sábado, 12 de outubro de 2024

Ausência de liberdade

 


Talvez alguns leitores pensem no fato deste blog falar muito sobre os idosos. Apesar de esquecer de vez em quando, como outro dia na fila da lotérica, eu sou idosa. Gosto, portanto, de refletir sobre muitas situações que vejo ou que escuto.

Desta vez quem me levou a escrever este texto foi um idoso de 80 anos que viveu sozinho e longe dos filhos durante muito tempo. Cada vez que ele recebia a visita de um dos filhos ficava muito feliz.

Morando no centro da pequena cidade, ele tinha acesso ao mercado, padaria, restaurantes, igreja, Banco, e principalmente, aos amigos.

Seu passatempo era sair após o almoço e se encontrar com os amigos para um bate papo. Sentados na calçada de uma loja ou num banco da praça, passavam horas conversando. Naquela roda de amigos ele ficava por dentro das novidades. Seu irmão caçula também participava desses encontros, às vezes. Quem disse que homem não fofoca?

De vez em quando ele ia tomar café na casa das sobrinhas ou na casa de alguma conhecida.

Sua vida seguia tranquilamente até o dia que alguém da sua família falou que na idade dele, ele não poderia mais morar sozinho.

Apesar de se virar muito bem, ser um homem organizado, ter autonomia para pagar as suas contas, aceitou se mudar para a cidade grande para morar perto do filho. Antes, construiu uma casa para si. Não queria morar junto com o filho. O bairro onde foi morar, um lugar perigoso, o assustou no início. Suas asas foram cortadas. A princípio, tudo transcorreu muito bem em família. Ali ele tinha alguém que o acompanhava em consultas médicas, etc.  A dificuldade para ele andar de ônibus sozinho era grande.

Ele tornou-se uma pessoa dependente.

Ali naquele bairro, a área comercial era distante. Ao menos a marmita ele pedia por telefone como já era habituado.

O tempo foi passando e ele cada vez mais arrependido por ter deixado se levar. Segundo as suas palavras, passaram a decidir por ele, ele perdeu a voz. Não perdeu totalmente a autonomia, porque ainda é capaz de receber e pagar as suas contas.

A velha casa permanece fechada na pequena cidade de onde jamais deveria ter saído.

Ele passa os dias se lamentando por ter ido morar naquele lugar onde não consegue ter a liberdade para sair e fazer amizades. Seu sonho é voltar para a sua cidade natal.  

Se ele não podia morar sozinho aos 75 anos, imagina agora aos 80 anos!

Os sonhos ninguém pode tirar dele, pois carrega dentro de si uma energia positiva.

Ele vive um dia de cada vez com a esperança de que ainda voltará para a sua velha casa.  Ainda é um homem forte, lúcido que não quer ser um fardo para os filhos.

Que bom seria se os idosos tivessem autonomia para tomar as decisões até o final da vida. Claro, isso se estivessem com as faculdades mentais normais.

Hoje em dia vemos tantos idosos ativos, se exercitando ou até mesmo trabalhando. Sem falar em inúmeros idosos que estão ativos entre os políticos.

Podemos pensar que graças a Deus que o personagem deste texto tem uma família que se preocupa com o seu bem estar, enquanto sabemos da existência de idosos abandonados numa casa de repouso.

Enfim, fica aqui uma reflexão e o pedido a Deus de que todos os idosos vivam bem, com dignidade e amparo.

\você, leitor, jovem ou idoso seja feliz acima de tudo.

 

 

Obrigada pela visita,

Cidália.

 

 

 

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Um brinde à vida


 

Hoje, ao completar mais um ciclo de vida ela pensou no tempo, que parece um vilão silencioso. 

Um vilão silencioso que vai avançando sem pressa e sem pausa, levando-a lembrar-se de que não está no controle de nada.

Os erros fazem parte do caminho e o verdadeiro aprendizado vem nas horas de silêncio. É nesse momento de silêncio que o mundo desacelera e ela, finalmente, escuta a sua própria voz. 

Nesse momento de silêncio ela pensa, também, nas coisas que aprendeu, nos pedaços que deixou para trás, e nas partes de si que resistiram e floresceram. 

É nessa oportunidade de olhar para dentro que ela consegue enxergar, com clareza, quem é agora. Ela não é a pessoa que imaginou ser, não a versão ideal que projetou para o futuro, mas quem realmente é, com todas as suas imperfeições. 

Hoje ela não espera grandes respostas. 

Hoje ela não faz planos mirabolantes, nem se cobra para ser outra pessoa. 

Hoje ela apenas respira fundo e agradece por tudo o que viveu até aqui. Ela sabe que a jornada continua e o tempo segue seu curso, mas, por um momento, pode se permitir parar, agradecer e, finalmente, celebrar o simples fato de estar viva, consciente, presente.

 PS: Essa reflexão foi copiada (com autorização) de uma pessoa muito especial para mim.

Enquanto eu lia a postagem só conseguia pensar naquela menina que segurei no colo. Ela foi a minha primeira afilhada, prometida pela mãe, minha sobrinha,  ainda na época em que sua mãe e eu brincávamos de batizar as bonecas. Então, quando ela nasceu, uma boneca de verdade, me tornei sua madrinha. Pena que naquele tempo as fotos eram tiradas em raras ocasiões. As fotos eram tiradas por um fotógrafo e mais tarde por alguém da família que adquiriu uma câmera. A maioria das lembranças ficou armazenada em nossas mentes. E é por isso que gosto de escrever algumas memórias.

Essa linda menina se tornou uma linda mulher, independente, brilhante profissional e mãe amorosa. 

Um brinde a sua vida!

 

                                                 Obrigada pela visita,

Cidália.