segunda-feira, 1 de maio de 2017

Esse tal de Facebook!

                                                                           Desenho: Marcos Wagner  

Estava eu voltando  da capital no último ônibus daquele dia. O ônibus estava lotado. Alguns passageiros em pé, enquanto procuravam seus assentos. Sentei num dos bancos a direita do motorista. Na minha frente estava uma senhora que, mais tarde soube, era uma religiosa da mesma igreja onde eu frequento.

Depois que o ônibus saiu da rodoviária parou numa agência onde entrou um rapaz e sentou-se no último banco. Ele entrou com uma lata de cerveja na mão. Parecia bem extrovertido pela maneira como cumprimentou o motorista.

O ônibus saiu e as luzes foram apagadas. O livro que eu pretendia ler permaneceu fechado na minha mão. Preferi pensar na minha neta; fazia poucas horas que eu a havia deixado, mas já estava com saudades.

Lá pelas tantas, o rapaz do fundo veio para a frente e sentou-se ao lado da senhora religiosa. Nessa altura, aquele banco já estava desocupado.
- Parece que você está muito feliz meu jovem – ela falou vendo a euforia do rapaz.
- E estou mesmo muito feliz, graças a esse tal de Facebook. Uma ex namorada me encontrou depois de dez anos. Estou indo encontrá-la.
- Não entendo dessas modernidades. Do que você está falando?
- Ah, me desculpa, senhora. Esse tal de Facebook é uma rede social onde podemos encontrar as pessoas e conversar com elas.
- Entendi. Então, sua ex namorada encontrou-o através dessa rede social depois de muitos anos!

Aquele converse na minha frente despertou a minha atenção. Fiquei curiosa com a história do rapaz.

- Há dez anos eu morava com a minha avó na mesma cidade  que ela, a Soninha. Meu pai ficou viúvo, casou novamente e eu fui rejeitado pela minha madrasta. Daí ele me levou para a casa dos meus avós.
- Geralmente a madrasta cuida bem dos filhos do marido.
- No meu caso, a minha madrasta não me aceitou. Eu tinha dez anos quando isso aconteceu. Conheci a Soninha na escola e fomos muito amigos. Aos quinze anos começamos a namorar. Como já disse ela morava nas proximidades. 
- Hum, que interessante, meu rapaz!

A senhora religiosa já estava íntima do moço, pareciam velhos conhecidos.

- Namoramos durante dois anos, estávamos apaixonados, mas daí meus avós se mudaram. Foram morar com o meu pai que tinha ficado viúvo e estava sofrendo para cuidar do filho e do trabalho. 
- Você tem um irmão que também contou com a ajuda dos seus avós?
- Tenho. E esse, meu pai não levou para meus avós, preferiu que eles vendessem a casa deles e fossem para a cidade grande. Tive que deixar a Soninha com a promessa de voltar. Ela chorou muito, mas acabou entendendo a minha situação. Chegando na cidade grande passei por umas fases difíceis, adaptação na escola, desentendimento com o meu pai e falta de amigos.
- Nossa, imagino o que você passou! Mas você não podia falar com a Soninha por telefone?
- Naquela época não tínhamos celular  e como estávamos sempre juntos nunca trocamos o número de telefone. 
- Poderia ter escrito uma carta para ela. 
- Nunca fui bom com esse negócio de cartas. E nem dei meu endereço para que ela me escrevesse.
- Daí ia ficar difícil mesmo. Talvez o que vocês sentiam na época fosse apenas fogo de palha. Se fosse amor teriam dado um jeito de se falarem.

Aquela história estava bem interessante e eu já estava torcendo para dar tempo do rapaz contá-la na íntegra.

- Meu pai arrumou um emprego para mim na lanchonete onde ele era o gerente. Dali em diante eu dividia o tempo entre o trabalho e o estudo. As coisas começaram a melhorar entre eu e meu pai. Me envolvi com a filha de uma garçonete e me tornei pai aos dezenove anos. Ela tinha dezesseis. 
- Rapaz, sua vida parece uma novela – disse a religiosa.
- Parei de estudar e tive que trabalhar em mais de um emprego para ajudar a criar minha filha. Levei as duas para casa do meu pai. Meu avô faleceu e a minha avó se distraía ajudando a cuidar da criança e do meu irmão. 
- Sua avó é uma Santa.
- Foi uma mulher muito boa. Três anos depois ela foi se encontrar com meu avô. 
- E seu pai não casou mais?
- Não e eu acabei ficando solteiro também. Faz pouco tempo que minha mulher se apaixonou por outro e foi embora com a minha filha. O outro era mais velho e bem de vida. 
- Ela agiu por interesse, então. 
- Depois que isso aconteceu abri uma conta nesse tal de Facebook e uma moça me adicionou dizendo que era a Soninha. 
- Imagino a sua alegria por ela tê-lo encontrado.
- Fiquei admirado por ela se lembrar de mim e dizer que mora no mesmo endereço. Disse que casou e teve um filho. Hoje está separada e trabalha num salão de beleza. Ficou uma mulher muito bonita pelo que vi na foto.

O ônibus estava quase chegando na cidade onde o moço ficaria e eu estava agoniada para saber o final daquela história.

- Ela está te esperando a essa hora? Já é quase meia noite!  - falou a senhora.
- Aproveitei a minha folga e vim vê-la. Espero que a chama entre nós reacenda.

O rapaz falante chegou ao seu destino, assim como muitos passageiros e se despediu da senhora antes de descer.

- Obrigada por me ouvir dona, eu estava precisando desabafar.
- Boa sorte meu jovem (desculpa, nem perguntei seu nome), que Deus te proteja, boa sorte! 
- José Eduardo – respondeu ele ao descer do ônibus- obrigado, amém!

Eu e a religiosa continuamos a viagem. Fiquei olhando aquele rapaz e imaginando qual seria o desfecho da sua história. Comentei com a senhora e ela disse que era a primeira vez que tinha ouvido uma história como aquela. Talvez nunca tenha dado atenção para o passageiro ao seu lado.

Pensei em quantas histórias como essa existem por aí. Reencontros graças a esse tal de Facebook!


Sua visita me deixa muito feliz!
Obrigada!!
Beijos,
Cidália.

36 comentários:

  1. Adoro essas histórias que se desenrolam no ônibus haha
    Meu pai recentemente reencontrou uma antiga namorada, está muito feliz XD

    http://www.umavidaemandamento.blogspot.com/

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    1. Olha só, que legal, Bruna!!
      Obrigada pelo comentário!

      Beijinhos

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  2. Oii... Adorei seu Blog, não conhecia, mas vou começar a acompanhar os contos :) Beijoo

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    1. Oi, Aline!
      Que bom, estou feliz com a notícia!!

      Obrigada pelo comentário, beijinhos!

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  3. Muito legal adoro contos, achei esse bem interessante:)

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    1. Oba, que bom que você gostou, Aline!!
      Obrigada pelo comentário!
      Beijinhos

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  4. É cada história de ônibus que vou te falar vi? kkkk algumas são super engraçadas. Gostei Cíci bjs😙

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  5. Oi, Cidália! Sim, de fato, muitos reencontros aconteceram comigo por esse tal de Facebook. Amigos da época da escola foram vários! E é interesse notar o quanto essas pessoas mudaram. Bem, quanto ao seu conto, acho que todos ficamos curiosos com o desfecho da história do José Eduardo. Quem sabe não seja revelado em um outro conto? Beijos.

    www.umtracoqualquer.com

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    1. Oi, Laysla!
      Que legal!! Eu também reencontrei vários amigos e até parentes que tinha perdido o contato.
      Quem sabe?? Obrigada pelo comentário!!

      Beijinhos

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  6. Nossa vc como sempre me surpreendendo com suas histórias maravilhosas. Uma rede social quando usada para o bem traz muita felicidade mesmo.

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    1. Verdade, Carla, concordo com você!
      Muito obrigada pelo comentário e elogio!!

      Beijinhos

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  7. eSSAS HISTORIAS DE ONIBUS SÃO AS MELHORES. FORA O FACEBOOK, QUANTOS REENCONTROS NÃO ACONTECERAM ALI NÉ?

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    1. Sem dúvida, Áry, muitos reencontros!!

      Obrigada pelo comentário!
      Beijinhos

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  8. Graças ao Facebook encontrei velhos amigos,suas histórias sempre me surpreende parabéns Cidalia !!

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    1. Muito legal, né Cleuza, reencontrar os amigos depois de tanto tempo!!

      Obrigada pelo comentário, beijinhos!

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  9. Andando pelo ônibus a gente sabe de cada história, muitos não gostam do Facebook mas o Facebook muitas vezes ajuda, só temos que saber usar ele, mas uma história boa Cidália bjs.

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    1. Pois é, Lucimar! Basta a pessoa saber usar que não vai ter problema!!
      Muito obrigada pelo comentário!

      Beijinhos

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  10. Caraca que maneira é a forma como foi narrada parecia que eu estava vendo tudo acontecer, muito bom 👏👏👏👏💗

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    1. Que bom que você gostou da narrativa!
      Obrigada pelo comentário!!

      Beijinhos

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  11. Ehehehe...amei a forma como você contou a história. reencontros pelo facebook hoje são comuns, mas vc contou de uma forma tão legal que eu espero que tenha dado tudo certo para o josé eduardo e pra soninha! sejam felizes!

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    1. Sim, Tatiana, verdade!
      Fico feliz sabendo que você gostou da narrativa.
      Obrigada pelo comentário!!

      Beijinhos

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  12. Oii, tudo bem? Adoro contos e a forma que você narrou parece que estamos dentro dá história! Ameii

    Um beijo

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    1. Oi, Marília, tudo bem!
      Oba, que bom que você gostou da narrativa!!

      Obrigada pelo comentário!
      Beijinhos

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  13. Amei, só fiquei curiosa com o desfecho da história, mas esse tal de face prega cada surpresa na gente, algumas boas mas outras nem tanto. Também amo contos. Bjs

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    1. Oba, que bom que você gostou, Edna!! Verdade!!
      Obrigada pelo comentário!

      Beijinhos

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  14. Adorei o conto, muito interessante, valeu bjs

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  15. Adoro ler contos, este então um máximo,
    Vou voltar mais vezes bjs!

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    1. Oba, fico feliz sabendo que você gostou, Cris!
      Obrigada pelo comentário!!

      Beijinhos

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  16. Nossa que história interressante, adoro blogs que tem historias assim, imaginei do começo ao fim os personagens, e sera que ele se encontrou com seu amor Soninha, como teria sido esse encontro. Parabéns, sucesso.

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    1. Olá, Ade, estou muito contente sabendo que você gostou do blog e da história!!
      Obrigada pelo comentário, volte sempre!

      Beijinhos

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  17. Que conto mara Cih! Adorei o desenrolar da historia, me fez lembrar de umas historias de ônibus que já vivi rsrs
    Beijos

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    1. Obrigada, Reh! Que bom que você gostou da narrativa e que pôde lembrar de histórias de ônibus que viveu!!

      Beijinhos

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  18. Tenho duas amigas, que já separadas do primeiro casamento, reencontraram ex namorados de adolescência. Tempo do Orkut. Hoje estão felizes, casadas com seus amores.

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    1. Olha só que legal!!
      Muito bom quando sabemos desses reencontros que deram certo!
      Obrigada, Vera, pelo comentário!

      Beijos.

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