Durante o percurso até a rodoviária, a menina que teve a voz presa na garganta por muito tempo, disparou a falar com o avô:
- Vovô, estou feliz que tenha vindo me buscar. Eu estava pensando que ficaria naquela casa até completar a maioridade. Se isso acontecesse eu fugiria quando aparecesse uma oportunidade. Já estava pensando nisso.
- Não fale besteira, menina. Nem comente isso com a sua mãe, ela estava desesperada para reaver vocês. Não se conformava por ter que ficar longe dos filhos, coitada.
- Se eu fugisse daquela casa, vovô, seria para ver a mamãe e meus irmãos. Como eles estão?
- Primeiro vim buscar você, Ariana, porque era a única de quem não tínhamos notícias. Seus irmãos estão próximos um do outro, morando na mesma cidade. Serão levados para casa amanhã.
- Por que só eu vim morar tão longe, vovô?
- Porque seu tio Jesuíno é o único que mora bem afastado da família. Estaremos em casa na hora da janta, se o ônibus não atrasar.
- O senhor deve estar cansado de vir e voltar no mesmo dia.
- Um pouco, mas vou descansar no ônibus. Na vinda, dormi durante toda a viagem.
- Nem acredito que vou ver a mamãe, a vovó e meus irmãos.
- Será que você não vai sentir saudade da sua tia, minha menina?
- Que tia, vovô? Aquela mulher nunca me tratou como uma pessoa da família.
- Pensei em esperar seu tio chegar do serviço para ter uma conversa séria com ele. Na ida, passei na fábrica, mas só contei a ele que ia te levar embora. Ele estava trabalhando e eu estava com pressa. Mas, pretendo voltar outro dia, para lhe dar um puxão de orelha.
- Sabe de uma coisa, vovô? Não quero mais pensar naquelas pessoas. Se um dia eu encontrá-las, por acaso, apenas as cumprimentarei como cumprimentaria qualquer pessoa. Não pelo fato de me obrigarem a fazer o trabalho da casa, mas por me ignorarem.
A conversa entre os dois continuou mesmo depois que entraram no ônibus. Ariana passou tanto tempo falando consigo mesma que estava amando o fato do avô estar ali ouvindo-a e conversando com ela.
Quando percebia que ele estava cochilando iniciava outra conversa. Estava tão empolgada por estar voltando para sua família que não conseguia se conter. Como estavam seus irmãos?
José Carlos era dois anos mais novo que ela e Elizandra, a caçula, estava com doze anos. Como sentia falta das brincadeiras no quintal e dos banhos no rio! Sua brincadeira predileta era jogar bola com o irmão.
Será que durante esse tempo que seus irmãos passaram na casa dos tios foram bem tratados? Ela não via a hora de saber como tinham sobrevivido durante esse tempo sem a mãe. A caçula era muito apegada a ela.
Numa das paradas do ônibus, Ariana olhou para o avô e viu que ele estava apreciando a paisagem.
- Vovô, você está me ouvindo?
- Sim, minha neta. Pode continuar falando. Não tenho todas as respostas, mas amanhã quando seus irmãos chegarem, saberemos.
- Estou muito curiosa para saber o que a mamãe tem para nos contar. Deve ser coisa boa se ela mandou nos buscar.
- Prometi a ela que não ia te contar nada. Tenha paciência, menina!
- Desculpe, meu avô, não vou perturbar mais o senhor. Sou grata por ter me tirado daquela casa.
Ao chegarem no ponto final da viagem, o avô pegou a neta pelo braço e caminharam, em silêncio, até chegarem em casa. Estava uma noite clara, noite de lua cheia. Nem sentiram os três quarteirões que andaram.
Mil pensamentos povoavam a mente da Ariana. Três anos se passaram desde que vira a mãe pela última vez. Três anos de reclusão para ela. Três anos sem ter com quem conversar. Três anos de solidão, de sofrimento. Três anos que esperava esquecer, apagá-los da memória.
Assim que chegaram, Ariana olhou para a casa dos avós e suspirou! Sentiu uma paz tão grande que pensou que fosse morrer ali, naquele momento.
Depois de viver longe da sua família, das pessoas que amava, por três terríveis anos, Ariana precisava compensar o tempo perdido.
Ela perdera parte da infância e adolescência. Ficara atrasada na escola. Tornara-se uma ótima dona de casa, aprendera a cozinhar e a tricotar. Poderia ajudar a mãe a refazer a vida.
Nesse período em que ficou longe da família, Ariana percebeu que era uma moça forte, pois conseguiu suportar as humilhações que lhe foram impostas.
Durante esse tempo ela chorou, apenas, uma única vez.
Qual a surpresa que a vida tinha lhe reservado? Será que a mãe arrumara um marido?
Depois de viver longe da sua família, das pessoas que amava, por três terríveis anos, Ariana precisava compensar o tempo perdido.
Ela perdera parte da infância e adolescência. Ficara atrasada na escola. Tornara-se uma ótima dona de casa, aprendera a cozinhar e a tricotar. Poderia ajudar a mãe a refazer a vida.
Nesse período em que ficou longe da família, Ariana percebeu que era uma moça forte, pois conseguiu suportar as humilhações que lhe foram impostas.
Durante esse tempo ela chorou, apenas, uma única vez.
Qual a surpresa que a vida tinha lhe reservado? Será que a mãe arrumara um marido?
Continua!
PS: Desenho feito pelo meu sobrinho Marcos Wagner.
Sua visita é muito bem vinda, obrigada!
Volte sempre que estiver com vontade de ler.
Você encontrará aqui no blog vários textos reflexivos e contos baseados em histórias reais.
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Uma semana abençoada!!
Cidália.
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