terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O vestido

            
                                                              (foto copiada da internet)
                                              

Comecei a assistir a série, Marvelous Mrs. Maisel (Maravilhosa sra. Maisel), por indicação da minha nora.

A série começa em 1958 (nasci um ano depois) e adentra meados dos anos 60. Fiquei maravilhada com o figurino dos personagens, principalmente da Rose, a mãe da Midge (Míriam).

Como eram lindos os vestidos. Eram simplesmente maravilhosos.

Não entendo nada de moda, mas os vestidos daquela época eram, na minha opinião, de um tremendo bom gosto.

As mulheres ficavam elegantes, charmosas em seus trajes cotidianos ou de festas.




 

A Midge tem muitos chapéus que complementam seus looks, todos deslumbrantes.

A cada aparição da Rose, a mãe, eu ficava maravilhada com seus vestidos. Que caimento impecável.

A Midge é comediante, porém em cada apresentação dela, o que chamava a minha atenção eram seus looks.

Penso no quão engraçado é eu amar os vestidos das personagens. Sempre preferi a praticidade das calças compridas e das bermudas para trabalhar.

Teve um tempo em que usei saias, eu as vestia para ir às reuniões pedagógicas.

Tenho alguns vestidos que usei em datas específicas. Eles estão dependurados no guarda-roupa esperando uma nova chance de serem usados. Provavelmente estejam fora de moda.

Minha irmã queria muito que eu usasse vestido longo, acho muito bonito, mas não em mim. Ganhei um vestido longo, indiano, de uma sobrinha. Usei-o pouquíssimas vezes.

Usei mais poucas vezes vestidos longos, o primeiro foi no meu casamento, o vestido de noiva. O segundo foi no baile da minha formatura (magistério). Depois, quando fui madrinha de casamento. A outra vez, no casamento do meu filho e outra na formatura de uma sobrinha, em Curitiba. 

Ao contrário de mim, minha mãe só usava vestidos. Não eram glamourosos como os vestidos da Rose.

 Na infância tive um vestido branco com mangas bufantes, curto, que foi mandado fazer para a formatura da antiga 4ª série do primário.

Como eu gostava daquele vestido, ainda lembro bem do modelo, godê, mas não lembro o nome do tecido. Sei que era um tecido comum.

A Rose, até nas férias, num resort nas montanhas, usou vestidos e chapéus fabulosos.

Enfim, como eu gostei de rever na série como eram as roupas nas décadas de 50 e 60. Comparei com a moda atual. Não entendo nada sobre a moda como já comentei, mas às vezes vejo em revistas vestidos pavorosos. Gosto de folhear as revistas no salão de beleza para admirar os vestidos.

PS: Terminei a terceira temporada, estou aguardando a próxima para continuar admirando o figurino do elenco feminino, além do talento dos atores.

 

The Marvelous Mrs. Maisel é uma série de televisão americana de época e comédia dramática, criada por Amy Sherman-Palladino, que estreou em 17 de março de 2017, no Prime Video. A série é estrelada por Rachel Brosnahan como a homônima Miriam "Midge" Maisel, uma dona de casa em 1958 em Nova York, que descobre que tem um talento especial para a comédia stand-up. Após a estréia do episódio piloto, aclamada pela crítica, a série foi escolhida pela Amazon para um pedido da segunda temporada em 10 de abril de 2017.

A primeira temporada foi lançada em 29 de novembro de 2017, para comentários positivos. A série ganhou três prêmios Globo de Ouro (Melhor Série de Televisão – Musical ou Comédia e dois Melhor Atriz – Musical ou Comédia para Brosnahan) e cinco Primetime Emmy Awards, incluindo Melhor Série de Comédia e Melhor Atriz numa Série de Comédia para Brosnahan. A segunda temporada foi lançada em 5 de dezembro de 2018. A série foi renovada para uma terceira temporada consistindo de oito episódios que estreou em 6 de dezembro de 2019. No dia 12 de dezembro de 2019 a série foi renovada para uma quarta temporada. 

Obrigada pela visita,

Cidália.

 

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Dias iguais

 

 

Todos os dias são iguais depois que ela parou de trabalhar fora.

Sua vida seguia uma rotina de segunda a sexta, com reunião a noite, semanalmente.

Ela via muita gente, interagia e nos intervalos ria de alguma piada boba contada por algum colega do trabalho.

Ao chegar em casa a cachorrinha, sua companheira, fazia festa.

Toda manhã, alegremente, ela se arrumava. Sentia-se bonita e feliz. Trabalhar fora preenchia seus dias e nos finais de semana ela recebia a família e saía para fazer algum passeio.

O trabalho, uma fonte complementar de renda, era a sua paixão. Ela cumpriu com louvor suas tarefas. Foi uma funcionária dedicada e responsável. Foi, merecidamente, homenageada.

Porém, chegou o dia em a aposentadoria bateu à sua porta. Era chegada a hora de parar de trabalhar fora. Não por opção, pois se pudesse optar continuaria trabalhando até o final de seus dias. Teve que parar, é a lei. A pessoa chega numa idade em que não dá para escapar da aposentadoria.

O trabalho de casa nunca a animou, apesar de ser prendada em determinadas tarefas.

Ela fez planos de viajar com a irmã, mas daí veio a pandemia.

Desde então, os planos ficaram esquecidos.

Junto com a pandemia brotaram nela alguns sentimentos que antes ela desconhecia.

Angústia, descontentamento e solidão.

Às vezes ela acorda e não sabe qual é o dia da semana ou do mês. Afinal, todos os dias são iguais.

Ela conversa com as plantas e com a sua fiel companheira, a cachorra.

- Xô tristeza...

Nesses dias ela lembra de todas as vezes que se olhou no espelho e se achou maravilhosa, se sentiu dona do mundo e feliz da vida.

Então, ela volta a fazer planos para quando a pandemia passar.

Ela vai pegar seu carro e sair por aí sem pressa.

Ela vai passear muito.

Ela vai visitar os familiares.

Ela vai conhecer os sobrinhos netos que ainda não conhece.

Ela vai se reunir com as amigas para um chá da tarde.

Ela vai viver com intensidade.

Grata pela sua visita,

Cidália.

 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O cinto

                                                                       (foto copiada da internet)

 

 

Poucos meses para completar treze anos e uma determinação gigantesca.

A menina que morava num vilarejo nordestino, viu ao passar numa loja, um cinto que estava na moda. Ela se apaixonou pelo adereço. Se imaginou usando aquele cinto que via as moças usando na TV.

Ao chegar em casa pediu para a mãe e ela respondeu que aquele cinto era muito caro.

No dia seguinte a mãe comprou um cinto de um camelô que encontrou na esquina.

- Fia, comprei o cinto que você queria, olha que bonito. Esse foi baratinho.

A menina olhou para o cinto comprado pela mãe e achou-o horrível. Em hipótese nenhuma se comparava com o cinto da loja. O cinto usado pelas artistas. Naquele momento ela pensou em ter seu próprio dinheiro para comprar o que quisesse.

Na noite seguinte, na escola, na hora do intervalo, ela estava próxima ao portão com uma amiga quando ouviu a conversa de um casal de namorados que estava do lado de fora. O rapaz disse para a namorada que seu patrão estava precisando de uma atendente na sua loja de assistência técnica de eletrodomésticos.

A menina não pensou duas vezes e se intrometeu na conversa.

- Eu quero esse emprego.

- Então você vai lá e diz que foi o Paulo que te mandou - disse ele e passou o endereço da loja.

- Muito obrigada.

Na manhã seguinte, a menina tomou o café e falou para os pais que ia sair para procurar um trabalho.

Os pais a olharam de olhos arregalados, porém não falaram nada.

Lá foi a menina até o endereço fornecido pelo Paulo. O dono da loja a atendeu e perguntou o que ela queria.

- Vim para ocupar a vaga de atendente. Foi o Paulo que me mandou aqui.

O dono da loja chamou seu funcionário que estava nos fundos da loja.

- Foi este rapaz que te mandou aqui?

- Sim, senhor.

- Fui eu sim, seu Antônio.

- Pode voltar para o seu trabalho, Paulo, obrigado.

Dirigindo-se à menina ele perguntou?

- Quantos anos você tem?

- Vou completar treze daqui a três meses.

- Seus pais sabem que você tá aqui procurando serviço?

-Sabem, sim, senhor. Eu preciso trabalhar para ajudar nas despesas (ela mentiu).

- Você já trabalhou antes?

- Nunca trabalhei fora, mas aprendo rápido, sei que vou dar conta.

- E a escola, você não estuda?

- Estudo a noite.

- Vou te dar uma chance.

Naquele dia mesmo, o senhor Antônio explicou quatro vezes para a menina qual seria seu trabalho, como atender o cliente e preencher o formulário. Ele trabalhava com várias marcas de eletrodomésticos.

A menina prestou muita atenção.

No dia seguinte e nos demais o pai a acompanhava de manhã para ter certeza de que ela estava trabalhando e no final do dia para levá-la à escola.

Nos primeiros dias, após o almoço (ela levava marmita), a menina cochilava sentada debaixo do ventilador de teto.

Quando o patrão a pegou debruçada sobre a mesa, cochilando, chamou a sua atenção.

- Menina, se você quer continuar trabalhando aqui, tem que arrumar alguma coisa para fazer enquanto não aparece nenhum cliente. Já pensou se chega alguém e vê você dormindo? Vai pegar mal para a loja.

A partir daquele sermão a menina começou a tirar o pó e arrumar as prateleiras de miudezas após o almoço. Assim ela não sentia sono. Começou a observar como era feito o concerto dos eletrodomésticos e aprendeu a arrumar liquidificador.

Quando tinha alguma festa na casa do patrão ela era convidada para fazer companhia à filha dele.

No primeiro pagamento a menina comprou muitas coisas incluindo o tal cinto que ela tanto queria. Os pais não pegavam seu dinheiro.

Ao chegar em casa a mãe a olhou espantada ao ver o que ela comprou.

- E para mim, você comprou alguma coisa, fia?

- Não, mãe, só comprei para mim. Olha o cinto que eu tinha pedido para a senhora. O que a senhora fez? Comprou um cinto horroroso que nunca usei. No mês que vem vou pensar se compro alguma coisa para a senhora.

A menina estava deslumbrada com aquele cinto. O cinto que a motivou a ter seu próprio dinheiro para não depender dos pais. Para não depender de ninguém.

A loja de assistência técnica do senhor Antônio foi seu local de trabalho por quatro anos. Foi o início da sua jornada. Depois que saiu dali foi trabalhar como balconista numa loja. Não ficou mais sem trabalho.

A menina se tornou mulher, fez vários cursos, se casou e se tornou uma profissional autônoma.

Aos cinquenta anos, atendendo uma cliente no seu salão, ela relembra a sua determinação ao ter o seu dinheiro quando era apenas uma menina. Enquanto muitas meninas dessa idade brincavam, ela correu atrás de realizar o seu desejo. O desejo de ter independência financeira. O desejo de comprar o que quisesse sem ter que ficar implorando aos pais. 

Um desejo inspirado por um cinto.

 

 Sou grata pela sua visita,

Cidália.