domingo, 26 de março de 2017

15- Crime perfeito (fim da maldade)




O detetive seguiu as pistas que tinha e não descobriu nenhum sinal do escritor Cassiano. Parecia que ele havia evaporado. Procurou pelo nome falso que a Suzana lhe dera e nada. Deduziu que ele estava usando um terceiro nome. Sua foto foi espalhada nos aeroportos e rodoviárias. 

Sua conta bancária havia sido encerrada há semanas. Bem antes do corpo do Josias ser encontrado. 

As locadoras de automóveis estavam sendo investigadas. Numa das locadoras descobriram que ele alugara um carro para o interior de São Paulo, na ocasião da morte da faxineira. 

Que homem era aquele que, de um escritor famoso, passara a ser procurado como um criminoso? Um homem que durante muito tempo viveu na obscuridade, recolhido no seu mundo literário, agora era manchete em todos os noticiários? 

Nas redes sociais a notícia se espalhara rapidamente. Nos comentários a preocupação era a sempre a mesma.

- Quantas pessoas esse assassino matou?
- Se ele continua livre pode matar muita gente por aí.
- Coitado de quem atravessar seu caminho!
- Será que ele está procurando a Suzana, sua esposa?
- Eu não queria estar na pele da atual esposa.
- Se ele fez picadinho dá primeira vai fazer dessa também.
- A polícia precisa encontrar logo esse monstro.
- O mundo está perdido, não se pode confiar em mais ninguém.
- Quem diria, um escritor como ele se tornar um homem sem escrúpulos!
- Será que foi ele que matou os sogros? - alguém tinha lido uma matéria sobre a atual esposa do Cassiano, a Suzana, onde ela comentara que os pais haviam morrido após sofrer um acidente de carro. O acidente tinha ocorrido pouco tempo depois que ela levara o escritor para conhecê-los.

Ao ler aquele comentário no computador da pensão, Suzana ficou petrificada. Ela não pensara na morte dos pais. Tentou lembrar os acontecimentos daquele dia. 

Na volta da fazenda, eles conversaram muito pouco. Ele cochilou durante a viagem, enquanto ela dirigia. Ela o deixou em casa e foi para o trabalho. No final do dia recebera a notícia do acidente.

Estava atordoada com essas notícias e com os comentários maldosos. Não queria acreditar que o companheiro gentil e amoroso era o protagonista do noticiário da TV, internet e jornal impresso. Desligou o computador e foi dormir.

Cassiano chegou à rodoviária de São Paulo e pegou um ônibus para o interior. O movimento de pessoas que iam de um lado para outro era intenso. Ninguém reparou num padre que caminhava entre a multidão. Ele ficaria na cidade vizinha àquela onde morou por tanto tempo e onde a Suzana estava.

O escritor estava confiante, sabia que a polícia era vagarosa. Se hospedaria  num motel de beira de estrada, conhecia bem o lugar, já passara por ali. Certamente, o dono estranharia a presença de um padre no motel, então antes de chegar, ele tirou a batina. 

Daria um jeito de ir atrás da Suzana. Provavelmente ela estava na mesma pensão onde o Josias ficara. Não tinha nenhum hotel na cidade. Apesar de viver recluso, ele conhecia o lugar onde morara por tanto tempo.

Ao chegar e pedir um quarto a adrenalina estava a mil. Não via a hora de rever sua esposa. Pensou em dar uma volta, no dia seguinte, pelas redondezas da pensão. Ele estava com a aparência bem diferente das fotos espalhadas para a sua captura. Andaria de ônibus, assim não seria notado entre os passageiros. Se alguém puxasse assunto, faria um sinal, para mostrar que era surdo mudo.

A partir do dia seguinte ele começou a sair cedo e pegar o ônibus num ponto próximo. Criou uma rotina. Andava pela cidade onde morara, distraidamente, sem parar em nenhum lugar específico. Seus olhos procuravam a Suzana. Tinha esperança de vê-la por ali. Imaginara que ela estaria se sentindo mais segura ali do que numa de suas casas no sul do país.

Ele poderia ter ido para algum outro lugar e viver tranquilo, a polícia jamais o encontraria, mas precisava conversar com a Suzana. Tinham contas a acertar. Ele queria que ela o acompanhasse. Ela poderia vender seus bens e os dois comprariam uma casa no norte ou nordeste. Se ela o amasse acreditaria nele, na sua versão.

Para não chamar a atenção de ninguém na rua ele usava algumas estratégias. Uma delas era sentar na praça com um jornal na mão. Fingia que lia enquanto observava os arredores. Quem é que iria reparar aquele homem comum, de aparência insignificante? Outra estratégia, além do horário diferente, era mudar os lugares por onde caminhava. 

Numa dessas caminhadas em que ele parecia um andarilho, viu a Suzana saindo da pensão em direção à praça. Ela estava sozinha. Saíra para comprar algumas roupas já que pretendia continuar ali por mais algum tempo. A Nair não pôde acompanhá-la, apesar de ter garantido que tomaria conta dela.

Era um horário de pouco movimento, após o almoço. Ele a seguiu de longe, disfarçadamente. Quando ela estava a uma quadra da loja e bem afastada da pensão, ele se aproximou dela, às suas costas e falou:

- Estou armado, não olhe para trás e nem ouse gritar. Continue andando até o ponto do ônibus. Assim que o ônibus parar, você vai entrar e comprar a passagem até a cidade vizinha. Sentarei ao seu lado e vamos descer juntos, entendeu? 

Ao reconhecer a voz, Suzana tremia dos pés à cabeça. Teria que obedecê-lo, senão ele poderia atirar nela e em qualquer pessoa que se aproximasse.

Ela seguiu adiante e ele encostou nela. Será que ninguém tinha reparado neles? Com o coração disparado, Suzana chegou no ponto que estava vazio aquela hora do dia. Onde estava a proteção que o delegado havia prometido? 

Mal sabia ela que um policial a seguia, discretamente, a paisana. Assim que o ônibus encostou, Cassiano a empurrou delicadamente para dentro e sentou-se ao seu lado. O policial entrou e sentou logo atrás. 

Quando o ônibus se aproximou do motel, o escritor deu sinal e conduziu a Suzana para a porta de saída. O policial desceu na parada seguinte depois de ligar pedindo reforço. 

No quarto, Cassiano a jogou sobre a cama. Suzana, com as mãos trêmulas tentou se defender acertando a bolsa no rosto dele.

- Fique quieta e me escute. Não quero te machucar, quero apenas que você acredite em mim. Não sou o monstro que estão pintando.
- Se você é inocente porque está fugindo? A polícia quer apenas ouvi-lo. 
- Tenho acompanhado o noticiário, minha querida. Sei que a polícia está me acusando da morte do meu agente. O que aconteceu foi um acidente, não tive a intenção de matá-lo.
- E a sua esposa, também foi um acidente? 
- Sim, eu não pretendia matá-la, foi ela quem começou a discussão.
- Quem mais você matou sem querer?
- Eu estou com saudades de você, dos seus beijos. Esqueça esses casos para seu próprio bem. Vamos fugir juntos. 
- E meus pais, você tem alguma coisa com a morte deles? E aquela mulher que trabalhou na sua casa? Você a matou?
- Seu pai não foi com a minha cara, estava na hora dele sair de cena e sua mãe o acompanhou como uma boa esposa.
- Então você admite que os matou? Meu Deus! Quem é você, afinal?
- Aquela faxineira estava bisbilhotando a minha vida. Teve o que procurou. Ela foi responsável pelo que aconteceu a ela.
- Você é muito mal, como pode carregar tanto ódio dentro do coração?
- Querida, já disse que não quero machucá-la. Pare de me acusar. Aquelas pessoas pediram para morrer. Não faça como eles. Não tenho nenhuma arma comigo, menti quando falei que estava armado.
- Tenho nojo de você. Não quero compactuar com tanta maldade. 
- Sinto muito, queira ou não, você vai ficar comigo. Vou trancá-la no banheiro e amanhã iremos embora para bem longe daqui. Se não fizer o que quero irá se arrepender. 

De repente, vozes alteradas ao lado de fora do quarto deixaram Cassiano em alerta. Ele agarrou o braço da Suzana no momento em que a porta foi aberta. O gerente do motel abriu a porta com a chave reserva.

Os policiais entraram e vendo que o escritor estava desarmado partiram para cima dele e o renderam. No instante em que um dos policiais ia algemá-lo, ele agiu com rapidez, tirou a arma do policial e deu um tiro no céu da boca.

Acabou ali, naquele quarto de motel, a vida do homem que ao invés de aproveitar a fama pelas obras desenvolvidas ao longo da carreira, optou pelo crime. Ele preferiu tirar a própria vida a ter que pagar pelos erros cometidos.

Suzana, desolada com aquela cena que ficaria gravada em sua memória para sempre, tomou a decisão de vender a fazenda e a casa da cidade. Não quis voltar a morar no sul do país. Ela comprou a casa onde o Cassiano morou com a Belinda e doou para a prefeitura. Ali seria aberta uma biblioteca. 

Apesar da decepção amorosa, guardaria na lembrança os bons momentos que tivera com o escritor. A Nair, agora sua amiga, a convidou para ser sua sócia. A pensão seria transformada numa pousada. 

O movimento da cidade aumentou. Os curiosos queriam saber os detalhes daqueles crimes sórdidos.

                                                                   Fim

Chegou ao fim a história do Cassiano! Deixe a sua opinião sobre a atitude tomada por ele no momento em que seria preso.



Obrigada pela visita!

 Abraços e uma ótima semana!!
   Cidália.

Seguem os links dos capítulos anteriores:

1- http://contosdacabana.blogspot.com.br/…/11/crime-perfeito.h…


14- http://contosdacabana.blogspot.com.br/…/14-crime-perfeito-i…


sexta-feira, 17 de março de 2017

Crime perfeito (interação)





Sei que prometi que publicaria o último capítulo desta história (Crime perfeito), no próximo domingo, dia 19.

Mas, de repente, tive a ideia de fazer um post diferente. Ficarei off na semana que vem, pois viajarei amanhã numa excursão. Postarei futuramente as fotos da viagem.

Peço desculpas pelo atraso nas respostas dos comentários, em breve colocarei tudo em dia.

Muitos leitores acompanharam a história do escritor Cassiano que se transformou num vil assassino. Ele matou sem querer a esposa, mas o que fez em seguida foi desumano. Esquartejou seu corpo e o jogou no rio, dentro de uma mala. O ciúme não era motivo para um crime bárbaro.

Em seguida, matou seus sogros, os pais da atual esposa. Mexeu no carro do casal provocando assim um acidente no trânsito. A troco do quê uma maldade como essa?

Como se bastasse, ao descobrir que a faxineira que trabalhara na sua casa estava bisbilhotando sua vida, tirou-a do caminho, matando-a sem piedade. Nada justifica a morte desnecessária de uma mulher trabalhadeira, mãe de família.

E o que fez com seu agente, que o considerava um amigo foi mais cruel ainda. Esfaqueou-o e enterrou o corpo na casa da sua esposa. Quem precisa de inimigo com um "amigo" como esse Cassiano?

Até onde vai a maldade desse homem? Ele se vingará da Suzana, sua mulher, por tê-lo abandonado no navio durante um cruzeiro? Ou ele a ama de verdade e não terá coragem para lhe fazer mal?

A polícia descobrirá seu esconderijo? Qual a pena que ele merece? Se você fosse um juiz, qual seria o veredito? A única prova contra ele é o corpo do Josias enterrado no quintal da casa da Suzana, a esposa do escritor. Quanto aos outros crimes, não há provas, apenas suspeitas. Ele precisa confessar a sua culpa.

Gostaria de saber a opinião de cada leitor para saber se alguma coincide com o final que escrevi.

Sua participação é importante para mim! Até mais!!
Obrigada pelo apoio e incentivo!!


Abraços,
Cidália.


domingo, 12 de março de 2017

14- Crime perfeito (incertezas)




Quanto a morte da faxineira, a suspeita havia sido suicídio. Nada podia ligar o Cassiano àquela morte. Apenas o fato dele ter viajado na ocasião e ficado uns dias fora. A não ser que depois do caso reaberto, durante a investigação, encontrassem uma testemunha que o vira na cidade. Ou descobrissem através da locadora de automóveis para onde o escritor tinha viajado. 

O fato do Josias ter ido se encontrar com um amigo não queria dizer que o amigo fosse o Cassiano. Havia outras possibilidades. Nenhum corpo fora encontrado, ele poderia ter conhecido alguém pela internet e marcado um encontro às escuras. O depoimento do escritor seria esclarecedor ao apresentar a data que vira ou conversara com seu agente pela última vez.

O delegado não via a hora de solucionar aqueles casos para poder pensar na aposentadoria. O detetive designado para encontrar o escritor estava no seu encalço. Viajou para o sul do país e com a ajuda da polícia local começou a procura do meliante pela fazenda da Suzana. Era um bom esconderijo. A essa altura, supôs o detetive, o escritor devia saber que estavam procurando por ele.

A notícia estava na internet e em vários jornais. Apesar do nome dele não ter sido citado como suspeito, se ele era culpado, certamente pensaria em fugir.
A casa da fazenda estava trancada e não havia nenhum sinal de vida por ali. Até as plantas da varanda estavam secas. 

O segundo endereço passado pela Suzana era a casa da cidade. O detetive se informou com a vizinhança e ficou sabendo que o escritor esteve na casa por dois dias, depois sumiu. Como o detetive estava com a cópia da chave da Suzana, entrou para procurar alguma pista do seu paradeiro. Saindo para o quintal dos fundos, observou uma pequena elevação de terra sob um vaso. O instinto fez com que ele pegasse uma pá que estava  num canto da casa e verificasse aquele monte. Tirou o vaso e arregaçou as mangas. 

De repente, a pá tocou em algo. Não era terra. Parecia cabelo. O detetive ligou para a polícia local e pediu ajuda. Suas pernas estavam trêmulas. Mesmo acostumado a lidar com todo tipo de crime, quando se deparava com algo daquele tipo, ficava horrorizado.

Assim que chegou o reforço policial o buraco foi totalmente aberto. O buraco não era tão profundo, um corpo de homem jazia, sentado, com seus pertences. Pelos documentos o corpo foi facilmente identificado. 

As providências foram tomadas, a remoção do corpo, o encaminhamento para o IML. O detetive ligou para o delegado e o colocou a par de tudo. A busca pelo escritor tornou-se prioridade. O corpo do Josias, ali, naquela casa era a prova de que precisavam. 

O Cassiano jamais imaginou, talvez, que a Suzana se voltaria contra ele. Sequer pensou que um dia ela desconfiaria dele. Ao enterrar o corpo naquele quintal ele assinou a sua sentença. 

O delegado entrou em contato com a Suzana para lhe dar a notícia.
- D. Suzana preciso que a senhora compareça aqui imediatamente. 
- O senhor tem alguma novidade?
- Sim, quero que saiba por mim, antes que a notícia se espalhe.
- Já estou de saída, até daqui a pouco!

Dona Nair ficou curiosa, ao atender o telefone e largou o que estava fazendo para acompanhar a Suzana.

Ao chegarem à delegacia foram encaminhadas à sala do delegado.
- Sentem-se senhoras, a notícia que tenho não é boa e interessa a ambas.
- Estamos curiosas, senhor. - Suzana falou pelas duas.
- Infelizmente, dona Nair, a sua procura pelo seu hóspede chegou ao fim. O corpo dele foi encontrado no quintal da sua casa da cidade, dona Suzana.

Aquela notícia pegou as duas de surpresa e elas se olharam ao mesmo tempo que se davam as mãos. O olhar de d. Nair era uma mistura de espanto e tristeza, enquanto o olhar da Suzana era de pavor. Ela não podia acreditar que o homem que estivera ao seu lado por algum tempo, que a acariciara tantas vezes, tivesse matado uma pessoa. Quem era o verdadeiro Cassiano? Um vil assassino? Uma pessoa má, sem coração? Alguém capaz de matar seu agente, um amigo?

As duas saíram dali abraçadas. Apesar do pouco tempo que se conheciam, aquele momento as uniu fazendo com que uma amparasse a outra. A tristeza e a dor eram os elos da união.

- Moça, a d. Nair gostava de chamá-la assim - você não pode voltar para lá antes que a polícia o encontre.
- E se ele descobrir que estou aqui? 
- Não vou deixar que você saia sozinha por aí. 
- A senhora está pensando o mesmo que eu? Se ele foi capaz de matar o amigo, pode ter matado e esquartejado a primeira mulher.
- Ai, meu Deus! Só falta ele ter matado a Rosa, também. Coitada!
- Será que ele matou mais alguém que não sabemos? - dúvidas surgiram na cabeça da Suzana.
- Por que ele mataria a Rosa? O que ela fez pra ele? - d. Nair não sabia mais o que pensar.
- O dono da banca me contou que ela ficou preocupada quando viu uma foto do Cassiano comigo numa revista. Ela não teve mais notícia da ex patroa, deve ter ficado curiosa.

Chegando na pensão, dona Nair providenciou um chá de cidreira para as duas. Precisavam digerir aquela notícia tenebrosa. O choro entalado na garganta, cada uma por um motivo. Para Nair, era o fim de um relacionamento que prometia um belo futuro. Para Suzana, era o fim de um sonho. O sonho de ter encontrado o homem ideal, o amor  verdadeiro.

A notícia sobre o corpo do Josias saiu na internet com todos os detalhes. Cassiano, hospedado na pousada, leu a notícia e descobriu onde a Suzana estava. Ficou sabendo que foi ela quem deu a cópia da chave para que o detetive revistasse a casa. Que a polícia estava no seu encalço, qualquer deslize e ele seria pego.

O escritor fechou a conta, pediu um táxi e ao sair da pousada colocou o óculos de grau, falso. Ele usava lentes por causa das miopia. Ao descer na rodoviária, colocou a batina e um boné discreto.

Comprou uma passagem para São Paulo. De lá pegaria o ônibus para o interior. Agora já sabia onde a Suzana estava.  Durante a longa viagem pensaria no que faria.  Pensou até em brincar de gato e rato com a polícia. A brincadeira seria divertida. 



Até onde vai a insolência do Cassiano?  Será que nada o deterá de suas perversidades?
A história, enfim, está chegando na reta final!! No próximo domingo publicarei o último capítulo. Aguardem!!

Sua visita me deixa muito feliz! Obrigada a todos pelo apoio!!
Beijos,
Cidália.

Quem quiser acompanhar a história desde o início seguem os links na ordem:



domingo, 5 de março de 2017

13- Crime perfeito (conjecturas)




Na pensão da Nair, o segundo dia foi cheio de novidades para Suzana. Ela ouviu no café da manhã, uma conversa do casal que estava hospedado lá. A conversa era sobre o hóspede que desaparecera na noite do do réveillon. Ficou de boca aberta ao descobrir que o tal homem era o agente do seu marido. E quase teve um colapso ao ficar sabendo que ele tinha ido se encontrar com um amigo no sul do país. 

Atenta à conversa que passou a ter a participação das outras hóspedes, descobriu que esse amigo provavelmente era o escritor. Enquanto levava a xícara aos lábios, ela procurava lembrar daquela noite. 

Lembrou que estava pronta para sair. Eles iriam jantar fora, quando ela reclamou que estava com dor de cabeça. Então, Cassiano  preparou um chá e lhe deu com um analgésico. Ela acordou no dia seguinte com ele ao seu lado. 

Não lembrava de quantas horas dormiu. Será que nesse meio tempo ele saiu para se encontrar com o agente? O comprimido que ele lhe dera era um sonífero? Não estava entendendo nada. Qual o motivo do Cassiano se encontrar com o Josias sem falar com ela? 

Pensou na conversa que tivera, no dia anterior, com o dono da banca de revistas, sobre a faxineira. Qual a relação da morte dela com o sumiço do agente? 

Após o café, Suzana saiu. Precisava conversar com o delegado. Se apresentou como jornalista, e ao ser cobrada a credencial, ela disse que deixara, na pensão, numa outra bolsa.

Como todos os habitantes daquela cidade que já fora pacata, o delegado era um homem muito simpático e atencioso. Recebeu Suzana e foi minucioso ao detalhar os casos que estava investigando.

Ela saiu dali atordoada com as coisas que ouviu. 

Quem cometeria um crime bárbaro com uma mulher e jogaria o corpo num rio? E essa faxineira que se matara? Havia trabalhado na casa do escritor. E o agente do seu marido que estava desaparecido? O Cassiano não devia estar sabendo. Aliás, fazia tempo que ele não falava no seu agente e nos eventos da Editora.

Segundo o delegado, em breve sairia o resultado do exame da arcada dentária e, então, saberiam quem era aquela mulher encontrada, destroçada, dentro da mala.

Suzana sentou-se num banco da praça e ficou pensando em tudo que ouvira. Lembrou que na ocasião da morte da faxineira, Cassiano tinha viajado. Ela não lembrava para onde, só que ele ficara uns dias fora. Ele não usou o carro dela, preferiu alugar um. Sentiu um frio na espinha! 

De repente, quis saber se o escritor estava procurando por ela. Qual a sua reação ao se dar conta de que ela fora embora? Onde ele estava agora? Na fazenda ou na cidade? Num impulso levantou, foi até um orelhão e fez um interurbano a cobrar para sua casa da cidade. A chamada caiu. 

Ela teria que voltar para casa e enfrentá -lo. Contaria sobre seus sonhos se fosse necessário. Ele teria que falar sobre seu passado para ela, sobre sua ex mulher e sobre seus projetos. Ficaria mais uns dias até que saísse o resultado do exame que identificaria o corpo daquela pobre mulher.

No dia em que o resultado saiu, a pequena cidade ficou em polvorosa. A dona do corpo esquartejado era a ex mulher do seu marido. A tal Belinda. Mais um motivo para o investigador encontrar o escritor o mais rápido possível. Suzana teria que se identificar e contar sobre o cruzeiro e os nomes falsos. Cassiano poderia estar muito longe.

Segundo o Josias, o escritor tinha viajado com a Belinda para Veneza, só que quando ela o conheceu, ele estava sozinho e dissera que estava solteiro.

O medo fez Suzana estremecer e pensar no seu pai. Ele não gostou do escritor quando o conheceu. O amor pode cegar uma mulher? Como ela poderia ter se enganado tanto assim em relação ao companheiro? E se a Belinda tivesse sido vítima de um psicopata?

E se o psicopata fosse o Cassiano? Se ela voltasse para casa e ele estivesse esperando para se vingar por tê-lo abandonado? Não queria terminar a vida dentro de uma mala. 

Pediu para usar o telefone da pensão e ligou para o delegado. Precisava conversar com ele novamente. Marcou um horário para o dia seguinte. Naquela noite chamou a Nair no quarto e contou quem era.

- Peço que a senhora me escute e me perdoe antes de falar qualquer coisa. 
- Nossa, moça, o que está acontecendo?
- Amanhã cedo vou conversar com o delegado. Meu nome não é Ilana. Sou Suzana, a atual mulher do escritor Cassiano. 
- Ah? - dona Nair a olhou espantada.
- Eu e ele estávamos num cruzeiro, quando vi uma foto dele com a esposa numa revista antiga. Como tinha o endereço, resolvi desembarcar sozinha e vim para cá. Eu precisava saber um pouco sobre a sua vida. Ele desconversava quando eu perguntava sobre seu passado. Na foto o casal parecia feliz. Não agi por mal, estava procurando respostas. Posso ajudar o delegado contando o pouco que sei.

- Santo Deus! Será que o Josias foi se encontrar com ele naquela noite? 
- Não sei, o Josias era seu agente. Tinham assuntos em comum, alguns trabalhos pendentes, talvez.

As duas mulheres despediram-se depois de combinarem de irem juntas à delegacia no dia seguinte. Suzana passou a noite em claro e foi a primeira a levantar. Assim que entrou na cozinha, dona Nair apareceu bocejando. Sua noite, também, fora mal dormida. Após o café as duas saíram e foram se encontrar com o delegado.

Numa conversa informal, Suzana se apresentou como a atual esposa do Cassiano e justificou a sua pequena mentira na visita anterior. Ao saber que ele era suspeito no crime da mala e no desaparecimento do Josias, ela deu seu endereço. Contou sobre a fazenda e a casa da cidade. 

Suzana comentou sobre a viagem do seu companheiro na ocasião da morte da Rosa, a faxineira. Repetiu tudo o que havia contado à dona da pensão. Eram poucas informações, porém valiosas. O delegado entraria em contato com a polícia da cidade onde morava o casal, no sul do país.

Tanto a dona da pensão como o delegado, acharam melhor a Suzana continuar por ali onde ficaria protegida. Pelo menos até a polícia localizar o escritor e aqueles casos fossem esclarecidos. Ela acatou a sugestão, estava gostando daquele lugar, daquelas pessoas. 

O delegado sabia que até aquele momento não tinha nenhuma prova contra o Cassiano.  Eram apenas conjecturas. 

No caso do corpo dentro da mala, sabia-se que pertencia à ex mulher do escritor. Precisavam do depoimento dele para saber qual a última vez que ele falara com ela. A data em que os dois saíram da cidade, juntos, foi comprovada pelo frentista que o atendeu na manhã em que viajaram. Ele comentou que viu a Belinda cochilando no banco do carona.

Ainda bem que a Suzana estaria protegida, ali, com àquelas pessoas simples e bondosas. 
Os dias do cruel assassino estavam contados. Será? Faltavam provas, mas o delegado não descansaria enquanto não solucionasse aqueles casos.


Para àqueles que usam a plataforma whattpad, segue o link para acompanhar a história em sequência.

Para quem prefere acompanhar pelo blogger seguem os links dos capítulos anteriores.





Sua opinião é sempre bem vinda! Obrigada!! Abraços! 

Cidália.