Ao menos uma
vez no semestre ela se viu bonita e bem cuidada. Unhas feitas e cabelo pintado.
Presente do dia das mães. Sua autoestima foi elevada. Ela recebeu as amigas
sentindo-se muito feliz. O sorriso ia de orelha a orelha. Dessa vez ela tinha algumas
novidades para contar.
Pena que
algumas pessoas lembram das mães apenas no segundo domingo de maio. Então, seus
fios de cabelo branco voltaram a aparecer e suas unhas não ganharam mais cor.
Sua mente
vacila, talvez esteja perdendo as memórias recentes. Ela demonstra cansaço por
passar o dia sentada, assistindo qualquer coisa na televisão. Sente vontade de
sair e ver gente. Precisa encontrar alguém que tenha paciência para ouvi-la. A necessidade de falar é muito grande.
Às amigas ela conta uma
história sobre suas idas ao ponto do ônibus para ver gente e conversar. Parece
uma história fictícia. Ou talvez momentos vividos no passado voltem à sua lembrança como se tivessem acontecido recentemente.
Em outro
momento diz que sente medo para sair sozinha. As reportagens policiais estão
assustando-a. Apesar da grande vontade de sair ela não se arrisca. O medo é maior que a vontade.
O prato do almoço ainda está sobre a pia com o resto de comida. Ela recebe o
prato feito, não tem o direito de fazer seu próprio prato. Até isso já perdeu. Bem que ela gostaria de se servir, escolher o que quer comer e repetir se tivesse vontade.
Ao ver a
mesa posta para o café com as guloseimas levadas pelas amigas ela sente-se
envergonhada.
- Vocês não precisavam ter trazido essas coisas.
- Não se preocupe, já que você não vai a nossa casa, nós trouxemos o lanchinho para comermos juntas - diz uma delas.
Ela já foi
uma ótima anfitriã, sempre recebeu as visitas com a mesa farta. Bolinho de
chuva, bolo de roda, curau, cuscuz, queijo, café fresquinho e leite.
Ainda lembra
de como cozinhar o arroz. Ela faz questão de detalhar cada passo. Fala do arroz com frango caipira que fazia. Tempo bom quando tinha autonomia para comprar e cozinhar o que quisesse.
Talvez ela
esteja se sentindo velha demais para se importar com as coisas ao seu redor. Aceitar as
novas condições de vida que lhe foram impostas é mais conveniente? Talvez seja, quem sabe!
Ela já viveu
tantas coisas boas e muitas coisas ruins, mas sente que muitas dessas
lembranças estão se esvaindo da sua memória. Principalmente as lembranças mais novas. E até àquelas que ela não gostaria de esquecer.
Ela sabe que
o tempo não perdoa. Ela sente em cada membro do corpo que está perdendo a
mobilidade. A falta de uma atividade física é sentida. Ao menos ela caminhasse, se houvesse incentivo!
Ela já não tem mais a mesma disposição de antigamente. Poucas coisas lhe causam alegria. Até o choro que estava contido voltou a lhe inundar os olhos.
Ela já não tem mais a mesma disposição de antigamente. Poucas coisas lhe causam alegria. Até o choro que estava contido voltou a lhe inundar os olhos.
Ela chora
por se sentir prisioneira. Diz às amigas que sente saudade da época em que
trabalhava, pois nessa época era livre e estava sempre rodeada de gente. Podia conversar, rir, se distrair, se divertir nos encontros pedagógicos.
Hoje em dia os colegas
de trabalho talvez nem se lembrem mais dela. Poucas amigas a visitam. Apenas duas são fiéis à amizade. São elas que a ajudam a manter a serenidade.
O abandono é
o sentimento que lhe causa maior sofrimento. A falta de alguém para conversar.
A solidão é a sua companheira. Não há mais interesse por nada. Tornou-se uma
pessoa sem vontade própria, sem desejos, sem utilidade.
Cada dia que
passa, o sentimento de tristeza invade a sua alma. Ela só sabe das novidades quando
suas amigas a visitam.
Todos os seus dias são mornos. Sem esperança de
sair daquela “prisão”. Aos olhos de muitos ela tem vida de rainha, não precisa
fazer nada, recebe tudo na mão. Aos seus olhos ela é uma pessoa inútil,
descartável. Sente-se como um pássaro ferido que vive aprisionado numa gaiola e que "inveja" a liberdade do outro que pode voar livremente.
Como um pássaro ferido, com o peito dilacerado, ela sente o coração sofrido. Sua mente ainda não se perdeu completamente. Assim fosse, pois então não se sentiria tão só e carente.
PS: Desenhos feitos pelo meu sobrinho Marcos Wagner.
Sua visita me deixa muito feliz!
Como um pássaro ferido, com o peito dilacerado, ela sente o coração sofrido. Sua mente ainda não se perdeu completamente. Assim fosse, pois então não se sentiria tão só e carente.
PS: Desenhos feitos pelo meu sobrinho Marcos Wagner.
Sua visita me deixa muito feliz!
Obrigada,
Cidália.
Infelizmente isso acontece algumas pessoas só se lembra da mãe no dia das mães, o abandono é muito ruim pra qualquer pessoa, a pessoa abandonada se sente muito triste, a autoestima dela fica em baixa, ótimo o texto a ilustração do seu sobrinho muito boa, bjs.
ResponderExcluirEu e meu sobrinho agradecemos pelo comentário!! Concordo com o que você escreveu Lucimar.
ExcluirBeijos!
Adorei o texto !
ResponderExcluirAbandonar para mim, seria desistir da pessoa, e até esquecer dela .
Isso gera um sentimento de tristeza enorme, pois não há nada pior do que ser deixado de lado , como se não fosse nada, como se não tivesse importância alguma...
Bjs
Nem fale, não há nada pior do que se sentir esquecido (a)!! Obrigada pelo comentário, muito boa a sua opinião!!
ExcluirBeijos!
Que tristeza chegar a velhice sendo abandonada pelas filhas será que elas não tem compaixão , um pouco de amor pela mãe que as criou com tanto carinho , meu Deus é muita crueldade . Mais tenho certeza que Deus tá vendo tudo elas terão retorno .
ResponderExcluirÉ muito triste para as pessoas que se encontram numa situação parecida com esta da personagem. Obrigada pelo comentário!!
ExcluirBeijos!
Texto muito triste, mas retrata a realidade de muitos idosos que são abandonado pelos filhos, no lugar de serem acolhidos por quem eles deram a vida para criar. Mas o final dessas pessoas será igual ou até pior do que fazem. É a lei do retorno.
ResponderExcluirPois é, ainda hoje vi o vídeo de uma senhora abandonada na porta do lar dos idosos, numa temperatura de 10 graus. Obrigada pelo comentário!!
ExcluirBeijos!
Que texto tocante. Infelizmente é isso que muitos idosos passam hoje em dia. Fadados ao descaso e abandono de suas famílias, alguns tem sorte de ter algum amigo que ainda visite, alguns familiares de vez em quando... Mas a sensação de não "servir" mais parece tensa e constante =\ me deu até um aperto. Muito bem escrito
ResponderExcluirSim, é muito triste para àqueles que são abandonados pela família. A sensação de inutilidade é terrível! Muito obrigada pelo comentário!!
ExcluirBeijos!
Texto muito bonito,porém triste também,acho muito injusto o que alguns filhos fazem com seus pais na velhice, poxa será o momento da nossas onde deveremos mais do que nunca retribuir todos os cuidados e amor que eles tem por nós, é uma situação muito triste
ResponderExcluirVerdade, é muito triste, na hora em que os pais precisam de carinho, os filhos virarem as costas!! Muito obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijos!
Que triste! Mas infelizmente, esta é a realidade de muitas mulheres. Eu não sou mãe, mas valorizo muito a mãe que tenho. Chega a dar muita tristeza ler isso e até reconhecer casos de pessoas que conheço e passam por esta mesma situação. :(
ResponderExcluirBeijos!
Essa é uma situação comum, infelizmente!! Parabéns por valorizar a sua mãe, você é uma filha que vale ouro. Muito obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijos!
Oi Cidalia!
ResponderExcluirSeu texto está lindo, cheio de prosa e poesia. Lindo mesmo, adorei lê-lo. Acredito que muitas mulheres se encaixariam perfeitamente nos seus versos, é a vida de muitas delas, triste realidade. Parabéns pelo post, está fantástico!
Abraços
Olá Ana Carolina!!
ExcluirFico feliz que tenha gostado da minha escrita, muito obrigada!!
Beijos!
Que texto tocante, meu deu um aperto no coração...deve ser triste demais se sentir tão só, viver uma vida vazia, aliás na verdade nem viver, apenas sobreviver. Infelizmente essa é a realidade de muitos idosos em nosso país.
ResponderExcluirVocê descreveu bem a maneira de viver de muitos idosos, eles apenas sobrevivem, é isso mesmo. Obrigada pelo comentário!!
ExcluirBeijos!
Oi!!
ResponderExcluirInfelizmente o abadono acontece e com ele vem varios problemas. Mas não podemos nos abater.
Bjo
Olá Joana!
ExcluirVerdade!! Obrigada pelo comentário!
Beijos!
Isso é muito triste, esse tipo de abandono acontece muito. Infelizmente :(
ResponderExcluirBjcas
www.estou-crescendo.com
Sim, é verdade!! Obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijos!
O abandono é sempre algo muito triste e, infelizmente, muitas vezes é até inevitável. Querendo ou não, faz parte da vida e envolve vários fatores. Adorei o texto! Você escreve super bem.
ResponderExcluirPois é, infelizmente!! Que bom que você gostou do texto, obrigada!
ExcluirBeijos!
Há pessoas que pensam que os idosos são trapos, querem viver, mais pessoas tiram suas vidas, tiram o pouco que resta de suas vidas, os idosos que querem dançar, ver pessoas se movendo, ver no mar, mas aqueles que são novos pensam que não precisam que eles têm que ficar em uma sala fechada isso é muito triste!
ResponderExcluirNem fale, Leny, e ainda tem os idosos que são colocados num asilo e são "esquecidos" lá. É muito triste!! Obrigada pelo comentário, beijos!
ExcluirLindo e triste ao mesmo tempo seu texto, infelizmente é a realidade de muitas mães e pessoas, o abandono muito triste, principalmente de quem amamos
ResponderExcluirMuito obrigada Cibele, pelo comentário! Realmente é uma triste realidade!!
ExcluirBeijos!
Olá!
ResponderExcluirótimo texto, as vezes nos sentimos abandonada mesmo sendo livres, é difícil perceber que estamos sozinhos, mas temos que se agarrar na única pessoa que não nos abandona, Deus. Lindo texto!
beijos!
https://blogminhaestanteliteraria.blogspot.com
Olá,Tahis!
ExcluirÉ verdade, Deus não abandona ninguém. Obrigada pelo comentário!
Beijos!!
Oi
ResponderExcluirque texto lindo,o abandono é muito ruim né,e esse acontece muito por ai,é triste passar por isso,mais o importante é se erguer e seguir em frente sempre.
Olá, Alzinete, obrigada!!
ExcluirNão tem nada mais triste que o abandono!
Obrigada, beijos!