A admiração que Edu sentia por Shirlei era grandiosa. Ele era uma pessoa observadora. Ouvia as outras colegas da turma, meninas bonitas, que se vestiam bem, que gostavam de curtir a vida, comentando sobre os passeios, as viagens de férias, os presentes que ganhavam dos pais, as baladas e os namorados.
Shirlei não tinha assunto para conversar com essas colegas. Ela nunca era convidada para as festinhas ou qualquer programa que fosse. Estava acostumada com as atitudes preconceituosas, desde a época em que estudava nas escolas municipais. Não fazia questão, pois não tinha tempo para se preocupar com essas coisas.
Durante a infância, se sentira rejeitada, abandonada e excluída. Principalmente nas datas comemorativas do dia das mães e dos pais. Na adolescência, ela faltava à escola nessas datas.
O final do ano era a época em que a deixava triste. Seus irmãos, os meninos, um de 14, o Rogério; outro de 12, o Renato e a menina de 10 anos, a Isaura, aprenderam a não reclamar da falta de presentes.
Para eles o Natal era um dia como outro qualquer. Sem ceia, sem presentes, sem a presença dos pais. Cinira, sua mãe, saía para o trabalho noturno. Shirlei chorava ao imaginar a movimentação dos vizinhos na preparação das festividades.
Um dos vizinhos, dono de um oficina, empregou seu irmão Rogério em meio período. Renato começou a dar problema na escola. Isaura ajudava a irmã com o serviço da casa, no período em que não estava estudando.
A mãe, quando era convocada a comparecer à escola, para conversar sobre o Renato, ficava nervosa e passava horas longe de casa. Jogava a responsabilidade sobre a filha mais velha.
No último ano do ensino médio, Cinira começou a se sentir doente e sem disposição para trabalhar a noite. Passava o dia na cama. Uma das vizinhas, foi a salvação da família.
Foi ela quem providenciou internação para a moribunda e ajudou a cuidar da casa para que Shirlei e os irmãos continuassem a estudar.
A matriarca da família foi diagnosticada com aids e teve que iniciar um tratamento. A filha mais velha terminou o ensino médio com a média mais alta da turma.
Rogério continuou trabalhando meio período no oficina. Os dois mais novos se esforçavam para não fazer nada errado. Não queriam que a mãe voltasse para o hospital.
Rogério continuou trabalhando meio período no oficina. Os dois mais novos se esforçavam para não fazer nada errado. Não queriam que a mãe voltasse para o hospital.
Shirlei passou no vestibular e ganhou a tão sonhada bolsa de estudos. Estudaria a noite. Durante o dia continuaria ajudando em casa. Sua mãe começou a se sentir melhor.
Os pais do Edu ao saber sobre a doença da dona Cinira, através de uma enfermeira, amiga da família, proibiram que o filho continuasse a amizade com a Shirlei. Mandaram o rapaz estudar em outra cidade. Ele não pôde fazer nada a não ser acatar a decisão dos pais, pois dependia deles financeiramente.
Mesmo longe um do outro a amizade continuou entre os dois. Eles trocavam correspondência semanalmente.
Na faculdade, Shirlei começou a pensar na sua aparência. Se um dia tivesse condições faria uma cirurgia para abandonar os óculos fundo de garrafa. Usaria produtos bons para o cabelo. Colocaria aparelho nos dentes. Compraria umas roupas que a vestissem melhor. Compraria um celular.
Esses desejos foram se tornando frequentes. Às vezes sentia que estava sonhando acordada. Em casa ou na faculdade.
No final daquele ano, sua mãe recebeu a visita do pai da filha caçula. Ela não tinha falado sobre ele, durante aquele tempo todo, porque ele era casado.
- Sabe, Shirlei, nunca falei nada sobre seu pai ou sobre o pai dos seus irmãos, porque eles eram casados. Três deles me ofereceram dinheiro para que eu abortasse. Peguei o dinheiro para ajudar nas despesas, mas não fiz o que me pediram. Menti para eles que havia feito e desapareci da vida deles. Mudei de cidade. O único que não fez isso foi o pai da Isaura. Ele deu algum dinheiro para ajudar nos primeiros meses. Não queria que a mulher soubesse. Lembra que a gente se mudou logo que sua irmãzinha nasceu? Nunca mais tive contato com o pai dela. Agora ele ficou viúvo e como não teve filhos veio atrás de mim. Quer conhecer a filha. Disse que levou muito tempo para me encontrar. Não tive coragem de contar sobre meu tratamento. O que você acha que devo fazer?
- Mãe, você nunca pediu a minha opinião para qualquer coisa que fosse. Só você pode decidir sobre o que quer. A maninha vai chegar da escola daqui a pouco e vai ver aquele homem sentado lá na sala. O que ele quer na verdade?
- Ele quer retomar o nosso caso. Pediu perdão pelo que fez comigo. Quer nos levar para morar com ele, disse que a casa é grande.
- A primeira coisa a fazer é você contar para ele sobre seu tratamento. Ele precisa saber.
Ouvindo os conselhos da filha a matriarca foi até a sala e contou ao pretendente sobre o seu tratamento. Falou que não queria passar para ele o vírus. Foi surpreendida com um abraço.
- Hoje em dia isso não é mais preocupação. É só nos cuidarmos. Quero proporcionar a você, a nossa filha e aos outros uma vida melhor. Quero me redimir pelo tempo em que você cuidou sozinha da nossa pequena.
A carta que Shirlei escreveu para Edu, naquele dia, foi para lhe contar sobre as novidades. Ela iria morar na mesma cidade em que ele estava estudando. Quem sabe iria estudar junto com ele? Era tudo o que ela mais queria. Reencontrar seu grande amigo. O que ela não imaginava era que os pais do rapaz não queriam os dois juntos.
Em alguns meses a vida daquela família mudou para melhor. Uma nova cidade onde ninguém conhecia o passado da mãe da Cinira. Uma nova casa. Uma nova faculdade. Ela ganhou de presente do padrasto a cirurgia e deixou de usar aqueles óculos horrendos.
Quando Edu a viu quase não a reconheceu. O aparelho nos dentes, a falta dos óculos, o cabelo com um novo corte e uma roupa melhor fizeram a diferença para àquela menina que se considerava uma patinha feia.
Shirlei notou, pela primeira vez, algo mais por trás do olhar do velho amigo.
Edu faria tudo para que a moça se apaixonasse por ele. E faria tudo para que seus pais a aceitassem.
Ali, naquele momento, quando o casal trocou um abraço, a esperança brotou em seus corações. Esperança de que a amizade se transformaria num grande amor.
Para Shirlei era o começo de uma nova vida. Ela tinha a sua frente uma página em branco e nela escreveria uma nova história. Uma história onde ela seria uma garota popular na faculdade e namoraria seu melhor amigo. Uma garota que teria, dali em diante, a família reunida no Natal.
FIM
A você que acompanhou a história da Shirlei com i, obrigada!
Se você ainda não leu a primeira parte, segue o link, entre e fique a vontade para expressar a sua opinião.
http://contosdacabana.blogspot.com.br/…/11/a-patinha-feia.h…
Uma bela e abençoada semana!!
Se você ainda não leu a primeira parte, segue o link, entre e fique a vontade para expressar a sua opinião.
http://contosdacabana.blogspot.com.br/…/11/a-patinha-feia.h…
Uma bela e abençoada semana!!
Cidália
Parabéns Cidália vc coloca sentimentos em suas histórias adorei o final .Shirley e sua família mereciam a felicidade .
ResponderExcluirObrigada, Cleuza, pelo carinho de sempre!!
Excluir😘😘
Curto mas capaz de prender a atenção do leitor até ao fim!
ResponderExcluirObrigada, Miguel, pelo comentário!!
ExcluirParabéns!! Você escreve muito bem e sabe como demonstrar sensações no texto. Além disso, prendeu a minha atenção
ResponderExcluirMuito obrigada, Caio, pelo elogio!!
ExcluirBom final. Bem escrito. Tem sentimento e tem força.
ResponderExcluirMe incomoda um pouco a figura do salvador. Eu acho que a Shirlei, enquanto menina estudiosa, podia se dar bem e melhorar a condição da família por si própria.
Não sei se gosto dessa figura boa e salvadora que aparece e resolve os problemas em uma virada de página. Mas isso é questão de gosto pessoal meu.
Novamente, ótimo texto. Parabéns.
Continue escrevendo e evoluindo.
Uma dica. Em algum lugar no post, no começo ou no final, coloque o link para a primeira parte.
Muito obrigada, Willian,elo comentário e pelas observações! Sua opinião é muito importante para a minha evolução!!
ExcluirCidália que bom que a Shirlei passou na faculdade e ganhou a bolsa de estudos, a Shirlei é uma boa filha mesmo indo estudar á noite durante o dia ela vai continuar ajudando a sua mãe.Torço muito pra Shirlei Cidália bjs.
ResponderExcluirMuito obrigada, Lucimar, pelo carinho!!
Excluir😘😘
Uma história triste com final feliz, pelo menos neste capítulo. Perfeito. Continue desenvolvendo tua história. Me parece bem inspirada, parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Ane, pelo comentário! Que bom que você gostou do desfecho!!
Excluir😘😘
Sua escrita é muito boa, continue escrevendo !
ResponderExcluirObrigada, Thiago, pelo comentário!!
ExcluirOlá Cidália, tudo bem?
ResponderExcluirQue final lindo! Estava torcendo muito para Shirlei, a pobrezinha sofreu tanto né? Achei o final super merecido, sempre a admirei por sua determinação e persistência. Adoraria ler mais sobre o casal, quem sabe um spin-off né?
Beijos!
Olá, Esther, tudo bem!!
ExcluirFico imensamente feliz sabendo que você gostou do desfecho da história!
Quem sabe!!!
😘😘
Muito bonita a história, parabéns. Ainda não li a primeira parte, mas já salvei aqui para ler depois. bjs
ResponderExcluirOba, que legal!! Fico feliz sabendo que você gostou!
ExcluirObrigada, beijos!
Olá!
ResponderExcluirMuito boa sua história, estou torcendo para que Shirlei supere todas as dificuldades!
Sempre arrasando, parabéns!
Abraços.
Olá Cíntia!
ExcluirMuito obrigada pelo carinho!!
Abraços.
Olá! Tudo bom?
ResponderExcluirConfesso que já fiquei curiosa com o texto desde o título, fiquei muito encantada com a forma com que descreveu suas dificuldades, colocando tudo no papel.
Beijos, Joyce de Freitas.
Olá, tudo bem!
ExcluirObrigada pelo comentário, que bom que gostou da história da Shirlei!!
Beijos.
Que ótimo que o desfecho da história teve um final muito bom para a família de Shirlei e também para ela. Gostei Cidália! Já aguardo a próxima história !
ResponderExcluirObrigada, Vany, pelo carinho! Fico feliz que tenha gostado do desfecho da história!!
ExcluirOba!!!
Beijos.
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirQue ótimo texto, cheio de sentimentos. Senti tristeza ao ver a situação de Shirlei, principalmente em relação ao Natal. É uma pena todo o preconceito e sofrimento que ela passou, ninguém merece algo assim. Que bom que, no final, tudo dera certo e Shirlei teve um novo começo, pois merecia.
Enfim, adorei a postagem :)
Abraços.
Olá, Wellida, tudo bem!
ExcluirSua opinião sobre a história da Shilei me deixou muito feliz. É verdade, ninguém merece!!
Obrigada, beijos.
Oi, tudo bem? Já estava curiosa pra saber como ia terminar a história da nossa protagonista Shirlei. Muitas vezes o que falta em nossas vidas é um pequeno empurrão para que tudo seja diferente. Para que enxerguemos tudo com outros olhos. Ela realmente merece ser feliz e viver um grande amor. Beijos, Érika =^.^=
ResponderExcluirOi, Erika, tudo bem!
ExcluirQue lindo seu comentário!! É isso mesmo, concordo com você!!
Obrigada, beijos.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirA história ficou mesmo incrível... Sentimos mesmo os sentimentos que quer partilhar a traves da história. está de parabéns, não para de escrever que tem um dom.
Beijos
Olá, Alexandra, tudo bem!
ExcluirOba, que bom que você gostou!! Muito obrigada pelos elogios!
Beijos.
olá , tudo bem? Cada um de nós tem um lado de tristezas ou magoas , mais o importante e dar a volta por cima como a Shirley , seu texto é muito bom e uma maneira de refletirmos
ResponderExcluirse não está na hora de superar .
Bjssss
Olá, Márcia, tudo bem! Verdade, com certeza!!
ExcluirQue bom que você gostou!
Beijos.
Oi tudo bem?amei o post vc escreve perfeitamente bem,a história ficou maravilhosa eu adorei cheias de sentimentos,estava torcendo muito para Shirlei,final super merecido adorei beijinhos continue assim.
ResponderExcluirOlá, Alzinete, tudo bem!
ExcluirQue bom saber que você gostou da história da Shirlei!!
Muito obrigada pelo comentário, beijos.
Oi tudo bem?
ResponderExcluirSua escrita é muito leve e agradável, gostei muito do conto! Parabéns!!!!
Oi, Daniel, tudo bem!
ExcluirMuito obrigada pelo comentário!!
Abraço.
Oi Cidalia,
ResponderExcluirA vida pode ser tão dura. Você me tocou com o drama dessa família. Gostei muito do final feliz, pois na vida nem sempre ele acontece. Parabéns!
bjs.
Pri.
http://nastuaspaginas.blogspot.com.br/
Oi, Pri!
ExcluirO pior que é verdade, a vida nem sempre tem um final feliz.
Muito obrigada pelo comentário, beijos!
Acho que você quer sinceridade e não confetes. Não gostei do capítulo final. Foi muito forçado e irreal para formar um final feliz...
ResponderExcluirFalo do enredo e não da escrita, ok? Bjos
Obrigada pela sinceridade, Vera, sua opinião é muito importante para mim!!
ExcluirBeijos!