domingo, 27 de novembro de 2016

01- Crime perfeito


Numa pequena cidade do interior, vivia um casal que, aparentemente, se dava muito bem. Cassiano e Belinda moravam numa casinha simples à margem de um riozinho. Não tinham amigos, apenas alguns conhecidos que encontravam quando iam à feira ou ao mercado. Desde que chegaram ali, há dez anos, viviam apenas para o trabalho, não tinham vida social. Ele era escritor e ela artesã, além de dona de casa. Era um casal sem filhos.

As pessoas sentiam um pouco de curiosidade, mas, não tinham como saber alguma coisa a mais sobre os dois, pois, eram muito discretos. Os únicos visitantes que os viam, de vez em quando, eram o carteiro e uma faxineira. Belinda pouco falava com Rosa, a faxineira e Cassiano mal olhava para o carteiro, apenas recebia a encomenda sem trocar mais de duas palavras.

Num dia chuvoso, de inverno, saíram de madrugada para ir à capital. Cassiano parou no posto para abastecer o carro e o frentista puxou conversa, mas ele foi antipático com o rapaz. Belinda estava com a cabeça encostada no banco, com os olhos fechados. Acordaram muito cedo e ela estava com sono.

Quando os dois chegaram à Capital, se instalaram num hotel simples. Cassiano não queria ser reconhecido, afinal, havia sido um escritor famoso. Estava conseguindo viver no anonimato, porque, no lugar que escolhera para viver, os poucos habitantes não tinham o hábito de ler. O passatempo deles era a televisão e fazia tempo que ele deixara de aparecer na TV.

Assim que entraram no quarto do hotel, Belinda se transformou. Nem parecia mais com a velha companheira dos últimos tempos. De repente, se tornou uma pessoa chata, autoritária e egoísta. Cassiano ficou sem entender aquela mudança repentina. O que estava acontecendo com ela?

– Bel, por que você está se comportando dessa maneira?

– Eu preferia ter ficado em casa, não quero vê-lo rodeado de mulheres.

– Minha querida só nós dois estamos aqui. Não há e nunca houve mais ninguém.

– Pensa que não reparei como aquelas moças da recepção olharam para você?

– Nem notei! Você está imaginando coisas. Só viemos para cá porque tenho uma reunião com o meu agente.

– Por que ele não foi se encontrar com você na nossa casa como das outras vezes?

– Ele não pôde e eu trouxe você comigo para que se sentisse mais segura.

Belinda era uma mulher ciumenta e possessiva. Foi por isso que Cassiano resolveu morar numa cidadezinha do interior do estado. Ele a amava muito e se davam bem quando estavam sozinhos. Enquanto ele escrevia, ela saía para fazer as compras e cuidava dele com carinho.

Já se arrependera de levá-la junto, pois, sabia que aquele final de semana seria um inferno. Ele já passara por isso algumas vezes antes da mudança. Chegara ao ponto de pedir a separação e só mudara de ideia, porque, ela prometera que não faria mais ele passar vergonha diante dos amigos.

Durante dez anos ela mantivera a promessa, pois, viviam longe das pessoas. Chegaram a cortar relações até mesmo com os únicos parentes, uns primos de segundo grau. Esses parentes chegaram a telefonar algumas vezes, porém, Cassiano sempre inventava alguma desculpa para não recebê-los. Cansado das insistências, ele trocou o número do telefone.

Naquela noite se encontraram com o agente e sua secretária no restaurante do hotel. Bastou Cassiano fazer um pequeno elogio à moça para que Belinda virasse uma fera. Levantou-se e foi para o quarto sem terminar seu jantar. Cassiano continuou a conversa e depois que resolveram o assunto sobre seu novo livro, despediu-se e foi para o quarto. Chegando lá encontrou uma mulher transtornada que acabou tirando-o do sério. Ele havia bebido demais e num acesso de raiva apertou o pescoço dela e a sufocou. Não queria ouvir a sua voz. Em seguida, colocou-a na cama e deitou-se ao seu lado.

No dia seguinte, quando acordou e viu que a esposa estava morta, ficou desesperado. Ele não queria ter feito aquilo e também não queria ser preso. Então, a única coisa em que pensou foi ocultar o corpo. Depois que se acalmou, desceu para o café e saiu em seguida para comprar um facão e uma mala.

Cortou o corpo em pedaços e colocou-os dentro da mala. Não deixou nenhum vestígio no quarto. Preocupou-se com os mínimos detalhes. Na saída do hotel quando perguntaram pela esposa, na recepção, ele disse que ela havia saído bem cedo, antes do café, para se encontrar com uma amiga.

Quando ele fez o checkout, não era o mesmo funcionário que os recebera. O moço nem se deu ao trabalho de questionar qualquer coisa. Estava mais preocupado com alguma coisa que via no celular. No caminho de volta para casa, Cassiano parou sobre uma ponte e assim que viu que não vinha ninguém, jogou a mala no rio. Ele tivera o cuidado de deixar o corpo irreconhecível.

Na segunda-feira, quando a faxineira perguntou pela patroa, Cassiano contou que ele e a esposa haviam viajado no final de semana e que ela ficara na Capital para cuidar de uma amiga que estava doente. Rosa acreditou nele, afinal, não tinha motivo para desconfiança.

Ele já tinha tudo planejado. Ficaria ali por mais um mês e depois falaria à faxineira que a esposa pedira o divórcio e ele iria morar no exterior. Diria apenas isso. Talvez, no futuro escrevesse um livro de suspense sobre o assunto.

Não era fácil fingir que tudo estava bem. Precisava ser frio e calculista para manter aquele momento de desatino em segredo. O ciúme exagerado da sua esposa tirava-o do sério, porém ele não queria ter chegado ao extremo. Por que fizera àquilo? Teria que viver com aquela culpa para o resto da vida. Mas, também, não pretendia passar a vida numa prisão.

Durante um mês ele agiu como sempre, como se nada tivesse acontecido. Se a faxineira pedia notícias da patroa, dizia que ela estava bem. Não viu nenhuma notícia sobre o corpo da esposa nos jornais. A correnteza, provavelmente, deve ter levado a mala com o corpo para longe.

Numa certa manhã, quando a faxineira chegou e viu as malas prontas na sala, Cassiano falou que estava indo embora. Iria se encontrar com Belinda para assinar o divórcio e depois cuidaria da sua vida. Não pretendia continuar morando ali sem ela. Ele dispensou a faxineira, fechou a casa e saiu sem olhar para trás.

Rosa, a faxineira ficou olhando para aquele homem que sempre cobiçara e pensou: "que desperdício!"

Será que Cassiano conseguirá viver com a consciência tranquila depois de cometer tamanha atrocidade?

Caros leitores estou me aventurando em mais uma história sequenciada, atendendo alguns pedidos. Espero que gostem e que acompanhem dando suas opiniões.

Muito obrigada pela visita!
Abraços,
Cidália.


domingo, 20 de novembro de 2016

Inspiração

Sentada sob o pé de jabuticaba, com o tablet na mão e a gata ao meu lado, busco inspirações. Observo as flores com suas cores e beleza, todas plantadas pelo meu marido. Mudas compradas, trocadas ou roubadas (segundo os mais experientes quando a muda é roubada, não corre o risco de morrer). Ele tem verdadeira paixão pela natureza.

O quintal é pequeno, porém o amor pelas plantas é imenso. Estou sendo repetitiva. Tem pés de acerola, jabuticaba, figo, coco, lichia, amora, morango, cheiro verde, ervas finas, capim limão, menta e muitas flores. Entre elas, onze horas, rosas, hibisco, petúnia, bromélias, camarão amarelo e vermelho.

Esse lugar é onde gosto de sentar para ler ou escrever. Uma música vinda da casa do vizinho me distrai por alguns segundos. Logo em seguida meus olhos seguem uma borboleta que sobrevoa as flores. Ouço o canto dos pássaros!

De repente, lembro do carinho recebido da minha neta, no final de semana anterior. O carinho transmitido através de um abraço tão apertado, agarrado, que vale muito mais que mil palavras. Um abraço significativo, carinhoso, carregado de amor. Amor que acalenta a minha alma. O sorriso doce de uma menina meiga e amorosa se faz presente na minha lembrança. Um sorriso que alegra meus dias quando estou ao seu lado.

O vento balança as folhas das árvores, os pássaros se calam, o estômago ronca. Está na hora do café da tarde. A gata dorme, tranquilamente, sentindo a leveza do dia. Talvez por causa da brisa, sinto uma moleza. Ou quem sabe, seja porque acordei muito cedo. Alguém que passou em frente à minha casa tocou o interfone às seis e meia da manhã. Coisas de algum moleque que não tem o que fazer!

Interrompo meus pensamentos e vou fazer o café. O cachorro late pedindo o pão. Após o café volto para o jardim. A gata? Continua a dormir embalada pelo canto dos passarinhos que começam a cantar novamente. Sento-me ao lado dela para aproveitar a tarde. Nesse momento, o barulho que me cerca é apenas o som de algumas vozes na casa do vizinho. E as ideias? Aos poucos vão surgindo e tomando conta da minha mente.

Mais uma vez, o canto dos pássaros se torna mais alto e eles voam de galho em galho. Paro de digitar e começo a observá-los. Tenho o privilégio de escrever ao som puro e cristalino dos passarinhos. Que bênção! O entardecer é magnífico! Vejo a imagem de Deus na beleza das flores!
E ao me perguntar o porquê de certas coisas acontecerem, não encontro as respostas, sei apenas que tudo acontece por um motivo. Devemos aceitar sem questionar!

Hoje dei uma pausa nas histórias e resolvi postar apenas este texto. Uma ótima semana a todos!
Obrigada pela visita!
Beijos,
Cidália.

 
 
 
 
 

domingo, 13 de novembro de 2016

Em busca da felicidade ll


 No começo tudo ia bem, sentiam-se atraídos um pelo outro. Passado algum tempo, o comportamento do Rogério foi mudando. Selma começou a refletir: "Insistir naquilo que já não existe, é como calçar um sapato que não te cabe mais nos pés! Machuca, causa bolhas, chega a carne viva e sangra. Então melhor é ficar descalça. Deixar livre o coração, enquanto vive… Deixar livre os pés, enquanto cresce… Porque quando a gente cresce o número muda."

Ah, como era difícil tomar uma decisão! Ao mesmo tempo que pensava em desistir, temia se arrepender mais tarde. No fundo ela o amava, só precisava ter certeza do amor que ele sentia por ela. Voltar a viver sozinha já não a atraía. Sabia que não podia viver com as filhas, cada uma tinha a sua vida. Teria que ter uma conversa franca com Rogério para tomar uma atitude.

Admirando a paisagem no final do dia, Selma pensa na sua vida, revê sua atitudes. A conversa que tivera com Rogério só deu-lhe a certeza de que estava na hora de voltar para sua casa e sua família. Não agiu precipitadamente. Cansou de ser durona, dar conta de tudo, passar a mão na cabeça do seu companheiro. Resolveu pensar mais em si, se cuidar, voltar a ser a mulher vaidosa de antes.

Lá no fundo, bem fundo do seu coração, sentia uma certa saudade. Mas, aquela saudade, rapidamente se extinguia. Quando fora morar com seu companheiro, num outro Estado, achava que tinha encontrado sua alma gêmea. Depois de muitas tentativas de ser feliz, pensara ter encontrado seu verdadeiro amor. Fizera planos. Acreditara que a vida, enfim, lhe sorria!

Durante alguns meses vivera momentos de felicidade junto ao homem perfeito. Ele conquistara sua família. Os dois formavam um lindo casal. Ambos de meia idade, com muita vontade de viver, de compartilhar alegrias e sonhos.

Infelizmente, após algum tempo, ela descobriu que o sonho dele não era o mesmo dela. Selma sonhara com uma vida tranquila, viagens, passeios. Ele, por sua vez, queria montar um negócio próprio. No auge da idade, quando teve oportunidade de realizar seu sonho, deixou a oportunidade passar. Gastou, desperdiçou todo o dinheiro que teve em suas mãos. Agora, era para ser um empresário bem sucedido.

Mas, isso não aconteceu. Pelo contrário, não havia estabilidade, ele perdera o emprego e esperava sentado que seu antigo sonho fosse realizado. Era ela quem bancava as despesas, fazia seu trabalho como diarista para completar a pensão a que tinha direito. A pensão que recebia pela morte do marido. Ao invés dela encontrar alguém que acrescentasse algo a sua vida, era ela quem estava acrescentando na vida dele?

Selma chegara à conclusão de que tinha o dedo podre para encontrar alguém. Estava na hora de se acostumar com a solidão. De viver perto da família. De reencontrar sua vaidade, de cuidar da saúde.

Nos primeiros dias não é fácil! Ele manda mensagens, telefona. Diz que sente a falta dela, que a ama. Diz que precisa dela ao seu lado. Diz que não conseguirá viver sem ela. Ela sequer responde às mensagens ou atende os telefonemas. Se ele a amava e não queria perdê-la, porque deixou que ela viesse embora?

Talvez ele não tivesse acreditado quando ela dissera que iria embora. Só caiu em si quando viu o caminhão chegar para buscar a mudança. O que ele não sabia era que ela era uma mulher de fibra, de palavra. E ela estava cansada daquela vidinha oferecida por ele. A decepção a fizera enxergar que aquele homem não era o companheiro que desejara para viver até o fim da vida.

Na nova casa, Selma pensa em tudo o que viveu até o momento, nos dias de tristeza e amargura. Embala aqueles sentimentos e os enterra bem no fundo de uma gaveta junto com algumas fotografias. Joga a chave da gaveta no lixo! Seu lema de agora em diante será, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

E se aparecer um novo alguém? Ela não vai procurar, mas se acaso acontecer, quem sabe? O futuro a Deus pertence! Se for alguém para compartilhar as alegrias da vida, será bem vindo.

Será que Selma tomou a melhor decisão para sua vida?

Deixe a sua opinião e leia os demais contos, acessando http://contosdacabana.blogspot.com.br/

 Muito obrigada pela visita!
Abraços,
Cidália.

domingo, 6 de novembro de 2016

A Casa ao Lado (Fim do mistério)

Com a descoberta da arma na casa do casal, que alegara não possuir armas, a polícia voltou a investigar marido e mulher. A arma estava registrada no nome do pai do Luiz, falecido há algum tempo. Luiz não tinha como negar a autoria do crime. Naquele dia ele tinha tudo planejado, quando os convidados estivessem entorpecidos pela droga, ele atiraria no Roberto, sairia de fininho e esconderia a arma no quarto dos filhos. Se alguma das crianças acordasse e o visse ali, diria que tinha ouvido choro e fora verificar se estavam bem. Célia entreteria os convidados que não perceberiam a sua ausência. E foi exatamente assim que aconteceu. Luiz agiu com tamanha eficiência que ninguém percebeu sua saída e quando a polícia chegou, ele já estava ao lado da esposa.

Qual fora o motivo? Com o andamento da investigação, Luiz teve que confessar o que o levou a cometer aquele crime. Roberto tinha se infiltrado na sua casa para conquistar a sua clientela. Além disso, estava devendo uma boa grana ao casal. A sua intenção fora tirar Roberto do páreo. Se tivesse ouvido o José (Elias), o jovem ia acabar morrendo de overdose. Porém, ele percebera que o Roberto era muito esperto e ao invés de usar toda aquela droga, ele a repassava e aumentava a sua renda. Ao frequentar a casa do Luiz e da Célia, fazia amizade com os demais convidados e oferecia a eles a droga por um valor menor. Aqueles que se tornavam seus clientes deixavam de frequentar a casa do casal.

Desde que o movimento começara a diminuir, o casal passara a observar o Roberto. Ele era muito simpático com os convidados. Com seu jeito de bom moço, agradava a todos que o cercavam. Principalmente, as moças desacompanhadas. Moças da classe média, viciadas, que frequentavam aquele ambiente em busca da droga.

Luiz e Célia estavam afundados num mar de lama. Desde o dia em que optaram por aquela vida incerta, priorizaram o poder, o dinheiro fácil. A família foi negligenciada. As crianças ficaram em segundo plano. Célia era cúmplice do marido e pouco se importava com os filhos, que aprenderam a se virar sozinhos.

Puxada a ficha criminal do casal, pequenos furtos foram descobertos. Luiz fora preso por roubo a mão armada, logo que completara a maioridade. Cumprira a metade da pena por bom comportamento. Célia era cleptomaníaca e até mesmo dos convidados já havia furtado alguns objetos. Na adolescência dera muito trabalho aos pais.

Seu Joaquim, após confessar seu segredo aos pais da Eloísa e de ouvir a confissão da d. Gertrudes, selou um acordo com eles. Ambos deveriam esquecer o erro cometido e tocar a vida dali em diante. Ele diria à polícia, se fosse necessário que, depois do que passou não tinha mais importância saber quem havia escondido a arma na sua casa. O crime já fora solucionado, os verdadeiros culpados estavam presos. O tempo em que ele ficou encarcerado não seria deletado da sua vida. O melhor a fazer seria esquecer aquele episódio. Tudo acabara bem e a amizade entre ele e os vizinhos estava mais forte. D. Lúcia ficou de apresentar a ele uma amiga, viúva, que estava querendo casar.

A Eloísa estava reagindo bem ao tratamento e teve alta. Voltou a estudar e no tempo livre ajudava o pai no armazém. Arrependeu-se de tudo o que fizera e prometeu a si mesma e aos pais que não deixaria se iludir por ninguém. Os meses sombrios vividos por ela ficariam enterrados no passado. Lembraria do Roberto com saudade, porém deixou de lamentar a sua morte precoce. Cada um colhe o que planta. Graças ao carinho e paciência dos pais, ela teve a chance de virar aquela página e seguir em frente com determinação e coragem. Um novo amor? Quem sabe! Talvez, depois de formada, se encontrasse alguém que valesse a pena, entregaria seu coração.

Sua mãe continuou como voluntária na clínica. Ela gostava do seu trabalho e era muito dedicada aos pacientes. Pensou em voltar a fazer um curso de enfermagem. Assim poderia fazer uma carreira. Era uma mulher de meia idade com muita disposição.

D.Lúcia voltou a fazer seus trabalhos de artesanato e o silêncio reinante na casa ao lado, às vezes era assustador. Durante as noites ela acordava, sobressaltada, com o barulho do tiro. Parecia real! Só depois de algum tempo ela se dava conta de que era fruto de um pesadelo.

- Querida - dizia o marido - A casa está vazia, até agora ninguém se interessou em alugá-la, lembra?
Com um afago em seu cabelo, ele a fazia dormir novamente. Mas, d. Lúcia, apesar de saber que havia ajudado a polícia a desvendar o mistério daquele homicídio, sem colher os louros pela façanha, pensava na arma que encontrara na casa do seu Joaquim. Quem a escondera e por quê? Jamais saberia!

A casa ao lado, virou um casarão abandonado. Quando aparecia alguém para alugá-la e ficava sabendo do ocorrido, desistia na hora. Ninguém queria morar numa casa onde um jovem fora assassinado. O silêncio voltou a reinar nas noites dos habitantes. A vida seguiu seu curso. Aquele barulho ensurdecedor que perturbara os moradores durante muito tempo, era apenas uma vaga lembrança.

Enquanto os culpados pelo crime, Luiz e Célia, pagavam pelo que fizeram, seus filhos viviam tranquilamente com os avós maternos. Levavam a vida como todas as crianças da mesma faixa etária. Nem tocavam no nome dos pais.

O advogado do Elias conseguiu libertá-lo, somente, depois de alguns anos. O amor tem o poder de transformar uma pessoa e ele cumpriu a promessa. Começou a trabalhar no oficina com o pai e a frequentar uma igreja. Queria mostrar para a Eloísa que ele era uma pessoa melhor. Não forçaria a barra, deixaria o tempo seguir. Acreditava no destino. Se tivesse que rolar um clima entre os dois, mais cedo ou mais tarde, rolaria. Aprendera a ser paciente na prisão.

Seu Joaquim encontrou a companheira que estava procurando, a amiga da d. Lúcia, uma senhora distinta. Casaram-se numa cerimônia simples com a presença dos amigos mais chegados.



Enfim, a história chegou ao seu final. Agradeço a todos os leitores que acompanharam a trama!

Segue os links para quem quem perdeu algum capítulo:

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A Casa ao Lado (Confissões)




Seu Joaquim foi socorrido pelos vizinhos que chamaram a ambulância e o levaram ao hospital. Internado, passou por vários exames e d. Lúcia só foi embora quando ficou sabendo que ele não corria risco de morte. Ela e o marido, compadecidos, revezaram no acompanhamento do vizinho. Seu Joaquim não soube e nem ficará sabendo da dívida que ela tem com ele. Afinal, foi ela quem o denunciou à polícia. Sem querer, foi cúmplice da dona Gertrudes. Se ela não tivesse entrado na casa dele, o pobre homem não teria ficado na cadeia. Talvez o caso tivesse tomado um rumo diferente. Ele estaria na casa do irmão e a polícia concluiria a investigação sem a interferência de ninguém.


Na delegacia, o funcionário que a atendeu, chamou o investigador e disse que tivera um sonho estranho. Nesse sonho ele estava num quarto de crianças e no momento em que pegara uma caixa para tirar um brinquedo, encontrara um revólver. O investigador acreditava que os sonhos eram significativos. Logo, pensou que se aquele homem fora contar justo a ele sobre o sonho, não custava verificar, novamente, o local do crime. Lembrou -se do sonho que sua esposa tivera que se tornara real. Imediatamente, saiu para averiguar.

Após a arma ser encontrada e levada à delegacia, o exame de balística foi providenciado, dessa vez, com urgência. Finalmente a investigação terminou. O que diferenciava as duas armas, aquela roubada do seu Antônio e a outra encontrada no quarto das crianças, era o número de série.

Eloísa, enfim, teve que se conformar com a morte do amado. Agora, a par de todas as informações, aguardava ansiosa que o crime fosse solucionado. Esperava que o assassino pagasse caro por ter tirado a vida do seu namorado. Aos poucos ela se recuperava e com o amor dos seus pais, logo ficaria totalmente curada. Sua mãe, com a alma destroçada pelo remorso, por quase ter tirado a vida de alguém e ainda por cima, incriminar seu Joaquim, se ofereceu para ser voluntária na clínica. Assim, além de estar perto da filha poderia ajudar outras pessoas. Alguns segredos jamais seriam revelados, pensou. Sua filha, certamente, não a perdoaria se soubesse que ela tentou matar o Roberto.

Talvez a polícia descobrisse o assassino e esquecesse de investigar como a arma fora parar na geladeira do seu Joaquim. Como àquela não era a arma do crime, deixaria de ter importância. A não ser que o vizinho fizesse questão de saber quem estava querendo prejudicá-lo e porquê.  D.Gertrudes fez uma promessa ao marido de que se tudo terminasse bem, sem ela ser indiciada pelo que fez, confessaria ao vizinho e pediria perdão a ele.

D. Lúcia, contava as horas para que o assassino fosse pego. Uma pessoa sem escrúpulos, sem coração. Esconder a arma no quarto das crianças tinha sido monstruoso. Se uma das crianças tivesse acordada naquele momento, o que ela teria feito? Sua língua coçava, tal era a vontade de contar ao marido o que sabia. Seu marido mostrava-se alheio àquele caso, não queria se envolver com a polícia. Se ele  não estivesse ao lado dela quando ouviram o tiro, pensaria nele como o assassino. Naquela altura, qualquer um poderia ser o autor do crime.

Pensamentos à parte, seu marido era uma pessoa do bem, incapaz de matar um inseto. Ele nunca havia gostado de confusão, era o tipo de pessoa que preferia aguentar um desaforo do que revidar. Um homem humilde, trabalhador e solidário. Estava empenhado na recuperação do seu Joaquim. Se compadecera com o sofrimento do vizinho. Dali em diante, daria assistência permanente ao pobre homem até que ele ficasse totalmente restabelecido. D. Lúcia cuidaria da limpeza da casa e da alimentação.

Na prisão, o Elias planejava o seu encontro com a Eloísa assim que estivesse livre. Com o tempo ocioso que fazia parte da sua rotina desde o dia em que fora preso, ele pensava em mudar seu estilo de vida se Eloísa aceitasse-o. Por ela seria capaz de abandonar o tráfico e fazer as pazes com a família. Poderia trabalhar com seu pai no oficina.  Ele entendia muito bem de carros. Faria o possível para que a moça se apaixonasse por ele.

Seu Joaquim saiu do hospital e voltou para sua casa, limpa e organizada pela vizinha. Os demais moradores da rua o receberam com alegria e com muita comida. Após o almoço, quando todos foram para suas casas, d. Gertrudes e seu marido ficaram para cumprir a promessa dela. Precisa fazer isso logo, seria um peso a menos para a sua consciência.

- Seu Joaquim, eu e minha esposa estamos felizes com a sua recuperação. Ela precisa contar algo de muito feio que fez ao senhor.
- Antes de abrir meu coração, quero que saiba que o senhor pode me denunciar ou me perdoar. Agi muito mal. Nem sei se eu me perdoaria se estivesse em seu lugar.

D. Gertrudes contou tudo o que fez e o motivo que a levou a cometer tamanha atrocidade com ele. Se ele tivesse morrido, nem sabe o que teria sido dela. Estava ciente de que o amor pela filha não justificava a maldade que cometera.

Ouvindo aquela confissão, seu Joaquim olhou bem dentro dos olhos daquela mulher e bradou.
- Sabe por quê eu olhava atravessado para a senhora? Porque não sou um santo como imaginam. Sua filha me pediu dinheiro emprestado e eu a assediei. Quis me aproveitar da situação ao invés de aconselhá-la, de ajudá-la. Pensei que ela tinha contado a vocês. Não sei se mereço o perdão pelo que fiz.

Pessoas comuns com defeitos e segredos, camuflados pela santidade? Será que os moradores daquela rua, não eram, exatamente, o que aparentavam ser? Ambos se perdoariam?

Depois de alguns capítulos a história está chegando ao final. Quem terá apertado o gatilho naquela noite? Um dos convidados? Quem desejava a morte do Roberto e por quê?
Não deixe de ler o último capítulo no domingo!


Grata pela visita,
Abraços,
Cidália.