domingo, 16 de julho de 2017

Vida às avessas VI (despedida)



Numa manhã chuvosa de outono, Sueli acordou as filhas com uma notícia triste. O avô querido das crianças tinha falecido. No velório, os tios que acolheram Ariana no passado apareceram, depois de tanto tempo sem visitar os pais. 

Aquele não era o momento para guardar ressentimentos. Sueli e Ariana trataram Jesuíno e a família educadamente.

- Meu irmão - disse dona Sueli - quero que saiba que sou muito grata a você e sua esposa por cuidarem da minha filha quando precisei de ajuda. Deus lhes pague. 

- Sentimos muito a sua falta, Ariana - disse a tia - principalmente da sua comida. Nesse momento, Jesuíno deu uma cotovelada na esposa e ela corrigiu. - quero dizer, sinto falta da sua companhia.

Mãe e filha se entreolharam e não responderam. Repararam que as gêmeas, filhas do casal, estavam acompanhadas por dois belos rapazes. Depois das apresentações souberam que elas estavam noivas de dois irmãos. Os rapazes tinham a diferença de três anos, um do outro, e eram de família rica.

Na hora de se despedir do avô, Ariana deixou as lágrimas, que haviam ficado presas durante muito tempo, rolarem abundantemente pelo rosto. Ela prometera a si, ainda quando menina, ao ter que render-se às humilhações na casa dos tios, que seria o último choro. Cumprira a promessa durante o tempo em que ficara com aquela família. Engolira o choro muitas vezes. Não precisava reprimi-lo agora.

Naquele momento de dor chorava pelo avô que não veria mais e não por ela. Isolou-se. Precisava ficar sozinha por algum tempo, por menor que fosse. Não queria o olhar de falsidade dos tios sobre ela. Nem pretendia chamar a atenção de alguém. Queria o silêncio como companhia. Queria pensar no avô, lembrar dos seus abraços e do seu cheiro.

Em meio à tristeza ninguém reparou nos olhares trocados pelo Jesuíno e sua esposa. Quando ele soube da morte do pai, comentou com a esposa que pretendia convencer os irmãos a venderem a casa dos pais. Assim cada um ficaria com uma parte do dinheiro. Ele levaria a mãe para sua casa, assim poderia cuidar da parte do dinheiro que caberia a ela.

- Ótima ideia, meu bem! Só que a sua mãe vai ficar no quartinho que era ocupado pela Ariana. Assim que as meninas casarem o quarto delas será transformado num quarto de hóspedes. 

- Não se preocupe querida, com o dinheiro que vamos pegar quero fazer uma reforma na casa. 

Assim que voltaram do funeral a família se reuniu na casa da matriarca e Jesuíno chamou os irmãos para uma conversa. Os netos levaram a avó para o quarto, ela precisava descansar.

As gêmeas, filhas do Jesuíno, voltaram para casa acompanhadas pelos respectivos noivos.

- O que vocês acham de vendermos esta casa? Posso levar a mamãe para morar comigo - disse o Jesuíno.

- Precisamos perguntar a opinião dela - falou Sueli - mas tenho certeza que ela vai preferir continuar morando aqui.

- Eu também penso que é a mamãe quem vai decidir o que fará de agora em diante - afirmou o Jurandir.

- Este não é o momento de decisões e vamos respeitar o luto - Jaime desabafou.

Iracema defendeu o marido:

- Jesuíno está preocupado com a mãe, ela não poderá ficar aqui sozinha.

Sueli olhou firme para o Jesuíno e sua esposa e falou:

- Vocês dois ficaram tanto tempo sem visitar o papai e a mamãe e agora estão preocupados? Ariana vai ficar aqui com ela e nos finais de semana eu e Elizandra viremos pra cá. Cuidaremos bem dela.

Diante daqueles argumentos, Iracema e Jesuíno se calaram, porém não esqueceriam o assunto.  Eles não pretendiam desistir sem tentar mais uma vez. Jesuíno precisava convencer sua mãe de qualquer jeito a morar com ele e sua família. Conversaria com ela a sós antes de ir embora. Tentaria fazer a cabeça dela. Precisava reconquistar a sua confiança. 

Jurandir, Jaime e Sueli perceberam o interesse do irmão. Ele só estava pensando no dinheiro e não no bem estar da mãe. O que ele e a esposa queriam era o controle da situação. 

Betina, esposa do Jurandir e Lourdes, esposa do Jaime, preferiram ficar neutras. As duas foram para a cozinha para fazer o jantar. Seria uma noite triste para a família, mas precisavam se alimentar.

O dia seguinte amanheceu ensolarado e Ariana que havia dormido com a avó, a levou para dar uma volta no quintal. As duas caminharam lentamente durante horas, e vez por outra a vovó se abaixava para tirar uma erva daninha de alguma planta.

Após o almoço os tios, Jaime e Jurandir e suas famílias iriam embora. José Carlos também acompanhou de volta o tio Jurandir. Só voltaria quando tivesse uma folga na escola.

Jesuíno e sua esposa deixaram para viajar no outro dia. Sueli não seria empecilho para a conversa dele com a mãe.

O que esses dois estavam tramando? Convencerão a vovó a fazer o que eles querem?

Aguarde o próximo capítulo!

Grata pela visita, abraços!!

Cidália.

Seguem os links dos capítulos anteriores para quem se interessar pela história.



PS: Autor do desenho, Marcos Wagner.









49 comentários:

  1. Gente, que história não ?
    a parte " Vocês dois ficaram tanto tempo sem visitar o papai e a mamãe e agora estão preocupados? Ariana vai ficar aqui com ela e nos finais de semana eu e Elizandra viremos pra cá. Cuidaremos bem dela."
    Parece muito o meu cunhado, que ele e minha irmã nunca vão ver meu pai e ano passado quando ele teve avc ( sobreviveu ) meu cunhado olhou pra ele ainda no hospital e pediu se meu pai ia vender as casas e o carro para repartir com os filhos. Eu fiquei muto brava, por isso entendo os outros irmãos.
    Essa história fala a verdade das famílias, que muitos filhos chegam perto só por interesse.

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    1. Olá, Ione!
      Muito obrigada pelo comentário e depoimento!! É bom saber que minha história reflete a realidade de algumas famílias!
      Beijos!

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  2. Genteee, acho que agora oficialmente achei um blog para acompanhar com histórias maravilhosasss!! Você ta dee parabéns por essa criação.

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    1. Oba!! Que ótima notícia, Joyce! Estou muito feliz com seu comentário!!
      Beijos!

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  3. Nossa adorei o post, seu blog é mara super acompanharei adoro esses textos. Beijos!!

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  4. Eu diria que essa é história é forte, é história assim que a gente aproveita bastante. Parabéns ❤️

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  5. Nossaaaaaaaaaaaaaaa gente que história foi essa Brasil :o amei demais...
    <3 continuaaaaaaaaaa




    http://blogpolianaribeiro.blogspot.com.br

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    1. Obrigada, Poliana, pelo comentário!
      Que bom que gostou da história!!
      Bjs!

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  6. Que história!!!! Amei

    https://lidianemalheirosblog.blogspot.com.br/

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  7. Estou emocionada e encantada com o seu talento! to chocada <3

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  8. E assim foi o desfeicho de Sueli...
    Amei e me emocionei muito!

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  9. Nossa, que o texto que eh amei.. é verdade assim o Brasil ne..
    Até o próximo texto..
    Bjo

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  10. Que interessante, parabéns pela ideia. Fiquei curiosa...

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  11. Às vezes a gente acha que essas coisas só acontecem em livros,mas cada vez mais nós vemos esse tipo de coisa na vida real.
    Adorei
    Bjs😘

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    1. Verdade, Lolla, infelizmente!!
      Fico feliz que tenha gostado, obrigada!
      Beijos!

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  12. Uma despedida é sempre difícil né, bem legal a história, aguardando a próxima parte para saber que tramas vem por aí. Beijos.

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    1. Sim, Beatriz, sem dúvida!!
      Que bom que você está gostando da história!!
      Obrigada, beijos!

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  13. Que Talento, adorei a história e ficarei ligadinha no próximo capítulo com toda certeza rs :) bjs...

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  14. Parabéns Cidália estou amando essa história que aliás aconteceu com minha vizinha no velório dela o filho passou a noite calculando por quanto ia vender a propriedade tem gente que não sabe o que é sentimento , suas histórias são parecidas com a realidade , parabéns ao desenhista .

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    1. Muito obrigada, Cleuza, pelo apoio de sempre!
      Pois é, tem pessoas que só se importam com o dinheiro!!
      Eu e meu sobrinho agradecemos!
      Beijos!!

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  15. Adorei, ja vou fica de olho no proximo. Realmente tem um talento enorme.❤ parabens

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    1. Olá, Fernanda, que bom que você gostou da história!
      Obrigada, bjs!

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  16. É real e oficial, achei um blog pra acompanhar história sensacionais, parabéns , sucesso♡

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  17. ah que historia bacana, num friosinho desse, muito boa de ler!

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  18. Cih, o que falar? Uma historia maravilhosa que já mexeu comigo ao ler esse capitulo, vou ler os primeiros para acompanhar desde o inicio. Você como sempre supera todas as minhas expectativas.
    Beijos

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    1. Obrigada, Reh!
      Seus comentários são sempre motivadores!! Seu apoio e carinho me deixam muito feliz!!!
      Beijos ❤

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  19. Eu sou apaixonada pelas tuas histórias.. fico sempre querendo mais. ahhh sou ansiosa hahaa

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  20. Que historia mais maravilhosa, arrepiei, Post sensacional. beijos

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  21. É incrível como a vida parece se repetir, as vezes lemos coisas que parecem que foram tiradas da nossa própria vida ... Amei esse capitulo, aguardando o próximo! Bjs (•‿•)

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    1. Muito obrigada pelo comentário, Minda!!
      Que bom que você está gostando da história!
      Beijos ❤

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  22. Estou muito feliz com suas palavras, Dayane! Obrigada pelos elogios e apoio!! Beijos ❤

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  23. Oi, Cidália.
    Como coloquei no comentário anterior imaginava que a notícia triste fosse uma morte, mas estava pensando que fosse a avó e não o avô que triste. Olha, estou bem revoltado com esses dois personagens interesseiros. Vão quer acabar com a vida da pobre senhora também? Estou revoltado com eles. Espero que não consiga convencer a mãe de ir para a casa dele. Já vou ler o próximo 😁

    Abraço

    meuniversolb.wixsite.com/meuniverso

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    1. Oi, Leandro!
      Pois é, você acertou sobre a notícia triste!! Nossa, esses dois são muito interesseiros!
      Obrigada pelo apoio e opinião!!

      Abraço!

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  24. Nossa seus contos são incríveis, cada sentimento posto em palavras adoro ler seus suas histórias, parabéns pelo talento com as palavras. Sucesso

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    1. Muito obrigada, Ade!
      Seu comentário me deixou lisonjeada!! É bom saber que você está gostando das minhas histórias.
      Beijos!

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