quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Olhar perdido

 


Os olhos fixos em cada rosto que está a sua frente.

O olhar perdido como se estivesse vagando através das velhas lembranças.

Um olhar perdido que procura o nada sem nada encontrar.

Um olhar perdido que não se sabe onde achar.

Lembranças de um passado distante que a confunde com o presente.

Quem são aquelas pessoas que olham sorridentes para ela? Que contam causos, que fazem perguntas, que dizem palavras bonitas, que esperam que ela interaja?

O olhar continua perdido, fixo em cada rosto. Um breve sorriso acompanha seu olhar.

A voz baixinha sussurra poucas palavras.

Ela admira os presentes sem lembrar mais de quem os recebeu.

Pede às pessoas que permaneçam ali por mais tempo. Apesar de não interagir como antigamente, gosta de ver que não está sozinha.  Gosta de ouvir os risos, as conversas, mesmo sem entender sobre o que estão falando.

Em cada rosto que a rodeia ela se perde divagando.

Ela olha para o relógio em seu braço sem ver as horas.

Àquelas pessoas cantam, batem palmas, repetem um nome, oferecem coisas pra ela comer.

Ela não aguenta muito tempo sentada.

Ela continua a admirar uma pulseira que ganhou, balança o braço para ouvir o som dos pingentes dependurados.

Têm noites que a insônia é a sua companheira. Nessas noites ela chama pelos amados que partiram. Nessas horas a sua mente visita um passado longínquo.

No presente sua rotina é sempre a mesma.

Era no passado que as coisas aconteciam.

No presente ela apenas sobrevive.

Era no passado que ela vivia.

No presente ela já não é mais a mesma.

Era no passado que ela era uma mulher ativa, com sonhos e esperança.

No presente ela é dependente.

No passado ela foi independente.

O que se esconde por trás daquele olhar perdido? A imagem da cidade numa tarde ensolarada, onde pessoas trafegam pra lá é pra cá em busca de algo ou apenas passeiam sem destino ou a imagem da cidade numa tarde chuvosa onde poucas pessoas saem de casa e as ruas encontram-se quase vazias?

No presente o que a deixa feliz? O que faz com que seus lábios se abram num breve sorriso?

No olhar que divaga através do tempo vivido ainda resta alegria?

São muitas perguntas e nenhuma resposta.

Apenas e somente ela sabe o que se passa em sua mente.

O tempo foi lhe tirando aos poucos suas lembranças.

Há somente o olhar perdido divagando nos dias e noites que se entrelaçam, misturando sonhos e realidade.

    


Obrigada pela visita,

Cidália.

14 comentários:

  1. Esse conto me fez chorar estou me aproximando dos oitenta e não sei tbm o que me espera quero ser uma mulher ativa mais não consigo gostar de atividade física ,quero participar do grupo da terceira idade mais aí me pergunto será que vou gostar acho que estou ficando ranzinza kkkkkkkk mais uma vez vc arrasou Cidália parabéns amo tudo o que vc escreve

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    1. Hoje amanheci inspirada depois de algum tempo, obrigada pelo comentário, Cleuza, bjs.

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  2. Parabéns Cidália, amei!! Beijos 😘😘

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  3. Prima, você escreve com tanta sensibilidade, que faz doer na alma da gente! Essa crônica me pegou😥

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    1. Obrigada, prima, pelo elogio! Depois de algum tempo sem escrever, após uma visita, a inspiração simplesmente apareceu. Bjs!

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  4. Muitas vezes podemos ficar com o olhar perdido, é no passado que as coisas boas acontecia, uma boa reflexão bjs.

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  5. Parabéns amiga, o texto é pra gente pensar,refletir, sobre amar a vida a cuidar não só do outro, mas de nós mesmos. Aproveitar cada momento feliz. A viver! Pois tudo passa muito rápido. Bjs

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    1. Obrigada, amiga, é isso mesmo, precisamos nos cuidar e curtir a vida. Obrigada, bjs.

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  6. Nossa que bela reflexão 🥰 eu adoro seus poemas

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  7. Oi, tudo bem? Gosto tanto dos textos que você mostra aqui no blog. Sempre com reflexões e nos faz voltar no tempo e relembrar momentos da nossa vida. Esse em especial já começa pela imagem, que nos faz pensar em vários pôr-do-sol que assistimos, cidades que conhecemos e pessoas que conhecemos. Um abraço, Érika =^.^=

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  8. Olá, Érika, tudo bem!!
    Muito obrigada pelo comentário, um abraço!!

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