segunda-feira, 29 de maio de 2017

Palavras


                       
   


Muitas ideias se misturam na cabeça dela, porém nenhuma inspiração para um conto. 

Lembranças de filmes assistidos e de livros lidos. Somente fragmentos. 

Ela pensa nas histórias inacabadas e nas sugestões que recebeu. Onde estão as palavras que darão continuidade a esses personagens?

Estarão no fundo, bem lá no fundo da sua mente, num cantinho trancafiado? 

Muitas vezes o silêncio inspirador não lhe dá asas para a imaginação. Ela fica entorpecida. 

- Onde estão as palavras? - se pergunta mais uma vez. 

O dia amanheceu ensolarado e lá fora, na cidade grande, diversos sons são ouvidos. Automóveis, aviões, sirenes, alarmes disparados. Ela apura os ouvidos. Do décimo segundo andar tenta distinguir alguns sons. 

Enquanto despertava, agarrada à sua neta, ouvia o canto dos pássaros. 
- Bem te vi! - Bem te vi! - Bem te vi!

Mas, conforme as horas vão passando, o canto dos pássaros se perde entre o barulho do dia. A cada momento um novo som. 

Ela olha pela janela, ouve ao longe, algumas vozes misturadas com o latido de cachorros. Um motor é acionado. Parece o barulho de uma serra elétrica. 
A cidade não pára. Enquanto algumas pessoas dormem, outras trabalham ou apenas se divertem na calada da noite. Assim é a vida na cidade grande.

O sol entra pela janela iluminando a sala. 

As palavras começam a surgir de uma forma inusitada. 

De repente, o cheiro de comida entra pelas narinas. O horário do almoço se aproxima. Ela espera a chegada da neta que havia saído.

Até aquele momento ela ainda não conseguiu organizar seus pensamentos. 

Nenhum personagem surge. 

As histórias continuam inacabadas.

Qual o tipo de leitura que os leitores preferem? Uma trama comovente, um suspense ou fantasia?

Ela pensa no seu gosto literário.  Gosta de romances e dramas, mistério e suspense.

Com a chegada da neta ela esquece as palavras e a envolve num abraço. O carinho recebido a distrai. 

A tarde se anuncia. 

Cadê as palavras? 

Ela precisa terminar algumas histórias e pensar em outras.

Na ausência das palavras ela se torna repetitiva. 

O melhor a fazer é esperar que novas palavras surjam e que o repertório seja ampliado.

E assim, em breve, novas histórias e novos textos reflexivos serão postados.

Um abraço carinhoso em agradecimento pela visita!

Cidália.





domingo, 21 de maio de 2017

O ninho


Segunda, a tarde, lá estava meu marido limpando o quintal e cuidando do jardim, quando se deparou com um ninho em uma pequena árvore. Ele o tirou para jogar fora.

Eu estava tirando a roupa do varal e ele me chamou para mostrar a perfeição.
- Olha que obra prima – disse ele.
- A natureza é fantástica – respondi.
- Parece que está vazio – ele comentou colocando a mão na entrada do ninho.
- Será que não tem um ovinho aí dentro? – perguntei curiosa.
- Não.
- Olha, tem uma pena! – exclamei surpresa.

Então, ele colocou a mão mais no fundo e vimos o filhote encolhido, escondido. Mas que depressa, meu marido ajeitou o ninho e colocou-o no mesmo lugar onde o havia encontrado.

- Logo a mãe virá cuidar dele, é um filhote de corruíra.
- Que gracinha! – falei admirada com tamanha magnitude.

Pensei nas maravilhas criadas por Deus. A mamãe passarinha faz o ninho para abrigar seu filhotinho até que ele esteja pronto para voar e se virar sozinho. Ela o protege dos predadores.



Enquanto isso, em algum lugar, uma criança está sendo abandonada a sua própria sorte! Por inúmeros motivos ou por motivo nenhum. Não cabe a mim tal julgamento, é apenas uma comparação.

No dia seguinte um casal de passarinhos sentou no varal e de longe meu marido ficou observando a cena. Um de cada vez visitou o ninho, provavelmente para levar comida ao filhote.

Depois que eles foram embora, lá foi meu marido, muito curioso olhar o ninho novamente. Eu queria tirar uma foto. E a surpresa foi grande, pois lá dentro estavam dois filhotes e não apenas um como achamos que fosse no dia anterior.

Talvez, na primeira vez tenhamos enxergado mal ou um deles estivesse muito bem escondido. Uma dúvida surgiu quanto aos pais, não eram corruíras como havíamos pensado. Que pássaros eram aqueles?

Existem muitos tipos, mas uma hora dessas descobriremos que passarinhos são esses que fizeram seu ninho numa pequena árvore do nosso jardim.





Não me canso de admirar a natureza e pensar nas maravilhas criadas por Deus! Na beleza dos pássaros e borboletas que voam sobre as flores! Flores de cores alegres! Folhagens exuberantes!

Mais uma surpresa nos aguardava no sábado! Curiosos, eu e meu marido fomos olhar o ninho e lá estavam três lindos filhotes nos observando. Provavelmente estavam escondidos no fundo, pois o ninho tem uma boa profundidade.

Em breve os filhotes sairão do aconchego do seu lar e estarão entre os outros pássaros sobrevoando as árvores e flores do jardim. E serão eles a fazer um novo ninho para abrigar seus filhotes. O ciclo continuará!

Poderão nos acordar com seu canto majestoso e nos presentear com a sua beleza como fazem seus pais. Voarão de galho em galho entre as árvores para se alimentar de seus frutos. Desfrutarão de sua liberdade!

Para encerrar este texto vou deixar um poema que encontrei entre meus achados. Numa folha amarelada pelo tempo a letra de uma adolescente que o copiou sem anotar o nome do autor.

LIBERDADE

Quem me dera ser livre
e poder correr entre os campos
sem hora marcada para voltar.
Dormir sob as árvores,
tomar banho num riacho,
comer somente frutas,
andar descalça sobre a relva,
e apreciar o por do sol.
Cantarolar baixinho para a lua,
sonhar de olhos abertos
e esquecer o amanhã.
Colher flores silvestres,
acompanhada apenas pelo silêncio.
                           (autor desconhecido)

Em breve novos contos, aguardem. 

Grata pela visita!

Abraços,
Cidália.









sábado, 13 de maio de 2017

Singela homenagem



Uma singela homenagem às mães, que devem ser lembradas todos os dias e não apenas no segundo domingo de maio.
Que o carinho e o amor sejam sentimentos presentes no seu dia a dia!
Que as bênçãos se multipliquem na vida de todas as MÃES!!
Feliz DIA!!

MÃE (DESNECESSÁRIA)
                                                                                Márcia Neder

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.

Várias  vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha. Até agora. Agora, quando minha filha de 18 anos começa a dar vôos-solo.

Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.
Uma batalha hercúlea, confesso.

Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.

Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.
A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.

Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.

O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

"Dê a quem você ama :
Asas para voar...
Raízes para voltar...
Motivos para ficar..."
                  (Dalai Lama)

Eu não poderia deixar de falar sobre a minha mãe  que partiu há muito tempo deixando um enorme vazio no meu coração.
Para ela os filhos não deveriam sair debaixo das asas da mãe, onde estariam sempre protegidos.
Maenga do céu era o termo mais usado por ela quando sentia pena de um dos membros da família por menor que fosse o motivo.

Também sinto saudades da minha sogra, uma mulher de fibra, trabalhadeira, que me ensinou, entre algumas coisas a fazer pão.
Quando ela vinha em casa, uma vez por mês, a cozinha ficava por conta dela. Ela era mestre para fazer sonho, cuca alemã, massa de pão de ló, tortas, capeletti, pães, etc.
Ela, apesar de ser um pouco mais velha que minha mãe, tinha a mente mais aberta. Três de seus cinco filhos sempre moraram fora, bem longe dela.

E neste exato momento em que estou escrevendo, sentada, no jardim de casa, ouço a homenagem que os alunos da escola de educação infantil, que tem na proximidade, estão fazendo para suas mães.
Muitas lembranças me vieram à mente!
Minha mãe não participava dessas homenagens, mas se alegrava com os mimos, cartões feitos na escola que meu pai guardava num baú junto com suas coisas de valor.


Obrigada pela visita!

Um abraço especial às MÃES!

Cidália.
MÃE
Que ao dar a benção da vida, entregou a sua...
Que ao lutar por seus filhos, esqueceu-se de si mesma...

Que ao desejar o sucesso deles, abandonou seus anseios...
Que ao vibrar com suas vitórias, esqueceu seu próprio mérito...
Que ao receber injustiças, respondeu com seu amor...

E que, ao relembrar o passado, só tem um pedido:

DEUS, PROTEJA MEUS FILHOS, POR TODA A VIDA!

Para você mãe, um mais que merecido:




http://contosdacabana.blogspot.com.br/2016/05/perfis-de-maes.html?spref=fb





domingo, 7 de maio de 2017

Deserdada

                                                          Desenho: Marcos Wagner


Lígia, uma menina tímida e retraída, sentia-se muito solitária. Na escola não tinha amigos. Sentava-se na primeira carteira e como era a melhor aluna da classe, era a primeira a terminar as tarefas.

Enquanto esperava os demais terminarem a lição, sonhava de olhos abertos. Imaginava-se num palco, cantando para milhares de pessoas.

Aos dezessete anos começou a cantar na igreja onde seu pai era o pastor. Nesses momentos em que a música invadia sua alma, ela não sentia solidão. As pessoas gostavam de ouvir a sua voz e isso lhe trazia conforto.

Seus irmãos eram fãs e perdiam horas assistindo seus ensaios. Eles não eram de muita conversa com  a irmã mais velha porque ela não lhes dava atenção, mas sempre a rodeavam.
Quando descobriu que sentia atração por outras meninas, o desespero tomou conta dela. Sabia que se revelasse seus sentimentos não seria aceita, nem pelos pais e nem pela comunidade. Seria apedrejada.

Continuou sufocando seus sentimentos e só sentia-se livre quando estava cantando para os fiéis, na igreja.

Seus pais pensavam que ela não tinha namorado por causa da timidez. E ela estava sempre na escola ou na igreja. Não saía com amigos. Para os colegas da escola ela era antipática, pois conversava apenas o essencial com alguns deles, quando precisavam se agrupar, para fazerem determinados trabalhos.

Ao completar dezoito anos, seus pais encontraram cartas de amor que ela tinha escrito para outra menina, colega da faculdade, e recebeu ameaças de seu pai.

Tanto sua mãe quanto seu pai ficaram horrorizados com a descoberta de que a filha tinha uma namorada e cortaram o relacionamento com ela.

- A partir de hoje você não será mais nossa filha - disse o pai - eu e sua mãe queremos que saia de casa e que cuide da sua vida bem longe de nós.

- E a faculdade? Vocês vão me ajudar até que eu consiga bancá-la sozinha?

- Tranque a matrícula, faça o que achar melhor, mas não conte conosco – disse a mãe.

- Você pode ficar com o carro que foi presente e o dinheiro da poupança que foi presente de seus avós - o pai falou, sem olhar para a filha.

- Por favor, arrume suas coisas e saia antes que seus irmãos cheguem da escola, não queremos que eles saibam sobre a sua vida - a mãe foi rude.

- O que vocês vão dizer a eles, quando perguntarem onde estou? Vão mentir?

- O que diremos a eles não é da sua conta. Contaremos apenas o necessário quando perguntarem por você - o pai já estava perdendo a paciência.

Lígia foi para o quarto sem derramar uma lágrima sequer, arrumou suas coisas e pegou seu violão, o companheiro de todas as horas. Colocou a mala no bagageiro e o violão no banco do carona. Verificou o combustível e deu partida no carro. Seguiu em frente com um aperto no coração. Gostaria de ter se despedido de seus irmãos. Mesmo não sendo muito ligada a eles, amava-os. No fundo, talvez sentisse ciúme deles.

Luiz e Leda, eram gêmeos e tinham quatro anos a menos que ela. Desde que eles nasceram, Lígia sentiu-se rejeitada pelos pais. A atenção era toda para os bebês.

O dinheiro que ela tinha, na conta, teria que ser economizado até que arrumasse um trabalho.

Conseguiu emprego no restaurante, onde fazia suas refeições, numa cidade próxima. Alugou um quarto num pensionato.

Nos finais de semana se apresentava em bares e lanchonetes. Com o apoio da namorada, sentia-se mais confiante e enquanto dedilhava as cordas do seu violão a timidez não a incomodava tanto.

Seis meses depois, já familiarizada com a nova rotina, voltou para a faculdade. Sabia que precisava pensar no futuro, não poderia viver de sonhos. A música continuaria sendo um maravilhoso passatempo.

Ela estudava durante o dia e trabalhava a noite.  Começou a manter contato com os irmãos através das redes sociais. Soube que seus pais nem queriam ouvir o seu nome. Era como ela tivesse uma doença contagiosa.

A família da namorada era muito diferente da sua. Eram pessoas legais. Aceitaram a escolha da filha numa boa. Recebiam a Lígia com alegria. Eles moravam na mesma cidade que a família da Lígia, porém num bairro distante.

Com esforço e dedicação, Lígia conseguiu terminar a faculdade. Se formou nutricionista e continuou no restaurante, onde foi promovida a gerente. Assim que possível pretendia abrir seu consultório.

Porém, a nutricionista que prestava serviços ao restaurante foi embora para outra cidade e Lígia assumiu seu lugar.

A música continuou fazendo parte da sua vida e nos dias de folga ela se apresentava com a banda formada pela namorada, em festas de casamentos e aniversários.

A esperança de fazer sucesso como cantora ainda existia. Quem sabe sua estrela ainda brilharia?
Quanto aos pais perdera a esperança de uma reconciliação. Eles não compareceram na sua formatura.

Seus irmãos foram contra a vontade dos pais. Lígia ficou feliz por ter o amor e o carinho deles, num momento marcante da sua vida.
Ela sentia falta dos pais, mas não podia fazer nada se eles não aceitavam a sua escolha.

Será que seus pais voltariam atrás, um dia, e se aproximariam dela?

Obrigada pela visita!

Beijos,
Cidália.

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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Esse tal de Facebook!

                                                                           Desenho: Marcos Wagner  

Estava eu voltando  da capital no último ônibus daquele dia. O ônibus estava lotado. Alguns passageiros em pé, enquanto procuravam seus assentos. Sentei num dos bancos a direita do motorista. Na minha frente estava uma senhora que, mais tarde soube, era uma religiosa da mesma igreja onde eu frequento.

Depois que o ônibus saiu da rodoviária parou numa agência onde entrou um rapaz e sentou-se no último banco. Ele entrou com uma lata de cerveja na mão. Parecia bem extrovertido pela maneira como cumprimentou o motorista.

O ônibus saiu e as luzes foram apagadas. O livro que eu pretendia ler permaneceu fechado na minha mão. Preferi pensar na minha neta; fazia poucas horas que eu a havia deixado, mas já estava com saudades.

Lá pelas tantas, o rapaz do fundo veio para a frente e sentou-se ao lado da senhora religiosa. Nessa altura, aquele banco já estava desocupado.
- Parece que você está muito feliz meu jovem – ela falou vendo a euforia do rapaz.
- E estou mesmo muito feliz, graças a esse tal de Facebook. Uma ex namorada me encontrou depois de dez anos. Estou indo encontrá-la.
- Não entendo dessas modernidades. Do que você está falando?
- Ah, me desculpa, senhora. Esse tal de Facebook é uma rede social onde podemos encontrar as pessoas e conversar com elas.
- Entendi. Então, sua ex namorada encontrou-o através dessa rede social depois de muitos anos!

Aquele converse na minha frente despertou a minha atenção. Fiquei curiosa com a história do rapaz.

- Há dez anos eu morava com a minha avó na mesma cidade  que ela, a Soninha. Meu pai ficou viúvo, casou novamente e eu fui rejeitado pela minha madrasta. Daí ele me levou para a casa dos meus avós.
- Geralmente a madrasta cuida bem dos filhos do marido.
- No meu caso, a minha madrasta não me aceitou. Eu tinha dez anos quando isso aconteceu. Conheci a Soninha na escola e fomos muito amigos. Aos quinze anos começamos a namorar. Como já disse ela morava nas proximidades. 
- Hum, que interessante, meu rapaz!

A senhora religiosa já estava íntima do moço, pareciam velhos conhecidos.

- Namoramos durante dois anos, estávamos apaixonados, mas daí meus avós se mudaram. Foram morar com o meu pai que tinha ficado viúvo e estava sofrendo para cuidar do filho e do trabalho. 
- Você tem um irmão que também contou com a ajuda dos seus avós?
- Tenho. E esse, meu pai não levou para meus avós, preferiu que eles vendessem a casa deles e fossem para a cidade grande. Tive que deixar a Soninha com a promessa de voltar. Ela chorou muito, mas acabou entendendo a minha situação. Chegando na cidade grande passei por umas fases difíceis, adaptação na escola, desentendimento com o meu pai e falta de amigos.
- Nossa, imagino o que você passou! Mas você não podia falar com a Soninha por telefone?
- Naquela época não tínhamos celular  e como estávamos sempre juntos nunca trocamos o número de telefone. 
- Poderia ter escrito uma carta para ela. 
- Nunca fui bom com esse negócio de cartas. E nem dei meu endereço para que ela me escrevesse.
- Daí ia ficar difícil mesmo. Talvez o que vocês sentiam na época fosse apenas fogo de palha. Se fosse amor teriam dado um jeito de se falarem.

Aquela história estava bem interessante e eu já estava torcendo para dar tempo do rapaz contá-la na íntegra.

- Meu pai arrumou um emprego para mim na lanchonete onde ele era o gerente. Dali em diante eu dividia o tempo entre o trabalho e o estudo. As coisas começaram a melhorar entre eu e meu pai. Me envolvi com a filha de uma garçonete e me tornei pai aos dezenove anos. Ela tinha dezesseis. 
- Rapaz, sua vida parece uma novela – disse a religiosa.
- Parei de estudar e tive que trabalhar em mais de um emprego para ajudar a criar minha filha. Levei as duas para casa do meu pai. Meu avô faleceu e a minha avó se distraía ajudando a cuidar da criança e do meu irmão. 
- Sua avó é uma Santa.
- Foi uma mulher muito boa. Três anos depois ela foi se encontrar com meu avô. 
- E seu pai não casou mais?
- Não e eu acabei ficando solteiro também. Faz pouco tempo que minha mulher se apaixonou por outro e foi embora com a minha filha. O outro era mais velho e bem de vida. 
- Ela agiu por interesse, então. 
- Depois que isso aconteceu abri uma conta nesse tal de Facebook e uma moça me adicionou dizendo que era a Soninha. 
- Imagino a sua alegria por ela tê-lo encontrado.
- Fiquei admirado por ela se lembrar de mim e dizer que mora no mesmo endereço. Disse que casou e teve um filho. Hoje está separada e trabalha num salão de beleza. Ficou uma mulher muito bonita pelo que vi na foto.

O ônibus estava quase chegando na cidade onde o moço ficaria e eu estava agoniada para saber o final daquela história.

- Ela está te esperando a essa hora? Já é quase meia noite!  - falou a senhora.
- Aproveitei a minha folga e vim vê-la. Espero que a chama entre nós reacenda.

O rapaz falante chegou ao seu destino, assim como muitos passageiros e se despediu da senhora antes de descer.

- Obrigada por me ouvir dona, eu estava precisando desabafar.
- Boa sorte meu jovem (desculpa, nem perguntei seu nome), que Deus te proteja, boa sorte! 
- José Eduardo – respondeu ele ao descer do ônibus- obrigado, amém!

Eu e a religiosa continuamos a viagem. Fiquei olhando aquele rapaz e imaginando qual seria o desfecho da sua história. Comentei com a senhora e ela disse que era a primeira vez que tinha ouvido uma história como aquela. Talvez nunca tenha dado atenção para o passageiro ao seu lado.

Pensei em quantas histórias como essa existem por aí. Reencontros graças a esse tal de Facebook!


Sua visita me deixa muito feliz!
Obrigada!!
Beijos,
Cidália.