quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Revelações ll

No dia seguinte, quando saí do trabalho, lá estava aquela mulher, na praça, sentada no mesmo banco que o dia anterior. Parecia que estava me esperando, porque, quando me aproximei, ela esboçou um leve sorriso. Lembrei que naquela manhã eu não a encontrara pelo caminho. Sentei ao seu lado e pedi que continuasse a contar a sua história. Ela, então, fixou os olhos em mim, deu um longo suspiro e começou a falar.

- Eu estava no fundo do poço, sem saber o que fazer e pensei várias vezes em suicídio. O Antônio, aquele que eu sempre ignorei por causa dos seu trajes e sua aparência, foi que me salvou. Eu me achava esperta e via beleza aonde não existia. Acabei fechando os olhos para a verdadeira beleza, a beleza interior. São em pessoas como o Antônio, que encontramos o carinho de um abraço e paz numa palavra sincera. Pena que só damos o devido valor quando perdemos esses amigos!
- Antonio trabalhava numa lanchonete e sempre estava  dando conselhos e procurando me ajudar. Fiquei triste quando soube que por minha causa, ele tinha perdido o emprego. O dono da lanchonete não gostava de vê-lo comigo. Muitas vezes ele me dava um lanche e o patrão repreendia-o.

Senti, naquelas palavras, uma imensa tristeza. Percebi que eu dera a ela a oportunidade para que desnudasse toda a angústia que carregava dentro de si.
- O tempo passa para todos e as coisas acontecem de forma diferentes e rápidas, muitas vezes sem nos dar tempo para corrigirmos  nosso erros. Como eu queria poder ter meu pai ao meu lado, contando seus causos e ver a minha mãe rodeada de crianças! Às vezes, fecho os olhos e ouço o som do violão do meu irmão e acabo cantarolando algumas músicas, como se todos estivessem ali comigo.
- Infelizmente, fiquei sabendo que meu pai, um homem justo e trabalhador, que adorava ver a família reunida, não suportou a separação. Começou a beber, logo que ficou sozinho. Perdeu o emprego e passava a maior parte do tempo nos bares da vida, até que acabou morrendo. Minha mãe entrou em depressão e começou a fumar muito. Teve um derrame e ficou numa cadeira de rodas. Não pôde mais lecionar, que era o que mais gostava de fazer. Meu irmão se casou com uma boa mulher e cuida da nossa mãe. Tudo isso que aconteceu com meus pais foi por minha causa. Eles perderam a vontade de viver depois do que fiz.

Meu Deus! - pensei. Quanta desgraça na vida dessa mulher! Quase me arrependi de ter dado ouvidos a ela. Era uma história deprimente. Cheguei a ficar com raiva dela ao saber que causou a discórdia na sua família. Pelo menos o irmão se deu bem na vida. Alguém tinha se salvado, afinal!
Ela ficou por uns momentos pensativa e logo em seguida voltou a despejar as palavras.

- Agora eu estou com trinta anos e aparento ter sessenta. Depois de muitas lágrimas, humilhações e arrependimentos pude perceber como Deus é bom. Ele nos deu uma vida maravilhosa, mas fechamos os olhos e só nos importamos com bens materiais. Só agora  percebo como é linda a natureza, o canto dos pássaros e  o som da água caindo numa cachoeira. A brisa que acaricia nossos rostos parece até ser um carinho de Deus, pedindo para não desistirmos da vida.

Ouvindo  aquela história, continuei curioso e perguntei o motivo do seu sorriso, com tudo de ruim que tinha passado. Ela falou, então, que apesar das escolhas erradas que tinha feito, jamais deixou de acreditar em Deus e no milagre da vida. Contou que depois de tanto tempo, Antônio a encontrara. O amor que ele sentia por ela o levou a uma busca incessante. Ele só descansou quando descobriu seu paradeiro. Ela estava esperando por ele que ficou de aparecer por aqueles dias.

Sem acreditar em toda aquela história, comecei a rir. Pensei que a pobre mulher tinha surtado. Talvez toda aquela trágica história fizesse parte da sua imaginação. Coitada, fazia tanto tempo que vivia perambulando pelas ruas, como numa velha canção, sem lenço e sem documento.
De repente, me espantei! Para  minha surpresa, um homem bem vestido e muito simpático se aproximou, e deu um forte abraço em Patricia. Ela foi tomada por lágrimas que corriam em abundância pelo rosto. Ficaram um tempo abraçados, em silêncio, até que com a voz embargada, ele lhe dirigiu a palavra:

- Querida, vamos para casa, a partir de agora cuidarei de você. Não deixarei que escape novamente de mim. A felicidade te espera! 

Ela levantou-se sorrindo e olhando para mim, falou:

- Esse é o Antônio, aquele que eu achava feio e sem graça. Naquela época eu estava cega, não sabia qual era a verdadeira beleza.

Os dois saíram de mãos dadas, sem olhar para trás, depois do meu aceno. Fiquei parado ali um bom tempo, até vê-los desaparecer como num encanto. Pensei - milagres existem e sou testemunha!

E você, acredita em milagres? Depois de tanto sofrimento, Patrícia dará valor ao amor do Antônio? Será que ela retribuirá esse amor?


O tempo apaga as feridas, mas não um grande amor. A distância separa dois corpos, mas não duas almas.

Sua visita me deixa feliz, muito obrigada!
Beijos,
Cidália.

46 comentários:

  1. Oi
    Uau ótimo texto.
    Acredito sim em milagres, mas não relacionados a mudança de caráter. Esse acredito que nasce e morre com a pessoa :)
    Mas acredito no amor.
    Bjs

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    1. Oi, Rosana,
      Muito obrigada, gostei bastante da sua opinião!

      Bjos.

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  2. Oi!
    Nossa, que texto emocionante! Faz nos pensar nos pormenores da nossa própria vida e nas pessoas que fazem parte dela. Adorei!
    Beijos!

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  3. Que conto mais emocionante ,acredito. Que o amor faz milagres , Antônio não desistiu de seu grande amor com certeza Patricia e Antônio serão felizes tomara que consigam enterrar o passado . Esse conto me fez chorar adorei

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  4. Que texto lindo. Eu acredito sim que o amor faz milagres e gostei de ver um pouquinho do exemplo disso. Eu queria mais. Lindo, porém tão curtinho.. Parabéns, você tem o dom da escrita. Milhões de beijinhos

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    1. Obrigada! Que bom!
      Seu elogio me deixa muito feliz.

      Beijinhos!

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  5. Oiii, tudo bem?
    Estou adorando esses contos com toda certeza quero continuar lendo e acompanhando se trabalho que está cada vez mais incrível <3
    Beijinhos

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    1. Oi, Morgana, tudo bem!
      Que ótima notícia!!

      Obrigada, beijinhos.

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  6. Olá
    Que bom que ela tem alguém que não desistiu dela, é tão triste quando alguém se larga, e desisti de si mesmo, mas quado alguém ainda acredita na gente é mais fácil se reerguer, e seguir adiante.
    Parabéns pelo texto ficou muito bom.

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  7. Que estória bonita. Atualmente onde muitas pessoas cultuam o lado material e a aparência é de grande importância mostrar que a real riqueza dos bons sentimentos. Mais uma vez adorei.

    *☆* Atraentemente *☆*

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    1. Nossa que texto emocionante ,achei lindo o final Antônio acreditou que ainda poderia salvar Patricia . Parabens

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    2. Olá, Evandro,
      Gostei muito da sua opinião.

      Obrigada, abraço!

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    3. Oie, obrigada!
      Pois é, ainda bem que ele acreditou nela.

      Beijos!

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  8. Oi, Cidália. Fui surpreendido quando cheguei aqui. Não sabia que a história postada ontem era da Patrícia. Adorei ver a continuação dela. Achei legal a citação de um trecho da música do Caetano Veloso, Alegria, Alegria. Nessa música, o Caetano fala d'O Sol, um jornal alternativo que circulou no Rio de Janeiro, no período da ditadura civil-militar, que inclusive é o meu objeto de pesquisa do mestrado (O Sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça/ Quem ler tanta notícia). Sensacional. Bem, voltando a história, eu adorei. Espero que a partir de agora a Patrícia saiba a dar mais valor ao Antônio e que ela seja feliz depois de tanto sofrimento. Continue sorrindo, mas com mais motivos. Por fim, gostaria de destacar essa frase final: "O tempo apaga as feridas, mas não um grande amor. A distância separa dois corpos, mas não duas almas". Achei incrível. Parabéns, Cidália. Você está sempre nos surpreendendo com lindas histórias. Domingo estou aqui para ver a continuação do conto Casa ao lado. Até lá.
    Abraço!

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    1. Oi, Leandro!
      Obrigada!! Fico lisonjeada com seus elogios.
      Pois é, ela precisa aprender a dar valor p quem merece.
      Ok, valeu, Leandro!
      Abraço.

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  9. Nossa tem um trechionho neste texto que tem um pouco haver com a minha vida e não quero nem falar, graças a Deus já passou...
    Como sempre arrasando Cidália 1000 bjs!
    http://emagrecendonovoestilodevida.blogspot.com.br/

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  10. Cidália, sou sua fã! Obrigada por nos presentear com a continuação dessa historia maravilhosa,espero que eles agora sejam felizes! Ansiosa pelo próximo conto. Beijos

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  11. Olá! Amei seu texto! Parabéns! Amei as reflexões que ele me ter, de mexer com algumas emoções e levar isso para a vida. Amo quando encontro textos assim, continue!! Beijos!

    Entre Livros e Pergaminhos

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    1. Olá, Suzana,
      Que bom, fico feliz sabendo que você gostou!

      Obrigada, beijos.

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  12. Adorei o conto de hoje Ci. Como sempre você arrasando. Sem palavras, você merece um livro <3

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  13. Oii,

    Que texto lindo!! Acredito que essa personagem dará muito valor a felicidade que irá viver ao lado de Antônio. E ela viverá o destino que Deus propõem para ela.

    beijos

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    1. Oie,
      Fico feliz que tenha gostado!
      Sim, com certeza!!

      Obrigada, beijos.

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  14. Oie, tudo bem? Gostei muito do seu texto! Você escreve super bem. Nesse contexto não sei se acredito em milagres, mas acredito no poder do amor.
    Beijão!

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    1. Oi, tudo bem, Gabrielly!
      Que bom!! Pois é, o amor é poderoso.

      Obrigada, beijos.

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  15. Oi
    bem bacana o seu texto, não sou de acreditar em milagres mas como escritora adoro fazer personagens buscarem a redenção depois de algo revelador, eu sempre faço eles lutarem pelo perdão.

    Talita - viciadosemleitura.blog.br

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    1. Oi, Talita,
      Obrigada!! Sua opinião é valiosa para mim.
      Beijos!

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  16. Olá!
    Adorei seu texto mas infelizmente não consigo acreditar em milagres e nem em mudança de caráter, então ficou pouco verossímil para mim, mas você escreve muito bem!
    Beijos.
    http://arsenaldeideiasblog.wordpress.com/

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    1. Olá,
      Obrigada!!
      Gostei bastante da sua opinião.

      Valeu, beijos!

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  17. Estava curiosa pela continuação dessa história, e fiquei surpresa e satisfeita por me deparar com ela por aqui. Sim, acredito em milagres. E espero que depois de tanto sofrimento a Patrícia consiga ser feliz.

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    1. Olá, Ju!
      Olha só, que legal!
      Sim, ela merece!

      Obrigada, beijos.

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  18. Adorei o conto. Milagres são coisas que movem a fé! Gostei da sua escrita viu? Já quero mais (;
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com

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    1. Olá, Carol!
      Obrigada!!
      Que bom, estou feliz com a notícia!

      Beijos.

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  19. Olá, tudo bem?

    Texto bacana!
    Mas confesso que não sei se acredito em mudanças severas, acho que as pessoas podem melhorar, mudar suas atitudes, deixar de fazer as coisas, é, mudar mesmo, pode ser, pq a lembrança do que a gente faz no passado, se quisermos melhorar, realmente faz a gente mudar, é pode ser... e o amor, ah, esse, esse existe mesmo!

    Beijo!

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    1. Olá, Ana Luz!

      Muito obrigada!
      Sua opinião é importante para mim.

      Beijos!

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  20. Olá! Em primeiro lugar sua escrita é incrível! Você tem talento de sobra e já começa a pensar em publicar um livro, seu conto ficou show de bola, acredito sim em milagres e nossa fé move muitas coisas em nossas vidas. Um texto impactante e reflexivo, você está de parabéns.

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    1. Olá Rafael,
      Estou muito feliz com seu comentário! Suas palavras me deixaram comovida. Um livro, quem sabe?
      Muito obrigada,
      Abraço!

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  21. Olá.
    Adorei o texto bem envolvente e reflexivo, eu acredito sim em milagres hahaa.
    Parabéns pela escrita, estou curiosa para ler mais textos feitos por você. Amei.

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  22. Meu Deus vc merece um livro urgenteeeeee... Eu acredito em milagres sim!!

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  23. Vou comentar novamente, pq vc merece! Mas uma vez leio e me emociono com suas palavras.. Que história maravilhosa e tão comum nos dias atuais, graças a Deus que o amor sempre vence no final, e que Patricia agora poderá ser feliz com Antônio.. Ainda existe pessoas boas e o milagre do amor reinou mais uma vez. Obrigada por nos presentear com esse conto incrível e que nos desperta tantos sentimentos, seja de alegria, raiva, tristeza.
    Beijos

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