Ele viveu debaixo da ponte com mais alguns companheiros, “amigos”
da cachaça.
A bebida era o seu refúgio. Nada para ele tinha significado,
se embriagar era tudo o que importava. Ele perdeu o contato com a mãe e seus
familiares. O vício da bebida o consumia a cada dia. Enquanto bebia ele não
sentia a falta de um lar, de constituir uma família, de fazer amigos verdadeiros.
Era na bebida que ele encontrava o abrigo.
O dia em que ele bateu a cabeça na ponte e ganhou uma
enorme cicatriz, sua vida começou a ganhar um novo sentido. Aquele incidente
serviu para que ele refletisse sobre a sua vida.
Por que estava se autodestruindo?
Ele percebeu que ainda não era tarde, que sua vida poderia ter
um novo sentido. A mudança dependia exclusivamente dele, da sua força de
vontade.
Foi então, que ele conheceu um pastor que lhe ofereceu
ajuda. A ajuda se estendia aos seus companheiros. O pastor ofereceu pagar o
aluguel de uma casa para eles, porém, os outros quando viram que teriam que se
afastar da bebida, desistiram.
Ele ficou mais um mês morando debaixo da ponte, com a
esperança de convencer os companheiros a aceitarem a ajuda. Como estava
determinado a mudar de vida, ao conhecer a palavra, Jesus o libertou do vício.
Após um mês, Deus lhe preparou uma moradia e um trabalho. A partir daquele dia
as portas foram se abrindo, novas perspectivas, muita fé. Ele quis conhecer os
planos que Deus tinha para a sua vida.
Com o passar do tempo seu rol de amizades foi crescendo,
ele que fazia qualquer tipo de trabalho, aperfeiçoou-se em pintura, sem deixar
de trabalhar como pedreiro. Conseguiu adquirir um imóvel.
Ao trocar a bebida pela Bíblia, coisas boas foram
acontecendo na sua vida.
Três vezes por semana ele frequentava a igreja. Numa dessas
vezes, enquanto caminhava à igreja ele ouviu a voz de um menino chamando-o de
pastor. Esse menino, tão pequeno, tinha uma história de vida muito triste. Seu
pai foi embora abandonando a mulher e cinco filhos. A mulher, depressiva, com a
situação se viu perdida. Como era preguiçosa se afundou no meio da bagunça ao
ponto do menino de nove anos não querer mais morar com ela. O menino começou a
frequentar a igreja e manifestou a vontade de morar com o “pastor”. Ele disse
ao menino que não podia levá-lo para sua casa, era um homem solteiro. O menino
foi se refugiar na casa do tio. Quando o bom homem foi visitar o menino para
levar um pacote de leite e outro de chocolate em pó ficou horrorizado com a
situação a sua frente. O tio do menino estava drogado. Dias depois ao perguntar
ao menino sobre o leite e o chocolate ficou sabendo que o tio havia tomado
tudo. Ele pegou o menino e levou-o para a casa da mãe. Lá chegando viu a mulher
deitada com uma filha pequena que tinha a cabeça cheia de bichos. Horrorizado, ele levou a menina ao hospital.
Já havia levado o menino quando ele teve dor de dente. No hospital se
apresentou como o padrasto, foi a única coisa que lhe ocorreu no momento. Ele,
o único filho solteiro da sua mãe, sem filhos, de repente se viu envolvido com
aquela família. Tudo o que ele fazia, fazia às claras, não queria que os
vizinhos pensassem mal dele. Tudo o que fazia era em nome de Jesus, porque tinha
muita pena daquelas crianças. Os filhos maiores acabaram indo morar com o pai
em outra cidade. Os pequenos que ali se encontravam dependiam da ajuda dos
vizinhos para sobreviverem.
Ele, tomando as rédeas da situação, falou que se a mulher
não tomasse jeito, iria perder a guarda dos filhos que iriam morar no abrigo
municipal. O conselho tutelar já havia sido notificado. A mulher reclamou que não
tinha água. O bom homem vendeu seu compressor, instrumento de trabalho, e pagou
as contas atrasadas da mulher. Comprou mantimentos e a ensinou a cozinhar, pois
a dita cuja só sabia fazer filhos (sem julgamento).
É difícil imaginar que uma mulher com cinco filhos não sabe
sequer cozinhar um arroz. Como àquelas crianças sobreviveram até aquele dia?
Provavelmente, o ex-marido fazia a comida e as crianças maiores foram
aprendendo a se virar para não morrerem de fome.
O menino se apegou ao bom homem ao ponto de considerá-lo um
pai. Aconselhado por uma pessoa ele fez um documento de guarda e assim levou o
menino com ele numa viagem. A mãe do bom homem que antes não aceitava o menino
ao saber por telefone da sua existência, ao conhecê-lo se apaixonou por ele.
O bom homem sempre acompanhou os estudos do menino e quando
o menino chegou à adolescência, o bom homem lhe arrumou um trabalho numa loja.
O menino, com o passar do tempo, se tornou o filho do
coração para aquele bom homem. Apesar de ter um pai, o rapaz sempre considerou
o homem que lhe estendeu a mão como um verdadeiro pai.
Foi aquele homem, antigo morador de rua, que ao se
compadecer do pequeno menino ofereceu a ele a chance de escolher o melhor
caminho.
Todos os dias a pessoa tem a oportunidade de fazer uma
escolha, basta querer e saber o que é melhor para a sua vida.
Assim como o morador da ponte escolheu viver como um servo
de Deus e seguir Jesus, o menino escolheu o bom caminho.
Obrigada pela visita,
Cidália.