terça-feira, 23 de março de 2021

Através da janela

                                             

Através da janela ela observa a chuva e lembra de um poema que tem tudo a ver com seu estado de espírito naquele momento.

 

"Da janela eu vejo o céu lá fora.

Vem a chuva, de mim não vai embora.

Sou morada, mas tão frágil.

Preciso de reparos, preciso de cuidado."

                                          (Arautos do Rei)

 

                                               (Desenho feito por Marcos Wagner)

    

Enquanto a maioria das pessoas dorme tranquilamente em suas camas, ela assiste filmes, séries, lê, vê vídeos da neta ou apenas reflete sobre a vida. A insônia é sua companheira desde a infância. O sono só chega às 3h da madrugada.

Às 8h ela levanta e começa a sua rotina diária. Que ninguém fale com ela antes do seu desjejum.

Após o café ela é outra pessoa.

Geralmente ela carrega na face um sorriso radiante, um sorriso daqueles que ilumina quem o recebe. Ela é sinônimo de alegria.

Porém, nestes momentos difíceis pelos quais a população do planeta está passando, têm dias em que ela não encontra motivos para sorrir.

Ela se preocupa com a saúde dela, dos familiares e dos amigos, mas vê que tem muita gente que não tem empatia pelo próximo e não está nem aí com a própria saúde.

Ela sente saudade das reuniões familiares, dos encontros com as amigas, de andar livremente com seu sorriso estampado no rosto.

A janela é um de seus lugares preferidos para contemplar o dia ou a noite. Há tanta beleza lá fora, seja na luz do dia ou à luz do luar.

Como seria bom se as pessoas amassem umas às outras e se preocupassem com o bem estar delas. Certamente o mundo seria muito melhor.

Será que a humanidade não tem mais jeito?

Será que a humanidade está corrompida, deteriorada?

Outro dia um texto no perfil de uma amiga chamou a sua atenção. É exatamente como ela age e como gostaria que todos agissem.

 

“Uso máscara ao sair da minha casa para ir ao supermercado ou à farmácia, para ir ao médico ou fazer alguma diligência importante, uso-a mesmo para receber entregas. Fico a dois metros de distância de você, fico em casa em isolamento social o máximo que posso. Eu tenho medo desse vírus, que tanto pode pegar leve, como pode ser grave, deixar sequelas e até matar. Não me sinto obrigada a nada. Apenas me preservo. Se todos pudéssemos contar com a consideração dos outros, esse mundo seria um lugar melhor. Usar uma máscara, ficar em casa o maior tempo que puder, manter a distância de 2 metros dos outros não me torna uma pessoa fraca, assustada, burra ou “controlada”; torna-me uma pessoa responsável, atenta e respeitosa. Vejam se entendem, eu cuido de mim, da minha família e de você e sua família. Vamos ser mais empáticos com as circunstâncias!”

 

Ela sabe que muitos precisam sair de casa para trabalhar e reza para que Deus os protejam.

Ainda bem que a vacina, apesar do ritmo lento, está chegando.

 Obrigada pela visita,

Cidália.

 

domingo, 14 de março de 2021

Outro dia

 


Outro dia ela era uma criança de pés descalços correndo livre pela rua. Pega -pega, amarelinha, queimada, bolinha de gude...

Os cabelos esvoaçantes com o vento a tocar a sua pele.

O banho no rio, as brincadeiras sob as árvores.

A boneca de pano feita pela mãe era a maior alegria.

O carrinho de madeira feito pelo pai para o irmãozinho era o melhor presente.

Outro dia ela só pensava em comer, brincar e dormir.

Ao dormir pedia a bênção do pai e da mãe.

Dormia um sono tranquilo e sonhava com os anjos.

Os dias eram sempre iguais.

As emoções eram vividas nas pequenas aventuras como subir numa árvore para colher uma fruta ou andar sobre duas latas de leite amarradas por um barbante.

Outro dia os amigos viviam nas casas uns dos outros.

Outro dia lá estava ela na calçada de casa, de short com a barra desfiada, camiseta do irmão e chinelo nos pés, com um sorriso no rosto. Ela esperava os amigos para começarem as brincadeiras.

Se chovia ela brincava na chuva, gostava de sentir a água caindo pelo corpo, principalmente nos dias mais quentes.

Se ela caía e aparecia um machucado, a mãe dava um beijo no local e sarava.

Se ela espirrasse ou sentisse uma dor na garganta, um copo de leite quente na hora de dormir a curava.

Outro dia ela não se preocupava em se olhar no espelho.

Hoje a criança virou uma mulher.

A responsabilidade faz parte do seu dia a dia.

É preciso se preocupar com as contas no final do mês.

Hoje ela já não anda mais descalça pela rua.

Hoje o vento espalha seus cabelos só quando ela vai à praia.

Hoje ela não toma mais banho no rio e nem sobe em árvores para colher as frutas.

Hoje os amigos se distanciaram, cada um vivendo a sua própria vida.

Hoje a sua vida é muito diferente.

Hoje ela precisa pensar nas prioridades.

Hoje é ela quem dá um beijo no joelho ralado dos netos.

Hoje ela sente falta de coisas que deixou de fazer.

Hoje a saudade daqueles que já se foram é grande.

Hoje ela se olha no espelho e vê os sinais do tempo. Cada linha de expressão acentuada na sua face foi adquirida na vivência diária como prova inalterável da sua existência.

O tempo mudou seu corpo, seu rosto, seu jeito de enxergar a vida. Ela deixa resplandecer as fases da vida e toda experiência obtida.

Hoje ela é sinônimo de força e determinação.

Hoje ela aproveita a vida ao máximo sem pensar no amanhã.

 Hoje ela curte a família, seu bem maior.

Poema:

"Faz da tua casa uma festa!

Ouve música, canta, dança...

Faz da tua casa um templo!

Reza, ora, medita, pede, agradece...

Faz da tua casa uma escola!

Lê, escreve, desenha, pinta, estuda, aprende, ensina...

Faz da tua casa uma loja!

Limpa, arruma, organiza, decora, muda de lugar, separa para doar...

Faz da tua casa um restaurante!

Cozinha, prova, cria, cultiva, planta...

Enfim...

Faz da tua casa

Um local criativo de amor." 

                                                                (Cora Coralina)

 Grata pela visita,

Cidália.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Envelhecer



Arrumando as gavetas da penteadeira, dona Maria, conhecida como Mariazinha, encontra um texto que escreveu tempos atrás. Ela foi tirando uma palavra daqui e outra dali, de leituras que fizera.

Com o passar dos anos, dona Maria vendo surgir em seu rosto os sinais do tempo, começou a anotar frases que lhe chamavam a atenção sobre o envelhecimento nas leituras bíblicas e demais leituras.

Muitas das anotações ela acabou perdendo.

Porém, ficou no fundo de uma das gavetas, um texto que sua neta imprimiu.

Dona Maria, a Mariazinha que aos 80 anos conserva a vitalidade, a força e a coragem, não fossem os joelhos que a incomodam, segue sua rotina com disposição.

 

                                             Ela exibe com alegria a carteira de vacinação (1ª dose).

Ela é uma mulher independente e prendada.

Cuidar das plantas, cozinhar e costurar são atividades que lhe dão prazer.

Receber os amigos para um café da tarde é uma alegria para dona Mariazinha. Ela os recebe com um cuscuz, torta de frango e palmito, bala de banana feita por suas mãos e um enorme sorriso.

 

Envelhecer

É tão importante envelhecer!

Envelhecer não é espanto,

É saber viver.

Saber descobrir o encanto de cada idade.

Feliz de quem envelhece por fora, conservando-se jovem por dentro, crescendo em compreensão para com tudo e para com todos, caminhando sempre mais no amor de Deus e no amor ao próximo.

Quem conserva sua chama,

Quem mantém entusiasmo pelo que faz,

Quem sente razão por viver,

Pode ter o rosto cheio de rugas e a cabeça toda branca,

mas ainda é jovem.

Quem não entende a vida e quem não descobre a razão de viver e não vibra, não se empolga,

Pode ter 20 anos, mas já envelheceu.

O importante não é viver muito ou viver pouco, mas realizar na vida o plano que Deus  criou.

As rosas, a rigor, vivem um dia, mas vivem plenamente, porque realizam o destino de graça e beleza que vem trazer à Terra.

Se sentirem que os anos passam e a mocidade vai,

Peçam a Deus para si e para os que se tornaram menos jovens a graça de envelhecer como os vinhos envelhecem, tornando-se melhores e, sobretudo, a graça de, envelhecendo, não deixar de amar a vida e vivê-la em plenitude.

                                                                     (texto de Mariazinha Pedroso)

 

 Obrigada pela visita,

Cidália.