Para Afonso e Bernadete, mais de
trinta anos de casamento se desfizeram num piscar de olhos. Como isso aconteceu
sem que Bernadete percebesse que algo não estava bem? Que o relacionamento dos dois
vinha se deteriorando ao longo do tempo?
Trancada em seu quarto no dia de
Natal, ela não parava de pensar na sua vida. Aos quarenta e seis anos de idade,
sentia- se a pior das mulheres.
Sua filha mais velha, Laís, uma
moça de vinte e nove anos era casada e morava na cidade vizinha. Israel, o
filho caçula estudava fora e só voltava nos feriados prolongados. Naquele
final de ano estavam em casa para passarem o Natal em família. Mãe e filha,
preocupadas com a ceia, não perceberam o distanciamento de Afonso. Nem se deram
conta que ele amanheceu o dia grudado no celular.
O genro e o filho do casal passaram o
dia jogando vídeo game. No final daquela tarde, Afonso, um cinquentão,
simplesmente arrumou algumas peças de roupa numa mala e saiu de casa sem ao menos
dar satisfação. Quando Bernadete viu que ele estava saindo perguntou:
-Querido, você não tinha avisado que
ia viajar hoje, na véspera de Natal. Aconteceu algum imprevisto na empresa?
-Por favor, me esqueça mulher. Comemore
o Natal com seus filhos.
-Como assim? Não vai me dizer o que
está acontecendo?
Afonso saiu batendo a porta, deixando
para trás a mulher com o rosto inundado pelas lágrimas que teimavam em cair. Ouvindo
o barulho da porta os filhos e o genro correram para a sala para socorrê-la. Não estavam entendendo nada! Por que a mãe estava em prantos?
A única coisa que ela conseguiu falar
foi que o marido tinha ido embora. Assim como eles, não sabia de mais nada. Só sabia que Afonso tinha sido ríspido com ela e gritado ao sair porta a fora.
Enquanto a mãe se trancou
no quarto para chorar, Laís ligou para um amigo do pai e perguntou se ele
sabia de alguma coisa. Contou o que
tinha acabado de acontecer. O amigo do Afonso, disse então, que sabia que ele
estava se correspondendo com uma moça pela internet. Como amigo, tentara fazer
com que Afonso parasse com aquilo, que tomasse juízo, mas ele nem quis ouvir os
conselhos.
Laís fez muitas perguntas e o amigo
do pai não conseguiu respondê-las. Sabia poucos detalhes sobre aquele
romance virtual. Contou que tinha ouvido uma conversa dos dois por telefone. Como
contar para sua mãe? Contou para o marido e para o irmão e decidiram abrir o jogo com ela. Se ela
tivesse que sofrer que sofresse logo de uma vez.
Bernadete ficou inconformada. Por que
seu marido tomara aquela decisão justo naquele dia? E por que ela nunca
desconfiara de nada? Lembrou que muitas vezes ela ia dormir e ele ficava no
computador ou mexendo no celular. Jamais passou pela sua cabeça que ele estava
mantendo contato com alguém. Pensou que fosse algo relacionado ao trabalho.
Como seria dali para a frente? Como
viveria sem ele? Depois que a filha casou e o filho foi estudar fora, a casa
ficou muito grande para os dois. E agora somente para ela, seria enorme! Pegou
o álbum de casamento e a cada página que virava as lágrimas aumentavam. A
imagem dela caminhando de braço dado com o pai ao encontro do futuro marido, invadiu
a sua mente. Dois jovens apaixonados que juraram amor eterno! Ela ainda
continuava apaixonada por ele ou será que era apenas comodidade?
Certamente, Afonso deixara de amá-la
sem que ela se desse conta. Mas, aceitar aquela traição justamente numa data
especial como o Natal? E quem era essa fulana que o iludiu? O que ela fez para
que ele tomasse aquela atitude? Muitas dúvidas invadiram seus pensamentos. Há
quanto tempo ele mantinha aquele relacionamento virtual? O que ela fizera para
que um homem na idade dele perdesse o juízo? E o trabalho? Ele estava
abandonando tudo, a família e a empresa onde trabalhava.
Os filhos sem saber o que fazer deram
um calmante a ela para que dormisse um pouco. Quem sabe no dia seguinte ela
amanheceria melhor, mais conformada. Quem sabe aquilo tudo não passasse de um pesadelo?
Eles tinham esperança de que o pai voltasse e pedisse perdão. Esperança de que
o pai descobrisse que fora vítima de alguma armadilha e que estava
arrependido.
Já tinham ouvido muitas histórias de
pessoas que mantinham contato com outras, através da internet e que foram enganadas, roubadas e até mesmo assassinadas. Mas o pai não
se encaixava naqueles perfis. Tinham pena da mãe, mas como ajudá-la?
No dia seguinte, o assunto já se
tornara de conhecimento da vizinhança. Para Bernadete só restava erguer a cabeça e
aceitar aquela súbita separação. Com o coração em frangalhos ela sorriu para os
filhos na hora do café e jurou que ficaria bem. Iria pensar mais em si, arrumar
um trabalho e tocar a vida. Seria uma mulher independente, mostraria para todos
que era capaz de sobreviver sem o marido.
Outros natais viriam e apagariam a
lembrança daquele triste dia em que viu o marido saindo de casa para se
encontrar com uma desconhecida. Ela ainda tinha os filhos que a amavam e nada
mais importava. O amor deles era suficiente para fazê-la feliz!
Adorei esse conto. Tão envolvente que fica com gostinho de quero mais. Parabéns pelo blog. Beijos
ResponderExcluirwww.baudasresenhas.com.br
Um conto lindo e comovente adorei . aqui
ResponderExcluirObrigada Cleuza! Beijos.
ExcluirAi que conto mais lindo!
ResponderExcluirQueria ter mais para ler =D
bjus
http://tutiaah.blogspot.com.br/
Obrigada Camila! Tenho alguns postados e em breve postarei mais um.
ExcluirBjs
Conto envolvente. Gostei do novo estilo com que você escreveu. A escritora está evoluindo! Continue assim. Beijos
ResponderExcluirEstou procurando diversificar, rsrsrs! Obrigada Vera, Beijos.
ExcluirMulher... Você escreve Muito Bem.
ResponderExcluirObrigada querida, bjs.
ExcluirAdorei!! Belo texto e ótima história.
ResponderExcluirObrigada! Bjs.
ExcluirOlá obrigada por me seguir, retribuindo a visita e seguindo vc tbm....beijosss
ResponderExcluirOlá, obrigada querida! Beijos.
ExcluirNossa que envolvente esse conto, nem percebi quando acabou rsrsrs. Parabéns vc arrasa
ResponderExcluirObrigada, Carla! Que bom que você gostou!
ExcluirBeijo.
Lindo! Você escreve muito bem!
ResponderExcluirParabéns!
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Obrigada, Camila!
ExcluirBeijo.
Caramba, que conto bonito. Gostei do final. Beijos!
ResponderExcluirOba, obrigada, Jéssica!
ExcluirBeijo.
Mais uma vez me prendeu do inicio ao fim, sou sua fã! Conto maravilhoso <3
ResponderExcluirOba, obrigada, Renally!
ExcluirBeijos ❤
Lindo conto Ci, não canso de elogiar você. Tu arrasa demais <3
ResponderExcluirObrigada, Dani! Que bom!!
ExcluirBeijos ❤