domingo, 26 de novembro de 2017

Laços de Amizade



O início da carreira foi difícil para todas elas. Professoras recém formadas, tiveram que ir para onde houvesse uma vaga. Elas foram, então, conhecer  o local de trabalho. A escola da zona rural.

Cada escola uma história. Algumas tão distantes, que a professora precisava passar a semana no bairro. Outras, o ônibus ia de manhã bem cedinho e depois só no final da tarde. Se a professora quisesse voltar mais cedo para casa, dependia de carona de algum bananeiro.

No dia em que a merenda era entregue, se o motorista chegava perto do final da aula, a carona naquele dia, estava garantida.

Na escola a professora exercia várias funções. Era professora, merendeira, inspetora de alunos, faxineira, etc.

No ponto do ônibus elas se encontravam, depois de andar a pé alguns quilômetros. Mas a viagem, apesar da poeira ou lama que enfrentavam, era divertida.

Essas professoras criaram um laço de amizade. Um laço que conforme o tempo foi passando, foi desfeito pelos acasos da vida. Cada professora tomou um novo rumo. Com o concurso para a efetivação as mudanças foram grandes.

Muitas professoras tiveram que sair da zona rural e mudar para a cidade grande. Distantes da família e dos amigos. Tiveram que enfrentar uma realidade totalmente diferente.

Ainda bem que para àquelas que tinham filhos pequenos houve uma saída. Puderam se afastar sem remuneração por dois anos.

Tempos depois, já tendo retornado para o município de origem, muitas professoras voltaram a se encontrar. Não mais nas escolas das zonas rurais. Mas, sim, nas escolas da zona urbana.

E outras professoras foram se enturmando e a cada ano o grupo aumentava. Entre elas foi se criando uma cumplicidade.

Sem redes sociais ou celulares os encontros eram sempre animados. Encontros em reuniões pedagógicas ou cursos de especializações. Ou encontros ao acaso em supermercados, feira ou mesmo na rua.

Para essas amigas que foram ou continuaram sendo colegas de trabalho, cada encontro era uma festa.

Com o tempo passando, a aposentadoria foi chegando para alegria de muitas professoras. Porém, a promessa de manter contato não foi cumprida por todas. Algumas não deixaram contato.

Entre a turma, ainda têm as caçulas aguardando a aposentadoria.

O que importa é que o laço continua firme pela maioria e todas são lembradas nas rodas de conversas.





ALFABETO DO AMIGO 
 (copiado da internet)
A ceita você como você é.
B ota fé em você.
C hama-o ao telefone só pra dizer oi.
D á-lhe amor incondicional.
E nsina-lhe o que sabe de bom.
F az-lhe favores que os outros não fariam.
G rava na memória bons momentos passados com você.
H umor não lhe falta pra fazer você sorrir.
I nterpreta com bondade tudo o que você diz.
J amais o julga, esteja você certo ou errado.
L ivra-o da solidão.
M anda-lhe pensamentos de ternura e gratidão.
N unca o deixa em abandono.
O ferece ajuda quando vê sua necessidade.
P erdoa e compreende suas falhas humanas.
Q uer vê-lo sempre feliz.
R i com você e chora quando você chora.
S empre se faz presente nos momentos de aflição.
T oma suas dores e evita que o maltratem.
U m sorriso seu basta para fazê-lo feliz.
V ence o inimigo invencível junto com você.
X inga e briga por você.
Z ela, enfim, pela joia que você representa.

Obrigada pela visita,
Cidália.






domingo, 19 de novembro de 2017

A Patinha Feia ll






A admiração que Edu sentia por Shirlei era grandiosa. Ele era uma pessoa observadora. Ouvia as outras colegas da turma, meninas bonitas, que se vestiam bem, que gostavam de curtir a vida, comentando sobre os passeios, as viagens de férias, os presentes que ganhavam dos pais, as baladas e os namorados.

Shirlei não tinha assunto para conversar com essas colegas. Ela nunca era convidada para as festinhas ou qualquer programa que fosse. Estava acostumada com as atitudes preconceituosas, desde a época em que estudava nas escolas municipais. Não fazia questão, pois não tinha tempo para se preocupar com essas coisas.

Durante a infância, se sentira rejeitada, abandonada e excluída. Principalmente nas datas comemorativas do dia das mães e dos pais. Na adolescência, ela faltava à escola nessas datas.

O final do ano era a época em que a deixava triste. Seus irmãos, os meninos, um de 14, o Rogério; outro de 12, o Renato e a menina de 10 anos,  a Isaura, aprenderam a não reclamar da falta de presentes.

Para eles o Natal era um dia como outro qualquer. Sem ceia, sem presentes, sem a presença dos pais. Cinira, sua mãe, saía para o trabalho noturno. Shirlei chorava ao imaginar a movimentação dos vizinhos na preparação das festividades. 

Um dos vizinhos, dono de um oficina, empregou seu irmão Rogério em meio período. Renato começou a dar problema na escola. Isaura ajudava a irmã com o serviço da casa, no período em que não estava estudando.

A mãe, quando era convocada a comparecer à escola, para conversar sobre o Renato, ficava nervosa e passava horas longe de casa. Jogava a responsabilidade sobre a filha mais velha.

No último ano do ensino médio, Cinira começou a se sentir doente e sem disposição para trabalhar a noite. Passava o dia na cama. Uma das vizinhas, foi a salvação da família.

Foi ela quem providenciou internação para a moribunda e ajudou a cuidar da casa para que Shirlei e os irmãos continuassem a estudar.

A matriarca da família foi diagnosticada com aids e teve que iniciar um tratamento. A filha mais velha terminou o ensino médio com a média mais alta da turma.

Rogério continuou trabalhando meio período no oficina. Os dois mais novos se esforçavam para não fazer nada errado. Não queriam que a mãe voltasse para o hospital.

Shirlei passou no vestibular e ganhou a tão sonhada bolsa de estudos. Estudaria a noite. Durante o dia continuaria ajudando em casa. Sua mãe começou a se sentir melhor.

Os pais do Edu ao saber sobre a doença da dona Cinira, através de uma enfermeira, amiga da família, proibiram que o filho continuasse a amizade com a Shirlei. Mandaram o rapaz estudar em outra cidade. Ele não pôde fazer nada a não ser acatar a decisão dos pais, pois dependia deles financeiramente.

Mesmo longe um do outro a amizade continuou entre os dois. Eles trocavam correspondência semanalmente.

Na faculdade, Shirlei começou a pensar na sua aparência. Se um dia tivesse condições faria uma cirurgia para abandonar os óculos fundo de garrafa. Usaria produtos bons para o cabelo. Colocaria aparelho nos dentes. Compraria umas roupas  que a vestissem melhor. Compraria um celular.

Esses desejos foram se tornando frequentes. Às vezes sentia que estava sonhando acordada. Em casa ou na faculdade.

No final daquele ano, sua mãe recebeu a visita do pai da filha caçula. Ela não tinha falado sobre ele, durante aquele tempo todo, porque ele era casado.

- Sabe, Shirlei, nunca falei nada sobre seu pai ou sobre o pai dos seus irmãos, porque eles eram casados. Três deles me ofereceram dinheiro para que eu abortasse. Peguei o dinheiro para ajudar nas despesas, mas não fiz o que me pediram. Menti para eles que havia feito e desapareci da vida deles. Mudei de cidade. O único que não fez isso foi o pai da Isaura. Ele deu algum dinheiro para ajudar nos primeiros meses. Não queria que a mulher soubesse. Lembra que a gente se mudou logo que sua irmãzinha nasceu? Nunca mais tive contato com o pai dela. Agora ele ficou viúvo e como não teve filhos veio atrás de mim. Quer conhecer a filha. Disse que levou muito tempo para me encontrar. Não tive coragem de contar sobre meu tratamento. O que você acha que devo fazer?

- Mãe, você nunca pediu a minha opinião para qualquer coisa que fosse. Só você pode decidir sobre o que quer. A maninha vai chegar da escola daqui a pouco e vai ver aquele homem sentado lá na sala. O que ele quer na verdade?

- Ele quer retomar o nosso caso. Pediu perdão pelo que fez comigo. Quer nos levar para morar com ele, disse que a casa é grande.

- A primeira coisa a fazer é você contar para ele sobre seu tratamento. Ele precisa saber.

Ouvindo os conselhos da filha a matriarca foi até a sala e contou ao pretendente sobre o seu tratamento. Falou que não queria passar para ele o vírus. Foi surpreendida com um abraço.

- Hoje em dia isso não é mais preocupação. É só nos cuidarmos. Quero proporcionar a você, a nossa filha e aos outros uma vida melhor. Quero me redimir pelo tempo em que você cuidou sozinha da nossa pequena.

A carta que Shirlei escreveu para Edu, naquele dia, foi para lhe contar sobre as novidades. Ela iria morar na mesma cidade em que ele estava estudando. Quem sabe iria estudar junto com ele? Era tudo o que ela mais queria. Reencontrar seu grande amigo. O que ela não imaginava era que os pais do rapaz não queriam os dois juntos.

Em alguns meses a vida daquela família mudou para melhor. Uma nova cidade onde ninguém conhecia o passado da mãe da Cinira. Uma nova casa. Uma nova faculdade. Ela ganhou de presente do padrasto a cirurgia e deixou de usar aqueles óculos horrendos.

Quando Edu a viu quase não a reconheceu. O aparelho nos dentes, a falta dos óculos, o cabelo com um novo corte e uma roupa melhor fizeram a diferença para àquela menina que se considerava uma patinha feia.

Shirlei notou, pela primeira vez, algo mais por trás do olhar do velho amigo.
Edu faria tudo para que a moça se apaixonasse por ele. E faria tudo para que seus pais a aceitassem.

Ali, naquele momento, quando o casal trocou um abraço, a esperança brotou em seus corações.  Esperança de que a amizade se transformaria num grande amor.

Para Shirlei era o começo de uma nova vida. Ela tinha a sua frente uma página em branco e nela escreveria uma nova história. Uma história onde ela seria uma garota popular na faculdade e namoraria seu melhor amigo. Uma garota que teria, dali em diante, a família reunida no Natal.



FIM


A você que acompanhou a história da Shirlei com i, obrigada!

Se você ainda não leu a primeira parte, segue o link, entre e fique a vontade para expressar a sua opinião.

http://contosdacabana.blogspot.com.br/…/11/a-patinha-feia.h…

Uma bela e abençoada semana!!

Cidália













domingo, 12 de novembro de 2017

A Patinha Feia


Shirlei se sentia a menina mais feia do mundo. Não precisava que lhe dissessem o quanto era sem graça. Ela reconhecia a sua feiura. Deixara de se importar com a sua aparência há muito tempo. Tinha coisas mais importantes para ela se preocupar.

Era alta demais, muito magra, desengonçada, tinha os dentes tortos, usava óculos fundo de garrafa e seus cabelos eram horríveis, viviam presos num rabo de cavalo.

Desde a pré escola era chamada por diversos apelidos.

Nenhuma criança queria brincar com ela. Quando ela se aproximava as outras crianças saíam de perto. Ela, então, se encolhia num canto qualquer até ser notada por uma das professoras.

E essas cenas se sucederam quando ela foi para o ensino regular.

Os trabalhos em grupo eram a pior parte. Ninguém a queria em seu grupo.

Os apelidos foram se tornando mais ferinos.

 ⁃ Sua girafa piolhenta!

 ⁃ Perna de pau, quatro olhos, cabelo pixaim e outros que ela nem gosta de lembrar.

Suas roupas eram surradas, sua família vivia com o dinheiro contado e com a ajuda da Assistência Social. Shirlei tinha que cuidar dos irmãos mais novos, enquanto sua mãe dormia para se recuperar do trabalho noturno.

Ela não gostava quando lhe perguntavam sobre o trabalho da mãe, nem quando era cobrada pela ausência da progenitora nas reuniões de pais e mestres.

Jamais conhecera seu pai e cada irmão tinha um pai diferente. Sua mãe não vivia muito tempo com o mesmo marido. Shirlei preferia se manter alheia à rotina de vida dela.

Comida não faltava para ela e os irmãos. A casa onde moravam era simples e pequena. O aluguel era barato, dizia a mãe. 

Os irmãos menores, dois meninos e uma menina eram responsabilidade de Shirlei.

Era ela quem levava os irmãos menores para a creche e para a escola. Cuidava deles com carinho. 

Limpava a casa, lavava a roupa e cozinhava desde os doze anos de idade.

Chegava sempre atrasada na sala de aula. Alguns professores eram compreensíveis, outros não. Shirlei ficava sem jeito, pedia desculpa pelo atraso e explicava o motivo.

Os colegas riam dela. Sentia os olhares enviesados sobre si e ouvia os cochichos quando passava por eles.

Com o tempo ela criou uma espécie de couraça e deixou de se importar com os apelidos e comentários maldosos que ouvia.

Fazia os trabalhos escolares sozinha até o dia em que chegou na sala de aula uma nova aluna.

Essa menina sentou-se ao seu lado. Foi simpatia à primeira vista.  De ambas as partes. Dali em diante, as duas se tornaram amigas inseparáveis. Faziam os trabalhos escolares juntas.

Shirlei era aluna estudiosa e aplicada. Valorizava seu material escolar que era comprado com sacrifício com o pouco dinheiro que a família tinha.

Na formatura do nono ano, Shirlei preferiu não participar. Sabia que a mãe não poderia arcar com as despesas.

Liana, sua amiga, também não participou. Estava de mudança para uma outra cidade.

No ensino médio, Shirlei, ainda se sentia a patinha feia da turma. A Shirlei com i no final do nome, erro do escrivão, segundo a mãe.

Porém, a sua inteligência causava inveja aos outros alunos. A sua inteligência a enaltecia perante à turma.

Edu, o carinha mais bonito da classe, o mais cobiçado pela maioria das meninas, começou a prestar atenção na Shirlei.

Ele reparou que ela parecia sem graça, sem gosto para se vestir, mas muito inteligente. As melhores notas eram as dela. Em todas as disciplinas. Em todos os trabalhos apresentados.

Quando ela precisava expor algum trabalho, agia com naturalidade. Não demonstrava nervosismo. 

Shirlei tinha um sonho e pretendia realizá-lo. Queria ajudar sua mãe e seus irmãos no futuro. Para isso, precisava estudar muito. Sabia que precisava ganhar uma bolsa para fazer a faculdade.

Tudo o que ela mais queria era seguir por um caminho diferente da mãe, não desejava para a si aquela profissão.

Há tempos atrás quando estava no sexto ano, ouviu algumas meninas comentarem no banheiro da escola sobre o trabalho da sua mãe e ficou envergonhada.

Os olhares do Edu foram notados pela Shirlei. Ela percebeu, também, que as outras alunas estavam  enciumadas. 

Numa certa manhã, ao chegar na escola, Shirlei foi abordada pelo Edu no portão de entrada.

- Olá, estou com dificuldade na aula de matemática, você pode me ajudar? - o rapaz foi direto ao assunto.

- Oi, você quer a minha ajuda? Tem certeza? - Shirlei ficou admirada com aquele pedido.

- Se você puder me ajudar, eu pago por umas aulas particulares. Podemos marcar na sua casa, se você preferir.

- Não tenho tempo livre, ajudo a cuidar dos meus irmãos e da casa enquanto minha mãe trabalha. Apesar de notar a expressão no rosto do rapaz, preferiu continuar mentindo. Como ia falar para ele que a mãe dormia durante o dia para trabalhar a noite?

- E se eu me sentar ao seu lado nas aulas livres? 

- Se você quiser, tudo bem.

- Combinado.

A partir daquele dia, Edu passou a se sentar ao lado da Shirlei nas aulas livres, sem se incomodar com os falatórios. Suas notas melhoraram consideravelmente. 

Os dois se tornaram bons amigos. Apenas na escola. Um não frequentava a casa do outro. Não por falta de convite por parte do Edu. Shirlei não tinha tempo livre e nem coragem para retribuir o convite.

Quando o dia terminava ela estava cansada e dormia cedo. Às vezes não conseguia nem ler um dos livros que pegava emprestado na biblioteca da escola.

Sua mãe saía no final da tarde e só voltava de madrugada ou na metade da manhã. Quando acordava, tomava banho, comia alguma coisa e passava um tempo em frente ao espelho se arrumando. Ela dizia para os filhos que era gerente num bar.

Shirlei seguia sua vida cuidando dos irmãos, estudando muito e mantendo sua amizade com Edu na escola.

Edu não ligava para a falta de beleza exterior da Shirlei. Ela tinha qualidades que a tornavam uma moça linda.

Cada vez que ele a encontrava, no portão de entrada da escola, imaginava que chegaria o dia em que ela o olharia com outros olhos.

Não deixe de ler o desfecho deste conto na próxima semana!

Grata pela visita,

Cidália.











domingo, 5 de novembro de 2017

Fora de cena




Ela se recolheu à sua inércia. Cansou de lutar pelos seus direitos. Os fios de cabelos brancos agora tomaram conta da sua cabeleira. Já não sente mais saudades dos cabelos pintados e escovados.

Suas unhas, antes sempre pintadas, são apenas cortadas quando estão muito compridas. A vaidade se distanciou de tal maneira que ela não se importa mais.

Ela já foi linda de bonita, como diz a personagem de uma novela. Hoje é somente uma sombra da mulher que foi um dia. 

Veste a roupa que lhe dão, come a comida que lhe servem. 

O dia passa sem nenhuma novidade. A rotina é a mesma dos últimos anos. As rugas aumentam a olhos vistos. A pele flácida não a incomoda mais.

Ela perdeu a vontade de viver. Perdeu a alegria que a contagiava. Não reclama. Entregou os pontos, como no ditado popular.

A cortina se fechou. Ela nem lembra da última cena em que representou uma mulher feliz. Qual foi a última vez em que teve a família reunida? Foi há muito tempo! A imagem está se apagando da sua memória.

Seu palco agora é a sala onde passa o dia deitada no sofá vendo TV.

Quem se importa com a vida que ela está levando? Muitos dirão que ela é responsável pela escolha que fez. 

Será que se ela quisesse poderia mudar aquela situação? Se ela decidisse se impor, teria novamente as rédeas em suas mãos?

Por onde anda aquela mulher decidida, dona de si, inteligente e batalhadora? Será que ela não gostaria de voltar àqueles tempos? Por onde andarão os diplomas que conquistou ao longo da vida?

Ah, se ela tivesse disposição para ir ao salão de beleza e dar uma repaginada na sua vida! Sua auto estima, certamente, agradeceria!

Ela poderia fazer uma viagem para conhecer novas pessoas e novos lugares. Talvez conhecesse alguém interessante, que se preocupasse com ela. Mesmo que isso não acontecesse, só o fato de querer passear, comprar algo que a agradasse, seria o suficiente para tirá-la daquela monotonia em que estava confinada.

Aos olhos de muitos ela estava vivendo em cárcere privado. Na sua opinião, talvez tivesse se acostumado à comodidade. Do jeito que estava vivendo ela não precisava se preocupar com as contas, com os assaltos ou com qualquer coisa que fosse.

Nem mesmo a situação do país lhe interessava mais. Para ela tanto fazia a água correr para cima ou para baixo. (mais um ditado popular)

Qual o cardápio do dia? O que fazer primeiro, lavar a louça ou a roupa? Essas pequenas preocupações do dia a dia já não faziam parte da sua rotina.  Lavar, passar ou cozinhar eram verbos que deixaram de ser conjugados há muito tempo. Assim como outros verbos, comuns no cotidiano das mulheres.

Quanto ao espelho que um dia foi um item que não podia faltar na bolsa ou no banheiro, hoje nem lembra da sua utilidade.

O que ele vai lhe mostrar? A pessoa que se tornou, uma flor murcha que perdeu a sua vivacidade e a sua beleza. Um zero a esquerda que não tem mais voz ativa. Alguém que se deixou dominar, que perdeu sua autonomia e a vontade de reagir.

O espelho não faz parte desta nova etapa da sua vida. Assim como o sol ou a alegria. Neste seu novo universo ela busca refúgio no aconchego do seu quarto ou no sofá da sala.

E assim os dias vão passando numa lentidão que a assusta. E lá deitada no sofá assistindo os mesmos programas de sempre, o dia se torna noite.

Ela não se queixa, não reclama. De que adiantaria? Sabe que ninguém a ouve!


Um abraço!
Cidália.

PS: Obrigada pela visita!!