sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Coisa de criança?


Aos dez anos de idade, cursando o quinto ano do ensino fundamental, Carlinhos é um menino retraído. Não tem amigos do sexo masculino. Na hora do intervalo prefere a companhia de algumas meninas.

Carlinhos é um ótimo aluno. Acompanha com facilidade todas as disciplinas. Seu boletim é um exemplo para alguns meninos que vão à escola e só querem saber de bagunçar.

Desde o primeiro ano ele começa a sofrer bullying por parte de uma colega. Entre os dois há uma aversão. Ele não a suporta, mas é obrigado a tolerá-la. Ela não perde a oportunidade de humilhá-lo. Ao passar por ele, ela sussurra: “bichinha”.

Quando era mais novo ele não tinha ideia do significado da palavra. Chegava em casa e chorava ao contar para os pais. Dizia apenas que a colega tinha mexido com ele chamando-o de bichinho.

Os pais achavam que a menina o chamava de bichinho porque ele era muito quieto, acanhado. Não davam muita bola.

- Uma hora ela vai cansar de mexer com você, ignore-a.

No segundo ano os dois continuaram na mesma turma. Pobre Carlinhos. A danada da menina passava perto dele e não perdia a chance de provocá-lo. Ele não tinha coragem de contar para a professora. Contar para os pais não adiantava. O jeito era suportar tudo aquilo calado.

A turma do terceiro ano era maior. Mas qual não foi a surpresa de Carlinhos quando, no primeiro dia de aula, descobriu que a colega que atazanava sua vida sentaria atrás dele.

- Oi bichinha agora estou bem pertinho de você.

Não adiantava fingir que não a ouvia. Ela escrevia bilhetinhos ofensivos e colocava na sua carteira quando passava por ele.

Com posse de um dos bilhetes Carlinhos mostrou à sua mãe. Porém, sua mãe não deu atenção. Disse apenas:

- Isso é coisa de criança.

Ao iniciarem o quarto ano, Carlinhos ficou feliz da vida quando não a viu no primeiro dia de aula.

Mas no segundo dia, na fila, a menina fez questão de passar por ele:

- Mais um ano juntos, bichinha.

Carlinhos tentou contar para a professora. Agora ele já conhecia o significado da palavra. A professora lhe disse:

- Na hora do recreio vá jogar bola com os meninos. Pare de ficar brincando com as meninas, assim você não ouvirá mais os insultos.

A questão era que ele não gostava de jogar futebol. Ele preferia ficar com as meninas.

Sem poder contar com a compreensão da professora e dos pais, Carlinhos continuou aguentando os desaforos em silêncio.

Ao pisar na sala de aula, no ano seguinte, e dar de cara com a dita cuja que o atormentava por anos, Carlinhos pressentiu que seu ano seria trágico. Além da colega que o atazanava, ele viu que a professora era a mesma do ano anterior.

Como ele não podia se abrir com os pais porque já sabia que eles não iriam perder tempo com uma bobagem, como já haviam falado uma vez, Carlinhos começou a desabafar com uma parente. Pelo menos assim se sentia mais leve. Estava cansado de sofrer calado. Ele precisava entender porque aquela colega de classe não gostava dele.

A parente, que se tornou sua confidente, não sabia como ajudá-lo. A única coisa que ela podia fazer era ouvi-lo ou ler suas mensagens. Ela torcia para que os pais do menino tomassem uma providência. Que dessem atenção a ele. Que fossem conversar com a diretora e a professora. Que os pais da tal menina fossem chamados para uma conversa.

O que não podia acontecer era Carlinhos ter que aguentar o bullying até o final do ensino médio, pois ele não pretendia mudar de escola. A tal colega precisava respeitá-lo. 


As palavras podem  machucar mais que uma bofetada!

Obrigada pela visita,

Cidália.



14 comentários:

  1. É muito difícil uma criança aguentar desaforos como o Carlinhos aguentou calado,bullying ainda é uma coisa chata, isso feri muito a pessoa. É importante que os pais sempre olhe, ouça quando o filho fala alguma coisa, muitas vezes o filho quer desabafar mais os pais não querem ouvir acha que é coisa de criança, todo mundo precisa ser ouvido, Cidália bjs.

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    1. Sem dúvida, Lucimar, os pais precisam ouvir mais seus filhos e tomar uma providência. Muito obrigada pelo comentário!!

      Beijos!

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  2. Temos que tomar muito cuidado com nossas palavras! Elas machucam e muito, e o pior de tudo, não voltam atrás!

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    1. É verdade, Priscilla!! Muito obrigada pelo comentário!

      Beijos!

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  3. Carlinhos realmente não poderá suportar esse bullying que parece não ter fim. É preciso respeitar , palavras ferem, machucam e matam por dentro.É preciso aprender no berço sobre respeito.

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    1. Pois é, Vany, até quando o Carlinhos suportará esse bullying não é mesmo? Obrigada pelo comentário!

      Beijos!

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  4. Achei sei post muito interessante, passou o recado de forma fácil de compreender...Me lembrei no mangá Vitamin que aborda o bullying,sendo que de forma bem pesada e não seria recomendado para crianças,já sei post traz uma forma diferente, achei bem interessante!

    Beijos!

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    1. Que bom que você gostou do texto, Kira!! Muito obrigada pelo comentário!

      Beijos!

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  5. Simples e muito bem contado, me fez sentir na pele da criança que sofria o bullying.
    Infelizmente ainda existe muita dificuldade de levar esse assunto à sério e isso acaba trazendo muitas tragédias :(
    Espero que os Carlinhos espalhados pelo mundo consigam todo o apoio que precisam!
    Beijos

    Blog Lua Soares | Instagram Me segue lá <3

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    1. Muito obrigada, Lua, pelo comentário!! Suas palavras complementaram meu texto.
      Beijos!

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  6. Foi retratado nesse belo conto a realidade de muitos adolescentes que, calados, são obrigados a suportarem todo o tipo de "brincadeira" de mau gosto, o famoso e trágico bullying. É triste. É angustiante. Precisamos falar sobre isso e lutar contra qualquer tipo de opressão. O homem deve ser livre!
    Abraços!

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    1. Sem dúvida, Amilton, ninguém merece passar por situações vexatórias. Viva a liberdade!!
      Muito obrigada pelo elogio!
      Abraço!

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  7. Infeslinmente o bullyng existe desde sempre eu era uma criança muito tímida e sofria com isso mais o meu pai estava sempre presente . O pai desse menino devia ir a escola defender o filho acho que não é só ter o filho e esquecer que ele precisa do apoio dos pais .exelente texto

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    1. É verdade Cleuza, o bullying sempre existiu, só que antigamente não era trágico como hoje. O Carlinhos precisa da família. Muito obrigada pelo comentário!!

      Beijos!

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