domingo, 1 de maio de 2016

Vítima do preconceito

Numa clínica de olhos, Artur encontrou sua alma gêmea! Bastou um olhar e meia hora de conversa para ele se apaixonar por Emília.
Que moça era aquela? Tão linda e simpática! Com cabelos longos e claros e um leve sorriso, ela o cativou. Mesmo percebendo que ela não encarava-o enquanto falava, não se incomodou. A voz dela era fascinante.
Durante o pouco tempo que conversaram ele ficou sabendo sobre a história dela. Emília nascera cega, mas levava uma vida normal. Estava habituada a se virar sozinha. Tinha um cão guia que a acompanhava.
Antes de ir embora, Artur marcou um encontro. No sábado seguinte se encontraram na praça e passaram a tarde juntos. Continuaram se encontrando durante dois meses. Artur foi conhecer os pais dela e a pediu em namoro. Ele estava muito apaixonado. Emília também se apaixonara por aquele rapaz tão carinhoso.
Artur era filho único e muito paparicado pelos pais. Trabalhava como contador numa grande empresa. Estava decidido a se casar e quis apresentar a namorada à família. Num final de semana levou Emília para almoçar em casa. Quando chegaram e ele a apresentou como namorada os pais a rejeitaram assim que viram que ela não enxergava.
Foram grosseiros e mal educados durante o almoço e Emília ficou sem graça, quis ir embora. Nunca se sentira tão rejeitada dessa maneira. Artur ficou abismado com a reação dos pais. Não esperava aquele comportamento deles. Nunca havia desconfiado que eles eram preconceituosos.
Levou Emília embora e pediu desculpas pelos pais. Ela achou melhor romperem o namoro, não queria ser motivo de discórdia entre Artur e sua família.
-Não vou deixar de amá-la só porque eles querem. Eu sou adulto e capaz de decidir a minha vida.
-Eles são seus pais e querem para você uma moça normal, não uma deficiente visual.
-É você que eu amo, que quero para minha esposa! Eles vão ter que aceitar a minha decisão.
Artur deixou-a em casa e retornou em seguida, disposto a ter uma conversa séria com os pais. Eles nem sequer deram oportunidade para que o filho abrisse a boca. A mãe falou por ela e pelo marido.
-Eu e seu pai já decidimos que não queremos mais que você traga essa moça aqui em casa. De agora em diante só receberemos a sua futura esposa se for uma garota normal. Como você pensa que uma cega vai cuidar da casa e dos filhos? Ela não consegue nem cuidar dela mesma!
Ouvindo aquelas barbaridades, Artur preferiu ficar quieto. Estava tão decepcionado com os pais que acabou emudecendo. Foi para o quarto e planejou o que faria.
Na segunda-feira, no intervalo do almoço, aproveitou para procurar um apartamento e planejar a sua saída de casa. Tinha idade suficiente para cuidar da sua vida. E assim, um mês depois foi morar sozinho. Pediu Emília em casamento e não convidou os pais para a cerimônia.
Como todo casal, um cuidava muito bem do outro. A sogra do Artur ajudava a filha com o serviço da casa. Emília estava acostumada a sair acompanhada pelo cão guia, quando precisava. Eles levavam uma vida normal.
Artur, com o passar do tempo, descuidara um pouco da saúde e devido à pressão alta, teve glaucoma agudo e perdeu a visão dois anos após o casamento. Quando ele conheceu Emília, na clínica de olhos, o oftalmologista havia alertado-o sobre a possibilidade.
Emília ensinou ao amado a leitura em braille e ele teve que aprender a viver do jeito dela. Para ela que estava acostumada com a escuridão, tudo parecia mais fácil. Para ele, foi difícil, quase entrou em depressão. Emília sempre paciente, ajudou-o a aceitar a nova condição.
Para os pais do Artur, antes tão arrogantes e preconceituosos, foi uma tremenda paulada na cabeça! Chegaram a pensar que foram castigados pelo fato de não aceitar a nora cega. Pediram perdão a Deus e ao filho. Se lamentaram perante a nora pelo que fizeram a ela.
Emília os perdoou, ela não era de guardar rancor, mesmo tendo sido vítima do preconceito deles. Ela sofrera na época, mas depois acabara aceitando a escolha dos sogros. No fundo ela sabia que eles haviam agido como todos os pais, que apenas querem o melhor para os filhos.
O amor que unira Artur e Emília transportara os dois para um mundo colorido e feliz apesar da escuridão! Um mundo repleto de carinho, solidariedade, tolerância e perdão.
Afinal, as melhores coisas da vida só podem ser sentidas pelo coração!

Como você agiria se fosse a mãe ou pai do Artur, quando conhecesse a Emília? 
Você já foi discriminado (a) de alguma maneira? Se foi, como reagiu?

50 comentários:

  1. Adoro seus contos, me faz viajarem, imaginando...parabéns!!!

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    1. Que bom, estou feliz em saber que gosta das minhas histórias!
      Obrigada, uma abençoada semana!

      Bjos

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  2. Se eu fosse a mãe de Artur teria recebido Emília com muito carinho porque odeio preconceito ,parabéns a escritora mais um conto maravilhoso .

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    1. Muito obrigada, Cleuza! Gostei da sua opinião.

      Uma semana abençoada a vc, beijos!

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    2. Obrigada Nida, que bom que você gostou!

      Uma ótima e abençoada semana, beijos.

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  3. Que texto lindo, amei parabéns !
    Beijos <3

    www.blogsemprebella.com.br

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  4. Muito comovente esse conto, e o pior é saber que realmente há pessoas com esse tipo de atitude preconceituosa. Mas assim como no conto, acredito que todos nós aprendemos com nossos erros. Adorei :) http://www.adoravelcloset.com/

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    1. Obrigada Eduarda! Sim e como!! Verdade, que nossos erros sirvam como lição.

      Abraços.

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  5. O PRECONCEITO É UM FARDO QUE CONFUNDE O PASSADO , AMEAÇA O FUTURO E TORNA O PRESENTE
    INACESSÍVEL. HÁ MAIS PESSOAS PRECONCEITUOSAS NESSE MUNDO DO QUE POSSA IMAGINAR NOSSA VÃ FILOSOFIA. O PRECONCEITO EXISTE ATÉ NUM SIMPLES OLHAR, NA PESSOA QUE ESTÁ AO NOSSO LADO, NUM COMENTÁRIO...22h10min.

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    1. Super bem colocado Sara! É isso mesmo, infelizmente! Muito triste, mas algumas pessoas chegam a ser cruéis com as outras. Não têm um mínimo de respeito!
      Obrigada pelo comentário, beijos.

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  6. Maravilhoso como sempre escreve muito bem
    Bjs,
    https://emagrecendonovoestilodevida.blogspot.com.br/2016/04/sal-perigo.html?showComment=1462331034693

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  7. Oi Cidália,
    Que conto emocionante, você escreve muito bem! Infelizmente o preconceito existe, nunca sofri nenhum tipo, mas meu marido é negro sabe bem como é isso. Acho extremamente triste este tipo de atitude.
    Bjs❤
    Abrir Janela

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    1. Oi Line, muito obrigada! Gosto de escrever p passar o tempo. Sim, infelizmente, é algo difícil de acabar um dia. É muito triste mesmo saber que muitas pessoas carregam o preconceito dentro de si! Que Deus as perdoem, não é mesmo?
      Bjs.

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  8. Fiquei entretida com o conto desde a primeira frase. Sua escrita é maravilhosa e a forma como a usa para atingir os leitores é incrível!
    Parabéns! Amei o conto! Emocionante e lindo!
    Beijos!
    Escritora por um Acaso

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    1. Muito obrigada, Vitoria! Fico sempre feliz com seus comentários. Gosto de escrever e quando recebo um elogio desses, me sinto recompensada.
      Mais uma vez, obrigada!
      Beijos.

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  9. Eu adoro seus contos Cidália,eles me levam a tantos lugares,são tão bons p minha mente!
    Beijos

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    1. Oi Elaine, que bom saber que vc gosta! fico muito feliz!!

      Muito obrigada, beijos.

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  10. Que conto mais lindo e emocionante! :)
    Vc é uma ótima escritora! Parabéns ♡
    Beijos
    Www.liulustosa.blogspot.com.br

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    1. Muito obrigada, Lilian!
      Fico muito feliz sabendo que gostou da minha história.
      Beijos

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  11. Muito legal esse conto, bem tocante e emocionante bjo

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  12. Conto maravilhoso! Todos os preconceituosos deveriam ler e refletir sobre o assunto. Muito emocionante! <3

    Beijos,
    www.nunamendes.com

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    1. Muito obrigada, verdade! Tomara que sirva como exemplo aos preconceituosos.

      Beijos.

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  13. Adorei, ja até indiquei a uma amiga hahaha

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  14. voce arrasa nesses contos,os contos são bons,mas o resumos seu é o que deixa tudo melhor!!!!!!

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    1. Muito obrigada, fico feliz que vc gosta dos meus contos.
      Uma noite abençoada!
      Bjos.

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  15. Um tapa na cara do preconceito? Eu não conhecia o blog, mas seu texto ou conto, como preferir, foi muito bom! Meus parabéns pela escrita, eu fiquei fascinada.
    Fiquei com pena de Emília :(
    harmoni-ze.blogspot.com.br

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    1. Sim, os pais do Artur nem de longe poderiam imaginar que fosse acontecer com o filho.
      Muito obrigada, estou feliz por vc ter vindo conhecer meu blog e que tenha gostado do conto.
      Bjos.

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  16. Ha pouco tempo estava conversando sobre esse assunto com meu esposo, acho realmente difícil pais aceitar limitação para os filhos, nós ainda não temos filhos, e acho que esse tipo de pré conceito, deve ser trabalhado desde cedo para não virar um problemão...Bjinhos 😘

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    1. Verdade, os pais se preocupam muito com os filhos. É um caso sério! Quanto às limitações, muitos pais chegam a ser intolerantes. Mas, como vc disse, o pré conceito precisa ser trabalhado desde cedo mesmo.
      Obrigada pelo comentário, gostei muito da sua opinião.
      Ótimo final de semana, bjos.

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  17. Ai q lindo...meu olhas se encheram de lágrima ...texto muito sensivel...
    Acho que se fosse eu a mãe do garoto , ficaria sim preocupada com as dificuldades , isso é normal do pais , mas acredito que não agiria com preconceito...
    Obrigada por oompartilhar esse lindo texto...
    www.lindaeinteligente.com.br

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    1. Eu que agradeço pelo comentário! Que bom que gostou!
      Muito obrigada por compartilhar sua opinião! Amei!!

      Um ótimo final de semana, bjs!

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  18. Nossa emocionante Adorei, so fico triste em ver que o preconceito não é só fictício e sim real, existe muita gente assim por ai
    bj sucesso

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    1. Obrigada Vivih, que bom que gostou! Que maravilha seria, se fosse apenas fictício, né? Infelizmente, existe muita gente preconceituosa que não respeita ninguém.
      Muito obrigada, bjs.

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  19. Um conto bem conciso e fácil de ler. O destino foi perfeito ao juntar os dois. Quanto aos pais, acho normal que à primeira vista, tenham receio nessa situação!! Nem é preconceito... É coisa de superproteção mesmo.

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    1. Oi Vera, obrigada! Sim, foi mesmo perfeito!! Verdade, os pais sempre esperam e querem ver os filhos felizes. O excesso de proteção fez com que os pais do Artur maltratassem e humilhassem a Emília. Essa atitude levou a moça a sentir-se vítima de preconceito.
      Beijos

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  20. Achei esse conto muito lindo e emocionante. Aliás, todos os seus contos prendem minha atenção. Você com certeza tem o dom da escrita.
    Beijos

    www.baudasresenhas.com.br

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  21. Amei esse conto!
    Por mais que os pais sejam super protetores com seus filhos, isso não lhe dão o direito de serem preconceituosos com o próximo.
    Hoje em dia parece que cada vez mais as pessoas estão se tornando preconceituosas. Essa semana mesmo quando fui ao mercado uma senhora olhou para a minha cara e falou para a netinha dela: que cabelo ridículo. Eu pensei comigo "ridículo é seu preconceito e o que está deixando de exemplo para sua neta".
    Bjs!

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    1. Obrigada!
      Concordo plenamente com você.
      Tem muita gente sem noção e sem respeito pelo próximo.

      Beijos!

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  22. Que estória, heim!? É um aprendizado e tb um exercício de se colocar no lugar de cada um dos personagens para ter uma visão de todos os ângulos, cada um com seus motivos. A vida sempre pregando suas peças. Acho que a paralimpíada é uma grande oportunidade de enxergarmos os deficientes com outros olhos, fico encantado com tanta superação.

    *☆* Atraentemente *☆*

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    1. Obrigada!
      Pois é, com certeza. Apesar das limitações, os deficientes são grandes exemplos de superação!

      Abraços.

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  23. Lindo seu texto, ótimo para fazer as pessoas refletirem, porque ainda existe muito preconceito no mundo!

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    1. Obrigada!
      Verdade, tomara que um dia deixe de existir!!


      Beijos.

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