Caminhando lentamente com o apoio de uma bengala, ela
consegue chegar até o portão.
Ali, ela fica durante algumas horas esperando ver alguém
conhecido. Faz muito tempo que não conversa com ninguém a não ser os
membros da família.
O coque, na cabeça, feito por uma das filhas, talvez. A bolsa, vazia, dependurada no braço. A vontade de sair caminhando, pela rua, para ver gente e jogar conversa fora era grande.
Um ventinho gelado a faz tremer e ela pega o casaco que estava no canto do portão. Ela não lembra quando o colocou ali. Nem sabe se aquele casaco era seu ou de alguém que o deixou por algum motivo.
O coque, na cabeça, feito por uma das filhas, talvez. A bolsa, vazia, dependurada no braço. A vontade de sair caminhando, pela rua, para ver gente e jogar conversa fora era grande.
Um ventinho gelado a faz tremer e ela pega o casaco que estava no canto do portão. Ela não lembra quando o colocou ali. Nem sabe se aquele casaco era seu ou de alguém que o deixou por algum motivo.
Ela sente falta das amigas que sumiram. Não sabe por que a
abandonaram. Quem sabe na última visita ela tenha ficado de boca fechada e isso
as afastou. Será que pensaram que ela não queria mais recebê-las?
Naquele dia, ela não estava se sentindo bem, estava muito distraída.
Enquanto ela deixa a mente vagar continua ali encostada no
portão até que passa uma conhecida. Ela a aborda e aproveita para conversar um
pouco. Precisa desabafar.
As duas ficam horas ali, em pé, uma do lado de dentro e a
outra do lado de fora do portão.
Como ela estava precisando daquilo! Há muito tempo não conversava daquela maneira. Ela nem se importa com as dores nas pernas.
Depois de algum tempo a conhecida vai embora, ela dá meia
volta e caminha lentamente para dentro de casa.
As pernas cansadas precisam de repouso. Ela sobe com
dificuldade os poucos degraus que a separam da sala. Chega ao sofá e
desaba. Fica ali sentada lembrando das suas saídas do passado.
Sim, num passado, agora distante, ela gostava de sair para
ir ao mercado, ao salão de cabeleireira ou às lojas para comprar algo. Cumprimentava as pessoas que encontrava e às vezes parava para conversar com elas.
Nesse mesmo passado ela participava de encontros com o
pessoal da terceira idade e chegara a paquerar. Era uma turma animada que
gostava de dançar e viajar.
Ela nunca mais tivera contato com qualquer uma daquelas
pessoas. Não tinha ideia do que havia acontecido com aquela gente tão animada. Será que eles também estavam impossibilitados de sair de casa, assim como ela?
O final do ano se aproxima e ela nem se dá conta que em
breve será natal novamente e que um novo ano está para chegar. Ela nem sequer imagina que a cidade já começa a ser enfeitada. Ou que há uma programação para o final do ano.
Para ela todos os dias são iguais. A diferença é que em alguns
dias ela fica inerte no sofá, olhando para a TV sem prestar atenção na
programação, com a cabeça vazia, e em outros dias sente muita saudade da
mulher que foi um dia. Lembra das amigas e de tudo que ficou no passado.
Os momentos de lucidez estão ficando cada vez mais raros.
Mas, nesses momentos as amigas não saem da sua mente. Quem sabe elas deixaram de visitá-la porque ficaram
entristecidas com a sua debilitação.
E as vizinhas por onde andam? Será que a família proibiu as visitas? Ela espera que qualquer dia desses, num desses dias em que a
memória esteja ativa, suas amigas apareçam. É triste sentir que a memória está ficando cada vez mais esquecida e mais triste, ainda, se sentir esquecida, abandonada.
Petição por Presença: (Texto retirado da internet)
APENAS ESTEJA AQUI COMIGO.
Assinado: A Lua. As estrelas. O verão. Sua xícara de café ainda quente. Sua filha. Seu filho. Seu amor. Seu coração. A grama verde. As flores selvagens. As águas em que você tanto quer nadar. A cor amarela. A cor azul. Seu poema favorito. Seu cobertor favorito. O vento no seu cabelo. As ondas do mar. O ar da montanha. Seu pai. Sua mãe. A chuva. O cone de sorvete. A manteiga derretendo com alho na frigideira. O atendente da mercearia com olhos tristes e gentis. Cartões postais esperando para serem enviados. O esquilo da cidade. O esquilo do país. Júpiter. O álbum de fotos. O rosário da sua avó. Sua música favorita. Papel e caneta. Seu melhor amigo. O dinheiro na sua carteira. O garfo na sua mão. Pincéis e tintas. A postura do cachorro. A cor turquesa. O quase invisível tom de rosa. Deus. O horizonte. A terra sob seus pés. Seu projeto de paixão. A sombra de uma árvore gigante. Este momento, aqui e agora. Seus ossos. Sua gargalhada de doer. Sua respiração. Sua respiração. Sua respiração.
PS: Ilustração do meu sobrinho Marcos Wagner.
APENAS ESTEJA AQUI COMIGO.
Assinado: A Lua. As estrelas. O verão. Sua xícara de café ainda quente. Sua filha. Seu filho. Seu amor. Seu coração. A grama verde. As flores selvagens. As águas em que você tanto quer nadar. A cor amarela. A cor azul. Seu poema favorito. Seu cobertor favorito. O vento no seu cabelo. As ondas do mar. O ar da montanha. Seu pai. Sua mãe. A chuva. O cone de sorvete. A manteiga derretendo com alho na frigideira. O atendente da mercearia com olhos tristes e gentis. Cartões postais esperando para serem enviados. O esquilo da cidade. O esquilo do país. Júpiter. O álbum de fotos. O rosário da sua avó. Sua música favorita. Papel e caneta. Seu melhor amigo. O dinheiro na sua carteira. O garfo na sua mão. Pincéis e tintas. A postura do cachorro. A cor turquesa. O quase invisível tom de rosa. Deus. O horizonte. A terra sob seus pés. Seu projeto de paixão. A sombra de uma árvore gigante. Este momento, aqui e agora. Seus ossos. Sua gargalhada de doer. Sua respiração. Sua respiração. Sua respiração.
PS: Ilustração do meu sobrinho Marcos Wagner.
Grata pela visita,
Cidália.