segunda-feira, 31 de maio de 2021

O casamento

                                                               (foto copiada da internet)

Ouvindo uma história no rádio, ela refletiu sobre a convivência a dois. O que acontece entre quatro paredes só o casal é que sabe. Muitas vezes é complicado tomar partido. Alguns casais têm um relacionamento duradouro e outros esquecem da promessa feita no dia do casamento, até que a morte os separem.

"Melinda, uma moça simples, de família humilde, funcionária num escritório de advocacia, se apaixonou pelo chefe, um belo rapaz.

Arnaldo, além de bonito e bem apessoado, era de família rica.

No trabalho Melinda conseguia disfarçar o sentimento, porém numa festa de confraternização no final do ano, Arnaldo se aproximou dela e declarou que estava apaixonado por ela.

-Desde a primeira vez que a vi te achei linda, estava esperando a oportunidade para abordá-la. Pensei que você fosse comprometida, mas como está sozinha resolvi me aproximar.

Com a aproximação do Arnaldo, Melinda confessou que estava apaixonada por ele. Falou sobre a sua origem e que se preocupava com a opinião dos outros. Os colegas de trabalho poderiam pensar que ela era interesseira.

Arnaldo disse que não se importava com a opinião dos outros, mas no trabalho eles continuariam agindo como profissionais.

Ali, naquela noite, trocaram o primeiro beijo na frente de todos e o namoro durou quatro anos.

Durante esse tempo tiveram longas conversas e Melinda contou ao namorado que era uma pessoa depressiva. Ela tomava medicamentos. Falou que ela não tinha o hábito de sair de casa para se divertir. Saía apenas para o trabalho. Naquela confraternização ela acabou indo por insistência da sua mãe.

No início os pais do Arnaldo foram contra o namoro, porém, quando perceberam que o casal estava apaixonado, pararam de confrontar o filho.

Nos anos de namoro Melinda viajou com o namorado para lugares que nem imaginava conhecer. Com ele frequentou restaurantes chiques. Durante aquele tempo a depressão lhe deu uma trégua. O amor que sentia pelo namorado foi capaz de camuflar a tristeza, sua companheira por muitos anos.

O casamento foi do jeito que a Melinda quis, uma cerimônia simples, apenas para a família e os amigos mais chegados.

Um ano após o casamento o pai de Melinda faleceu. Com o luto, uma tristeza imensa tomou conta dela. O remédio não estava mais fazendo efeito. Nem o amor do marido conseguiu tirá-la da escuridão em que se encontrava.

Como Melinda não tinha condições para ir ao trabalho,  foi necessário pedir uma licença médica.

Arnaldo chegava do escritório e precisava cuidar da esposa. Ela não tinha vontade de sair da cama, de tomar banho ou mesmo de comer. Com muita paciência o marido a ajudava. Ele a levou a outro médico, o medicamento foi trocado.

Numa noite, Arnaldo conseguiu levá-la para jantar na casa de seus pais. Queria que ela espairecesse um pouco. Chegando lá, a sogra começou a rir da nora e dizer que ela era folgada, que o filho trabalhava o dia todo e ainda precisava cuidar dela quando chegava em casa. Que o que faltava para ela era lavar a louça, cuidar da casa, coisas que ela não fazia.

Melinda não aguentando ouvir a sogra teve um surto. Começou a chorar e gritou com a sogra. Arnaldo a pegou pelo braço e a levou embora. Ao chegar em casa, desabafou.

- Não gostei nada de ver você gritando com a minha mãe. Estou perdendo a paciência. Acho que devemos fazer uma viagem para você se distrair. Eu também preciso arejar a cabeça.

Naquela noite, Arnaldo foi dormir no outro quarto.

Melinda, desesperada, tomou muitos comprimidos de uma vez só, naquele momento só pensava em morrer.

Algumas horas depois Arnaldo, sem conseguir dormir, se levantou para tomar um copo de água e a viu caída no sofá. Socorreu-a imediatamente.

No dia seguinte, Arnaldo achou melhor viajar sozinho. Deixou a esposa aos cuidados da sogra.

Vinte dias depois, ao retornar da viagem, Arnaldo passou na casa da sogra e foi falar com a esposa.

-Sinto muito Melinda, nesses dias pensei muito e cheguei à conclusão de que é melhor cada um seguir a sua vida. Minha paciência chegou ao fim.

Melinda ficou sem chão. Não conseguiu abrir a boca para questionar o marido. Onde havia ido parar aquele homem apaixonado que roubara seu coração?

Como não tinha forças nem ânimo para reagir, Melinda acatou a vontade do marido.

Com a ajuda da mãe e tomando o medicamento direitinho Melinda melhorou e retornou ao trabalho depois de algum tempo.

Ela sabia que não seria fácil encarar o ex-marido, mas chegando ao escritório descobriu que seu chefe era outro. Arnaldo havia se mudado para outra cidade com a namorada, segundo os comentários dos colegas.

Para Melinda foi um choque.

Por que ele havia cogitado a ideia dela viajar com ele? Será que era apenas para disfarçar, afinal ele sabia que ela não iria, pois não estava bem. Desde quando ele estava com outra mulher? Onde foi parar o amor que ele dizia sentir por ela? Provavelmente, ele pretendia deixá-la há algum tempo e o jantar na casa da família foi a desculpa perfeita.

Melinda seguiu em frente levando a vida como na época de solteira. Só saía de casa para o trabalho e para ficar com a mãe nos finais de semana. Não deixaria que a tristeza a dominasse novamente. Seguiria todas as orientações médicas."



 Grata pela visita,

Cidália.


 

28 comentários:

  1. Infelizmente a saúde mental ainda é tabu e Melinda passa, muitas mulheres e homens passam na vida real e muitos acabam por não aguentar viver

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  2. Um texto bastante emocionante, a depressão é uma doença que prende a pessoa, atrapalha a vida da pessoa em todas as áreas, são histórias que acontecem na vida, bjs.

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  3. Oi Cidália, tudo bem?
    Sabe, essa realidade é muito triste. Já escutei histórias semelhantes na vida real. Geralmente em um relacionamento, quando a mulher adoece, os homens tendem a ir embora. Não que seja uma regra, mas acontece.
    beijinhos.
    cila.

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    1. Olá Cila, tudo bem!
      Sim, é uma realidade muito triste.
      Obrigada pelo comentário!

      Beijos!

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  4. Uma realidade que aconteceu com minha irmã, quando ela adoeceu, seu marido se separou procurando outra mulher e foi morar com a outra sem nunca perguntar pela minha irmã, um casamento que durou mais de 20 anos, uma triste realidade.

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    1. Nossa, que triste, Lenny!
      Obrigada pelo comentário.

      Beijos!

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  5. Convivo com pessoas que sofrem de depressão pós acontecimentos traumáticos, sendo que todo dia é uma luta para levantar da cama e lidar com o mundo. Isso acaba influenciando as relações afetivas, inclusive seus casamentos. Por isso, acredito que ter um companheiro que não está lado a lado, o melhor é seguir em frente, mesmo que doa.

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  6. Que lindo texto, muito emocionante. Nos faz refletir muito sobre a vida a dois!

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  7. Nossa! é forte e pra muitas pessoas é a realidade. Conheço pessoas que passam por situações semelhantes e sofrem muito.

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  8. Oi, tudo bem ?

    Depressão e saúde mental devem sim ser mais abordados e o texto se mostrou atual e retratou a realidade de muitas pessoas. Parabéns pela postagem. Saúde mental deve ser tratada de forma correta e com sua devida importância.

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  9. Oie Cidália. Questões de relacionamento são muito complicadas. As pessoas hoje em.dia não querem ter trabalho com o outro e não tem compaixão. Egoísmo reina, infelizmente.

    Beijos,
    Paloma Viricio💙🌠

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  10. Oi, tudo bem? Falar sobre casamento é bem delicado. Ainda mais quando não sabemos o que o casal vive entre quatro paredes. Por mais que conheçamos essas pessoas, tenhamos amizade, é difícil saber quais são os desafios diários vividos por eles. Outro detalhe é que casamento não é faz de conta, é preciso respeito, compreensão, paciência, e nem todo mundo está disposto a isso em nome de seguir com o casamento concorda? Um abraço, Érika =^.^=

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    1. Olá Érika, tudo bem!!
      Concordo! Muito obrigada pelo comentário.

      Beijos!

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  11. Que texto!!! Realmente a depressão é um período muito complexo na vida da pessoa e de todas as outras que ficam ao seu redor. O marido poderia ter dado mais respostas referentes ao que aconteceu entre os eventos do casamento a separação.

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  12. Não condeno o marido. Ele fez o que pôde, mas cansou de ser infeliz. Ela vai lutar contra essa doença terrível e poderá, se vencer, ser feliz com outra pessoa...

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  13. Conviver com alguém com problemas de depressão não é fácil, mas o marido dela ao meu ver não era tão apaixonado assim .... No primeiro problema corre para os braços de outra. Engraçado que a mãe dele debocha da esposa e ele fica contra a esposa porque gritou com a mãe dele sendo que a doente era a esposa e não a mãe .... Enfim, coisas da vida, isso acontece muito no dia a dia ....

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  14. O marido fez tudo por Melinda mais ela não quis se ajudar só acordou quando o perdeu conheço pessoas nessa situação , gostei do texto parabéns Cidalia

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