão, pensei que estivesse me roubando. Meu coração disparou! As pernas tremeram! Fiquei sem ação mais uma vez! Já me imaginei correndo atrás da mala.
Mas, ele continuou me seguindo e disse que não me deixaria sozinha àquela hora da noite. Que só iria embora depois de me entregar ao meu noivo.
Chegamos ao local combinado e meu noivo ainda não estava lá. O "seu" Haroldo perguntou qual era o carro dele e passou a observar todos os carros que se aproximavam. Ainda bem que meu noivo não é ciumento, pois, do contrário nem sei o que faria, quando me visse na companhia daquele senhor.
Assim que meu noivo chegou e desceu do carro para me cumprimentar, "seu" Haroldo tomou a iniciativa e se apresentou.
- Boa noite, sou o Haroldo, viajei com a sua noiva e não quis deixá-la aqui sozinha. Agora que ela está em boas mãos já posso ir.
- Muito obrigado pela consideração! - Disse meu noivo.
- Obrigada pela companhia. - Agradeci àquele senhor tão gentil, que até pouco tempo me deixara impaciente e assustada.
Assim que ele nos deixou, entrei no carro e mais tranquila e aliviada, contei ao meu amado aquele episódio, nos mínimos detalhes.
Numa época em que a violência está em todos os lugares, ainda há pessoas de boa índole?
Ou aquele senhor era um anjo disfarçado que estava ali para me proteger?
Obrigada pela visita e pelo carinho!
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