Uma união de mais de vinte e sete anos desfeita em poucos
minutos. Sem um abraço ou um até breve. Sem uma despedida digna. Sem nenhuma consideração. Uma saída na calada da noite.
Para ele, a liberdade, um novo recomeço, a independência, novos
amores, a oportunidade de viver tudo que ficou reprimido durante os anos compartilhados
com aquela que pensou ser a sua alma gêmea.
Para ela o sofrimento, a depressão, a vontade de
desaparecer da face da terra. Em cada
amanhecer o vazio, a solidão, o desânimo, o sentimento de impotência, a saudade
daquele que pensou ser o seu eterno amor.
Vinte e sete anos de convivência, de cumplicidade, de altos
e baixos, de alegrias e tristezas, foram simplesmente esquecidos, deixados para trás.
Onde foi parar o amor de contos de fadas que idealizou para
a sua vida? O amor que só termina quando a morte separa o casal?
Em cada manhã, ao olhar o lado vazio da sua cama e do guarda roupa, a falta de
vontade de se levantar, de seguir adiante, de ir à luta, de buscar novos
interesses para continuar vivendo.
Na pia do banheiro a escova dental, sozinha, abandonada. Num canto qualquer da casa um chinelo velho, tamanho quarenta e dois, solitário. O outro par sumira, assim como o amor da sua vida.
Nenhum conselho era ouvido, ou sequer assimilado pela mente
dormente nos quatro anos de agonia e tristeza. No fundo ainda existia a esperança de que tudo aquilo não passasse de um sonho ruim.
Quatro anos de reclusão, sobrevivendo com a ajuda de
parentes e amigos mais chegados.
Um certo dia, porém, ela acordou pensando em Deus. Naquele
dia, ela ousou abrir a janela da alma e deixar o sol entrar. Um raio de
esperança infiltrou-se em seu coração. Era chegada a hora de reagir. Ela
ajoelhou-se e agradeceu a Deus pela vida, pela oportunidade de seguir adiante.
Prometeu a si que seria outra pessoa dali em diante, que seguiria firme sem a
necessidade de medicamento, pois não queria se tornar dependente.
Naquele dia ela se deu conta, ao ver a sua imagem através do espelho que ainda era uma bela e jovem mulher.
Naquele mesmo dia ela fez planos para trabalhar em sua
casa, utilizando o dom que tinha. Modéstia à parte era uma ótima cabeleireira.
Naquele mesmo dia ela faxinou as gavetas e se desfez das
coisas que queria esquecer.
Naquele mesmo dia ela jurou a si que não pensaria mais
nele. Dali em diante seria como se ele não tivesse existido.
Os quatro anos perdidos seriam recuperados. Ela pretendia
viver intensamente todos os momentos dali em diante.
Com o amor-próprio resgatado nada a impediria de viver um
romance consigo.
Ela precisou perder quatro anos para se dar conta de que
ele não merecia o seu amor, a sua entrega, a sua dedicação.
Era chegada a hora de colocar os pés fora de casa, de rever
os amigos, de viajar usufruindo da sua própria companhia, de conhecer novos
lugares, de buscar novos objetivos, de ser feliz.
Era chegada a hora de novas mudanças como na letra da música
da cantora Vanusa.
MUDANÇAS
Hoje eu vou mudar
Vasculhar minhas gavetas
Jogar fora sentimentos
E ressentimentos tolos
Fazer limpeza no armário
Retirar traças e teias
E angústias da minha mente
Parar de sofrer
Por coisas tão pequeninas
Deixar de ser menina
Pra ser mulher
Hoje eu vou mudar
Por na balança a coragem
Me entregar no que acredito
Pra ser o que sou sem medo
Dançar e cantar por hábito
E não ter cantos escuros
Pra guardar os meus segredos
Parar de dizer
"Não tenho tempo pra vida
Que grita dentro de mim
Me libertar"
Hoje eu vou mudar
Sair de dentro de mim e não usar somente o coração
Parar de cobrar os fracassos
Soltar os laços
E prender as amarras da razão
Voar livre com todos os meus defeitos
Pra que eu possa libertar os meus direitos
E não cobrar dessa vida
Nem rumos e nem decisões
Hoje eu preciso e vou mudar
Dividir no tempo e somar no vento
Todas as coisas que um dia sonhei conquistar
Porque sou mulher como qualquer uma
Com dúvidas e soluções
Com erros e acertos
Amor e desamor
Suave como a gaivota
E ferina como a leoa
Tranquila e pacificadora, mas ao mesmo tempo
Irreverente e revolucionária
Feliz e infeliz
Realista e sonhadora submissa por condição
Mas independente por opinião
Porque sou mulher com todas as incoerências
Que fazem de nós um forte sexo fraco
Eu preciso mudar
Eu preciso, eu preciso mudar (eu vou mudar)
Fonte: LyricFind
Compositores: Sergio Antonio Sa De Albuquerque / Vanusa Santos Flores
Letra de Mudanças © Universal Music Publishing Group