O detetive seguiu as pistas que tinha e não descobriu nenhum sinal do escritor Cassiano. Parecia que ele havia evaporado. Procurou pelo nome falso que a Suzana lhe dera e nada. Deduziu que ele estava usando um terceiro nome. Sua foto foi espalhada nos aeroportos e rodoviárias.
Sua conta bancária havia sido encerrada há semanas. Bem antes do corpo do Josias ser encontrado.
As locadoras de automóveis estavam sendo investigadas. Numa das locadoras descobriram que ele alugara um carro para o interior de São Paulo, na ocasião da morte da faxineira.
Que homem era aquele que, de um escritor famoso, passara a ser procurado como um criminoso? Um homem que durante muito tempo viveu na obscuridade, recolhido no seu mundo literário, agora era manchete em todos os noticiários?
Nas redes sociais a notícia se espalhara rapidamente. Nos comentários a preocupação era a sempre a mesma.
- Quantas pessoas esse assassino matou?
- Se ele continua livre pode matar muita gente por aí.
- Coitado de quem atravessar seu caminho!
- Será que ele está procurando a Suzana, sua esposa?
- Eu não queria estar na pele da atual esposa.
- Se ele fez picadinho dá primeira vai fazer dessa também.
- A polícia precisa encontrar logo esse monstro.
- O mundo está perdido, não se pode confiar em mais ninguém.
- Quem diria, um escritor como ele se tornar um homem sem escrúpulos!
- Será que foi ele que matou os sogros? - alguém tinha lido uma matéria sobre a atual esposa do Cassiano, a Suzana, onde ela comentara que os pais haviam morrido após sofrer um acidente de carro. O acidente tinha ocorrido pouco tempo depois que ela levara o escritor para conhecê-los.
Ao ler aquele comentário no computador da pensão, Suzana ficou petrificada. Ela não pensara na morte dos pais. Tentou lembrar os acontecimentos daquele dia.
Na volta da fazenda, eles conversaram muito pouco. Ele cochilou durante a viagem, enquanto ela dirigia. Ela o deixou em casa e foi para o trabalho. No final do dia recebera a notícia do acidente.
Estava atordoada com essas notícias e com os comentários maldosos. Não queria acreditar que o companheiro gentil e amoroso era o protagonista do noticiário da TV, internet e jornal impresso. Desligou o computador e foi dormir.
Cassiano chegou à rodoviária de São Paulo e pegou um ônibus para o interior. O movimento de pessoas que iam de um lado para outro era intenso. Ninguém reparou num padre que caminhava entre a multidão. Ele ficaria na cidade vizinha àquela onde morou por tanto tempo e onde a Suzana estava.
O escritor estava confiante, sabia que a polícia era vagarosa. Se hospedaria num motel de beira de estrada, conhecia bem o lugar, já passara por ali. Certamente, o dono estranharia a presença de um padre no motel, então antes de chegar, ele tirou a batina.
Daria um jeito de ir atrás da Suzana. Provavelmente ela estava na mesma pensão onde o Josias ficara. Não tinha nenhum hotel na cidade. Apesar de viver recluso, ele conhecia o lugar onde morara por tanto tempo.
Ao chegar e pedir um quarto a adrenalina estava a mil. Não via a hora de rever sua esposa. Pensou em dar uma volta, no dia seguinte, pelas redondezas da pensão. Ele estava com a aparência bem diferente das fotos espalhadas para a sua captura. Andaria de ônibus, assim não seria notado entre os passageiros. Se alguém puxasse assunto, faria um sinal, para mostrar que era surdo mudo.
A partir do dia seguinte ele começou a sair cedo e pegar o ônibus num ponto próximo. Criou uma rotina. Andava pela cidade onde morara, distraidamente, sem parar em nenhum lugar específico. Seus olhos procuravam a Suzana. Tinha esperança de vê-la por ali. Imaginara que ela estaria se sentindo mais segura ali do que numa de suas casas no sul do país.
Ele poderia ter ido para algum outro lugar e viver tranquilo, a polícia jamais o encontraria, mas precisava conversar com a Suzana. Tinham contas a acertar. Ele queria que ela o acompanhasse. Ela poderia vender seus bens e os dois comprariam uma casa no norte ou nordeste. Se ela o amasse acreditaria nele, na sua versão.
Para não chamar a atenção de ninguém na rua ele usava algumas estratégias. Uma delas era sentar na praça com um jornal na mão. Fingia que lia enquanto observava os arredores. Quem é que iria reparar aquele homem comum, de aparência insignificante? Outra estratégia, além do horário diferente, era mudar os lugares por onde caminhava.
Numa dessas caminhadas em que ele parecia um andarilho, viu a Suzana saindo da pensão em direção à praça. Ela estava sozinha. Saíra para comprar algumas roupas já que pretendia continuar ali por mais algum tempo. A Nair não pôde acompanhá-la, apesar de ter garantido que tomaria conta dela.
Era um horário de pouco movimento, após o almoço. Ele a seguiu de longe, disfarçadamente. Quando ela estava a uma quadra da loja e bem afastada da pensão, ele se aproximou dela, às suas costas e falou:
- Estou armado, não olhe para trás e nem ouse gritar. Continue andando até o ponto do ônibus. Assim que o ônibus parar, você vai entrar e comprar a passagem até a cidade vizinha. Sentarei ao seu lado e vamos descer juntos, entendeu?
Ao reconhecer a voz, Suzana tremia dos pés à cabeça. Teria que obedecê-lo, senão ele poderia atirar nela e em qualquer pessoa que se aproximasse.
Ela seguiu adiante e ele encostou nela. Será que ninguém tinha reparado neles? Com o coração disparado, Suzana chegou no ponto que estava vazio aquela hora do dia. Onde estava a proteção que o delegado havia prometido?
Mal sabia ela que um policial a seguia, discretamente, a paisana. Assim que o ônibus encostou, Cassiano a empurrou delicadamente para dentro e sentou-se ao seu lado. O policial entrou e sentou logo atrás.
Quando o ônibus se aproximou do motel, o escritor deu sinal e conduziu a Suzana para a porta de saída. O policial desceu na parada seguinte depois de ligar pedindo reforço.
No quarto, Cassiano a jogou sobre a cama. Suzana, com as mãos trêmulas tentou se defender acertando a bolsa no rosto dele.
- Fique quieta e me escute. Não quero te machucar, quero apenas que você acredite em mim. Não sou o monstro que estão pintando.
- Se você é inocente porque está fugindo? A polícia quer apenas ouvi-lo.
- Tenho acompanhado o noticiário, minha querida. Sei que a polícia está me acusando da morte do meu agente. O que aconteceu foi um acidente, não tive a intenção de matá-lo.
- E a sua esposa, também foi um acidente?
- Sim, eu não pretendia matá-la, foi ela quem começou a discussão.
- Quem mais você matou sem querer?
- Eu estou com saudades de você, dos seus beijos. Esqueça esses casos para seu próprio bem. Vamos fugir juntos.
- E meus pais, você tem alguma coisa com a morte deles? E aquela mulher que trabalhou na sua casa? Você a matou?
- Seu pai não foi com a minha cara, estava na hora dele sair de cena e sua mãe o acompanhou como uma boa esposa.
- Então você admite que os matou? Meu Deus! Quem é você, afinal?
- Aquela faxineira estava bisbilhotando a minha vida. Teve o que procurou. Ela foi responsável pelo que aconteceu a ela.
- Você é muito mal, como pode carregar tanto ódio dentro do coração?
- Querida, já disse que não quero machucá-la. Pare de me acusar. Aquelas pessoas pediram para morrer. Não faça como eles. Não tenho nenhuma arma comigo, menti quando falei que estava armado.
- Tenho nojo de você. Não quero compactuar com tanta maldade.
- Sinto muito, queira ou não, você vai ficar comigo. Vou trancá-la no banheiro e amanhã iremos embora para bem longe daqui. Se não fizer o que quero irá se arrepender.
De repente, vozes alteradas ao lado de fora do quarto deixaram Cassiano em alerta. Ele agarrou o braço da Suzana no momento em que a porta foi aberta. O gerente do motel abriu a porta com a chave reserva.
Os policiais entraram e vendo que o escritor estava desarmado partiram para cima dele e o renderam. No instante em que um dos policiais ia algemá-lo, ele agiu com rapidez, tirou a arma do policial e deu um tiro no céu da boca.
Acabou ali, naquele quarto de motel, a vida do homem que ao invés de aproveitar a fama pelas obras desenvolvidas ao longo da carreira, optou pelo crime. Ele preferiu tirar a própria vida a ter que pagar pelos erros cometidos.
Suzana, desolada com aquela cena que ficaria gravada em sua memória para sempre, tomou a decisão de vender a fazenda e a casa da cidade. Não quis voltar a morar no sul do país. Ela comprou a casa onde o Cassiano morou com a Belinda e doou para a prefeitura. Ali seria aberta uma biblioteca.
Apesar da decepção amorosa, guardaria na lembrança os bons momentos que tivera com o escritor. A Nair, agora sua amiga, a convidou para ser sua sócia. A pensão seria transformada numa pousada.
O movimento da cidade aumentou. Os curiosos queriam saber os detalhes daqueles crimes sórdidos.
Fim
Chegou ao fim a história do Cassiano! Deixe a sua opinião sobre a atitude tomada por ele no momento em que seria preso.
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Obrigada pela visita!
Abraços e uma ótima semana!!
Cidália.
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