Eu saía todas as noites para encontrar os “amigos”. Esperava meus pais dormirem e saía de fininho.
Numa dessas noites resolvemos ir de carro para outra cidade. O carro era um Fusca velho, que um dos “amigos” pegou sem ordem do pai.
Usando capuz para cobrir o rosto cometemos o maior erro da nossa vida. Um erro sem volta, sem perdão. Um erro que marcaria a minha juventude e decepcionaria àqueles que me amavam.
Tudo por causa da falta de dinheiro para comprarmos a droga. A dependência química nos levou ao desespero.
Era para ser
apenas um assalto, a arma era de brinquedo, mas como o homem reagiu, nós o
matamos. Com chutes e pauladas. Um de nós carregava um cacete. Não lembro de onde surgiu aquele pedaço de pau. Ele simplesmente estava lá na mão de um dos meus companheiros.
Queríamos dinheiro e não a vida do pobre coitado. Por que ele não facilitou para nós? Teria salvado a própria vida. Bastava nos entregar seus pertences. Ele seguiria seu caminho e nós o nosso. Sem violência.
Queríamos dinheiro e não a vida do pobre coitado. Por que ele não facilitou para nós? Teria salvado a própria vida. Bastava nos entregar seus pertences. Ele seguiria seu caminho e nós o nosso. Sem violência.
Ele era um contra cinco e nós estávamos desesperados. A dependência nos fez devedores. A dívida precisava ser paga para conseguirmos mais drogas. Nunca havia droga suficiente para nós.
Deixamos aquele senhor caído no chão e fugimos. Sequer pensamos em olhar para trás depois do ato cometido. Pegamos a carteira, o celular e fugimos o mais rápido possível.
Naquele momento não pensamos em mais nada. Tudo o que queríamos era voltar para casa. Nos tornamos assassinos. Já não éramos, apenas, ladrões.
Deixamos aquele senhor caído no chão e fugimos. Sequer pensamos em olhar para trás depois do ato cometido. Pegamos a carteira, o celular e fugimos o mais rápido possível.
Naquele momento não pensamos em mais nada. Tudo o que queríamos era voltar para casa. Nos tornamos assassinos. Já não éramos, apenas, ladrões.
Depois do ocorrido voltamos para nossa cidade
e cada um foi para sua casa. Fui para meu quarto e dormi de porta trancada. Eu estava atordoado, ainda sob efeito da droga que tinha usado antes de sair.
Quando
acordei com a cabeça girando e a boca seca, ouvi minha mãe ao telefone.
- O Diogo
está dormindo, Isabel, o que você quer com ele?
Minha mãe
começou a chorar e eu continuei em silêncio no meu quarto. Não queria que ela sofresse, mas era impossível evitar tal sofrimento. O mal estava feito.
Pouco tempo
depois minha irmã apareceu e bateu na porta. Ela deve ter criado asas para chegar tão rápido.
- Diogo, o
que você andou aprontando? Acabei de saber de um crime que aconteceu na cidade vizinha. Parece que alguém viu a placa do carro, é do pai de um daqueles seus "amigos".
- Minha
filha, o que você está dizendo? - Mamãe não queria admitir a verdade, apesar do choro incessante. - Seu irmão não fez nada.
- Mãe, a
senhora tem certeza de que ele não saiu ontem a noite?
- Eu e seu
pai fomos dormir cedo. Não ouvimos barulho nenhum.
- Se ele não
fez nada porque não me responde. Que sono pesado é esse?
- Deixe seu
irmão em paz, Isabel. Não quero que seu pai escute essa barbaridade.
- Onde está
o papai?
- Seu pai está
cochilando lá na área dos fundos, na rede.
- Ai, ai, mamãe, estou com medo que esse rapaz possa ter aprontado desta vez. Vocês têm o sono pesado, ele pode ter saído quando viu que estavam dormindo.
- Vá para
sua casa, filha, assim que seu irmão acordar eu peço para ele te ligar.
- Mãe,
escute, se ele estava com aqueles carinhas e cometeram o crime, a polícia vai
descobrir.
- Seu irmão
não fez o que você está dizendo. Ele é um bom rapaz.
- Se a
senhora pensa que ele não fez nada, então por que está chorando desde a hora que cheguei?
- Porque
você está acusando injustamente seu irmão.
- Não, mãe,
é porque no fundo a senhora está com medo de descobrir a verdade. Isso se chama pressentimento.
Ouvi passos
se afastando. De repente se fez silêncio. Abri a porta do quarto e vi minha mãe
debruçada sobre a mesa da cozinha. Ela ainda soluçava.
Olhei para
fora e vi meu pai dormindo na área. Depois que ele infartara dormia muito após o almoço. Talvez fosse efeito dos medicamentos.
Abracei a
minha mãe e pedi perdão. Era tudo o que podia fazer naquele momento.
- Mamãe, preciso
desaparecer por um tempo.
- Se você
fez alguma coisa errada foi influenciado pelos outros. Procure seus irmãos e
peça ajuda, meu filho.
Minha mãe não queria se conformar, para ela eu era seu filhinho, incapaz de fazer qualquer maldade à alguém. Ela acreditava que eu era uma pessoa influenciável. Talvez eu tenha sido fraco ao me deixar envolver com a droga, só que não adiantava chorar sobre o leite derramado.
- Só preciso
de algum dinheiro.
Mamãe foi até seu quarto e pegou todo o dinheiro que tinha e me deu. Coloquei umas
roupas numa mochila e dei um abraço nela. O abraço que recebi foi caloroso, acompanhado de um beijo molhado pelas lágrimas. Mais uma vez pedi que ela me
perdoasse. Era tarde para eu me arrepender. O que eu tinha feito não tinha volta. Não era como uma palavra errada, na folha de um caderno, que podia ser apagada.
Saí antes
que meu pai acordasse. Como eu poderia olhar nos seus olhos e me desculpar pela dor que estava causando à minha família?
Ao chegar à rodoviária, a polícia apareceu em seguida. Não tive tempo de comprar uma passagem de ônibus. Eu estava fugindo.
Tinha acabado de assinar a minha culpa.
Chegando na delegacia encontrei meus “amigos”. A
testemunha que havia anotado a placa do carro contou que viu uns cinco rapazes
entrando num automóvel. Quando ele viu o homem ensanguentado e sem vida no chão, chamou a
polícia. Foi fácil chegarem até mim. Um dos meus companheiros me entregou.
Naquele
momento percebi que eu não tinha mais saída. Mesmo que continuasse com a boca
fechada, o fato de estar fugindo agravava a situação.
Os olhares
se voltaram na minha direção. Dedos me apontavam. Me tornei o centro das atenções. Eu, que sabia esconder tão bem meus atos. Eu, que mentia com naturalidade. Eu, que omitia
a verdade quando era conveniente.
Abaixei a
cabeça e segui os policiais. Como seria dali em diante?
PS: Ilustração feita pelo meu sobrinho Marcos Wagner (ele está sempre disposto para me atender).
Continua...
Sua visita me deixa feliz e agradecida!
Uma abençoada semana,
Cidália.
Oi Cidália.
ResponderExcluirQue história bacana que está escrevendo. Eu precisei voltar para ler a segunda e terceira parte que não tinha lido ainda, para entender essa quarta parte e quero muito continuar acompanhando a história. Parabéns pelo trecho. Gostei bastante.
Bjos
Oba, que legal, Kênia!!
ExcluirMuito obrigada pelo comentário motivador!
Beijos.
Nossa que história comovente li tudo outra vez desde o primeiro capítulo me fez chorar devia existir uma lei que mandasse matar esses malditos traficantes que vão as escolas para viciar nossas crianças fiquei com pena da mãe desse rapaz quanto sofrimento . Aguardo ansiosa o próximo capítulo parabens to adorando , a ilustração maravilhosa tudo a ver com a história
ResponderExcluirObrigada pelo comentário e pelo carinho de sempre, Cleuza, amei a sua opinião! Meu sobrinho agradece!!
ExcluirBeijos.
Que história impactante! Adorei muito, você escreve super bem e consegue nos prender na leitura. Parabéns!!
ResponderExcluirby: atravesdaescrita.blogspot.com
Obrigada, Evy, pelo comentário e elogios!!
ExcluirBeijos.
Olá, Cidália
ResponderExcluirNossa, não acompanhei os outros capítulos, mas esse já foi meio chocante. É isso que a droga faz na vida das pessoas e às vezes o arrependimento vem tarde demais (quanto vem, né).
Adorei o texto!
Blog Livros, vamos devorá-los
Olá Letícia!
ExcluirObrigada pelo comentário, pois é!! Infelizmente! Que bom que você gostou do conto!
Beijos.
Como sempre mais uma continuação de um conto emocionante que fala muito com a gente, a droga infelizmente faz das pessoas presas fáceis, a droga leva as pessoas a fazerem coisas horríveis, aguardando o próximo capítulo, bjs.
ResponderExcluirObrigada Lucimar, pelo carinho de sempre e pelo comentário motivador!!
ExcluirBeijos.
História bem escrita!
ResponderExcluirDrogas estragam a vida das pessoas. Seja qual idade for, trás inúmeros problemas.
Vou ler os outros capítulos, quero ficar por dentro de tudo.
Oba, espero que goste dos outros capítulos, Helana!!
ExcluirObrigada pelo comentário!
Beijos.
OI, Cidália!
ResponderExcluirSua história reforça cada vez mais a ideia de que os pais, por mais que não queiram seus filhos envolvidos em confusões como essa do enredo, muitas vezes o reforçam, pois ao invés de tomarem uma posição firme logo cedo, continuam passando a mão na cabeça dos filhos como se não tivessem feito nada demais, ou se enganando, como a mãe do Diogo. Eu sei que deve ser duro demais para uma mãe admitir que o filho está envolvido com gente ruim e com drogas, mas deixar para tomar uma atitude quando as coisas já sairam do controle é difícil, mesmo!
Parabéns pelo alerta nesses contos que você publica aqui!
Abração,
Drica.
Olá, Drica!
ExcluirNão é fácil criar um (a) filho (a), não há uma receita pronta. Os pais precisam entender seu papel na educação do filho. Gostei da sua opinião! Muito obrigada pelo comentário motivador!!
Abração,
Cidália.
oi!
ResponderExcluirEu adoro suas histórias, sempre nos fazem refletir muito. Ja estou ansiosa para ler a continuação :D
bjo
Oba, que legal!! Obrigada, Joana, pelo carinho e apoio!!
ExcluirBeijos.
É muito triste o envolvimento com as drogas e este conto tem enfatizado muito isso!
ResponderExcluirMuito obrigada, Vany, pelo comentário!!
ExcluirBeijos.
Que triste esse conto, porque a gente sabe que essa é a realidade de muitos jovens.
ResponderExcluirComeçou mentindo, depois se envolveu com drogas e roubos, agora é um assassino.
Imagino o sofrimento da mãe e da família, estou ansiosa para saber o final.
Bjinhos,
www.prosaamiga.com.br
Muito triste mesmo, Marisa!! O personagem acabou se enrolando de tal maneira que não encontrou mais a saída.
ExcluirMuito obrigada pelo comentário, beijos!
Vc como sempre arrasa nas historinhas estarei sempre por aqui para te acompanhar .com tantas novidades nao da p ficar sem vir aqui da uma lida para ativar o ânimo bjos
ResponderExcluirVocê não imagina como seu comentário me deixa feliz, Elisângela. Muito obrigada pelo carinho e apoio!
ExcluirBeijos.
Você sempre trazendo contos ótimos pra gente, para refletir... Curti demais!!
ResponderExcluirObrigada, Ana Crisinah, pelo carinho!!
ExcluirBeijos.
Terrivel consequência dos atos cometidos pelo vício. Além da vítima, o sofrimento tb se estende até as famílias dos agressores. Tomara que com a prisão venha o arrependimento e a reabilitação.
ResponderExcluirPois é, Patrícia, infelizmente!! Obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijos.
Me lembrou um pouco Laranja Mecânica, garotos inconsequentes, meio ingênuos até, fazendo besteira. Adorei a história, o que será que vai acontecer agora?!!?
ResponderExcluirOlha só!! Que bom que você gostou da história, Daniela, já tem a continuação no blog!
ExcluirObrigada, beijos!
Muito bom o texto!
ResponderExcluirTão real é tão reflexivo quanto deve ser. Vou olhar os anteriores para me inscrever inteirar, mas esse aqui já foi o suficiente pra entender a mensagem q quer passar.
Raíssa Nantes
Obrigada, Raíssa, fico feliz que tenha gostado!! Muito obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijos,
Cidália.
Uau, essa história é bem comovente e impactante, estou gostando muito !!!
ResponderExcluirbesitos
Que bom, Iara!! Obrigada pelo comentário!
ExcluirBesitos
Não acredito que eles assassinaram alguem :O achei que algum deles acabariam machucados. Para ver o que as drogas podem fazer né? Texto real demais, as coisas infelizmente seguem por esse caminho e mães choram =\ muito bem escrito!
ResponderExcluirPois é, Daiana, a turminha acabou assassinando um pai de família. Como dizia minha mãe, quando a cabeça não pensa, o corpo padece!!
ExcluirObrigada pelo apoio de sempre!
Beijos.
Oi, eu gostaria de dizer que honestamente amei seu blog. As histórias, a forma como é escrita, e há também uma resenha sobre o livro Vulgo Grace, que é uma série na Netflix, meu deus, sinceramente, é maravilhosa a história, o livro, os seus contos. Sério, continua, aqui é cantinho muito gostoso pra gente se aventurar.
ResponderExcluirOlá, Maria Gabriela, você me deixa muito feliz com seu comentário e seu apoio!! Que alegria saber que você gostou do meu blog!
ExcluirObrigada pelo incentivo, beijos!
Owo, que história bacana flor, dá a agonia na hora da leitura e é isso que encanta o leitor em um livro, ao menos pra mim isso faz com que me atraia a leitura.
ResponderExcluirTu bem que podia lançar nem que seja na Amazon, compraria pra ler com toda certeza.
http://www.kammykrysthin.com/
Xoxo
Olá, K!
ExcluirQue bom ler seu comentário!! Muito obrigada pelo incentivo, vou ver se lanço na Amazon.
Beijos
Comovente, Impactante, Emocionante, muito bem inscrita rico em detalhes amei ler
ResponderExcluirAbraços:
keilycesporkeilaluciablog.blogspot.com.br
Muito obrigada, keila, pelo comentário!! Que bom que você gostou!
ExcluirAbraços.
Woah, creio que existem capítulos que antecedem a estes, contudo, este não precisou de contexto para entender a mensagem poderosa que se esconde. Terrível o que aconteceu, que levou esse grupo a cometer tal ato. Como existe uma testemunha, certamente a narrativa vai ficar mais tensa mas fico curiosa em saber como Diogo vai lidar com esta situação, a reação da sua família a longo-termo, etc... Gostei muito da premissa, continue! E parabéns ao seu sobrinho, gostei muito do desenho! =)
ResponderExcluirSó uma dica: devia colocar os capítulos anteriores, se existem, como links no início do post ou uma sinopse para contextualizar <3
ExcluirMuito obrigada, Sara, pelo comentário motivador!! Fico feliz sabendo que você gostou do enredo e agradeço pela dica. Meu sobrinho também agradece o elogio!
ExcluirBeijo
Menina, que tensão. Tô com raiva do Diogo, como assim, matar a paulada com os amigos. Coitada da mãe. Você escreve bem e traz verdade nas suas palavras. Tô ficando viciada nos seus contos.
ResponderExcluirPois é, o Diogo se meteu numa enrascada! Oba, que boa notícia, Meirilene!! Obrigada pelo apoio!
ExcluirBeijos
Boa noite, como vai? Eu gostei bastante de acompanhar mais um capitulo que você tras, sobre o arrependimento, eu confesso que nao pude deixar de fazer um notoria comparação entre o que você erscreveu e a realidade de muitas familias
ResponderExcluirBoa noite, Mayra, tudo bem!! Que bom que você está gostando da história! Obrigada pelo apoio!!
ExcluirBeijos
olá , tudo bem ? Tenho acompanhado sua história e cada capitulo me envolvo mais,
ResponderExcluirsobre o arrependimento , gostei da reflexão , tem coisas que não são como palavras escrita em folha de papel que possa apagar. Precisamos pensar antes. Bjssss
Olá, Márcia, tudo bem! Oba, que bom saber que você está acompanhando e gostando da história!! Obrigada pelo apoio, beijos!
ExcluirAdorei o texto, ótima reflexão! estou acompanhando e adorando suas histórias
ResponderExcluirMuito obrigada, Cibele, pelo carinho e apoio!!
ExcluirBeijos.
😯 Uau
ResponderExcluirEstou adorando essa história. A cada episódio me envolvo mais e fico com mais vontade de saber que vai ser desse "eu" da história. Parabéns pela excelente escrita que você tem.
Um beijinho
Muito obrigada, Paula, pelo apoio e incentivo!! Fico contente ao saber que você está gostando da história.
ExcluirUm beijinho
Sua escrita me envolveu! Parabéns!
ResponderExcluirCuriosa para saber o desdobramento da história.
https://umavidaemandamento.blogspot.com.br/
Oba, que legal!! Obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijos.
Olá tudo bem? Gostei bastante do texto, é uma temática forte reflexiva, parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirOlá, tudo bem!!
ExcluirMuito obrigada, fico feliz sabendo que você gostou do texto!
Beijos.
Simplismente U-A-U!
ResponderExcluirAmei, adorei a historia, aguardo uma continuação <3
Oba, que bom que você gostou da história!!
ExcluirObrigada, beijos.
OOi, Cidália!
ResponderExcluirQue texto sensacional! Envolvente, impactante e intensamente reflexivo. Parabéns!
Olá, Catrine!
ExcluirMuito obrigada, fico feliz sabendo que você gostou do texto!
Beijos.
"Nos tornamos assassinos. Já não éramos apenas ladrões".
ResponderExcluirEssa frase de alguma forma me deixou tocado.
E continuo a leitura.
- Bjux,
Diego || Blog Vida & Letras ♥ @vidaeletras
www.vidaeletras.com.br