segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Recordar é viver

 


Um passeio, numa tarde de sábado, para relembrar o passado. Um passado longínquo. Uma época em que o melhor a fazer, num final de semana, era visitar os tios que moravam no sítio (zona rural). Comer bolinho de chuva, andar de trator com os primos, molhar os pés no rio ou ouvir as histórias contadas pelo tio eram as melhores diversões. Um lugar tranquilo, visitado e enaltecido por alguns artistas que passaram pela pequena cidade para gravar um filme. Todos que por ali passavam eram recebidos com alegria e se sentiam bem naquele ambiente simples e agradável.

De repente os três se dão conta de que o caminho para a casa dos tios está diferente.

Cadê a casa? Aquela casa que ainda permanece viva na lembrança dos três?

Tudo está diferente.

O que fizeram com aquela casa? A casa que outrora fora um lar. Um lar repleto de vozes, de sorrisos, de amor, de alegria. Uma casa onde era possível ouvir o coaxar do sapo, o canto dos pássaros ou ver as galinhas ciscando o terreiro rodeada pelos pintinhos.

Aquela casa ainda está lá. Deteriorada pelo tempo, a casa foi reformada e se tornou um espaço para recreação. Agora, naquele lugar tem até uma piscina. Ali são realizadas algumas festas.

O herdeiro se fora no primeiro ano da pandemia. A viúva seguiu adiante, precisou reorganizar a sua vida. Vendeu aquela casa.

Para os três a casa vai continuar em suas lembranças.

Não se vive do passado, mas as recordações de um período que não volta mais fazem parte das memórias colecionadas ao longo do tempo.

Não existem fotos, apenas a lembrança que permanece na memória de cada pessoa que ali esteve. De cada pessoa que vivenciou ótimos momentos com aquela família. De cada pessoa que comeu um bolinho de chuva na hora do café. De cada cada pessoa que recebeu um carinho dos donos daquela casa, seja em forma de um abraço ou em forma de um afago.

- Mecê porte, assim era o jeito do casal convidar alguém para entrar e tomar um café.

Houve uma época em que Ana, Brasílio, Maria, Frutuoso, Rosa, José, Miguel, Idalina, Nascimento e Amélia existiram.

Hoje, eles existem apenas na memória dos seus descendentes, assim como aquela casa que um dia foi o lar de uma família feliz.

Aquele lugar tornou-se uma vila e ganhou o nome do patriarca da família. Ali, ainda moram alguns familiares. 

 

A GENTE VAI EMBORA, se dissolve, a gente some, toda nossa importância se esvai, essa importância que pensávamos que tínhamos..., a vida continua, ela segue, as pessoas superam e vão seguindo suas rotinas. 

A GENTE VAI EMBORA, as brigas, grosserias, impaciência, infidelidade, tudo isso serviu para nos afastar de quem só nos trazia felicidade e amor. 

A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua assim, caótico, muito louco, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. Aqui entre nós, não faz. Nós somos pequenos, mas nós somos arrogantes, prepotentes, metidos a besta.

A GENTE VAI EMBORA. E é bem assim: Piscou, num estalo, a vida vai. O cachorro que eu amo tanto, ele é doado. O cachorro se apega aos novos donos. Os viúvos se casam de novo, eles andam de mãos dadas, apaixonados e vão até ao cinema.

A GENTE VAI EMBORA e nós somos rapidamente substituídos naquele cargo que a gente ocupou na empresa. Nós somos substituídos no outro dia. As coisas que nós nem emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora.

Quando menos a gente espera, A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem é que espera morrer? Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse mais. Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa até antes do almoço. Talvez a gente esperasse menos dos outros. Talvez a gente risse mais, saísse à tarde para ver o pôr do sol, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.

Hoje o tempo voa, amor. A partir do momento em que a gente nasce, começa essa viagem, essa jornada fantástica veloz com destino ao fim, rumo ao fim - e ainda tem aqueles que vivem com pressa! Eu ainda tenho pressa! O que é que eu estou fazendo agora com o tempo que me resta? Que possamos ser cada dia melhores. Que saibamos reconhecer o que realmente importa nesta nossa breve passagem pela Terra. Só isso. Até porque, A GENTE VAI EMBORA. (Texto copiado da internet)

 

 Obrigada pela visita,

Cidália

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Era uma vez



Era uma vez, há muito tempo atrás, dois irmãos aconchegados dentro de uma caixa de papelão, a Nina e o Nick. 

No apartamento havia muitas caixas. Seus donos estavam se mudando. Cada um iria para um novo endereço. O relacionamento deles chegara ao fim.

Sem entrar nos pequenos detalhes, os irmãos Nick e Nina ganharam um novo lar. Um lugar espaçoso, um quintal para tomarem sol.

Lá, os irmãos tiveram que se entrosar com o pequeno cachorro e mais alguns gatos da família.

No início, assim que chegaram e saíram da gaiola sentiram-se deslocados, estranharam a nova casa e os outros animais.

Nina e Nick ficavam sempre juntos, não se largavam. Ela havia sido castrada. Os novos donos mandaram castrar o Nick.

Com o passar do tempo os dois irmãos foram se familiarizando com os outros gatos.

Na vizinhança existia alguém, segundo os boatos, que não gostava de gatos. Se algum gato chegasse no seu quintal, era envenenado.

Infelizmente, foi assim que aos poucos os gatos, do casal, foram desaparecendo. Um a um. Não tinha como impedi-los de subirem sobre os muros ou telhados da vizinhança.

A Nina, apesar de ter se aventurado uma noite, voltou sã e salva.

A partir daquele dia ela se tornou caseira, se arriscando a andar pelo jardim somente na companhia da sua dona.

O que aconteceu naquela noite que a deixou medrosa?

O Nick, infelizmente, assim como os outros gatos, também se foi. Ele era um gato curioso, aventureiro.

Por muitos anos ficaram apenas o pequeno cachorro e a Nina.

Porém, chegou o dia em que o cachorro, muito velhinho, se foi para outra dimensão.

A Nina, folgada, passou a comer a ração na mão dos seus donos.

Sempre companheira, amorosa.

Mas, como todo ser vivo, a única certeza da vida, chegou para ela.

Uma semana que ela se foi.

Quieta.

Deitada num canto da sala.

Apenas com alguns miados baixos.

Como um lamento.

Como um adeus, talvez.

Como um agradecimento, quem sabe.

Foram dezoito anos de vida, uma vida longa se comparada com o seu irmão, o Nick, ou com a Belinha, sua filha. Sim, antes de ser castrada, ela foi mãe.

Vivia dentro de casa, dormia no sofá, na cama, numa cadeira ou na poltrona do papai.

Comia a ração na minha mão.

Estava sempre ao meu lado ou no meu colo quando eu me sentava para ler ou ver televisão.

Quando eu saía no quintal eu a chamava. Ela me acompanhava.

Ela pedia para trocar a sua água. 

Ela tinha um banheiro onde ficava a sua vasilha de areia.

Ela não gostava muito de criança.

Enquanto, lentamente, sua vida se esvaía, eu falava com ela. Agradeci pelo tempo de convivência, pela companhia.

Estou, agora, me acostumando sem o seu miado na porta do quarto, de manhã, bem cedo. 

Estou, agora, me acostumando sem a sua presença na cozinha enquanto eu faço a comida.

O meu consolo é que ela teve uma vida longa e boa. 

Deu e recebeu carinho.

Agora ela repousa eternamente num canto do jardim.

Era uma vez, uma linda gata, chamada Nina, que viveu por dezoito anos e foi uma ótima companheira!



PS: sábado ela ainda subiu no sofá com a minha ajuda e ficou deitada ao meu lado. Comeu o sachê, mas estava fraca e ontem ela comeu um pouco de manhã, depois ficou no canto da sala, no chão, bem quietinha. Falei com ela e ela só deu um miado, penso que não sentiu dor. De vez em quando eu falava com ela e assim ela continuou na mesma posição até que se foi para sempre.

 

 Obrigada pela visita,

    Cidália.