O tempo passou tão rápido que quase nem senti! As rugas enfeitam o meu rosto e não dá mais para disfarçar a idade. O cabelo ainda posso pintar para me iludir. Não sei se adianta, porque, o rosto e o corpo mostram a realidade. Em momento algum estou me queixando, aliás, sou agradecida pelos anos vividos.
Anos de dedicação à família e ao trabalho. Sempre fui muito ativa e consegui dar conta dos filhos pequenos e continuar os estudos. Me formei, comecei a trabalhar e fiz muitos cursos. Graças ao meu salário meus filhos puderam se formar. Sou uma mãe orgulhosa!
Conforme a idade foi avançando, a minha memória começou a falhar. Com isso, perdi o direito de cuidar de mim. Meus filhos, muito preocupados, pensam que me tornei incapaz e não me deixam mais sair sozinha.
Perdi a vontade de me arrumar como antes. Eu era vaidosa, tinha o corte de cabelo da moda, as unhas sempre feitas e gostava de comprar roupas novas. Agora, vivendo dentro de casa, sem fazer nada, apenas comendo a comida que me servem, não preciso me preocupar com a aparência.
Não posso fazer um café para as amigas que raramente me visitam. Entendo que minhas amigas são ocupadas, algumas trabalham e outras têm algumas atividades. São mulheres donas de si. Mulheres que fazem a diferença, como já fiz, um dia!
Toda a minha inteligência e altivez simplesmente desapareceram. Tornei- me uma mulher insignificante, um zero à esquerda, como dizem. Os diplomas e certificados não servem mais para nada. Os dons que sempre tive estão adormecidos. Fui traída pela mente!
Meus dias são passados dentro de casa, mas especificamente, no quarto, assistindo televisão. Durmo, acordo, vejo um pouco de TV e durmo novamente. Nem preciso tirar o pijama. Faz muitos meses que não compro nada, não sei mais o preço das coisas. Então, por que me preocupar com a aparência?
Uma das minhas filhas, às vezes, me leva para passear. Quando isso acontece, meu coração se alegra com a luz do sol. Nesses dias sinto de novo um vestígio daquela pessoa que fui no passado.
Sinto saudades da alegria que irradiava a minha alma, da autonomia que me fazia ser forte, batalhadora e ao mesmo tempo, frágil e vaidosa.
Perdi o contato com muitas amigas, não uso mais o celular. Talvez, elas tenham me ligado e como não retornei a ligação, elas acabaram me esquecendo. Não tenho redes sociais, então, estou completamente por fora do que acontece por aí. Sei apenas o que vejo na televisão. Pouca coisa, porque, como disse durmo muito. Deve ser o efeito dos medicamentos.
Sei que meus filhos só querem o meu bem, se preocupam comigo e é por isso que não me deixam cozinhar e nem fazer qualquer atividade doméstica. E assim como cuidei deles quando eram pequenos e incapazes de se cuidarem sozinhos, eles cuidam de mim.
Quem sabe se eles perceberem que ainda sou capaz de responder por mim, me deixem um pouco mais livre. Uma amiga muito querida (prometi a ela que não ficará esquecida num canto da minha memória), me disse que fui eu que deixei as coisas chegarem neste ponto. Pode ser que sim, me acomodei diante da situação e me deixei levar. Entreguei os pontos sem protestar.
No fundo, sei que tenho muita vida pela frente e gostaria de ter encontrado alguém que me fizesse feliz. Isso, antes de eu ter desistido de mim. Desistido de viver!
Quem sabe, só estou precisando de um incentivo, um estímulo das pessoas que amo? A união da família, o amor que era o esteio entre nós, a alegria que contagiava as datas importantes do calendário. Como tudo isso se perdeu? Quando tudo isso deixou de fazer parte das nossas vidas? Será que foi no dia em que perdi o meu marido?
Antes que a memória se perca completamente, quero voltar a me sentir confiante, pelo menos por um tempo. Confiante dos meus atos e desejos. Sem cobranças e pressão. Com amor e alegria. Quero ser eu como era antes. Dona de mim! Será que conseguirei ou não terei mais tempo? Essas perguntas assombram meus pensamentos sem que encontre as respostas.
A memória é o nosso bem mais precioso! É nela que guardamos as boas recordações, não é mesmo?
O que fazer quando a memória começa a falhar? Tem a ver com a idade? O que você acha?
Não deixe de ler as outras histórias do blog e deixar a sua opinião, obrigada!!
http://contosdacabana.blogspot.com.br/2015/12/desistir-jamais.html
http://contosdacabana.blogspot.com.br/2015/11/inocencia.html
Colaboração: P.W.M.
Você escreve muito bem, arrasa! A memória é realmente muito importante e não acho que a perda dela tem a ver com a idade, pois sou nova e minha memória já é ruim! hahaha
ResponderExcluirParabéns pelo post e pelo blog.
Um beijo!
Meu blog ♥
Estou muito feliz com as suas palavras, obrigada! Temos que manter a memória ativa!
ExcluirMuito obrigada, beijos!
A idade chega a memória vai falhando precisamos muito do apoio da família ,de incentivo que por sinal não é o caso da personagem parece que a família. Não se importam com ela . Mais uma história maravilhosa para refletir-mos parabéns a escritora.
ResponderExcluirVerdade, o apoio da família é fundamental nessa hora.
ExcluirMuito obrigada, beijos!
Oi Cidália,
ResponderExcluirVocê escreve tão bem, adoro ler seus textos. Acho que a perda da memória tem a ver com a idade, mas ela precisa ser sempre estimulada para que possamos mantê-la sempre ativa.
Bjs❤
Abrir Janela
Oi Line, obrigada pelo elogio! Que bom!! Com certeza, o estímulo é necessário.
ExcluirBeijos!
Nossa, me ensina escrever desse jeito?
ResponderExcluirBom o que interpretei foi que com a perca da memória ela se sentiu incapaz e perdida. E realmente é verdade, precisamos nos estimular para que não perdemos nossos momentos, nossa vida é nossas capacidades.
Beijos
Obrigada, linda!
ExcluirSim, isso mesmo, ela se deixou levar, como na música: "deixa a vida me levar"!
Beijos.
Acompanho sempre o seu blog, e gosto muito! Vivo me surpreendendo com a maneira que você utiliza as palavras, e cativa a todos que tem o privilégio de ler.
ResponderExcluirSucesso sempre!
Babi | Do blog: Mesclada ao breu do mundo
Muito obrigada, Bárbara! Lendo esses elogios, sinto cada vez mais, vontade de continuar escrevendo.
ExcluirValeu, e sucesso a vc, também!
Beijos.
Adorei seu texto, Cidália, muito bem escrito. é incrível como não vemos o tempo passar, então, um belo dia, percebemos que não somos mais tão jovens. Adorei o seu blog!
ResponderExcluirObrigada, Tatiana!
ExcluirPois é, o tempo voa e quando nos damos conta e encaramos o espelho, é que temos que lidar com a realidade.
Beijos!
Nossa,como o tempo passa e a gente não percebe. Adorei o texto.
ResponderExcluirSim, passa muito rápido, por isso que todas as fases da vida devem ser bem aproveitadas.
ExcluirObrigada, Jainara, beijos.
Esse texto me fez pensar em como a gente se preocupa em ficar mais nova que é mas esuqece as vezes de como foi bom tudo que vivemos... Amei
ResponderExcluirVerdade, a nossa preocupação é com a aparência, quando na realidade, temos que nos preocupar com a nossa essência.
ExcluirObrigada, beijos.
É uma terapia ler as suas crônicas.
ResponderExcluirO que fazer quando a memória falhar? Tentar trabalhar ela para que cada vez menos eu perca a memória de tempos felizes que tivera outrora.
Bjus
Blog - A Negra e seus Tons
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Fico feliz com seus comentários, obrigada!
ExcluirSim, é bom exercitar muito a memória para que ela não se perca!
Bjos.
Gostei muito dos seus contos, esse por exemplo me fez até mesmo refletir em dar valores de algo ou alguma coisa que ficou para traz
ResponderExcluirSuper interessante
Estou seguindo seu blog e convido para conhecer o meu, se gostar me siga
Obrigado
Beijos
Rafael
Muito obrigada! Que bom!!
ExcluirDevemos valorizar todos os momentos vividos, sem dúvida!
Valeu, abraços.
PS: Gostei muito do seu blog, estou seguindo-o.
Gostei bastante do seu texto, você escreve muito bem!! E realmente como disse a memória é a nossa arma mais valiosa e perigosa!
ResponderExcluirMais uma vez, adorei! Beijinhos
Muito obrigada, que bom que gostou! Sem sombras de dúvida.
ExcluirBeijos!
A perda de memória tem sim muito a ver com a idade. Mas achei que seu texto vai além disso, e é algo que passa desapercebido por muitas pessoas que convivem com gente mais velha - é a depressão que vem com a não aceitação das mudanças inevitáveis no próprio corpo.
ResponderExcluirTodo mundo só precisa de um pouco mais de amor (e terapia as vezes, e não tem nada de errado com isso) :)
Muito obrigada, pelo comentário! Sim, concordo!! O amor ajuda muito e a terapia também.
ExcluirGostei muito da sua opinião.
Beijos!
amei o post flor, muito bem esctito, nos faz pensar ,refletir na vida
ResponderExcluirObrigada, sim, verdade!
ExcluirBeijos
Cidália a gente não pode parar o tempo e ficar eternamente jovem, a juventude passa, infelizmente a memória pode falhar, é o ciclo da vida,Cidália bjs.
ResponderExcluirPois é, Lucimar! A juventude passa muito rápido!! Temos que cuidar da memória p/ que ela não falhe.
ExcluirObrigada pelo comentário, beijos!
Amei o post, você escreve super bem. Beijinhos.
ResponderExcluirObrigada, Elayne!
ExcluirBeijos.
gostei muito da sua escrita. envolve o leitor, nos faz pensar
ResponderExcluir"Toda a minha inteligência e altivez simplesmente desapareceram." as coisas acontecem, o tempo passa e a gente nem percebe.
www.adocic.com.br
Obrigada pelo elogio! Sim e, às vezes, quando nos damos conta, já é muito tarde.
ExcluirBeijos!
Amei o post
ResponderExcluirObrigada, bjs.
ExcluirAmei o post parabéns ��
ResponderExcluirObrigada, beijos!
ExcluirAhhh, amiga escritora,esse texto me esbofeteou a alma e eu chorei agora...eu chorei,chorei! A família da protagonista é legal, cuida dela, mas ninguém aceita as limitações da velhice. Enquanto alguns envelhecem bem,outros sofrem com doenças, perda de memória, debilidade. Deus nos abençoe com uma velhice serena, sem dependência. Ai,ai!
ResponderExcluirAh, Vera!! Como é difícil aceitar, né? Pois é, sofre a pessoa e a família por não saber o que fazer, às vezes.
ExcluirAmém!!
Obrigada pelo comentário, beijos.
Blog lindo!www.mamaejuh.com.br
ResponderExcluirQue postagem triste (texto), gostei da sua forma de escrever.
ResponderExcluirfiquei pensando na minha mãe, ela perdeu tanto o amor pela vida.. Um dia desses ficou minutos longos parada no meio da rua sem saber que direção seguir, porque havia esquecido o caminho.
Estou voltando para a blogosfera depois de quase um ano parada (por conta da minha gravidez), coloquei seu blog em uma nova lista de leituras minha, pretendo voltar AQUI UMA VEZ POR SEMANA EM BUSCAR DE NOVAS POSTAGENS SUA.
BEIJÃO.
HTTP://TUDOQUESEPODELER.BLOGSPOT.COM.BR
Muito obrigada, Viviane! Sim, muito triste!
ExcluirVou ficar torcendo por sua mãe para que ela volte a se animar.
Valeu pela força, beijos!
Imaculada Braz
ExcluirLinda história!Leio sempre me colocando no lugar da personagem,não é fácil.Temos que exercitar sempre a mente .Parabéns Cidália
Obrigada, Imaculada! Fiquei muito feliz com a sua visita.
ExcluirSim, devemos exercitar a mente.
Um ótimo e abençoado final de semana a vc e sua família!
Beijos.
Muitas vezes, tem sim a ver com a idade, outras isolamentos momentos e acontecimentos da vida que possam nos fazer sofrer, por pura defesa. É importante estimular desde cedo e, claro, nos orgulhar de cada momento e escolha que fazemos.
ResponderExcluirBlog Atraentemente *☆* Instagram *☆* Fan Page
Com certeza, Evandro!
ExcluirObrigada por compartilhar a sua opinião!
Abraços.
Mais um belíssimo texto. Este como os demais, me fizeram muito refletir. Durante a minha vida, eu vi muitas pessoas passando por essas dificuldades, como a da personagem. E talvez o mais triste seja a pessoa deixar de viver e não reagir. Acredito que a nossa memória é sim afetada conforme vamos ficando mais velhos, a própria medicina comprova isso. Mas eu acredito que, diante dos lapsos de memória, devemos permanecermos ativos, pois a mente fica mais fortalecida e sobre a degradação do tempo mais lentamente. Quando entregamos o ponto e deixamos de exercitar a nossa mente para ficar desconformados, estamos acelerando ainda mais a degeneração da nossa mente. Acho que devemos sempre exercitar a nossa mente, mesmo quando isso fica mais complicado. Parabéns, lindo texto.
ResponderExcluirAbraço!
Muito obrigada, Leandro!
ExcluirPois é, muitas pessoas se "entregam", perdem a vontade de viver, em vez de se manterem ativas. Elas precisam do carinho e paciência dos filhos.
Obrigada, gostei muito da sua opinião!
Abraço!