domingo, 22 de março de 2020

Quarentena




Manhã de domingo. Um domingo um pouco diferente dos demais. Sem a missa matinal.

Um dia a gente acorda e vê o mundo de pernas para o ar. As palavras do momento são isolamento e distanciamento social.

Parece estranho que até outro dia era possível cumprimentar de mão dada e abraçar as pessoas.

E agora parece que as pessoas têm medo de se aproximar de alguém.

É preciso ficar em casa, seguir as orientações por causa do vírus que assola o mundo.

Neste domingo, 22 de março, dia mundial da água, ela se levanta da cama com a decisão de não ver as notícias.

Ela dá uma volta no jardim, aprecia as flores e faz um exercício de descer e subir a escada.

Prefere ouvir música enquanto faz algumas tarefas do dia a dia.

Faz um bolo de banana e aveia.

Prepara o almoço.

Troca mensagens com uma das sobrinhas que mora longe pelo whats app.

Recebe o telefonema da irmã.

Após o almoço com o marido, ela assiste um filme, o marido vai para o jardim. Ele tem muita coisa para fazer. Desde cedo.

No meio da tarde o casal vê o filho e a neta pelo face time. Conversam sobre o assunto do momento e as devidas precauções.

No final da tarde ela organiza um espaço para se exercitar. Recebeu alguns vídeos da professora de Pilates.

A professora de musculação também ficou de mandar algumas aulas.

Ela terminou de ler o livro “Até o fim” (HARLAN COBEN) e já tem outro para ler durante a semana.

A rotina deste domingo não é muito diferente dos outros domingos, com exceção da missa.

Ela liga para um dos tios. Precisa saber se ele está cumprindo a quarentena.

Pensando nos acontecimentos que assombram o mundo lhe vem à mente alguns filmes que abordam temas como epidemias ou pandemias mortais.

Enquanto ela vê as notícias pela TV não imagina que pode ser afetada a qualquer momento pelo Corona vírus.

Muitos idosos não entendem o que está acontecendo. Principalmente aqueles que gostam de cumprimentar com um aperto de mão e um abraço. Esses idosos não assistem o noticiário ou se assistem não compreendem a gravidade.

Para muitos é difícil ficar em casa, pois se sentem solitários nos dias normais, imagina agora com o distanciamento social sendo necessário. Eles entenderão que isso é para protegê-los?

O jornal mostra países que estão enfrentando um caos. Pessoas que se desesperam e correm para comprar máscaras, álcool gel e mantimentos.

O brasileiro faz piadas. Talvez seja uma maneira de enfrentar a situação.

É preciso seguir as recomendações da saúde para não deixar o vírus se alastrar.

Ainda que não possamos nos abraçar fisicamente neste momento é necessário que estejamos unidos na fé e na esperança de que logo tudo isso será passado.


Obrigada pela visita, 
Cidália.

domingo, 8 de março de 2020

Andar apressado



Ela caminha com seu andar decidido e apressado entre as pessoas na rua movimentada.

Ela encara os transeuntes que esbarram nela com o olhar fixo e as sobrancelhas arqueadas. Deseja-lhes um bom dia.

Há uma energia inesgotável naquele corpo de um metro e meio de altura e cinquenta quilos.

A força que emerge dela a faz parecer incansável.

Ela não perde tempo com coisas banais.

No momento em que desperta para um novo dia pensa na lista interminável de coisas que tem para fazer.

Muita coisa para organizar, cuidar, comprar, pagar e gerenciar.

Muitas bocas dependem dela e esperam seu alimento matinal.

Ela tira um tempo para cuidar de si uma vez na semana quando dá, quando o cabelo precisa de um corte ou as unhas precisam de cuidados.

Ela se preocupa com as pessoas e as protege da melhor maneira possível.
Mas, quem cuida dela?

No silêncio do quarto quando a noite chega ela desaba sobre os lençóis macios.

O descanso é bem-vindo.

Após a oração ela se esparrama na cama, fecha os olhos e espera pelos sonhos.

Muitas vezes o sono demora a chegar. Ela organiza mentalmente a agenda do dia seguinte. Não consegue se desvencilhar das suas tarefas.

Outras vezes, o sono chega assim que ela fecha os olhos.

O despertar no dia seguinte a coloca em pé num sobressalto antes que o alarme toque.

Ela dará conta de cumprir a lista do dia?

Tem que levar o carro para a revisão. Na cidade vizinha. Vai precisar de mais tempo naquele dia.

Espera aí, ela se dá conta de que também precisa de um check up.

É chegada a hora dela pensar um pouco mais em si.

No dia seguinte vai marcar uma consulta com um médico.

Pensa em chamar as amigas para um café da tarde. Como nunca fez algo assim, imagina que vão estranhar o convite. Nunca o fez por falta de tempo.

Ela vê as amigas sempre que tem oportunidade. Gosta da companhia delas. Fora da sua casa.

Ela sabe que as amigas a entendem e compreendem a sua atitude.

Lá vai ela com seu andar decidido pelas ruas da cidade. Não pratica nenhuma atividade física, porém gosta de caminhar de vez em quando. Ela acena e sorri quando encontra alguém conhecido, mas não para. Não tem tempo para jogar conversa fora.

Lá vai ela com seu andar decidido e apressado pelas ruas da cidade.


Pitty – “Desconstruindo Amélia” (2009)

A cantora brasileira Pitty também foi uma que falou sobre os estereótipos que a sociedade aplica às mulheres e resolveu contar a história de uma que resolveu mudar as coisas, além de abordar a diferença de salários entre homens e mulheres.
Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme, ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume, esquecia-se dela
Sempre a última a sair
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende o porquê
Tem talento de equilibrista
Ela é muita, se você quer saber
Grata pela visita!

Um abraço, Cidália.