quinta-feira, 23 de julho de 2020

Pássaro ferido




Dentro da gaiola o pobre passarinho apenas observa. Imagina-se voando entre aqueles pássaros felizes. Seu canto seria alegre. Ele passaria o dia desfrutando da sua liberdade. Poderia fazer o que quisesse. Faria morada em alguma árvore.

Porém, ali, repousando numa gaiola dependurada na área da frente daquela casa, o lindo pássaro tem somente o pequeno espaço para se movimentar.

Do lado de fora os pássaros livres se movimentam para lá e para cá causando-lhe inveja. Cantam alegremente. Sobrevoam as flores. Descansam nos galhos das árvores.

Ah, se ele pudesse, voaria para lá e para cá pousando nas árvores frutíferas e se deliciando com o néctar das flores.

Ali, naquela gaiola, seu canto era triste. Seu dono não percebia a sua melancolia. De vez em quando alguém olhava para ele e apreciava a sua beleza.

Mas, de que adiantava ser admirado se ninguém se preocupava com seus sentimentos?

Se ele pudesse escolher, queria viver solto na natureza. Ser prisioneiro naquela gaiola não o agradava. Preferia ser um pássaro feio, comum, desses que podem desfrutar desse mundo encantado do que ser admirado pela bela plumagem engaiolado e solitário.

Como essa escolha lhe foi negada, o jeito era aceitar o seu destino. Destino imposto pelo homem que o aprisionou. O homem que tirou dele o direito de ir e vir. O homem que o fez refém. O homem que teve a ideia de fazer uma gaiola para aprisionar os pequenos e indefesos seres. 

Ali, dentro daquela gaiola, o lindo e exótico pássaro continua a apreciar seus semelhantes. Não lhe resta outra alternativa.

Com um lamento ele se encolhe num canto da gaiola.




PORQUE TAMANHA JUDIAÇÃO
(Edson Nelson Soares Botelho)

Passarinho preso em uma gaiola
Admirando o sol, as árvores e o vento
Sonhando com a liberdade de voar
E os ninhos que existem nas árvores

O pesadelo de viver aprisionado
Longe da presença dos amigos
Em noites mal dormidas sem nenhuma esperança
A lembrança constante de seu último voo

Distante do sonho de um dia ser livre
Desejos contidos pela mão do carrasco
Que o fez prisioneiro até a morte

Vivendo na angústia e solidão
Procurando entender o motivo de estar aprisionado
E mesmo preso ainda cortaram suas asas



Grata pela sua visita,
Cidália.