terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O cinto

                                                                       (foto copiada da internet)

 

 

Poucos meses para completar treze anos e uma determinação gigantesca.

A menina que morava num vilarejo nordestino, viu ao passar numa loja, um cinto que estava na moda. Ela se apaixonou pelo adereço. Se imaginou usando aquele cinto que via as moças usando na TV.

Ao chegar em casa pediu para a mãe e ela respondeu que aquele cinto era muito caro.

No dia seguinte a mãe comprou um cinto de um camelô que encontrou na esquina.

- Fia, comprei o cinto que você queria, olha que bonito. Esse foi baratinho.

A menina olhou para o cinto comprado pela mãe e achou-o horrível. Em hipótese nenhuma se comparava com o cinto da loja. O cinto usado pelas artistas. Naquele momento ela pensou em ter seu próprio dinheiro para comprar o que quisesse.

Na noite seguinte, na escola, na hora do intervalo, ela estava próxima ao portão com uma amiga quando ouviu a conversa de um casal de namorados que estava do lado de fora. O rapaz disse para a namorada que seu patrão estava precisando de uma atendente na sua loja de assistência técnica de eletrodomésticos.

A menina não pensou duas vezes e se intrometeu na conversa.

- Eu quero esse emprego.

- Então você vai lá e diz que foi o Paulo que te mandou - disse ele e passou o endereço da loja.

- Muito obrigada.

Na manhã seguinte, a menina tomou o café e falou para os pais que ia sair para procurar um trabalho.

Os pais a olharam de olhos arregalados, porém não falaram nada.

Lá foi a menina até o endereço fornecido pelo Paulo. O dono da loja a atendeu e perguntou o que ela queria.

- Vim para ocupar a vaga de atendente. Foi o Paulo que me mandou aqui.

O dono da loja chamou seu funcionário que estava nos fundos da loja.

- Foi este rapaz que te mandou aqui?

- Sim, senhor.

- Fui eu sim, seu Antônio.

- Pode voltar para o seu trabalho, Paulo, obrigado.

Dirigindo-se à menina ele perguntou?

- Quantos anos você tem?

- Vou completar treze daqui a três meses.

- Seus pais sabem que você tá aqui procurando serviço?

-Sabem, sim, senhor. Eu preciso trabalhar para ajudar nas despesas (ela mentiu).

- Você já trabalhou antes?

- Nunca trabalhei fora, mas aprendo rápido, sei que vou dar conta.

- E a escola, você não estuda?

- Estudo a noite.

- Vou te dar uma chance.

Naquele dia mesmo, o senhor Antônio explicou quatro vezes para a menina qual seria seu trabalho, como atender o cliente e preencher o formulário. Ele trabalhava com várias marcas de eletrodomésticos.

A menina prestou muita atenção.

No dia seguinte e nos demais o pai a acompanhava de manhã para ter certeza de que ela estava trabalhando e no final do dia para levá-la à escola.

Nos primeiros dias, após o almoço (ela levava marmita), a menina cochilava sentada debaixo do ventilador de teto.

Quando o patrão a pegou debruçada sobre a mesa, cochilando, chamou a sua atenção.

- Menina, se você quer continuar trabalhando aqui, tem que arrumar alguma coisa para fazer enquanto não aparece nenhum cliente. Já pensou se chega alguém e vê você dormindo? Vai pegar mal para a loja.

A partir daquele sermão a menina começou a tirar o pó e arrumar as prateleiras de miudezas após o almoço. Assim ela não sentia sono. Começou a observar como era feito o concerto dos eletrodomésticos e aprendeu a arrumar liquidificador.

Quando tinha alguma festa na casa do patrão ela era convidada para fazer companhia à filha dele.

No primeiro pagamento a menina comprou muitas coisas incluindo o tal cinto que ela tanto queria. Os pais não pegavam seu dinheiro.

Ao chegar em casa a mãe a olhou espantada ao ver o que ela comprou.

- E para mim, você comprou alguma coisa, fia?

- Não, mãe, só comprei para mim. Olha o cinto que eu tinha pedido para a senhora. O que a senhora fez? Comprou um cinto horroroso que nunca usei. No mês que vem vou pensar se compro alguma coisa para a senhora.

A menina estava deslumbrada com aquele cinto. O cinto que a motivou a ter seu próprio dinheiro para não depender dos pais. Para não depender de ninguém.

A loja de assistência técnica do senhor Antônio foi seu local de trabalho por quatro anos. Foi o início da sua jornada. Depois que saiu dali foi trabalhar como balconista numa loja. Não ficou mais sem trabalho.

A menina se tornou mulher, fez vários cursos, se casou e se tornou uma profissional autônoma.

Aos cinquenta anos, atendendo uma cliente no seu salão, ela relembra a sua determinação ao ter o seu dinheiro quando era apenas uma menina. Enquanto muitas meninas dessa idade brincavam, ela correu atrás de realizar o seu desejo. O desejo de ter independência financeira. O desejo de comprar o que quisesse sem ter que ficar implorando aos pais. 

Um desejo inspirado por um cinto.

 

 Sou grata pela sua visita,

Cidália.

 

 


 

 

 


28 comentários:

  1. É bem interessante essa história, determinação é tudo na vida nada se conquista sem esforço.bjus

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  2. É importante quando a pessoa fica determinada em conquistar a sua independência financeira, essa história é uma reflexão pra nós bjs.

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  3. Oi
    Muito legal a historia 🙂 e serve de exemplo para nos, com fé e determinaçao somos capazes de tudo

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  4. A determinação surge em pequenos detalhes, algo desejado, um sonho a ser realizado.

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  5. Determinação é tudo, também sempre quis ter meu dinheiro, mas depois da maternidade as prioridades mudam, porém fica cada vez mais difícil entrar novamente ao mercado de trabalho. Sinto falta, mas o blog me ajuda a ter meu dinheiro e ainda posso ficar em casa com as crianças.

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  6. Essa história é um exemplo para ser seguido, eu realmente gostei. Parabéns pelo post!

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  7. Olá Cidália!Que conto maravilhoso,reflexivo e incentivador,o desejo do cinto despertou na menina uma determinação de alcançar seus objetivos com seu próprios esforços.
    Ganhar nosso dinheiro através de nosso trabalho e realizar nossos sonhos sem depender de ninguém é libertador e gratificante,me identifiquei com a menina,só que não foi um cinto e sim um belo vestido rsrs,comecei aos 14 e sigo até hoje,me orgulho do meu trabalho e do que conquistei com ele.
    Parabéns pelo belíssimo conto!Bjss

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    1. Olha só que legal, Mazé!! Parabéns a você pelo seu trabalho!
      Muito obrigada pelo comentário!

      Beijos.

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  8. A determinação é um fator importante na hora de lutar pelo o que queremos! Esse texto é inspirador e uma boa dose de ânimo. Motivador! Beijos

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  9. Uma história incrível e emocionante que irá encorajar as crianças a alcançarem a independência financeira. Os pais nem sempre conseguem dar o que os filhos desejam, isso é de alguma forma muito útil para a vida dos filhos, eles não recebem tudo o que desejam, reconhecem o valor da conquista, passam a aprender o sacrifício da dependência e uma vida financeira própria.

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    1. Pois é, Lenny, os pais até têm vontade de dar tudo aos filhos, mas não têm condições.
      Muito obrigada pelo comentário.

      Beijos!

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  10. As vezes a dificuldade faz com que a gente corra atrás dos sonhos, me vejo nessa história, também comecei cedo a trabalhar para ter as coisas que sempre sonhei e nunca tive ...

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  11. Oie minha linda! É maravilhoso ter independência financeira. Eu admiro muito as pessoas que tem essa garra e mudam a vida... ❤❤❤

    Beijos,
    Paloma Viricio💫💙

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  12. Eu fico imaginando se você imaginou essa crônica ou baseou-se em alguém real, que conheceu...Adorável esse enredo! Escritora nota Dez!!!

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    1. Foi baseada em alguém que conheço, Vera.
      Muito obrigada pelo elogio!!

      Beijos!

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  13. Para falar a verdade apesar de ter gostado da historia e valorizar muito quem corre atras dos sonhos fiquei com pena da mãe, muitas vezes como pais tentamos dar o melhor mas os filhos com muito ainda a aprender sobre a vida não sabem ou querem valorizar o que os pais com sacrifício dão Otimas lições a aprender neste texto

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    1. É assim mesmo, Jussara, muitos filhos não valorizam o sacrifício dos pais.
      Obrigada pelo comentário.

      Beijos!

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  14. Esse é um bom exemplo para os adolescentes que só sabem explorar os pais sem saber o valor do dinheiro

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    1. Verdade Cleuza, com o trabalho eles vão aprender o valor do dinheiro.
      Obrigada pelo comentário.

      Beijos!

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