domingo, 19 de novembro de 2017

A Patinha Feia ll






A admiração que Edu sentia por Shirlei era grandiosa. Ele era uma pessoa observadora. Ouvia as outras colegas da turma, meninas bonitas, que se vestiam bem, que gostavam de curtir a vida, comentando sobre os passeios, as viagens de férias, os presentes que ganhavam dos pais, as baladas e os namorados.

Shirlei não tinha assunto para conversar com essas colegas. Ela nunca era convidada para as festinhas ou qualquer programa que fosse. Estava acostumada com as atitudes preconceituosas, desde a época em que estudava nas escolas municipais. Não fazia questão, pois não tinha tempo para se preocupar com essas coisas.

Durante a infância, se sentira rejeitada, abandonada e excluída. Principalmente nas datas comemorativas do dia das mães e dos pais. Na adolescência, ela faltava à escola nessas datas.

O final do ano era a época em que a deixava triste. Seus irmãos, os meninos, um de 14, o Rogério; outro de 12, o Renato e a menina de 10 anos,  a Isaura, aprenderam a não reclamar da falta de presentes.

Para eles o Natal era um dia como outro qualquer. Sem ceia, sem presentes, sem a presença dos pais. Cinira, sua mãe, saía para o trabalho noturno. Shirlei chorava ao imaginar a movimentação dos vizinhos na preparação das festividades. 

Um dos vizinhos, dono de um oficina, empregou seu irmão Rogério em meio período. Renato começou a dar problema na escola. Isaura ajudava a irmã com o serviço da casa, no período em que não estava estudando.

A mãe, quando era convocada a comparecer à escola, para conversar sobre o Renato, ficava nervosa e passava horas longe de casa. Jogava a responsabilidade sobre a filha mais velha.

No último ano do ensino médio, Cinira começou a se sentir doente e sem disposição para trabalhar a noite. Passava o dia na cama. Uma das vizinhas, foi a salvação da família.

Foi ela quem providenciou internação para a moribunda e ajudou a cuidar da casa para que Shirlei e os irmãos continuassem a estudar.

A matriarca da família foi diagnosticada com aids e teve que iniciar um tratamento. A filha mais velha terminou o ensino médio com a média mais alta da turma.

Rogério continuou trabalhando meio período no oficina. Os dois mais novos se esforçavam para não fazer nada errado. Não queriam que a mãe voltasse para o hospital.

Shirlei passou no vestibular e ganhou a tão sonhada bolsa de estudos. Estudaria a noite. Durante o dia continuaria ajudando em casa. Sua mãe começou a se sentir melhor.

Os pais do Edu ao saber sobre a doença da dona Cinira, através de uma enfermeira, amiga da família, proibiram que o filho continuasse a amizade com a Shirlei. Mandaram o rapaz estudar em outra cidade. Ele não pôde fazer nada a não ser acatar a decisão dos pais, pois dependia deles financeiramente.

Mesmo longe um do outro a amizade continuou entre os dois. Eles trocavam correspondência semanalmente.

Na faculdade, Shirlei começou a pensar na sua aparência. Se um dia tivesse condições faria uma cirurgia para abandonar os óculos fundo de garrafa. Usaria produtos bons para o cabelo. Colocaria aparelho nos dentes. Compraria umas roupas  que a vestissem melhor. Compraria um celular.

Esses desejos foram se tornando frequentes. Às vezes sentia que estava sonhando acordada. Em casa ou na faculdade.

No final daquele ano, sua mãe recebeu a visita do pai da filha caçula. Ela não tinha falado sobre ele, durante aquele tempo todo, porque ele era casado.

- Sabe, Shirlei, nunca falei nada sobre seu pai ou sobre o pai dos seus irmãos, porque eles eram casados. Três deles me ofereceram dinheiro para que eu abortasse. Peguei o dinheiro para ajudar nas despesas, mas não fiz o que me pediram. Menti para eles que havia feito e desapareci da vida deles. Mudei de cidade. O único que não fez isso foi o pai da Isaura. Ele deu algum dinheiro para ajudar nos primeiros meses. Não queria que a mulher soubesse. Lembra que a gente se mudou logo que sua irmãzinha nasceu? Nunca mais tive contato com o pai dela. Agora ele ficou viúvo e como não teve filhos veio atrás de mim. Quer conhecer a filha. Disse que levou muito tempo para me encontrar. Não tive coragem de contar sobre meu tratamento. O que você acha que devo fazer?

- Mãe, você nunca pediu a minha opinião para qualquer coisa que fosse. Só você pode decidir sobre o que quer. A maninha vai chegar da escola daqui a pouco e vai ver aquele homem sentado lá na sala. O que ele quer na verdade?

- Ele quer retomar o nosso caso. Pediu perdão pelo que fez comigo. Quer nos levar para morar com ele, disse que a casa é grande.

- A primeira coisa a fazer é você contar para ele sobre seu tratamento. Ele precisa saber.

Ouvindo os conselhos da filha a matriarca foi até a sala e contou ao pretendente sobre o seu tratamento. Falou que não queria passar para ele o vírus. Foi surpreendida com um abraço.

- Hoje em dia isso não é mais preocupação. É só nos cuidarmos. Quero proporcionar a você, a nossa filha e aos outros uma vida melhor. Quero me redimir pelo tempo em que você cuidou sozinha da nossa pequena.

A carta que Shirlei escreveu para Edu, naquele dia, foi para lhe contar sobre as novidades. Ela iria morar na mesma cidade em que ele estava estudando. Quem sabe iria estudar junto com ele? Era tudo o que ela mais queria. Reencontrar seu grande amigo. O que ela não imaginava era que os pais do rapaz não queriam os dois juntos.

Em alguns meses a vida daquela família mudou para melhor. Uma nova cidade onde ninguém conhecia o passado da mãe da Cinira. Uma nova casa. Uma nova faculdade. Ela ganhou de presente do padrasto a cirurgia e deixou de usar aqueles óculos horrendos.

Quando Edu a viu quase não a reconheceu. O aparelho nos dentes, a falta dos óculos, o cabelo com um novo corte e uma roupa melhor fizeram a diferença para àquela menina que se considerava uma patinha feia.

Shirlei notou, pela primeira vez, algo mais por trás do olhar do velho amigo.
Edu faria tudo para que a moça se apaixonasse por ele. E faria tudo para que seus pais a aceitassem.

Ali, naquele momento, quando o casal trocou um abraço, a esperança brotou em seus corações.  Esperança de que a amizade se transformaria num grande amor.

Para Shirlei era o começo de uma nova vida. Ela tinha a sua frente uma página em branco e nela escreveria uma nova história. Uma história onde ela seria uma garota popular na faculdade e namoraria seu melhor amigo. Uma garota que teria, dali em diante, a família reunida no Natal.



FIM


A você que acompanhou a história da Shirlei com i, obrigada!

Se você ainda não leu a primeira parte, segue o link, entre e fique a vontade para expressar a sua opinião.

http://contosdacabana.blogspot.com.br/…/11/a-patinha-feia.h…

Uma bela e abençoada semana!!

Cidália













40 comentários:

  1. Parabéns Cidália vc coloca sentimentos em suas histórias adorei o final .Shirley e sua família mereciam a felicidade .

    ResponderExcluir
  2. Curto mas capaz de prender a atenção do leitor até ao fim!

    ResponderExcluir
  3. Parabéns!! Você escreve muito bem e sabe como demonstrar sensações no texto. Além disso, prendeu a minha atenção

    ResponderExcluir
  4. Bom final. Bem escrito. Tem sentimento e tem força.
    Me incomoda um pouco a figura do salvador. Eu acho que a Shirlei, enquanto menina estudiosa, podia se dar bem e melhorar a condição da família por si própria.
    Não sei se gosto dessa figura boa e salvadora que aparece e resolve os problemas em uma virada de página. Mas isso é questão de gosto pessoal meu.

    Novamente, ótimo texto. Parabéns.
    Continue escrevendo e evoluindo.

    Uma dica. Em algum lugar no post, no começo ou no final, coloque o link para a primeira parte.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada, Willian,elo comentário e pelas observações! Sua opinião é muito importante para a minha evolução!!

      Excluir
  5. Cidália que bom que a Shirlei passou na faculdade e ganhou a bolsa de estudos, a Shirlei é uma boa filha mesmo indo estudar á noite durante o dia ela vai continuar ajudando a sua mãe.Torço muito pra Shirlei Cidália bjs.

    ResponderExcluir
  6. Uma história triste com final feliz, pelo menos neste capítulo. Perfeito. Continue desenvolvendo tua história. Me parece bem inspirada, parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Ane, pelo comentário! Que bom que você gostou do desfecho!!

      😘😘

      Excluir
  7. Sua escrita é muito boa, continue escrevendo !

    ResponderExcluir
  8. Olá Cidália, tudo bem?
    Que final lindo! Estava torcendo muito para Shirlei, a pobrezinha sofreu tanto né? Achei o final super merecido, sempre a admirei por sua determinação e persistência. Adoraria ler mais sobre o casal, quem sabe um spin-off né?
    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Esther, tudo bem!!
      Fico imensamente feliz sabendo que você gostou do desfecho da história!
      Quem sabe!!!

      😘😘

      Excluir
  9. Muito bonita a história, parabéns. Ainda não li a primeira parte, mas já salvei aqui para ler depois. bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oba, que legal!! Fico feliz sabendo que você gostou!

      Obrigada, beijos!

      Excluir
  10. Olá!
    Muito boa sua história, estou torcendo para que Shirlei supere todas as dificuldades!
    Sempre arrasando, parabéns!
    Abraços.

    ResponderExcluir
  11. Olá! Tudo bom?
    Confesso que já fiquei curiosa com o texto desde o título, fiquei muito encantada com a forma com que descreveu suas dificuldades, colocando tudo no papel.
    Beijos, Joyce de Freitas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, tudo bem!
      Obrigada pelo comentário, que bom que gostou da história da Shirlei!!
      Beijos.

      Excluir
  12. Que ótimo que o desfecho da história teve um final muito bom para a família de Shirlei e também para ela. Gostei Cidália! Já aguardo a próxima história !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Vany, pelo carinho! Fico feliz que tenha gostado do desfecho da história!!
      Oba!!!

      Beijos.

      Excluir
  13. Olá, tudo bom?

    Que ótimo texto, cheio de sentimentos. Senti tristeza ao ver a situação de Shirlei, principalmente em relação ao Natal. É uma pena todo o preconceito e sofrimento que ela passou, ninguém merece algo assim. Que bom que, no final, tudo dera certo e Shirlei teve um novo começo, pois merecia.

    Enfim, adorei a postagem :)
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Wellida, tudo bem!
      Sua opinião sobre a história da Shilei me deixou muito feliz. É verdade, ninguém merece!!
      Obrigada, beijos.

      Excluir
  14. Oi, tudo bem? Já estava curiosa pra saber como ia terminar a história da nossa protagonista Shirlei. Muitas vezes o que falta em nossas vidas é um pequeno empurrão para que tudo seja diferente. Para que enxerguemos tudo com outros olhos. Ela realmente merece ser feliz e viver um grande amor. Beijos, Érika =^.^=

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Erika, tudo bem!
      Que lindo seu comentário!! É isso mesmo, concordo com você!!
      Obrigada, beijos.

      Excluir
  15. Olá, tudo bem?
    A história ficou mesmo incrível... Sentimos mesmo os sentimentos que quer partilhar a traves da história. está de parabéns, não para de escrever que tem um dom.
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Alexandra, tudo bem!
      Oba, que bom que você gostou!! Muito obrigada pelos elogios!
      Beijos.

      Excluir
  16. olá , tudo bem? Cada um de nós tem um lado de tristezas ou magoas , mais o importante e dar a volta por cima como a Shirley , seu texto é muito bom e uma maneira de refletirmos
    se não está na hora de superar .
    Bjssss

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Márcia, tudo bem! Verdade, com certeza!!
      Que bom que você gostou!
      Beijos.

      Excluir
  17. Oi tudo bem?amei o post vc escreve perfeitamente bem,a história ficou maravilhosa eu adorei cheias de sentimentos,estava torcendo muito para Shirlei,final super merecido adorei beijinhos continue assim.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Alzinete, tudo bem!
      Que bom saber que você gostou da história da Shirlei!!
      Muito obrigada pelo comentário, beijos.

      Excluir
  18. Oi tudo bem?
    Sua escrita é muito leve e agradável, gostei muito do conto! Parabéns!!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Daniel, tudo bem!
      Muito obrigada pelo comentário!!
      Abraço.

      Excluir
  19. Oi Cidalia,
    A vida pode ser tão dura. Você me tocou com o drama dessa família. Gostei muito do final feliz, pois na vida nem sempre ele acontece. Parabéns!
    bjs.
    Pri.
    http://nastuaspaginas.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Pri!
      O pior que é verdade, a vida nem sempre tem um final feliz.
      Muito obrigada pelo comentário, beijos!

      Excluir
  20. Acho que você quer sinceridade e não confetes. Não gostei do capítulo final. Foi muito forçado e irreal para formar um final feliz...
    Falo do enredo e não da escrita, ok? Bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pela sinceridade, Vera, sua opinião é muito importante para mim!!

      Beijos!

      Excluir