quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Amélia

 


Uma mulher destemida,
Corajosa,
Guerreira.
Uma mulher de muita fé.
Uma mulher que passou por maus pedaços.
Uma mulher forte.
Uma mulher que sempre deu a volta por cima.
Uma sobrevivente.
Uma mulher agradecida.
Numa certa manhã sua vida deu uma guinada.
Ela perdeu o controle da bicicleta,
E teve uma perda irreparável, a visão de um olho.
Passou por um grande susto.
Foram meses de luta, de agonia, de sofrimento.
Ela precisou, muitas vezes, engolir o choro,
Suportar a dor.
Mas sobreviveu.
A mulher forte que poucas vezes fraqueja,
É testemunha de um milagre.
Deus sempre a sua frente,
Jesus é o seu melhor amigo.
Sempre pronta a ajudar,
Solidária.
Uma mulher trabalhadora,
Batalhadora,
Fiel à palavra.
Nas noites mal dormidas,
Quando o sono demora a chegar,
Ela se pergunta,
Quem é ela?
A resposta surge em seus pensamentos.
Ela é uma mulher meio cansada.
Cansada das muitas dores causadas pelas feridas na alma.
Porém, uma mulher que ainda tem muitas estradas de risos e lágrimas pela frente.
Uma guerreira sempre pronta a enfrentar novas batalhas
. (Kity Araújo)
Uma mulher que não se deixa abater.
No seu vocabulário não existe a palavra desistir.
Como na letra de uma determinada música.
Ela é Amélia, uma mulher de verdade.

Amélia como a sua saudosa mãe.

 

PS: Sentada, na sala de espera do hospital, ela lé uma mensagem compartilhada no status do WhatsApp da prima e pensa em escrever para passar o tempo.

 

Obrigada pela visita,

Cidália. 


segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Deboche?

 


No salão de beleza ela ouve atentamente a conversa das manicures.

O assunto é sobre uma professora aposentada que foi assassinada no município vizinho. O que chama a atenção da ouvinte é a maneira como uma das manicures se refere à professora.

- A véia (em tom de deboche) era viúva mas ainda tinha no dedo a aliança de casamento.

A ouvinte no auge dos seus sessenta e tantos pensou: “será que essa moça não vai envelhecer?”

A vontade era de falar, de questionar, mas a ouvinte se conteve. Ela é uma pessoa pacífica, prefere levar desaforo para casa do que discutir.

“Será que a moça não tem nenhum idoso na família?”

Uma dúvida pairou na cabeça da ouvinte, será que o tom usado pela moça foi sem querer?

Porém, como a conversa rendeu, a ouvinte percebeu que o tom era mesmo de deboche, como se a moça estivesse rindo da idosa. Como se envelhecer fosse uma tragédia. Como se as rugas fossem repugnantes.

Como essa moça trata ou tratava seus avós?

A ouvinte saiu do salão com a imagem da dita cuja sorrindo ao dizer a palavra "véia".

A idosa havia sido assassinada dentro da sua casa.

É muito triste imaginar a cena dos últimos momentos da vida dessa professora. O que ela sofreu nas mãos dos bandidos, o que passou pela mente dela ao ver que não escaparia com vida! 

É até difícil de se imaginar no lugar dela, de tentar adivinhar quais foram os últimos pensamentos. Um daqueles algozes poderia ter sido seu aluno ou filho de algum conhecido que fez uma escolha ruim de vida.

No mínimo essa professora, uma idosa que dedicou anos ensinando as crianças, merecia respeito, compaixão.

A ouvinte pensou em todos os idosos, pensou naqueles que são chamados carinhosamente de "véio" ou "véia" pelos filhos e netos. Será que ela se enganou com o tom usado pela manicure? 

Um acontecimento triste precisava ser contado com empatia. 

Enfim, quando chegar a vez dessa moça ser uma idosa, que ela não ouça comentários maldosos sobre o envelhecimento.

Todo "veinho" foi criança, adolescente, jovem.

 "Envelhecer é o privilégio de acumular histórias, sabedoria e a tranquilidade que só o tempo pode trazer. A verdadeira juventude reside na alma, sempre disposta a aprender e a viver com intensidade." (frase copiada da internet)

 

E você, já ouviu algum tipo de comentário maldoso sobre os idosos? 

Sinta-se à vontade para deixar a sua opinião, obrigada.


Cidália.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 28 de outubro de 2025

O abraço

                                                          (imagem copiada do Pinterest)

Sentados um ao lado do outro.

Na igreja.
Faltando alguns minutos para a missa começar.
Ele pede que ela adivinhe alguma coisa.
Ela não entende a pergunta.
Ou melhor, ela entende outra coisa.
Ele, então, conta sorrindo que outro dia encontrou o irmão mais velho e pela primeira vez se abraçaram.
Detalhe: ele com mais de 70 anos e o irmão com mais de 90 anos.
Com o sorriso estampado no rosto ele repetiu.
- Foi o primeiro abraço.
E antes da missa começar ele conseguiu desabafar que o problema sempre foi dele.
Ele, o irmão caçula foi o menino tímido, introvertido, acanhado.
Ele sempre se sentiu diferente dos irmãos, com dificuldade para fazer amizades.
A sua família não tinha o hábito de se abraçar.
O irmão mais velho foi criado por um parente.
Outro irmão foi criado pela avó.
Somente ele e um outro irmão foram criados pela mãe.
A missa começou e o assunto foi encerrado.
Nos seus lábios o esboço do sorriso permaneceu.
Ele abraçou o irmão mais velho.
Ele foi abraçado pelo irmão mais velho.
Provavelmente o irmão mais velho sentiu a mesma coisa que ele. Uma vivência que não fez parte da vida de ambos. Os dois irmãos cresceram afastados. Sem compartilhar as risadas. Sem trocas de carinho. Sem afinidades. Cada um formou a sua família sem participar da vida do outro. Apenas encontros casuais. O que um sabe da vida do outro? 

Esse abraço pode ser o primeiro de muitos. Um abraço acolhedor. Um abraço que deixou ambos felizes.

 PS: Há um poder de cura no abraço que desconhecemos.

Obrigada pela visita,

Cidália. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 19 de outubro de 2025

A casa

 

 




Era uma vez uma casa.

Uma casa grande,
cheia de vozes,
e de berros.
Uma casa repleta de alegria.
Uma casa com crianças,
e animais de estimação.
Uma casa onde vivia uma família.
Uma família com seus problemas,
e desavenças.
Uma família como outra qualquer.
Um certo dia a matriarca se foi.
É chegada a sua hora.
Os familiares se afastaram.
Cada um seguiu seu rumo.
Quem ficou na casa não teve como se manter. 
Foram levados para serem cuidados.
A casa ficou abandonada,
com suas paredes corroídas pelo tempo.
A casa ficou sem vozes,
e sem os berros.
A casa se encheu de tristeza. 
A casa ficou vazia.
A casa ficou assombrada.
A casa ficou deteriorada.
A casa enfeava a rua.
Chegou, então, o dia em que a casa foi derrubada.
No lugar onde havia uma casa, que abrigou por muito tempo uma família, tem agora um amontoado de entulhos. Por pouco tempo.
Em breve haverá somente um espaço vazio entre os outros imóveis.
Somente os moradores antigos da rua conhecem a história daquela casa.
Daquela casa que, em breve, ninguém mais se lembrará.
O terreno pertence à prefeitura.
Algo novo surgirá no local? Ou não?
Somente os moradores antigos da rua lembrarão das pessoas que moraram ali.


Chegará o dia em que as velhas lembranças ficarão soterradas junto com o entulho em algum lugar bem longe dali.
 
 
Obrigada pela visita,
   Cidália.