quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Surpresa de Natal



Para Afonso e Bernadete, mais de trinta anos de casamento se desfizeram num piscar de olhos. Como isso aconteceu sem que Bernadete percebesse que algo não estava bem? Que o relacionamento dos dois vinha se deteriorando ao longo do tempo? 
Trancada em seu quarto no dia de Natal, ela não parava de pensar na sua vida. Aos quarenta e seis anos de idade, sentia- se a pior das mulheres.
Sua filha mais velha, Laís, uma moça de vinte e nove anos era casada e morava na cidade vizinha. Israel, o filho caçula estudava fora e só voltava nos feriados prolongados. Naquele final de ano estavam em casa para passarem o Natal em família. Mãe e filha, preocupadas com a ceia, não perceberam o distanciamento de Afonso. Nem se deram conta que ele amanheceu o dia grudado no celular.
O genro e o filho do casal passaram o dia jogando vídeo game. No final daquela tarde, Afonso, um cinquentão, simplesmente arrumou algumas peças de roupa numa mala e saiu de casa sem ao menos dar satisfação. Quando Bernadete viu que ele estava saindo perguntou:
-Querido, você não tinha avisado que ia viajar hoje, na véspera de Natal. Aconteceu algum imprevisto na empresa?
-Por favor, me esqueça mulher. Comemore o Natal com seus filhos.
-Como assim? Não vai me dizer o que está acontecendo?
Afonso saiu batendo a porta, deixando para trás a mulher com o rosto inundado pelas lágrimas que teimavam em cair. Ouvindo o barulho da porta os filhos e o genro correram para a sala para socorrê-la. Não estavam entendendo nada! Por que a mãe estava em prantos?
A única coisa que ela conseguiu falar foi que o marido tinha ido embora. Assim como eles, não sabia de mais nada. Só sabia que Afonso tinha sido ríspido com ela e gritado ao sair porta a fora. 
Enquanto a mãe se trancou no quarto para chorar, Laís ligou para um amigo do pai e perguntou se ele sabia de alguma coisa.  Contou o que tinha acabado de acontecer. O amigo do Afonso, disse então, que sabia que ele estava se correspondendo com uma moça pela internet. Como amigo, tentara fazer com que Afonso parasse com aquilo, que tomasse juízo, mas ele nem quis ouvir os conselhos.
Laís fez muitas perguntas e o amigo do pai não conseguiu respondê-las. Sabia poucos detalhes sobre aquele romance virtual. Contou que tinha ouvido uma conversa dos dois por telefone. Como contar para sua mãe? Contou para o marido e para o irmão  e decidiram abrir o jogo com ela. Se ela tivesse que sofrer que sofresse logo de uma vez.
Bernadete ficou inconformada. Por que seu marido tomara aquela decisão justo naquele dia? E por que ela nunca desconfiara de nada? Lembrou que muitas vezes ela ia dormir e ele ficava no computador ou mexendo no celular. Jamais passou pela sua cabeça que ele estava mantendo contato com alguém. Pensou que fosse algo relacionado ao trabalho.
Como seria dali para a frente? Como viveria sem ele? Depois que a filha casou e o filho foi estudar fora, a casa ficou muito grande para os dois. E agora somente para ela, seria enorme! Pegou o álbum de casamento e a cada página que virava as lágrimas aumentavam. A imagem dela caminhando de braço dado com o pai ao encontro do futuro marido, invadiu a sua mente. Dois jovens apaixonados que juraram amor eterno! Ela ainda continuava apaixonada por ele ou será que era apenas comodidade?
Certamente, Afonso deixara de amá-la sem que ela se desse conta. Mas, aceitar aquela traição justamente numa data especial como o Natal? E quem era essa fulana que o iludiu? O que ela fez para que ele tomasse aquela atitude? Muitas dúvidas invadiram seus pensamentos. Há quanto tempo ele mantinha aquele relacionamento virtual? O que ela fizera para que um homem na idade dele perdesse o juízo? E o trabalho? Ele estava abandonando tudo, a família e a empresa onde trabalhava.
Os filhos sem saber o que fazer deram um calmante a ela para que dormisse um pouco. Quem sabe no dia seguinte ela amanheceria melhor, mais conformada. Quem sabe aquilo tudo não passasse de um pesadelo? Eles tinham esperança de que o pai voltasse e pedisse perdão. Esperança de que o pai descobrisse que fora vítima de alguma armadilha e que estava arrependido.
Já tinham ouvido muitas histórias de pessoas que mantinham contato com outras, através da internet e que foram enganadas, roubadas e até mesmo assassinadas. Mas o pai não se encaixava naqueles perfis. Tinham pena da mãe, mas como ajudá-la?
No dia seguinte, o assunto já se tornara de conhecimento da vizinhança. Para Bernadete só restava erguer a cabeça e aceitar aquela súbita separação. Com o coração em frangalhos ela sorriu para os filhos na hora do café e jurou que ficaria bem. Iria pensar mais em si, arrumar um trabalho e tocar a vida. Seria uma mulher independente, mostraria para todos que era capaz de sobreviver sem o marido.
Outros natais viriam e apagariam a lembrança daquele triste dia em que viu o marido saindo de casa para se encontrar com uma desconhecida. Ela ainda tinha os filhos que a amavam e nada mais importava. O amor deles era suficiente para fazê-la feliz!



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sonho realizado



Menino do interior de Minas Gerais, João Carlos sempre gostou de ouvir música. Qualquer tipo, não tinha preferência, contanto que fosse música boa. 
Conforme os anos foram passando, seu gosto musical foi ficando cada vez mais apurado. Ele começou a cantarolar acompanhando as músicas que ouvia.
Aos onze anos, seus pais descobriram que a voz dele era bonita e agradável. Eles conversaram com o pastor da sua igreja e a partir desse dia, João Carlos começou a fazer parte do coral infantil.
Todos os fiéis gostavam de ouvir a voz daquele menino. Parecia a voz de um anjo envolvendo-os com a suave melodia, no decorrer dos cultos. 
Como muitas crianças, João Carlos tinha um sonho, queria ser um cantor famoso. Imaginava-se na TV e fazendo shows pelo Brasil a fora.
Seus pais sabiam que morando onde moravam, era um sonho impossível, mas, mesmo assim faziam o que podiam pelo filho. Quem sabe, um dia, as coisas poderiam mudar?
Enquanto isso, João Carlos cantava na igreja e na escola, quando tinha algum evento. Além de cantar bem, ele era um ótimo aluno. Só tirava notas boas.
Aos quinze anos, começou a cantar para os idosos que viviam no asilo. Fazia sucesso entre eles.
Seus amigos faziam inúmeras coisas para passar o tempo.  Alguns jogavam futebol, vídeo game ou simplesmente viviam grudados no celular. João Carlos dividia o tempo livre entre o coral da igreja e o voluntariado no asilo, onde era o voluntário mais dedicado.
Sua maior alegria era ver o sorriso no rosto de cada idoso ao ouvir a sua voz. E foi ali naquele lugar que ele conheceu o seu anjo da guarda.
Numa tarde de domingo, quando os familiares estavam visitando seus entes queridos, Claudionor, neto de uma das internas, ouviu a voz de João Carlos e ficou maravilhado. Prometeu ajudá-lo. Ele era advogado na capital e tinha alguns contatos.
Naquele dia, João Carlos voltou para casa, radiante. Contou a novidade aos pais que o abençoaram. Eram pessoas firmes na fé. Tinham a certeza que dali para frente o filho teria o sonho realizado.
Três meses depois, chegou uma carta, do Claudionor, dizendo que havia inscrito o jovem num programa de calouros na TV. A alegria tomou conta da casa. A família contou para toda a vizinhança.
No dia combinado, João Carlos partiu para a capital com o pai. Claudionor esperava-os na rodoviária. Começava ali a realização de um sonho para aquele rapaz do interior.
Quando o programa começou e o nome de João Carlos foi anunciado, seus amigos, seus vizinhos e os idosos do asilo aplaudiram o rapaz.
O jovem conquistou os jurados e chegou ao final do concurso. Ganhou o primeiro lugar e a chance de gravar um CD, além de um prêmio em dinheiro.
Graças a sua força de vontade, fé e a ajuda do Claudionor que se tornou seu empresário, João Carlos se tornou um cantor de sucesso. Sua música alcançou o primeiro lugar no rádio e seu vídeo clip o mais visualizado nas redes sociais.
Seus pais ganharam uma casa nova. O asilo ganhou uma boa contribuição. Seus amigos de colégio eram os maiores fãs.
A única exigência dos pais era que o filho não descuidasse dos estudos. Queriam que ele tivesse um diploma, caso a fama fosse passageira. Mesmo acreditando no dom do filho, se preocupavam com o futuro.
Claudionor e a esposa não tinham filhos e passaram a cuidar do João Carlos como se fosse um filho.
Apesar do sucesso, João Carlos continuou sendo um jovem humilde. Sentia prazer em transmitir alegria  às pessoas com a sua bela voz. Cada vez que pisava no palco a emoção invadia sua alma e cantava com o coração.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Um conto diferente

Desta vez resolvi escrever algo diferente. Pensei em falar sobre as maravilhas criadas por Deus, as belezas naturais de Fortaleza, Ceará.
Na terceira viagem, mais uma vez, fiquei encantada com o pôr do sol visto através da janela do avião.

Viajei numa excursão com cerca de sessenta pessoas, cada uma procurando ficar próxima da outra de acordo com as afinidades.
Amigas que já conheciam a cidade e voltaram novamente. Pessoas de idades variadas, todas bem dispostas e felizes por terem uma semana de aventuras e mordomias.
Houve, também, o reencontro de amigas que não se viam desde a época do magistério e tiveram a oportunidade de trocar o telefone.
Passeios bonitos, bem direcionados pela guia Juju, que soube apresentar os pontos turísticos com maestria.
Ela começou o tour pela cidade falando sobre o litoral (leste e oeste) e a costa do sol poente. Falou também sobre a praia de Iracema, a praia do Meireles e a praia Beira Mar, entre outras. Contou, ainda, algumas histórias sobre os costumes e linguajar do povo cearense e a curiosa história do bode iôiô.
Conhecemos também a praia do Cumbuco e de Iracema, esta última, de frente para o hotel onde ficamos hospedados. Ao acordar e olhar pela janela do quarto, a vista era estonteante.


Ah, e o que falar da praia do Beach Park? Um lugar magnífico, de tirar o fôlego. Excelente para passar o dia sob a sombra dos coqueiros, tomando uma cerveja ou uma água de coco.



Outro passeio muito bom foi a praia da Lagoinha, com os percursos de bug pelas dunas; catamarã para atravessar a Lagoa da Almécegas e o pau de arara para mostrar um pouco da região agreste e da vegetação nativa. O banho na lagoa de água cristalina! As mangas deliciosas caídas no chão! Enfim, a praia paradisíaca com toda sua beleza!

O passeio na praia de Canoa Quebrada, feito de bug nas dunas, com os cabelos ao vento foi maravilhoso. Algumas pessoas se aventuraram na tirolesa, enquanto eu preferi apenas olhar e fotografar. A caminhada entre o labirinto das falésias na praia do Morro Branco, no município de Beberibe, foi espetacular. Ainda hoje, quando olho as fotos, não acredito que estive lá, que admirei de perto tão bela obra da natureza.

Essas imagens ficarão para sempre gravadas na minha memória. Sei que não há palavra que defina tamanha beleza. Só mesmo quem conheceu a cidade e aqueles que moram lá e tem o privilégio de fazer parte de tão lindo cenário, entendem a minha admiração.
Não posso esquecer da noite do forró com a apresentação da quadrilha e ainda, numa outra noite, o show humorístico. Lazer e entretenimento de ótima qualidade.