terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Injustiça


 

O que leva uma pessoa a querer ferrar com a outra?

Na novela das seis, o pai mata a filha por acidente e acusa o jovem apaixonado por ela de ser o assassino. Como ele é um juiz obteve ajuda de alguns amigos para forjarem as provas contra o moço. Na trama, o castigo foi repentino. O pobre inocente foi preso, pegando uma pena de vinte anos, porém, ele o verdadeiro culpado, foi parar num sanatório. O peso na consciência fez com que ele começasse a ver e ouvir a filha morta o acusando.

Na vida real tudo o que uma pessoa faz, seja de bom ou ruim, volta para ela. Não é necessário querer vingança ou rogar praga. Pelo contrário a pessoa prejudicada, por mais injustiçada que se sinta, deve desejar o bem para quem lhe fez algum mal.

O que leva uma pessoa a querer ferrar com a outra?

A pessoa está fazendo o seu trabalho nos finais de semana para complementar a renda mensal que é insuficiente, investe nos materiais, passa o dia sem comer, ou fica debaixo do sol para terminar o serviço. 

Como essa pessoa pode estar agindo errado? O fato dela ser funcionária pública ou ocupar um cargo comissionado não pode impedir que essa pessoa preste serviço nos finais de semana e feriados.

O que leva uma pessoa a querer ferrar com a outra?

Inveja, vingança, raiva ou politicagem?

No caso da novela o pai era contra o namoro e ele responsabilizou o rapaz pela morte da filha. Ele queria matar o jovem, mas por um infortúnio o tiro atingiu a filha. Ele se vingou acusando o moço e o mandando para a prisão.

Na vida real, a pessoa que liga anonimamente para fazer uma denúncia incabível não deve ter nada para fazer a não ser tentar prejudicar o próximo?

Essa pessoa, mal-amada, deve sentir inveja do carisma de seus semelhantes. Talvez, essa pessoa, mal-amada, invejosa, abomine o sucesso de seus semelhantes.

Talvez, numa manhã qualquer, essa pessoa acorde e ao invés de agradecer a Deus por mais um dia de vida, ela pegue o telefone e faça uma denúncia anônima. Será que depois dessa atitude essa pessoa vai se sentir bem? Será que nem por um momento ela não vai sentir um pouco de remorso? Como deve ser o coração dessa pessoa?

Provavelmente essa pessoa nunca ouviu a frase, fazer o bem sem olhar a quem. Ou talvez essa pessoa tenha trocado a palavra bem pela palavra mal. Ou talvez essa pessoa não se importe com as consequências dos seus atos.

Na novela o pai perdeu o juízo e teve que parar de trabalhar, a sua consciência não lhe dá trégua. Ele arruinou a própria vida ao se intrometer no romance da filha e agir impulsivamente. Além de perder a filha, terá que conviver com o remorso e a culpa.

Há pessoas e pessoas.

Há pessoas boas que estão sempre prontas para ajudar o próximo e há pessoas ruins que só se sentem bem quando prejudicam ou humilham alguém.

Desde que o mundo é mundo vemos as injustiças que são cometidas com muita gente.

O poder sobe à cabeça de algumas pessoas e elas se sentem donas da verdade. Elas não se importam com as consequências das suas ações.

 

"""Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado."" (Platão)

 

Fique a vontade para manifestar a sua opinião, obrigada.

Cidália.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Túnel do tempo

 


Ao ver uma foto antiga dele no Facebook, as lembranças dela vieram à tona. Ela viajou pelo túnel do tempo. 

 


Eles tinham uma ligação transcendental, mais do que primos, amigos, quase irmãos. Ele tentou ensiná-la a tocar violão, porém não rolou. Ele tocava maravilhosamente e cantava. Aprendeu sozinho, tocava de ouvido, tinha um dom.

Ele frequentava sua casa. Volta e meia aparecia para tomar um café, tocar violão e passavam um bom tempo conversando.

Ele era ciumento, cuidava dela como um irmão mais velho. Se ele a via num barzinho bebendo ou paquerando algum rapaz, ia contar para sua mãe. Sua mãe a deixava de castigo, mas isso não fazia com que ela sentisse raiva dele.

Numa das vezes em que a visitou, olhou para a sua mãe e falou:

 - Olha, sua filha sentada nos degraus com essas microssaias está chamando a atenção dos peões que transporto. Eles mexem com ela e chegam a gritar porque a saia é tão curta que deixa a calcinha aparecendo.

Esse comentário a fez sentir muita raiva e uma grande vergonha. Mas, no fundo ela sabia que ele cuidava dela, tomava conta da prima assanhada.

Ele era lindo, faceiro, pegava geral, era um baixinho charmoso, de sorriso cativante, muito educado e gentil. As moças o perseguiam e ele não perdia tempo.

Quando ele encontrou a moça que seria sua esposa, a mãe de seus filhos, a convidou para ser a madrinha do casamento. Tempos depois apareceu todo formal para convidá-la para ser madrinha da sua filha.

 -Você é uma amiga muito querida e eu te adoro. Só você pode ser a madrinha da minha filha. Ela ficou comovida com o convite. O batismo foi feito em casa, ministrado pelo pai dele.

Então, num dia cinzento do mês de março, ela estava dando aula quando, próximo ao sinal da saída, foram buscá-la. Sua memória ficou entorpecida, ela não lembra quem foi buscá-la de carro. A levaram direto para o pronto atendimento, onde no consultório o médico a aguardava com uma seringa na mão. Ela entrou amparada e assustada. O que estava acontecendo?

-Tenho uma notícia triste, seu primo faleceu num acidente.

-Cala a boca, ela gritava, cala essa boca.

A agulha foi injetada em seu braço enquanto ela batia nas pessoas que estavam ali. De repente apagou. Ela não consegue lembrar, tantos anos depois, de quem a levou ao médico.

Quando o efeito do calmante passou e ela voltou a si, estava em estado de choque, atônita. Não falava, não chorava, estava amortecida. Abriu a boca apenas para dizer que queria ir para sua casa.

À noite, no velório, ela o abraçou no caixão, e segurou suas mãos frias. Até hoje ela não pode sentir o cheiro das flores que estavam no caixão. Algumas coisas ela lembra bem, outras lhe contaram. Ela desmaiou na hora do enterro. Dizer adeus naquele momento foi impossível.

Aquela perda foi tão doída, uma tragédia que a marcou. Aquele primo tão jovem, que a amava e que ela amava, uma amizade inesquecível. Aquele jovem, primo, amigo, afilhado, compadre, cúmplice, deixou um vazio enorme em seu coração.

Aquele jovem primo viveu intensamente a curta vida que teve.

As lembranças das conversas, confidências, do carinho mútuo, dos conselhos e do cuidado com ela estão vivas em sua memória. Ele punha defeito nos rapazes que se interessavam por ela. Ninguém era bom o suficiente para paquerá-la segundo a opinião dele.

Hoje ela sente uma enorme gratidão por ter tido a sua companhia durante a sua adolescência, por ele ter feito parte da sua vida, por ter sido um amigo querido e amado.

PS: A letra de uma das músicas que ele gostava de cantar:

 

Meu bem já não precisa
Falar comigo dengosa assim
Briga só pra depois
Ganhar mil carinhos de mim
Se eu aumento a voz
Você faz beicinho
E chora baixinho
E diz que a emoção
Dói seu coração
Já não acredito
Se você chora dizendo me amar
Eu sei que na verdade
Carinhos você quer ganhar
Um dia gatinha manhosa
Eu prendo você
No meu coração
Quero ver você
Fazer manha então
Presa no meu coração
Quero ver você
Um dia gatinha manhosa
Eu prendo você
No meu coração
Quero ver você
Fazer manhã então
Presa no meu coração
Quero ver você.
 
 
Grata pela visita,
Cidália.