quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Aquela menina

 


Aquela menina de cabelo curto que brincava na rua, subia nas árvores, tomava banho no rio, cresceu.

Aquela menina que mais parecia um moleque se transformou numa adolescente responsável.

Aquela menina que andava descalça na rua começou a trabalhar cedo.

Aquela menina que pulava amarelinha e brincava de roda se tornou uma pessoa independente, corajosa, segura de si, determinada.

Aquela menina sem preocupações aprendeu a lidar com as dificuldades da vida com garra.

Aquela menina moleca que gostava de dançar permaneceu dentro da mulher e a seguiu e segue em todas as fases da vida.







Aquela menina extrovertida e divertida não abandonou a mulher guerreira.

Aquela menina que sempre gostou de comer pão, não se casou com um padeiro como a família brincava. Quem se casou com o padeiro foi a tia.

Aquela menina amorosa e carinhosa seduziu e foi seduzida.

Aquela menina que brincava de boneca, muito jovem teve que aprender a cuidar da sua boneca verdadeira.

Aquela menina linda se transformou numa bela mulher.

Aquela menina que brincava de carrinho de rolimã teve seu segundo filho, um lindo menino.

O tempo passou para aquela menina como passa para todo mundo, num piscar de olhos.

Aquela menina, que se tornou uma adolescente responsável, uma moça corajosa e independente, uma mulher linda e segura de si, teve seu primeiro neto, um belo garoto. 


 

Tempos depois aquela menina que não perdeu a jovialidade ao longo do tempo ganhou mais dois netos, dois lindos meninos.

 

Hoje, aquela menina brincalhona ainda faz morada na mulher que está completando sessenta anos, graças a Deus.



Aquela menina que andava de pé no chão, que brincava de esconde-esconde, agora brinca feliz com seus netos.

Aquela menina que irradiava felicidade não deixou que os sinais do tempo marcassem com severidade o rosto da bela mulher. 

 PS: Essa menina que está completando 60 anos com carinha de 40 é minha sobrinha, afilhada e comadre. A diferença entre nós é de 1 ano e 8 meses, crescemos juntas.





Grata pela visita, 

Cidália.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

O mistério do guarda-chuva

 


No final de uma tarde chuvosa ela olha o zap e se depara com uma mensagem enviada antes do almoço. O perfil aparece na lista de amigos pela primeira vez. Sem foto, a pessoa se identifica assim.

Oi,  fulana, sou a ciclana, você tem um guarda-chuva pra me emprestar?

Pelo nome ela pensou numa parente e a adicionou à sua lista de contatos. 

Não olhou para ver se já aparecia a foto.

Não respondeu a mensagem pelo fato de tê-la visto muitas horas depois, porém foi dormir pensando naquilo.

Onde estava a parente quando pediu o guarda-chuva? Se tivesse na frente da sua casa teria tocado o interfone. Se bem que não fazia sentido. Como teria chegado até ali na chuva? Ela estava em alguma casa próxima? E como ela levaria o guarda-chuva e voltaria na chuva?

O guarda-chuva fica no carro, na garagem, distante da casa.

Em casa ela tem uma sombrinha que ganhou da irmã há algum tempo. Uma sombrinha que ela cuida com carinho.

No dia seguinte ela continuou pensando naquela mensagem.

Após o almoço ela foi ao mercado e encontrou a parente. Não tocou no assunto, esperou que a parente fizesse algum comentário. Como o assunto não surgiu ela voltou para casa com a pulga atrás da orelha.

Comentou com uma amiga por telefone e a amiga lhe disse para não telefonar, poderia ser algum golpe. 

Golpe? Geralmente em golpe de zap clonado pedem dinheiro emprestado, não guarda-chuva.

Comentou com o filho e ele achou estranho.

Dias depois voltou a olhar a mensagem e deu zoom na foto que aparece no perfil.

O mistério estava solucionado. O número não era da sua parente como salvara na sua lista.

O número é de uma vizinha que tem o nome igual ao da sua parente.

Ela ficou chateada por ter feito tamanha confusão. Por que não observou melhor a foto depois de ter adicionado o número?

Por que a vizinha não ligou? Ou por que não deu um grito? As casas são próximas.

A dúvida permaneceu até ela conseguir se desculpar pessoalmente com a vizinha.

A vizinha a chamara, mas por causa do barulho da chuva ela não ouviu.

O guarda-chuva era para o filho da vizinha que estava indo para o trabalho. Ainda bem que a chuva diminuiu e ele conseguiu sair de casa sem um guarda-chuva. 

Obrigada pela visita,

Cidália,