sábado, 30 de setembro de 2017

Vida às avessas (parte final)



Ao receber a carta do filho,  dona Josefa chorou muito. Porém, não foi um choro de tristeza, foi um choro de agradecimento. Não pelo dinheiro que ele estava devolvendo. Claro que o dinheiro seria útil na sua velhice, para os medicamentos e para seu conforto.

Porém, o agradecimento era pelo fato do filho reconhecer seus erros e pedir perdão. Pena que ele precisou perder a esposa e parte de uma perna para perceber que a ganância, o egoísmo e o orgulho eram sentimentos destrutivos.

Ariana, prestes a se casar com o amor da sua vida, voltou a estudar. Queria ser professora efetiva e não somente uma substituta. Ela queria voltar para a escola que deu abrigo à sua família, como educadora. Queria dar mais atenção às crianças, se dedicar à carreira com amor.

Geraldo se tornou um ótimo comerciante. Transformou o bar num armazém de secos e molhados. Comprou uma bela casa perto do tio. Uma casa espaçosa, pois ele e Ariana pretendiam ter uns quatro filhos.

Num almoço de domingo onde Sueli convidou toda a família, os irmãos Jaime e Jurandir, juntamente com José Carlos, resolveram buscar o tio Jesuíno para que ele ficasse um tempo com a mãe.

O motivo que os levou a tomar tal decisão foi o que o tio escreveu no final da carta endereçada à mãe.

“Agora estou bem. Quase não vejo minhas filhas e meus genros, mas tenho a dona Pérola que cuida bem de mim. Pena que ela não gosta de conversar, então converso comigo mesmo. Sou um bom ouvinte. Com a ajuda das muletas posso caminhar pelo quintal. Cheguei à conclusão de que estou sentindo o mesmo que a senhora e Ariana sentiram na minha casa. Mereço passar por isso.”

E lá foram os três homens buscar o Jesuíno para que ele ficasse na casa da irmã e pudesse se reconciliar com toda a família. Afinal, todo mundo merece uma segunda chance.

Em breve Elizandra e Noel teriam um bebê. Estavam morando numa casa alugada e juntando dinheiro para comprar um lote e construir uma moradia. Noel era um rapaz trabalhador e Elizandra tinha uma boa clientela; era uma ótima costureira.

Jesuíno recebeu os irmãos e o sobrinho com alegria. O motivo da felicidade foi ver que os irmãos não guardaram ressentimento pelo que ele fez com a mãe. Aceitou o convite sem pensar duas vezes e dispensou a dona Pérola.

José Carlos não segurou a língua quando viu o quarto nos fundos onde o tio vivia.

- Tio, nesta casa tão grande, não tinha um quarto melhor para o senhor ficar?

- Não me incomodo com essas coisas, meu filho. Pra mim este quarto é suficiente.

- Meu quarto também é pequeno, o senhor vai ficar lá e ver que é muito mais confortável que este.

- Não deixe sua prima ouvir isso, ela vai ficar ofendida. Pelo menos ela me trouxe pra cá, a irmã disse que não me queria na casa dela.

- Nossa, tio! Não se preocupe, o senhor será bem vindo na casa da mamãe. A vovó está muito feliz.

Depois dessa conversa os homens resolveram dormir no hotel e viajar na manhã seguinte de volta para casa. Passariam cedo para pegar o Jesuíno.

Quando os quatro chegaram na casa da Sueli, toda a família estava reunida esperando por eles. A mesa foi colocada no quintal para o almoço. Noel e Geraldo foram responsáveis pelo churrasco.

Jesuíno foi recebido com alegria e chorou ao abraçar a mãe e pedir perdão mais uma vez, agora pessoalmente. Dona Josefa o apertou em seus braços e ele se sustentou sobre a única perna para não cair.

Ao abraçar Ariana, o tio que lhe causou sofrimento, foi gentil e amoroso. Aquele homem que estava ali, naquele momento, parecia muito diferente do Jesuíno de outrora. A moça apresentou seu noivo a ele que o tratou cordialmente.

Dali em diante o passado seria enterrado. A família seguiria a sua rotina com mais um integrante. Geraldo convidou-o para trabalhar com ele no armazém. Precisava contratar um funcionário e Jesuíno era a pessoa perfeita. Poderia ser o caixa, assim trabalharia sentado.

O casamento da Ariana aconteceu no civil e no religioso. Ela foi a noiva mais feliz dos últimos tempos. A festa foi presente da avó Josefa. A lua de mel do casal seria no Caribe. Presente dos pais do Geraldo. Uma viagem  inesquecível para os pombinhos.

As gêmeas, filhas do Jesuíno, foram convidadas e ao verem o pai acharam que ele estava muito bem ali. Não o chamaram para voltar com elas. Não queriam ter trabalho com ele. 

A família desfrutou de mais uma data memorável e ainda teriam outras datas para comemorar. O nascimento do filho da Elizandra, a formatura do José Carlos que, depois do curso técnico, quis fazer direito e a formatura da Ariana.

Sueli e dona Josefa continuaram ajudando Elizandra com a costura. Antes do neto nascer, Sueli levou a mãe para ficar uma semana numa cidade praiana. As duas queriam se divertir um pouco.

Dona Josefa tinha esperança de que a filha conhecesse alguém que a fizesse feliz. Mal sabia ela que Sueli havia prometido a si, depois de perder o marido, que  não dividiria a sua vida com mais ninguém.

Jesuíno se tornou o braço direito do Geraldo no armazém. O trabalho lhe deu ânimo para viver e assim ele podia colaborar com a despesa da casa. Seu plano para o futuro era chamar a dona Pérola para morar com ele. Estava pensando em alugar uma casa perto da irmã.

Quem sabe a dona Pérola aceitaria uma proposta de casamento? Durante o tempo que ela cuidou dele, Jesuíno notou a sua beleza interior. Descobriu, por acaso, que ela era viúva e morava sozinha.

O amor venceu todas as barreiras enfrentadas pela família da Ariana e curou todas as feridas.


FIM

A você que acompanhou esta história ou apenas leu alguns trechos, meu agradecimento especial!

Ao meu sobrinho desenhista, Marcos Wagner, que colaborou comigo com as ilustrações meu eterno carinho!

Beijos,
Cidália.



Se você sentir curiosidade de ler os capítulos anteriores, basta acessar este link:

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domingo, 24 de setembro de 2017

Vida às avessas (retrospectiva)


Peço desculpas aos leitores que estão acompanhando a história desta família, mas deixarei o capítulo final para o próximo sábado (dia 30). Não postarei no domingo como sempre, porque quero encerrá-la este mês. 

O motivo da decisão foi dar, àqueles que leram esporadicamente um ou outro trecho, uma oportunidade para que conheçam a história, se quiserem, é claro!

Os comentários são importantíssimos para mim, que gosto muito de escrever. Por isso, conto com a opinião daqueles que gostam de ler e interagir.

Tenho a sorte de poder contar com a ajuda de meu sobrinho desenhista que está sempre pronto para atender meus pedidos.

Mais uma vez quero agradecer a todos que deixaram comentários motivadores e elogios a mim e ao meu sobrinho. Uma palavra de incentivo ajuda a melhorar a auto estima de qualquer pessoa.

Abaixo, vou deixar os links na sequencia aos interessados.


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Uma semana abençoada a todos,

Cidália
















domingo, 17 de setembro de 2017

Vida às avessas XV (arrependimento)



Na calada da noite, depois que a avó e a mãe dormiram, Ariana foi até o quarto do irmão. José Carlos estava esperando-a, pois a curiosidade era enorme.

- Mano, você não imagina o que o tio Jesuíno fez com a vovó, ele controlava a conta dela e usou a parte do dinheiro que coube a ela com a venda da propriedade.

- Não acredito! Ele tinha recebido a parte dele e não se contentou?

- A vovó ficou arrasada e nem quis que o tio Jaime e o tio Jurandir soubessem.

- Acho que eles têm que saber o que aconteceu. Precisam ir atrás do dinheiro da vovó. Afinal, é dela e ela tem o direito de usar como achar melhor.

- Ele e a tia Iracema nem atendem o telefone - completou Ariana.

- É um caso de polícia, se a vovó não o autorizou a pegar o dinheiro, então foi roubo, mana.

- Você acha que a vovó acusará o próprio filho? Com certeza ela prefere deixar esse assunto pra lá.

- Poxa, é muito triste pensar que o tio Jesuíno foi capaz de agir dessa maneira com a vovó - disse o José Carlos.

- Olha, é melhor você não se envolver, se ela quiser contar para o tio Jaime e o tio Jurandir, ela conta. Eu creio na justiça divina.

Os irmãos mudaram de assunto. José Carlos quis saber sobre o Geraldo e Ariana perguntou sobre seu trabalho.

Jesuíno e a esposa resolveram viajar para o exterior para curtir umas férias. O sonho deles era conhecer a Itália.

Mas a viagem que prometia ser a realização de um sonho se tornou um pesadelo para o casal. O voo foi cancelado duas vezes por causa das más condições meteorológicas.

Na terceira tentativa, antes de chegarem ao aeroporto o táxi sofreu um acidente. Capotou. O motorista morreu na hora. Iracema e Jesuíno tiveram várias lesões e foram socorridos no hospital mais próximo.

Iracema ficou em coma e faleceu após uma semana. Jesuíno ficou com sequelas. Perdeu a metade de uma perna. Entrou em depressão. As filhas acharam melhor colocá-lo numa clínica para que ele tivesse um bom acompanhamento.

Dona Josefa ficou muito triste com a notícia, porém nenhum dos filhos ou netos quis levá-la para visitar o Jesuíno. Afinal, ela tinha passado por tantas coisas e não podia fazer uma viagem longa.

Jaime e Jurandir ficaram revoltados com o irmão quando souberam o que ele tinha feito com a mãe. José Carlos não conseguiu segurar a língua. Pensaram em ir atrás dele para tirar satisfações. Dona Josefa não deixou.

-Deixem pra lá, não quero mais saber desse dinheiro que foi motivo de discórdia entre a família. Posso me manter com a pensão e ainda tenho força para ajudar a Sueli com a costura e os trabalhos de crochê e tricô.

- E agora o tio Jesuíno está naquela clínica - comentou Ariana. Pode ser que as filhas usem o dinheiro para pagar o tratamento dele.

Respeitando a vontade da dona Josefa o assunto foi esquecido. Jesuíno estava passando por um mal pedaço. Nem parecia mais o mesmo homem. Sentia a falta da esposa, a companheira de muitos anos. Chorava muito quando pensava nela.

Ao se dar conta de que havia perdido a metade de uma das pernas, além de perder a mulher, Jesuíno pensou em tirar a própria vida. Tentou mais de uma vez. As filhas nem cogitaram a ideia de levá-lo para casa. Ambas tinham uma vida social bem movimentada.

O namoro da Ariana e do Geraldo estava firme. Depois de alguns encontros aconteceu o primeiro beijo. No dia do noivado do casal, seu Maneco foi convidado. Como tio do noivo, não poderia faltar. Fazia um bom tempo que ele estava viúvo. Assim que viu a Sueli, pediu perdão pelos acontecimentos do passado.

-Espero que a senhora me perdoe pelo que fiz com sua família. Na época, quando seu marido faleceu, deduzi que minha dívida estava quitada. Por conta do meu ato, a senhora perdeu a sua casa.

- Por muitos anos senti raiva do senhor. Sem dinheiro não pude mais pagar as prestações. Eu contava com aquele dinheiro.

- Para corrigir o meu erro passei o bar para o nome do meu sobrinho. Meus filhos estão bem de vida e entenderam o meu gesto. Assim, Ariana será recompensada pelo mal que causei, principalmente, a ela. Casando-se com meu sobrinho em comunhão de bens, ela também será dona do estabelecimento. Eles poderão transformá-lo num mercado.

- E o que o senhor vai fazer da vida?

- Vou aproveitar a minha aposentadoria. Quero viajar, curtir os netos.

Na família de Sueli tudo estava indo bem. Em breve ela e a mãe ficariam sozinhas. Continuariam costurando e vendendo seus crochês. O benefício da dona Josefa ajudava no orçamento da casa.

Depois de ficar meses na clínica, Jesuíno teve alta. Conseguiu superar a depressão e foi morar na casa de uma das filhas. As duas irmãs pagavam uma cuidadora para fazer companhia a ele. A casa dele foi vendida. Ele não quis mais morar nela sem a esposa. Ele tinha ainda um salário que recebia do INSS.

Aqueles acontecimentos mexeram com a sua cabeça e com a ajuda da filha, Jesuíno transferiu o dinheiro para a conta da mãe e escreveu-lhe uma carta pedindo perdão pelo que havia feito a ela. O arrependimento era muito grande.
Terminou a carta com lágrimas nos olhos. Pediu perdão, também, a Ariana pelo comportamento dele e da esposa na época em que a tiveram em sua casa.

Dona Josefa e Ariana perdoarão Jesuíno? Será que o arrependimento dele é sincero?

No próximo domingo a história chegará ao fim, não deixe de acompanhá-la.


Eternamente grata pela sua visita,

Cidália.

PS: O meu agradecimento especial ao meu sobrinho, Marcos Wagner que está sempre disposto a fazer a ilustração!

domingo, 10 de setembro de 2017

Vida às avessas XIV (o casamento)




Chegou, afinal, o dia tão esperado pela Elizandra e seu noivo. O casamento foi realizado apenas no cartório com a presença da família e dos padrinhos.

Ariana usou um vestido feito especialmente para ela pela irmã e sua mãe. O modelo foi copiado de uma revista de moda. Ela fez uma maquiagem leve, pintou as unhas e colocou uma sandália combinando com o vestido. Prendeu o cabelo num coque.

Elizandra ganhou o vestido da mãe. Era simples, mas muito bonito. Escolhido com amor pela Sueli. Sua avó fez questão de lhe dar os sapatos de presente, escolhidos pela Ariana. O buquê foi feito pela própria noiva, que além de costurar bem, era muito criativa.

José Carlos fez questão de dividir o presente com a Ariana. Os dois deram as passagens para a lua de mel. O casal passaria uma semana numa praia da região. Para eles o que importava era estarem juntos, não importava o lugar.

Sueli e a mãe estavam bem arrumadas para a ocasião. O almoço foi feito pelas duas e oferecido na sala. Estavam presentes, além da sua família, os pais e irmãos do noivo. De estranho só tinha o Geraldo, amigo e padrinho do Noel.

Os irmãos da Sueli não foram convidados. Ela até gostaria de convidá-los, mas não foi possível.

Geraldo não desgrudou os olhos da Ariana desde que chegou ao cartório. Dessa vez ela retribuiu os olhares. Sua mãe fez vista grossa. Ouviu os conselhos de dona Josefa. Precisava dar uma chance ao rapaz. Não poderia julgá-lo associando-o ao tio. Afinal, seu irmão Jesuíno agiu como o seu Maneco. Pelo menos, seu Manoel passara a perna num estranho.

Na hora do almoço, dona Josefa colocou Ariana sentada ao lado do Geraldo e lhe deu uma piscada. Geraldo com seu ar de bom moço conquistou, logo, Sueli e sua mãe. Tudo transcorreu bem naquele dia para a família. O almoço foi um sucesso.

No final da tarde, os noivos se despediram e tomaram um táxi até a rodoviária. A família do Noel foi embora. Geraldo convidou Ariana para tomar um sorvete. José Carlos quis aproveitar o colo da mãe e da avó, pois no dia seguinte teria que retornar para sua rotina. Deitou-se no sofá com a cabeça no colo da mãe e os pés no colo da avó. Aproveitaram para colocar os assuntos em dia.

- E aí, alguma novidade sobre o tio Jesuíno? - perguntou o rapaz.

- Não conseguimos falar com ele desde que Ariana foi buscar a sua avó - Sueli respondeu.

- Nem quero ouvir esse nome, meu querido - dona Josefa comentou.

- Nossa, gente! O que o titio aprontou com a senhora, vovó? Perguntei sobre ele porque faz tempo que não ouço o nome dele nem aqui e nem na casa do tio Jaime.

- Pois então é melhor que continue assim, meu filho, é melhor esquecermos seu tio Jesuíno e aquela sua tia Iracema de nariz empinado - dona Josefa se alterou.

Vendo a expressão da sua avó, José Carlos achou melhor mudar de assunto. Noutra oportunidade perguntaria para sua mãe ou para Ariana.

Enquanto isso, Ariana e Geraldo tomavam um sorvete sentados num banco da praça e conversavam. Quem passava por ali via um casal apaixonado que expelia amor pelos poros.

Ariana ficou sabendo sobre o golpe da barriga que a tal moça quis aplicar no Geraldo e contou sobre o tempo que ela passou na casa dos tios. O sol se pôs e os dois saíram de mãos dadas em direção à casa da Ariana.

Ao deixá-la na porta, Geraldo não quis se precipitar e apesar dos lábios convidativos da moça, deu- lhe um beijo de despedida na sua testa.

Ariana, mesmo querendo muito ser beijada, sendo o primeiro encontro que tinha com um rapaz, admirou o gesto dele. Assim esperaria ansiosa pelo próximo encontro.

Para ela não era problema a irmã mais nova estar casada antes dela. Tudo tinha seu tempo.  Entrou com um sorriso no rosto. Sua avó e sua mãe trocaram um olhar de satisfação. Seu irmão a abraçou.

- Aí, mana, dessa vez você vai desencalhar.

- Seu bobo, não estou encalhada. Só não tinha encontrado ainda o amor da minha vida.

- Crianças, não discutam - Sueli abraçou os dois. Passamos um ótimo dia e só temos que agradecer a Deus pela nossa família.

- É isso mesmo - dona Josefa se aproximou - quero participar desse abraço.

José Carlos cochichou no ouvido da irmã.

- Quero falar com você a sós, vá até o meu quarto depois que as duas dormirem, tá?


A conversa com a mãe e avó deixaram o José Carlos curioso. Ariana contaria a ele o que o tio aprontou?

Não deixe de conferir no próximo domingo!

Obrigada pela visita!

Abraços,
Cidália.


PS: Meu agradecimento especial ao meu sobrinho Marcos Wagner pela belíssima ilustração!


domingo, 3 de setembro de 2017

Vida às avessas XIII (a descoberta)




Quando dona Josefa conferiu o saldo bancário sentiu vertigem. Sua vista ficou turva, ela se apoiou na filha.

- Mãe, o que está acontecendo? A senhora está pálida.

- Minha filha, tem alguma coisa errada na minha conta. Preciso conversar com o gerente.

- Não tem nada errado, mamãe. Veja, a senhora fez vários saques.

-Fiz um empréstimo para seu irmão, mas ele ficou de devolver assim que pudesse. Eu falei pra ele que ia te ajudar a comprar uma casa.

- Mamãe, tem certeza que não foi a senhora que tirou o dinheiro?

- Claro que tenho certeza, Sueli. Era seu irmão que ficava com meu cartão. Passei a senha pra ele tirar o dinheiro para o casamento das gêmeas. E era ele quem comprava meus remédios.  Confiei nele, pensei que só tirasse o necessário.

- Na sua conta só tem o pagamento da pensão e mais alguns trocados. Da sua parte na venda da propriedade não tem mais nada, mãe.

- Não é possível minha filha. Deve ser algum engano. O Jesuíno não ia tirar o dinheiro da minha conta sem me avisar. Para o casamento das filhas ele pediu emprestado.

- Vamos para casa, vou ligar para ele. Será que ele pensou que a senhora não ia descobrir o desfalque?

- Não quero que você conte para o Jaime e nem para o Jurandir. Eles não gostam do irmão.

- A senhora não pode esconder isso deles, mamãe. O que o Jesuíno fez foi um roubo. Todos nós recebemos a nossa parte. Ele não tinha o direito de pegar a sua parte sem permissão.

- Ele vai explicar porque fez isso minha filha. Vamos conversar com ele antes de falar com os outros.

- A senhora é quem sabe. O dinheiro é seu, pode fazer o que quiser com ele. Pode dar para o Jesuíno se quiser.

- Eu queria ajudar na reforma da casa já que vou ficar morando com você.

- Quanto a isso não se preocupe. Tenho meu trabalho e uma boa freguesia. Todos gostam da minha costura e do meu crochê.

Naquele momento, Jesuíno estava saindo para o almoço, pensando na sua mãe. Algumas dúvidas pairavam em seu pensamento.

“Será que ela já tomara conhecimento do saldo bancário?”

“Seus irmãos já estariam sabendo do desfalque na conta dela?”

Quando ele pegou “emprestado” o dinheiro para fazer um investimento em seu nome, não imaginou que a mãe sofreria uma queda e que iria para a casa da Sueli. De acordo com seus planos a seguraria por mais tempo em sua casa.

Ao chegar encontrou a esposa aflita.

- Meu bem, sua irmã telefonou. Pediu para você ligar assim que chegasse. Ela precisa saber o que você fez com o dinheiro da sua mãe. Parece que a velha quase bateu as botas quando viu o saldo hoje pela manhã.

- Não vou ligar e se ela ou alguém ligar você inventa uma desculpa. Preciso pensar numa solução.

- Então é melhor nem atender o telefone, porque não quero ouvir desaforos.

- Faça o que achar melhor. Ainda bem que colocamos identificador de chamadas.

- Daqui a pouco seus irmãos estarão sabendo e provavelmente ligarão atrás de você.

- A mamãe não vai querer contar pra eles.

As duas mulheres, mãe e filha, ficaram aguardando o telefonema do Jesuíno. Ariana ao saber do ocorrido ficou abismada. Como seu tio teve a coragem de fazer aquilo com a própria mãe? Aquele dinheiro era para ser usado por ela em caso de necessidade. Ali, ninguém queria usufruir dos benefícios dela.

A situação financeira da família estava estabilizada. Ariana continuava lecionando como leiga, vendendo marmita e fazendo seu crochê. Elizandra e a mãe tinham uma boa clientela na costura.

José Carlos trabalhava e estudava. Não dependia mais da mãe. Continuava morando na casa do tio.

O casamento da Elizandra estava próximo. Dona Josefa que estava animada com o casamento da neta, ficou deprimida depois de descobrir o que o Jesuíno fez com ela.

Sueli pensou em contar para os irmãos, Jaime e Jurandir, porém dona Josefa achou melhor não aborrecê-los.

- Mamãe, se a senhora continuar aí pelos cantos, nessa tristeza que dá pena, vou ter que contar para eles o motivo.

- Vovó - disse a Elizandra - quero a senhora bem bonita no meu casamento.

- Fizemos um vestido para a senhora, mamãe - falou a Sueli.

Dona Josefa sorriu, sentindo-se amada por aquelas três mulheres. Ela não queria estragar o casamento da neta por causa da atitude do Jesuíno.

-Adivinha quem o Noel chamou para ser padrinho, mana? - Elizandra piscou para a irmã.

Ariana ficou radiante com a camaradagem do cunhado. Sabia que ele e sua irmã estavam conspirando a seu favor. Ela não perderia essa oportunidade!


Será que dessa vez Ariana trataria o Geraldo de outra maneira? Cederia aos galanteios do moço?

Não perca mais um trecho desta história na semana que vem...

Agradeço a sua visita!!

Um abraço,

Cidália.


PS: essa ilustração linda foi feita pelo meu sobrinho Marcos Wagner.