quarta-feira, 26 de março de 2025

Um amor maduro

 


Um dia como outro qualquer.

Uma manhã normal.

Ela chama um Uber para levá-la ao laboratório. 

Ela saiu de casa como sempre, sem se preocupar com a aparência. Ela gosta de se sentir confortável dentro de um moletom. No rosto apenas o protetor solar. Nada de maquiagem. Naquela manhã fria ela queria se sentir aquecida.

Eles se encontram na fila da triagem. 

Ele passou por ela e foi sentar-se, logo em seguida fez sinal para que ela se sentasse ao seu lado. Quando seus olhares se cruzaram ela notou que os olhos dele eram azuis. Os cabelos grisalhos o deixavam sedutor. Ela esboçou um sorriso enquanto o encarava. 

 “Que homem distinto!" Ela pensou.

 Ele também, naquele momento, ficou encantado por aquela mulher que lhe dirigia um olhar travesso. Uma mulher madura com um sorriso cativante.

Ambos sentiram algo que há muito tempo não sentiam.

Foi uma atração mútua.

Ela fez a sua ficha e foi sentar-se ao seu lado. Por coincidência foram fazer os exames no mesmo andar. Sentaram juntos, novamente, enquanto aguardavam a vez. Desceram o elevador e ele perguntou se ela estava de carro. Ela disse que tinha pego um Uber, então ele se ofereceu para levá-la para casa. No momento ela relutou, pois não o conhecia. Em seguida viu que ele era uma pessoa confiável e aceitou a carona. Ele a levou e conversaram um pouco dentro do carro. Trocaram um beijo de despedida. Ela se encaminhou em direção a sua casa, feliz por ter conhecido um homem lindo, alto, de olhos azuis e educado. 

Cada um tomou seu rumo levando consigo, no pensamento, aqueles momentos que passaram juntos.

Naquele mesmo dia, no final da tarde, trocaram mensagens.

Depois daquele dia ele a convidou para almoçar e aí tudo começou. 

O que aconteceu com eles foi amor à primeira vista.

O casal se tornou inseparável, passeios nos finais de semana, academia no final do dia e jantares românticos.

Por enquanto o casal aproveita cada momento junto para curtir a vida. 

Passar o domingo num parque, subindo em árvores, fazendo piquenique e admirando a natureza enquanto caminham são coisas que gostam de  fazer. Querem somente viver!

Estão juntos há oito meses.  

O que o futuro reserva para eles? Só o tempo dirá!


Soneto da fidelidade | Vinícius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Obrigada pela visita,
Cidália.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Ouvidos aguçados

 

 


Olhos curiosos observam àquela senhora de calça jeans e um salto fino, altíssimo. Como ela, no auge dos sessenta e tantos anos, consegue se equilibrar naquele salto?

Os olhos atentos observam e os ouvidos aguçados ouvem a tal senhora contar a sua história enquanto aguarda a sua vez para fazer um exame.
Àquela senhora, faceira, conta que desde os 30 e poucos anos faz botox. 
O primeiro procedimento a que se submeteu foi uma rinoplastia em São Paulo. 
Depois dessa época não parou mais. Pegou gosto pelo botox. Ela diz que não faz academia. Após a aposentadoria gosta de curtir a sua casa. 
Malhar e ficar suada não faz o seu estilo. 
Ela fala que está pensando em fazer uma harmonização facial. Ela conta que sempre foi vaidosa com a sua aparência. 
Os ouvidos aguçados acompanham a conversa, sem perder uma palavra. 
Pensa em como pode alguém se importar tanto com a aparência do rosto e não querer praticar nenhuma atividade física para manter a saúde do corpo. Se bem que a tal senhora diz que cuida da alimentação, que sempre cuidou. 
De vez em quando a ouvinte, uma moça bem jovem, demonstra interesse pelo assunto. Diz que pretende fazer algo no seu rosto.
A conversa vai longe, os ouvidos aguçados sempre atentos.
A senhora se levanta (ela estava sentada no degrau da escada). Anda com naturalidade sobre os saltos desconfortáveis, enquanto caminha em direção à entrada do hospital para pedir uma informação. 
A ouvinte já sabe muito sobre a tal senhora. Fica sabendo sobre a sua família, sobre o falecido marido que morreu de COVID em 2020. Fica sabendo a opinião da tal senhora sobre a vacina. Fica sabendo sobre o seu trabalho e acaba conhecendo um dos filhos que está ali, acompanhando-a.
Os olhos curiosos e ouvidos aguçados, sem pronunciar uma palavra sequer, observa que a ouvinte falou pouco. Muito pouco. 
Provavelmente àquela senhora não tivesse com quem conversar, então, aproveitou a oportunidade enquanto aguardava a sua vez.
Quantos idosos vivem sozinhos e quando têm uma oportunidade contam as suas histórias!
Quantos idosos aproveitam para usar as roupas e calçados que estavam guardados há muito tempo!
Para a maioria dos idosos um salto altíssimo é desconfortável, mas àquela senhora não estava preocupada com conforto.

Àquela senhora talvez pense na vida que  prenuncia um futuro viçoso e um outono cheio de fartura, enquanto sua mocidade se esvai lindamente como uma flor. Se a vida fosse as quatro estações, estaria ela no outono agora? 
 
No dia seguinte, em outro momento, também num ambulatório médico, os olhos atentos observam os looks das pessoas que entram e saem dali. Ela vê uma senhora na casa dos cinquenta saindo com o celular no ouvido. A mulher toda empoderada exibe as suas longas pernas num short curtíssimo. Isso sim que é sentir-se bem sem ligar para a opinião dos outros. Essa senhora demonstra segurança. Ela está no auge, com o corpo bem torneado, por quê escondê-lo? Tem que aproveitar o final do verão para andar à vontade. 
Nessas andanças pelos hospitais e ambulatórios médicos os olhos atentos e ouvidos aguçados gosta de observar as pessoas para passar o tempo. Sabe que não é nenhuma crítica de modas (não entende do assunto). 
 
PS: Antigamente as pessoas se preocupavam em usar a roupa adequada para cada tipo de lugar. Há muito tempo essa preocupação deixou de existir pelo que vemos.
 
Sua opinião é sempre bem vinda, obrigada.
                                 Cidália.

 

 


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Sala de espera



 

Pacientemente, ela espera por ele do lado de fora. A sala de espera está cheia, o calor é muito, apenas um ventilador para refrescar o ambiente.

Enquanto espera, ela observa as pessoas ao seu redor.

Pacientes sentados em cadeira de rodas.
Pacientes que esperam ser chamados.
Pacientes que entram deitados em macas.
Pacientes que esperam pela ambulância.
Pacientes que descem de diferentes tipos de carros.
Acompanhantes e pacientes que olham o celular.
Crianças que brincam enquanto esperam seus pais.
Ela sente a dureza do banco de cimento. 
Ela olha o relógio.
Quanto tempo ele vai demorar para terminar a medicação?
Pacientes saem apoiados em muletas.
Funcionários usando jalecos brancos ou apenas com um crachá, dependurado no pescoço, passam por ela.
Ela observa um médico que chega cedo e começa a atender seus pacientes. 
Pacientes, impacientes, balançam as pernas, olham o relógio.
Ela observa e digita.
Ela digita e observa.
Entre aqueles que olham o celular, apenas uma pessoa lê um livro.
Ela pensa em se levantar. Precisa esticar as pernas.
Ela pensa em dar uma volta na cidade, porém o calor a deixa desanimada.
Ela caminha, então, pelas redondezas. 
Pacientes saem com um sorriso nos lábios apesar dos problemas que os afligem.
Cada paciente que por ali passa, carrega dentro de si sofrimentos inimagináveis.
De repente o cheiro de comida que sai do refeitório entra pelas suas narinas.
Funcionários saem para almoçar. 
A sala de espera vai ficando vazia. 
Ela olha a televisão ligada. 
Sua barriga começa a roncar.
Ela levanta os olhos e o vê saindo.
Ufa!
Os dois caminham em direção ao restaurante mais próximo.
Eles almoçam antes de voltar para casa.
Mais um dia vencido com a graça de Deus!

Obrigada pela visita,
Cidália

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

O sono

 


Ela se vira pra lá e pra cá, estica uma perna, depois a outra, encolhe as pernas, levanta os braços. Levanta-se, liga o ventilador, vai ao banheiro, volta para a cama, se cobre. O barulho do ventilador a incomoda, ela o desliga. Abre a janela. Olha o relógio. Começa a fazer a contagem regressiva a partir de 1000. Respira profundamente. Volta a olhar o relógio. Procura novas posições. A hora passa e ela continua à espera do sono. Não tem como tomar um copo de leite, precisa ficar em jejum para fazer um exame de sangue na manhã seguinte.

Então, ela se levanta e muda para o outro quarto. Deita-se e rola pra lá e pra cá esperando encontrar a melhor posição. Olha o relógio. Ela precisa dormir. A falta do sono é prejudicial à saúde.

Enfim, após muita briga, o sono chega. Ela acorda com o toque do celular. É hora de levantar-se. A vontade de permanecer mais um pouquinho é grande, mas a preocupação de perder a hora é maior.

Após o almoço ela deita-se no sofá com o ventilador ligado e dorme meia hora. Ela espera que a noite seja melhor que a anterior.

Dizem que a pessoa idosa dorme muito, basta sentar-se e já está dormindo. Sinceramente, penso que acontece isso, porque o idoso dorme pouco durante a noite.

Ficar dependente de medicamentos para dormir não é algo que ela queira, então vai procurar outras formas de se conectar com o sono. Talvez começar a ler algum livro a ajude, quem sabe?

Sentada, assistindo um filme ou seriado, ela cochila, a cabeça pende. O sono é uma coisa interessante, quando ela quer ficar acordada ele aparece.

Certamente muitas pessoas sentem dificuldades para dormir. O que fazer quando o sono sumir?

Isso acontece com você?

O que você faz para ter um sono de qualidade?

Fazer uso de medicamentos é a solução?

Um chá de camomila ou um copo de leite é a melhor opção? Uma amiga disse que quando perde o sono, ela toma um copo de leite com farinha de milho. Será que funciona?

 

 O sono ideal deve ser reparador, sem interrupções, e a quantidade de horas necessárias depende da idade. (Frase copiada da internet)

 

Obrigada pela  visita,

Cidália.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Um dia qualquer

 


 O  cheiro do combustível entra nas suas narinas enquanto ela espera, pacientemente, pelo marido.

Mil coisa passam pela sua  cabeça.
De vez em quando uma brisa suave sopra em seus ouvidos.
Sentada na mureta do restaurante, celular nas mãos, pensamentos afloram a sua mente.
Carros, motocicletas e caminhões passam a sua frente, num frenesi enorme.
Outros param, enquanto ela passa a mão pelo rosto para limpar o suor.
Ela apenas observa o vai e vem de automóveis e pessoas.
Um conhecido para e a cumprimenta.
Seus dedos voltam-se para o teclado do celular..
O vento volta a soprar seus cabelos.
Ela descruza as pernas, olha ao redor.
O telefone toca, um número desconhecido, ela não atende.
O marido, gentilmente, lhe oferece um copo de água.
A água refresca a sua boca e desce suavemente pela garganta.
O ponteiro do relógio não para.
Ela lembra da panela elétrica que ficou cozinhando o arroz e do feijão cozido na panela de pressão esperando para ser temperado.
O  dia está apenas começando, mais um dia de fé e esperança.
No dia anterior, no mesmo horário, ela estava recebendo um prêmio por ter sido uma das vencedoras do sorteio natalino.
Sim, vencedoras, foram quatro mulheres. Após alguns minutos  o marido avisa que o serviço no carro foi concluído. Já podem voltar para casa.
Provavelmente o arroz está cozido. 
É hora de finalizar o almoço e curtir mais uma tarde de sol escaldante. 
Para sobremesa um sorvete de banana.
No decorrer do dia um suco gelado.
No Spotify uma canção de Roberto Carlos.
 
A montanha

Eu vou seguir uma luz lá no altoEu vou ouvir uma voz que me chamaEu vou subir a montanha e ficar bem maisPerto de Deus e rezar
Eu vou gritar para o mundo me ouvirE acompanhar toda minha escaladaE ajudarA mostrar como é o meu grito de amor e de fé
Eu vou pedirQue as estrelas não parem de brilharE as crianças não deixem de sorrirE que os homens jamaisSe esqueçam de agradecer
Por isso eu digo:Obrigado, Senhor, por mais um diaObrigado, Senhor, que eu posso verQue seria de mim sem a féQue eu tenho em você por mais que eu sofraObrigado, Senhor, mesmo que eu choreObrigado, Senhor, por eu saberQue tudo isso me mostra oCaminho que leva a você mais uma vez:Obrigado, Senhor, por outro diaObrigado, Senhor, que o sol nasceuObrigado, Senhor, agradeço: obrigado, SenhorPor isso eu digo:Obrigado, Senhor, pelas estrelasObrigado, Senhor, pelo sorrisoObrigado, Senhor, agradeço: Obrigado, SenhorMais uma vez:Obrigado, Senhor, por um novo dia!Obrigado, Senhor, pela esperança!Obrigado, Senhor, agradeço: Obrigado, SenhorPor isso eu digo:Obrigado, Senhor, pelo sorriso!Obrigado, Senhor, pelo perdão!Obrigado, Senhor, agradeço: Obrigado, SenhorMais uma vez:Obrigado, Senhor, pela natureza!Obrigado, Senhor, por tudo isso!Obrigado, Senhor
Fonte: LyricFind
 
Obrigada pela visita,
Cidália


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Indignação

 


 

Começando o ano indignada com a atitude de uma certa profissional da área da saúde bucal.

Como essa profissional teve coragem de se aproveitar da ingenuidade de uma pessoa de oitenta anos?

A tal, além de chorar para impressionar o idoso, ainda pediu que ele não comentasse com as sobrinhas o que se passava no consultório.

Mais de um ano depois de iniciado o procedimento dentário o idoso chegou ás 7 horas da manhã para colocar a dentadura fixa e passou o dia todo a mercê da fulana. Segundo ele, a tal o atendia, mandava-o para a sala de espera enquanto atendia outra pessoa, depois chamava-o e passou o dia nessa rotina. Na hora do almoço o idoso e seu acompanhante comeram na clinica. Durante a tarde a fulana saiu e voltou algumas horas depois. Já era noite quando o idoso saiu dali com as dentaduras e mais uma caixa com produtos de higienização bucal no valor de $2.000,00. A dentista havia garantido que as dentaduras ficariam bonitas. Para o idoso só bastava que as dentaduras ficassem boas.

Alguns dias antes do Natal ele viajou para o interior, para a cidade de onde nunca deveria ter saído. Foi visitar os parentes e os amigos. Ao chegar na casa de uma sobrinha, no quinto dia de estadia na cidade, a dentadura de cima estava frouxa e torta. Dava para perceber que a gengiva estava deformada. 

No dia seguinte quando ele voltou na casa da sobrinha estava apenas com a dentadura de baixo, a de cima havia caído. Na gengiva apenas dois pinos na frente. A sobrinha mostrou fotos da dentadura protocolo que pesquisou na internet onde aparecem quatros pinos, no mínimo, dois na frente e dois atrás.

Segundo o idoso as dentaduras custaram um bom dinheiro e o higienizador, que foi bem caro, não serviu para a limpeza porque a dentadura estava suja. A aparência dos dentes era feia, como se os dentes fossem velhos.

A sobrinha o aconselhou a exigir os seus direitos, pois ele pagou caro para não ter que usar mais corega para fixar as dentaduras. Como pode em poucos dias de uso uma delas cair? 

Antes de voltar para casa ele passou para se despedir da sobrinha e falou que ia conversar com a fulana, mas que não vai dar mais nenhum dinheiro. Disse que qualquer coisa vai perder o que pagou e deixar pra lá.

Infelizmente há bons e maus profissionais e ele caiu nas mãos de uma má profissional. Será que ela avaliou as condições ósseas da gengiva dele?

Provavelmente ele precisaria de um enxerto na gengiva que com o tempo vai afinando. De acordo com as pesquisas antes de tudo é necessário avaliar a gengiva do idoso para definir qual é o melhor tipo de dentadura.

A tal fulana sequer pensou que somente dois pinos seriam insuficientes? Ou foi uma estratégia para tirar mais dinheiro do idoso? 

PS: O objetivo deste texto é alertar os familiares de idosos para que fiquem atentos. Muitos idosos são capazes de tomar decisões, porém, outros precisam de alguém que os orientem.


Obrigada pela visita,

Cidália.





sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Gratidão

 


Outro dia ainda a menina brincava na rua com os colegas.

Uma rua tranquila.

As pessoas conversavam em frente ao portão.

Meninos andavam de bicicleta com as meninas na garupa.

Jovens curtiam os bailinhos, aos domingos, que eram feitos na casa de alguém da turma.

As mães cuidavam do marido, dos filhos e da casa. Algumas costuravam e faziam as roupas para a família e para os vizinhos.

Os pais chegavam cansados do trabalho e muitas vezes não tinham tempo para dar atenção aos filhos.

Alguns pais encontravam tempo para beber uma cachaça com os amigos no bar da esquina.

Na rádio, as músicas mais tocadas eram:

  • Roberto Carlos – Detalhes.
  • Elis Regina – O Bêbado e A Equilibrista.
  • Roberto Carlos – Amigo.
  • Paulinho da Viola – Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida.
  • Luiz Melodia – Juventude Transviada.
  • Roberto Carlos – Outra Vez.
  • Clara Nunes – Ilu Ayê
  • Benito di Paula – Retalhos de Cetim

A menina cresceu lendo fotonovelas e romances.

As paqueras em frente ao portão da escola eram comuns.

No salão paroquial aconteciam bailes nos finais de semana.

A menina gostava de usar shorts curto e blusa frente única.

Alguns professores fizeram o coração da menina bater mais forte. Paixonite normal da idade.

A menina ansiava pelos dezoito anos, pela independência. Queria trabalhar e ter seu próprio dinheiro. Queria poder comprar o que quisesse.

Mas, de repente, como na música infantil, o tempo passou a correr, a correr, a correr e a menina virou mulher, esposa e mãe. Começou a trabalhar e a ter responsabilidades.

O ponteiro do relógio parece que foi acelerado.

A mulher que ontem era uma menina se olha no espelho e vê no rosto as linhas de expressão cada vez mais acentuadas. O corpo já não é mais o mesmo apesar dela não querer admitir. 

Outro dia ela viu um vídeo do cantor Oswaldo Montenegro em que ele perguntava:
- Quando a gente fica velho? 
 
Ela pensa que a medida que os dias vão passando a gente só se dá conta da idade quando olhamos para o espelho e vemos a nossa imagem refletida.

Agora a menina mulher além de esposa e mãe, também é avó.

Uma benção, pois com a neta a menina adormecida desperta no corpo da mulher. Ela busca as brincadeiras do passado para brincar com a neta. Quando estão juntas elas dançam e brincam de escolinha. Ela esquece a artrose.

Outro dia a menina moça esperava ansiosamente completar dezoito anos de vida.

Hoje a menina mulher é grata pelos sessenta e cinco anos que serão completados no dia 26/12.

Nesses sessenta e tantos anos muitas coisas aconteceram, coisas boas e ruins. As ruins serviram para que a sua fé se mantivesse firme.
   
A menina mulher continua gostando de ler romances cheios de clichês, se bem que ultimamente os filmes e séries ganharam a sua preferência.

E o tempo passou a correr, a correr, a correr, e o tempo passou a correr, a correr.

Hoje a rua não é mais tranquila.

Não há mais segurança para as crianças brincarem livremente por aí.

Muitos jovens se tornam pais muito cedo.

Na televisão as notícias ruins são manchetes diariamente.

As redes sociais ganharam espaço.

Há pouca comunicação entre as pessoas.

Livros físicos perderam a vez para os digitais.

Sentimentos como a empatia e o amor estão escassos.
 
Alguns amigos se distanciaram, outros já partiram. Algumas amigas se reúnem sempre que possível para um almoço e um bate papo e continuam a usar a palavra menina entre elas. Outras se encontram esporadicamente, por acaso ou através das redes sociais.


A menina mulher é esperançosa. No novo ano que está por vir o mundo será bem melhor. Ela acredita e você?



Obrigada pela visita,
 
Um abraço,

Cidália.