Nos primeiros dias, Iracema agradou a sogra e estava ao seu lado fazendo-lhe companhia. Trocavam receitas, faziam tricô e costuravam. Quando um dos filhos ligava, Iracema ficava atenta à conversa.
Ao completar uma semana que dona Josefa estava ali, Jesuíno voltou a tocar no assunto da venda da propriedade.
- Mãe, a senhora poderá ajudar a Sueli se concordar com a venda. Queremos que fique aqui conosco pelo tempo que quiser. Vamos reformar seu quarto.
- Já estou sentindo saudade da minha casinha, meu filho. Sueli e as meninas poderão morar comigo.
- Tenho certeza de que a mana vai preferir ter a sua própria casa. E aqui a senhora será muito útil, poderá ajudar a fazer o enxoval das gêmeas. Depois quando cansar poderá ficar com a Sueli na casa nova.
Numa das conversas as netas manifestaram o desejo de que queriam que a avó bordasse seus enxovais. Uma delas a abraçou (a pedido da mãe) e falou:
- Nós também somos suas netas e amamos a senhora vovó. Queremos que fique perto de nós.
Dona Josefa que no fundo era mais apegada aos filhos da Sueli, sentiu um pouco de remorso. Gostava de todos os netos, era apenas questão de afinidade.
- Vou pensar sobre o assunto. O que seus irmãos acham, você já conversou com eles, Jesuíno?
- Já, minha mãe e eles disseram que quem decide é a senhora.
Ariana estava sentindo saudade da avó. No final de semana seguinte à sua viagem, ela foi cuidar dos animais. Dispensou a companhia da mãe e da irmã. Achou que a mãe ficaria triste ao ver a casa vazia sem os pais.
Ao passar pela praça, Ariana notou que um rapaz a observava. Ela não o conhecia, era a primeira vez que o encontrava. Provavelmente era alguém que estava de passagem por ali. Continuou andando sem olhar para trás. Será que ele continuava observando-a?
Quando retornou da casa da avó, no final da tarde, viu que o tal rapaz estava em frente ao bar do Seu Maneco, o comerciante que logrou a sua mãe. Ele devia ao seu pai uma grande soma em dinheiro e com a morte dele, não pagou. Seu pai confiava nas pessoas e não tinha nenhum documento assinado.
O rapaz abordou-a e puxou assunto:
- Boa tarde, senhorita, posso acompanhá-la?
- Desculpe, eu não o conheço.
- Sou o Geraldo, sobrinho do dono do bar, trabalho com vendas. Qual a sua graça?
- Estou com pressa, até logo!
- Não vai me dizer seu nome, moça bonita?
- Adeus - Ariana abaixou a cabeça e seguiu adiante. Acelerou os passos para se afastar o mais rápido possível daquele moço encantador. Jamais fora abordada por algum rapaz e ficou sem ação, naquele momento.
Assim que chegou em casa ficou sabendo que a mãe telefonara para casa do seu tio Jesuíno e recebera a notícia de que a vovó ficaria por lá mais algum tempo. Ela estava pensando em vender a propriedade. Talvez nem voltasse para retirar suas coisas. A própria Sueli poderia encaixotar tudo, que o Jesuíno iria buscar.
- Mãe, o tio Jaime e o tio Jurandir já sabem dessa novidade?
- Se eles ligaram pra lá já devem estar sabendo. Não consigo acreditar que a mamãe vai se desfazer da casa onde viveu a vida inteira com o papai.
- Tio Jesuíno a convenceu. Sabe-se lá como, mas ele e aquela mulher conseguiram conquistar a vovó.
- Bom, se é a vontade dela não podemos fazer nada, minha filha.
- Mamãe, você conhece o sobrinho do seu Maneco?
- Nem quero ouvir esse nome, menina. Por causa dele que perdemos tudo o que tínhamos.
Ariana nem se atreveu a continuar a conversa. Naquela noite, deitou para dormir, pensando naquele moço alto, moreno e de olhos acinzentados. Sua voz ainda ecoava em seus ouvidos. Mas ela não poderia contrariar sua mãe.
A rotina do seu dia a dia a enchia de alegria. Morar na escola tinha suas vantagens. Ela tinha acesso à biblioteca nas horas livres. Podia viajar através das leituras. Ali, sentia a presença do avô querido que a incentivara a ler.
Sua irmã estava se saindo muito bem na costura. Ela e a mãe tinham algumas freguesas. Faziam as encomendas durante a noite e nos finais de semana. Quando alguma freguesa via os trabalhos de tricô feito pela Ariana, acabava comprando alguma peça.
Sueli e as filhas levavam a vida tranquilamente. Ariana nunca mais viu o Geraldo. Chegou a pensar em perguntar ao tio dele, mas desistiu. Sua mãe ficaria triste se soubesse. O moço bonito se tornou um sonho impossível.
Na casa de Jesuíno tudo estava acontecendo conforme seus planos. Ele arrumou comprador para a propriedade da mãe e como os documentos já estavam em seu poder, foi tudo rápido.
Jesuíno foi persistente e convenceu a mãe a fazer o que ele queria, mas será que dona Josefa fez a coisa certa?
E Ariana encontrará, algum dia, aquele jovem atraente que mexeu com a sua cabeça?
Não deixe de acompanhar o próximo capítulo!
Obrigada pela visita!!
Abraços!
Cidália.
PS: desenho feito por Marcos Wagner.